Jesus nasce no período de Augusto

Jesus nasce no período de Augusto

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há várias informações na literatura espírita sobre os momentos que antecederam o nascimento de Jesus e fortalecendo a ideia de um preparativo para tal acontecimento histórico.1

O imperador romano Augusto – primeiro imperador e com o maior tempo de mandato: 41 anos (27 a.C.-14 d.C.) -, iniciou o longo período de paz, conhecido como Pax Romana2, depois de muitas décadas de guerra civil durante a fase republicana de Roma. Foi um governo de ordem e respeito à hierarquia; conservador e austero; esforçou-se para reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e da religião; tentou controlar a moral pública e o casamento; reorganizou a administração, inclusive das províncias, e as forças armadas; executou grandes obras e saneou as finanças do Estado; estimulou a cultura e a literatura latina.1

O consagrado historiador do cristianismo, Daniel Rops, chega a afirmar que “nada há, daquilo que os homens podem pedir a Deus, que Augusto não tenha proporcionado ao povo romano e ao universo”.2

Análise da historiadora Norma M. Mendes, considera que Augusto não era um tirano e era possuidor de virtudes estóicas, se encaixando no conceito de soberano como benfeitor universal.3

Por ocasião de sua morte, um senador propôs dar o nome de Augusto ao mês de seu nascimento e morte, daí ter surgido a designação do mês de agosto, do latim augustus, no calendário gregoriano. Outro senador sugeriu que todo o espaço de tempo decorrido entre o seu nascimento e sua morte recebesse o nome de "século de Augusto". Durante seu reinado, sua esposa Lívia exerceu muita influência política. Foi substituído por Tibério, filho de Lívia e portanto seu enteado. A ação de Jesus ocorreu no período de Tibério.

No livro Boa Nova, pela psicografia de Chico Xavier, o espírito Humberto de Campos confirma a visão histórica sobre o papel desempenhado pelo notável imperador e acrescenta comentários sobre sua missão na Terra:

“Uma nova era principiara com aquele jovem enérgico e magnânimo. O grande império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas, descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e tenebrosas. Por toda parte levantavam-se templos e monumentos preciosos. O hino de uma paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota de suas províncias, acompanhado de amplas manifestações de alegria por parte da plebe anônima e sofredora. A cidade dos césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e realizadores. Em todos os recantos, permanecia a sagrada emoção de segurança, enquanto o organismo das leis se renovava, distribuindo os bens da educação e da justiça. […] Ele, que era o regenerador dos costumes, o restaurador das tradições mais puras da família, o maior reorganizador do Império, […] seu nome foi dado ao século ilustre que o vira nascer. Seus numerosos anos de governo se assinalaram por inolvidáveis iniciativas. A alma coletiva do Império nunca sentira tamanha impressão de estabilidade e de alegria. A paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências.[…] É que os historiadores ainda não perceberam, na chamada época de Augusto, o século do Evangelho ou da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se aproximava da Terra, numa vibração profunda de amor e de beleza.[…]”4

O espírito Emmanuel, no livro A caminho da luz, psicografado por Francisco Cândido Xavier, faz a análise sob a ótica espiritual e destacamos do item designado “O século de Augusto”: “[…] eis que ia cumprir-se a missão do Cristo, depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano. A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande tranquilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. Realizam-se gigantescos esforços edificadores ou reconstrutivos. Belos monumentos são erigidos. O espírito artístico e filantrópico de Atenas revive na pessoa de Mecenas, confidente do imperador, cuja generosidade dispensa a mais carinhosa atenção às inteligências estudiosas e superiores da época, quais Horácio e Vergílio, que assinalam, junto de outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do chamado século de Augusto, com as suas obras numerosas.”5

Na mesma obra, Emmanuel assinala um momento importante da evolução terrestre: “Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa maturação do pensamento terrestre.”5 E considera como fatores:

“[…] os pródromos do Direito Romano e a organização da família assinalavam o período da maioridade terrestre. […] A Terra não podia perder a sua posição espiritual, depois das conquistas da sabedoria ateniense e da família romana.”5 Era chegado o momento para a vinda do Cristo: “[…] As legiões magnânimas do Cristo aprestam-se para as últimas preparações de seus gloriosos caminhos na face do mundo. O Evangelho deveria chegar como a mensagem eterna do amor, da luz e da verdade para todos os seres.”5

O “século de Augusto” e o momento da “maioridade terrestre” foram períodos marcantes na história da Humanidade e como uma preparação para a atuação do Cristo.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais. Análise histórica e visão espírita. Cap. 1.2. Matão: O Clarim. 2018.

2) Rops, Daniel. Trad. Pinheiro, Eduardo. História da igreja de Cristo. I. A igreja dos apóstolos e dos mártires. 2.ed. Porto: Livraria Tavares Martins. 1960. 724p.

3) Mendes, Norma Musco. O sistema político do principado. In: Silva, Gilvan Ventura; Mendes, Norma Musco (Org.). Repensando o império romano: perspectiva socioeconômica, política e cultura. Cap.I. Rio de Janeiro: Mauad; Vitória: EDUFES, 2006.

4) Xavier, Francisco Cândido. Boa Nova. Pelo espírito Humberto de Campos. 36.ed. Cap. 1. Brasília: FEB. 2013.

5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. 38.ed. Cap.11 e 13. Brasília: FEB. 2013.

(Ex-presidente da FEB e da USE-SP)

Extraído de: Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIII. N. 11. Dezembro de 2018. P. 600-01.