“Fake news” nos contatos espíritas
Antonio Cesar Perri de Carvalho
No mundo de provas e expiações em que vivemos predominam os contrastes e, naturalmente, há uma grande diversidade nos níveis de compreensão, de vivência e de conhecimento nas diversas áreas.
Ao longo de várias décadas de vida, nunca convivemos com um ambiente de aguçado radicalismo, com nuances de ódio, e divulgação de mensagens adulteradas, como o cenário atual de nosso país.
Sem dúvida, essa situação foi favorecida pela amplidão dos meios de comunicação, principalmente pelas redes sociais propiciadas pela internet.
Evidentemente que a censura e o controle de opiniões não é cabível no ambiente democrático.
Sem entrarmos na questão da proliferação de “fake news” patrocinadas por envolvidos na política partidária e com interesses eleitorais, preocupa-nos a maneira como espíritas estão empregando as redes sociais.
Parece que vários estariam entrando nessa “onda”. Em muitos casos, na realidade, com base na expectativa de um comportamento coerente com os princípios espíritas não se diferenciariam da massa predominante.
Até Chico Xavier foi utilizado em manipulações que nitidamente não condizem com o perfil do notável vulto espírita.
Frente a esse cenário confuso, torna-se cabível um reestudo do conteúdo da 3a parte de "O Livro dos Espíritos", focalizando as "Leis morais". E, sem dúvida, o desdobramento temático que Allan Kardec efetivou em "O Evangelho segundo o Espiritismo". Essas duas obras básicas do Espiritismo explicitam princípios que devem servir de roteiro para todos nós, os espíritas. Inclusive com a anotação de Kardec, nessa última obra, de que "reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (Cap. XVII, item 4).
Isso posto, cabe a reflexão para subsidiar o livre arbítrio de cada um: como reagir frente a riscos, intrigas, maledicências e várias formas de manipulação social? É hora de se aumentar os cuidados de prévia análise e de muita prudência antes de se “compartilhar” mensagens das redes sociais. Seria lícito em respeito aos direitos autoral e moral de obras e textos, extrairmos trechos e os empregarmos descontextualizados da forma e momentos em que foram elaborados? Se devemos exercitar o respeito ao próximo, surgem algumas reflexões: como compreender as opiniões e posições das pessoas? Como se evitar tendências ultrapassadas de doutrinação e de controle? Como analisar textos e notícias à luz dos princípios espíritas? Como não ferirmos a individualidade das pessoas e não realizarmos a invasão da privacidade? Como evitarmos a disseminação de comentários sensacionalistas? Como contribuir com esclarecimentos coerentes com a análise cristã e espírita? Como manter uma postura prudente e de bom senso? Enfim, como contribuir com o bem estar psicológico e espiritual do próximo e da sociedade?
A nosso ver essas reflexões são cabíveis no cenário conturbado que estamos vivendo, para se favorecer o emprego lúcido e prudente do livre arbítrio.
O roteiro a ser seguido demanda tempo para o processo educativo.
Para essa nossa longa caminhada, Allan Kardec é claro em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós” é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que tomar para padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua.” (Cap. XI, item 4).