Comunicação espírita – alguns apontamentos

Comunicação espírita – alguns apontamentos (*)

Almir Del Prette (São Carlos, SEOB)

A comunicação é um processo fundamental da vida e ela tanto é produto como produtora de trocas importantes entre seres vivos, o que incluem vegetais (Wohlleben, 2017)1.

A expressão “comunicação espírita” sugere um tipo de comunicação entre indivíduos localizados em dimensões diferentes, designadas na literatura espírita por mundo espiritual e material, ou plano etéreo e físico, sendo os protagonistas referidos respectivamente por desencarnados e encarnados.

A comunicação é, em geral, um fenômeno complexo. A complexidade parece ser maior quando se trata da comunicação entre encarnados e desencarnados. Em analogia ao que ocorre entre as pessoas, podemos caracterizá-la por espontânea e arbitrada. No primeiro caso se refere à comunicação consentida, com pouca mediação de regras, como as conversas entre amigos, familiares, companheiros… No segundo, ela se processa mediada por regras bem definidas e às vezes por autoridades, por exemplo, interpelação judicial, reunião escolar, caso de compra e venda, consulta de atendimento etc.

A comunicação espírita também pode ter essas características. Alguma espontaneidade em um processo com pouca intermediação voluntária externa aos comunicantes ou as arbitradas. O primeiro tipo de comunicação se exemplifica pelas manifestações visíveis ou audíveis (parciais ou totais) ou audíveis (produção de sons como fala, música, ruídos etc.). Essas comunicações podem surpreender o encarnado ingênuo no assunto, porém Isto não significa que os comunicantes não tenham utilizado o concurso de algum médium, presente ou não no ambiente. A comunicação espírita arbitrada é a que se dá na sessão espírita, tanto a que ocorre pelo processo de evocação direta em que encarnados manifestam o desejo de que um espírito em particular compareça para um encontro, como na evocação não direta, em que nenhuma personalidade é previamente nomeada. A comunicação na sessão espírita, por evocação direta ou não é arbitrada.

O que significa um processo com um planejamento que ocorre nos planos, espiritual e físico. Tal planejamento incluem divisões de tarefas, normas sobre o funcionamento das comunicações, tempo e sequência das comunicações, regras de comportamentos esperados etc.

Na comunicação espírita pode se supor três condições: (a) afinidade; (b) aquiescência dos envolvidos; (c) autoridade. A afinidade não se restringe ao aspecto intelectivo (conhecimento e ideias), mas, também e principalmente, a certa similaridade vibratória A aquiescência diz respeito à aceitação/rejeição da presença e da mensagem da fonte. E a condição autoridade tanto pode ser moral e /ou instituída. A condição de autoridade da fonte exerce uma injunção sobre o emissor e o receptor, que podem resistir, mas não ignorá-la. O termo evocação comum na literatura espírita de Kardec foi objeto de certa estranheza por alguns em nosso movimento espírita. No entanto, Kardec em vários textos, por exemplo, O Céu e Inferno (2), O Livro dos Médiuns (3), O que é o Espiritismo (4) trata desse assunto. No francês (évocation, Dicionário Priberom)) como no português (evocação) o termo tem significado similar, incluindo a ideia de lembrança e chamado. Finalizando esses apontamentos é importante afirmar que a comunicação espírita pode ocorrer pela iniciativa de encarnados ou desencarnados, contudo, o processo e resultados obtidos dependem dos objetivos e da qualidade da interação entre os envolvidos.

(1) Wohllebeh, P. (2017). A vida secreta das árvores: o que elas sentem e como se comunicam. . Rio de Janeiro. Sextante.

(2) Kardec, A. (2008). O Céu e o Inferno. Araras (SP) IDE;

(3) Kardec, A. (2009). O livro dos médiuns. Brasília. Editora FEB;

(4) Kardec, A. (2009). O que é o Espiritismo. Brasília: Editora FEB.

(*) Extraído do Boletim Notícias do Movimento Espírita (Ismael Gobbo), de 26/7/2019.