Desafio do momento

União…

Desafio do momento

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Há muitas mensagens espirituais com conceitos e recomendações sobre união e unificação. Mas cabe aos encarnados a responsabilidade pelas ações e a análise sobre como está sendo praticada a união:

"[…] o que caracteriza a revelação espírita é o fato de sua origem ser divina, de a iniciativa pertencer aos Espíritos e de sua elaboração ser fruto do trabalho do homem.”1

Nessas condições são oportunas algumas devem merecer reflexões. Em mensagem pioneira, Emmanuel associa a prática da união com a vivência do Evangelho:

“Compreendendo a responsabilidade da grande assembleia de colaboradores do Espiritismo brasileiro, formulamos votos ardentes para que orientem no Evangelho quaisquer princípios de unificação, em torno dos quais entrelaçam esperanças.”2

Em 1975 Bezerra de Menezes aponta o foco e o envolvimento real:

“Mantenhamos unidos, em Jesus, para edificar e acender Kardec no caminho de nossas vidas, porque unicamente assim, agindo com a fraternidade e progredindo com o discernimento, é que conseguiremos obter os valores que nos erguerão na existência em degraus libertadores de paz e ascensão.”2

Nesses termos, devemos olhar para dentro de nossa seara com o objetivo de sentirmos os eventuais desafios: as obras da Codificação são a base das práticas? Como está o respeito ao próximo mais próximo? Como estão organizadas e como funcionam as instituições espíritas? Quais valores definem as indicações de companheiros para assumirem os encargos e cargos nas instituições? Em que ambiente se processam as escolhas de dirigentes nas instituições? Como os dirigentes e colaboradores de um centro interagem com os pares de outros centros? Como são tratadas as eventuais dificuldades e enganos doutrinários de instituições congêneres? Os líderes, expositores e médiuns são vistos com deslumbramento, como superiores ou mais evoluídos? Os temas da atualidade ou novos são tratados no ambiente espírita?

Cada questão deve ser refletida e sugerimos a analogia com as colocações de Emmanuel:

“O mundo conturbado pede, efetivamente, ação transformadora. […] se faz impraticável a redenção do Todo, sem o burilamento das partes, unamo-nos no mesmo roteiro de amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, valor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo em comunhão com os homens, servindo e esperando o futuro, em seu exemplo de abnegação, para que todos sejamos um…”2

No “mundo conturbado” de nossos dias – que se caracteriza por polêmicas, crescimentos, transformações e adequações-, e, na intimidade do espírita são perceptíveis sentimentos predominantes de união? Sem estas condições torna-se muito difícil a ideia de unificação entre sociedades espíritas. A palavra unificação pode significar “padronização”, ideia completamente antagônica aos princípios de união, por isso Emmanuel destacou “burilamento das partes” e união “no mesmo roteiro”.

A unificação no sentido de convergência e somatória de esforços é possível dentro da diversidade de situações, fundamentando-se no Codificador. Kardec define:

"O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral […], e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas."3

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Imbassahy, Carlos de Brito. A gênese. 1.ed. Cap. 1. São Paulo: FEAL. 2018.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. União dos espíritas. Para onde vamos? Cap. 5. Capivari: Ed.EME. 2018.

3) Kardec, Allan. Trad. Noleto, Evandro Bezerra. O Espiritismo é uma religião? Revista Espírita. Dezembro de 1868. Ano XII. FEB. 2005.

(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP.

(Extraído de: Revista Senda, FEEES, N.196, Ano 97, mar.-abr.2019, p.9)