Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Os finais de ano são assinalados, notadamente nos países ocidentais, com as evocações sobre o nascimento de Jesus.

Num recorte às variadas formas de lembranças e comemorações sobre essa efeméride de nossa Civilização, realçamos a visão oferecida pelo espiritismo.

Allan Kardec, dedica a substanciosa 3a Parte de O livro dos espíritos às leis morais; em O evangelho segundo o espiritismo define o ensino moral como o objetivo dessa obra:

“Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas”.1

No livro A caminho da luz, Emmanuel analisa sob a ótica espiritual a época do nascimento de Jesus:

“[…] eis que ia cumprir-se a missão do Cristo, depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano. A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande tranquilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. […] que assinalam, junto de outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do chamado século de Augusto, com as suas obras numerosas.”2

Realça esse momento da evolução terrestre: “Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa maturação do pensamento terrestre.”2

O “século de Augusto” e a “maioridade terrestre” representam momentos marcantes na história da Humanidade e como uma preparação para a atuação do Cristo. Passados séculos, em mensagem pouco divulgada, Emmanuel considera: “O homem cresceu e evoluiu fisicamente, sem que progredisse, em identidade de circunstâncias, à sua posição espiritual. Algumas almas nobilíssimas trouxeram-lhe num esforço generoso as grandes ideias dos seus tratados de filosofia social e política”. […] A prova disso é que os homens, como os Estados que são os aparelhos físicos da coletividade terrestre e humana, regressam atualmente a todos os processos da força”.3

Mesmo após os discursos e providências em prol da paz, vivemos terrível contexto com diversas formas e intensidades de belicosidades em curso. Após dois mil anos, muitos impérios políticos e religiosos, consolidaram aspectos negativos. Em meio às disputas de poder político, econômico e de extremismos religiosos, há o intenso sofrimento de populações.

Apesar de várias deturpações, a mensagem de Cristo sobreviveu.

Em nossos dias há o esforço do “Consolador Prometido” pelo Mestre. O Espiritismo vive no seu terceiro século de disseminação em vários Continentes, em época de variadas conturbações mundiais. A força da mensagem-proposta do Cristo, expressa nos Evangelhos, representa um potencial de transformação substancial para o homem e para a sociedade em geral.

No geral, num mundo caracteristicamente de “provas e expiações”, que parece distante da “regeneração”, é cabível a proposta de Emmanuel, dos momentos prévios à Grande Guerra, em psicografia de Chico Xavier, aos 17/03/1938, em Pedro Leopoldo3:

“[…] não falamos de recristianização, por quanto o afinamento da mentalidade do mundo terrestre no ideal de perfeição e de amor de Jesus Cristo não chegou a se verificar em tempo algum. Apelamos para a cristianização de todos os espíritos e é dentro desse sentido que se guarda o mais alto objetivo de todas as nossas mensagens extraterrestres”.3

Ao ensejo das evocações sobre o nascimento de Jesus parece-nos claro que a sua mensagem ainda não tem ampla penetração em considerável parcela de nossa Civilização. De nossa parte, compete-nos os esforços para assumirmos como cidadãos conscientes e coerentes com os princípios espíritas.

Nos registros de Paulo de Tarso, há oportunas recomendações para ações: “vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Coríntios 3,3) na condição de “[…] herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hebreus 1,2) e animados pela orientação: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados” (2 Coríntios 4,8).

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Introdução e Cap.6, ítem 5. Brasília: FEB. 2014.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap.11 e 13. Brasília: FEB. 2013.

3) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Ação, vida e luz. P. 25-26. São Paulo: CEU. 1991.

Transcrição parcial de artigo do autor publicado em: Revista internacional de espiritismo. Ano XCVIII. N. 11. Dezembro de 2023.