Há 160 anos, as informações iniciais sobre O Livro dos Médiuns

Há 160 anos, as informações iniciais sobre O Livro dos Médiuns (*)

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Com a propagação da obra pioneira – O livro dos espíritos -, da circulação da Revista espírita e das repercussões do funcionamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, surgiam muitas dúvidas e indagações sobre a prática da mediunidade.

Como consequência natural Allan Kardec passa a se dedicar ao assunto com base em seus estudos, observações práticas e as orientações advindas da Espiritualidade. Fruto desse trabalho teórico e prático surge a segunda grande obra de Allan Kardec – O livro dos médiuns – que completa 160 anos de publicação.

De início, destacamos o subtítulo: “guia dos médiuns e dos evocadores”.

Torna-se interessante observarmos as anotações sobre o novo livro, publicadas em Revista espírita, periódico mensal administrado pelo Codificador, durante o primeiro ano de edição de O livro dos médiuns. O episódio histórico surge desde a edição inicial daquele ano (Revista espírita, jan./1861) com a informação sobre o lançamento:

“Há muito tempo anunciada, mas com a publicação foi retardada por força de sua própria importância, esta obra aparecerá de 5 a 10 de janeiro, na cada dos Srs. Didier & Cia., livreiros editores […]. Ela constitui o complemento de O Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este último contém a parte filosófica. Nesse trabalho, fruto de longa experiência e de estudos laboriosos, procuramos esclarecer todas as questões que se ligam à prática das manifestações. De acordo com os Espíritos, contém a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições que os mesmos se podem reproduzir. Mas a seção concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi de nossa parte objeto de particular atenção.“

Na edição do mês de novembro 1861, essa Revista informa sobre o “Auto de fé das obras espíritas em Barcelona”, ocorrido no dia 9 de outubro. Estampa notícia sobre a segunda edição de O livro dos médiuns:

“A primeira edição de O Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses, o que não é um dos traços menos característicos do progresso das idéias espíritas. Nós mesmos constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que esta obra exerceu sobre a direção dos estudos Espíritas práticos: assim, as decepções e as mistificações são muito menos numerosas do que outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda edição é muito mais completa que a precedente: encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, as contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, a formação das reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo, recebeu desenvolvimento muito notáveis. No capítulo das dissertações espíritas, adicionamos várias comunicações apócrifas, acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores, que se apresentam com falsos nomes. Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa. Recomendamos com instância esta nova edição, como guia o mais completo, que para os médiuns, quer para os simples observadores. E podemos afirmar que, seguindo-a pontualmente, evitar-se-ão os escolhos tão numerosos, contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes.”

Em dezembro de 1861, a Revista espírita traz o comentário do Codificador:

“É, pois, chegado o momento de nos ocuparmos do que se pode chamar a organização do Espiritismo. Sobre a formação das sociedades espíritas, O Livro dos Médiuns (2ª edição) contém, observações importantes, às quais remetemos os interessados, pedindo-lhes meditem com cuidado.”

Em nossos tempos, 160 anos após o lançamento de O livro dos médiuns, é imprescindível o estímulo à leitura e ao estudo dessa obra nas instituições espíritas. Estão válidas as recomendações de Kardec nesse “guia” para os médiuns!

Fonte: Kardec. Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Ano 4. 1861. São Paulo: EDICEL.

(*) Texto resumido de artigo do autor, publicado em: Revista internacional de espiritismo. Fevereiro de 2021. Ano XCVI. N. 1. p. 14-15.