Dimensões Identitárias e Assistenciais do Espiritismo

Resenha

Dimensões Identitárias e Assistenciais do Espiritismo

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Livro com abordagens inéditas veio a lume no início de 2020: Dimensões identitárias e assistenciais do espiritismo, organizado por Pedro Simões e André Ricardo de Souza, que assinam também capítulos e contam como co-autores Célia da Graça Arribas e Hélder Boska de Moraes Sarmento. Os quatro atuam como docentes universitários nas áreas da Sociologia e do Serviço Social.

Os capítulos focalizam temas significativos com base em fundamentos acadêmicos, dados estatísticos e em análise espírita . Na parte 1 – Questões identitárias, os capítulos: O espiritismo na pluralidade cristã brasileira; Identidade espírita no Brasil e em Portugal; Feições expressivas do movimento espírita brasileiro; Uma visão sociológica de Allan Kardec. Na Parte 2 – Universo assistencial, são desenvolvidos os capítulos: Contornos e controvérsias das atividades assistenciais cristãs; Censo espírita 2017: um estudo sobre assistência social em Santa Catarina – primeiras impressões; A concepção dos espíritas sobre assistência social; Desafios do trabalho assistencial espírita: dois modelos de atuação; A economia solidária no principal livro oriundo de Chico Xavier.

As duas partes marcam características fortes do Espiritismo como religião. A primeira diz respeito à tripla identidade espírita, tal como apontada pelo seu próprio fundador, Allan Kardec: o espiritismo é definido, ao mesmo tempo, como ciência, filosofia e religião. O outro aspecto central entre os espíritas está no lema “Fora da caridade não há salvação”.

O novo livro trata de maneira clara a origem e a evolução da versão religiosa do Espiritismo em nosso país. Os autores detalham os movimentos e esforços de lideranças e de instituições para o incentivo aos estudos bíblicos e mais especificamente do Novo Testamento e de O evangelho segundo o espiritismo, desde os momentos complexos da fundação da FEB, ações da FEESP, da USE-SP, de médiuns como Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco, até fatos recentes relacionados com o Núcleo de Estudos e Pesquisa do Evangelho da FEB (2012-2015) e suas repercussões.

Enfim, numa avaliação ampla esclarecem que a chamada diversidade religiosa tão empregada em nosso país se restringe ao conceito de pluralismo cristão, que conta com grande variedade e liberdade de culto.

Com base em pesquisa apontam as dez palavras mais recorrentes para a identidade do espiritismo no Brasil. Enriquecem com um estudo comparativo com o Espiritismo em Portugal.

Na questão assistencial, são analisadas a relações de hierarquia e poder com o assistido, e, de “doutrinação” e “assistência”. Também fizeram pesquisa sobre o perfil dos “trabalhadores espíritas”.

No livro são tratados também especificamente alguns casos de grandes instituições assistenciais espíritas, e suas repercussões junto ao movimento espírita, como a Casa Transitória e Casas André Luiz, ambas de São Paulo; o Lar Fabiano de Cristo (Rio de Janeiro) e a Mansão do Caminho (Salvador). Mas conclui-se que a maioria das instituições e centros praticam uma assistência social de porte pequeno.

Os autores, com base em dados, ressaltam “a peculiaridade que a salvação ocupa no pensamento e na prática espírita. A grande maioria dos militantes dessa religião tem, efetivamente, a assistencial social como algo focado na salvação do próprio agente espírita”.

Esse livro é marcante com base em fundamentos de estudos qualitativos e quantitativos elaborados por espíritas que contam com a experiência de serem pesquisadores acadêmicos da grande área das ciências sociais.

Fonte:

Simões, Pedro; Souza, André Ricardo (Org.). Dimensões identitárias e assistenciais do espiritismo. 1.ed. Curitiba: Appris. 2020. 197p.

Obs.: o livro está disponível para comercialização em várias páginas eletrônicas de livrarias virtuais.

(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB.