Guerras na atualidade e a paz

Guerras na atualidade e a paz

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há um ano atrás, no dia seguinte à invasão da Ucrânia, publicamos o artigo “Guerra, paz e não-violência”.(1)

Naquele texto evocamos a memória de Léon Tolstoi (1828-1910), um dos maiores escritores da Rússia. Um de seus clássicos é o romance Guerra e paz, onde descreve a campanha de Napoleão Bonaparte na invasão da Rússia ao mesmo tempo em que monta o enredo dos amores e aventuras de alguns personagens. Tolstoi registrou a histórica invasão de Napoleão à Rússia, mas no final de sua existência tornou-se um defensor do respeito ao próximo e da paz.

Sua vida foi marcada por muitos protagonismos políticos e religiosos. Tolstói passou as últimos tempos de sua vida pregando o amor e a não-violência. Em seu último romance Ressurreição, defende idéias ligadas à justiça social.

Em seguida, citamos textos espirituais do autor russo, quando ele escreveu “do lado de lá”, utilizando a mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira e acrescentou uma nova visão: Ressurreição e vida. O autor espiritual desenvolve seis contos e dois mini-romances ambientados na Rússia do tempo dos czares.(2)

O espírito Tolstoi relata o encontro com um luminar do cristianismo e a aceitação de seus ensinos: “Foi esse um dos mestres que encontrei aquém do túmulo. Seus ensinamentos, os exemplos de ternura em favor do próximo, que me deu, revigoraram minhas forças. Sob seus conselhos amorosos orientei-me, dispondo-me a realizações conciliadoras da consciência. E se tu, meu amigo, desejas encontrar aquele reino de Deus de que Jesus dá notícias, ama os desgraçados! Cada lágrima que enxugares em seus olhos, cada conselho bom que dispensares ao pobre desarvorado da vida é mais um passo que darás em direção a esse reino que, finalmente, encontrarás dentro do teu próprio coração, que assim aprendeu o cumprimento da suprema Lei: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo…” Trata-se de uma referência a versículos de Mateus (22, 37-39).

Consideramos que a obra clássica de Tolstoi e os episódios lamentáveis que assistimos na atualidade nos remetem a O livro dos espíritos, onde Allan Kardec apresenta a visão da Espiritualidade sobre as guerras:

“P – Que é o que impele o homem à guerra? R – Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem — o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas, fazendo-a com humanidade, quando a sente necessária.”(3)

Um ano depois prosseguem as barbáries geradas pela guerra no Leste da Europa. Esse lamentável e preocupante cenário mostra quão distante estamos do desejado “mundo de regeneração”.

Claramente há o predomínio do egoísmo e suas derivações e repercussões fomentando ações de desrespeito e de ódio. A regra áurea de Jesus “amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, está distante de parcelas significativas da Humanidade.

Recomendações de Paulo tornam-se oportunas para o momento: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”.(4)

Em O Evangelho segundo o Espiritismo Kardec comenta que destruição do egoísmo somente ocorrerá quando houver “melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento” entre os homens: “quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua”.(5)

Referências:

1) Artigo publicado na página eletrônica do GEECX em 25/02/2022: http://grupochicoxavier.com.br/guerra-paz-e-nao-violencia/

2) Pereira, Yvonne Amaral. Pelo espírito Léon Tolstoi. Ressurreição e vida. Cap. Conclusão. Brasília: FEB. 1963.

3) Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questão 742.

4) 2a. Epístola aos Coríntios (4, 8-9).

5) Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Capítulo 11.