Cidade de São Paulo: homenagem ao apóstolo

Paulo e São Paulo

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No livro Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo destacamos que Emmanuel desenvolveu quase 1.400 capítulos sobre versículos do Novo Testamento (diversos livros e Editoras) e mais de um terço são referentes às epístolas de Paulo.1

Também comentamos a admiração de Emmanuel por Paulo, registrada em várias obras de Chico Xavier, a começar do notável depoimento em mensagem de 13/3/1940: “Lede as cartas de Paulo e meditai. O convertido de Damasco foi o agricultor humano que conseguiu aclimatar a flor divina do Evangelho sobre o mundo. Muitas vezes foi áspero. A terra não estava amanhada e se em alguns pontos oferecia leiras brandas e férteis, na maioria, era regiões em espinheiro e pedregulho. Paulo foi lidador de sol a sol. […] Conheci-o em Roma, nos seus dias de trabalho mais rude e de provações mais acerbas. Vi-o uma vez unicamente, quando um carro de Estado transportava o senador Públio Lentulus, ao longo da Porta Ápia, mas foi o bastante para nunca mais esquecê-lo. […] Trocamos algumas palavras que me deram a conhecer a sua inteireza de caráter e a grandeza de sua fé. O fato ocorria pouco depois da trágica desencarnação de Lívia e eu trazia o espírito atormentado. As palavras de Paulo eram firmes e consoladoras. […] Lede-o sempre e não vos arrependereis.”2

Em 3/8/1949, o espírito Neio Lucius, revela o acolhimento do senador após sua desencarnação (79 d.C.): 'É que também Paulo, na vida espiritual, jamais descansou. Quando o senador romano desencarnou, extremamente desiludido, em Pompéia, foi contemplado com os favores do sublime convertido. Paulo sempre se consagrou às grandes inteligências afastadas do Cristo, compreendendo-lhes as íntimas aflições e o menosprezo injusto de que se sentem objeto no mundo, ante os religiosos de todos os matizes, quase sempre especializados em regras de intolerância.”2

Herculano Pires comenta essa mensagem: “Amparado pelo Apóstolo dos Gentios, conseguiu Publius Lentulus transitar nas avenidas escuras da carne, em existências várias, até encontrar uma posição em que pudesse servir ao Divino Mestre com o valor e o heroísmo daquela que lhe fora companheira no início da Era Cristã. E assim temos em Manuel da Nóbrega o homem de raciocínio elevado, entregue a si mesmo em plena selva, onde tudo estava por fazer.”3

Na apresentação de Paulo e Estêvão, Emmanuel define: “Nosso escopo essencial não poderia ser apenas rememorar passagens sublimes dos tempos apostólicos, e sim apresentar, antes de tudo, a figura do cooperador fiel, na sua legitima feição de homem transformado por Jesus Cristo e atento ao divino ministério. […] Entre perseguições, enfermidades, apodos, zombarias, desilusões, deserções, pedradas, açoites e encarceramentos, Paulo de Tarso foi um homem intrépido e sincero, caminhando entre as sombras do mundo, ao encontro do Mestre que se fizera ouvir nas encruzilhadas da sua vida.”4

Na trajetória espiritual do senador romano há citações a Paulo e suas epístolas. Em 50 anos depois: “Paulo e João nos revelaram o Cristo Divino, Filho do Deus Vivo, na sua sublimada missão universalista, a redimir o mundo.”5 De Ave, Cristo!, transcrevemos: “Por muito tempo, ainda, o programa dos cristãos não se afastará das legendas do Apóstolo Paulo” e em outros momentos transcreve versículos de epístolas paulinas.”6 No romance Renúncia, em diálogo de Alcíone com Damiano, há referência à Epístola a Timóteo, citações de exemplos de Paulo e suas viagens.7

Paulo considerou Emmanuel: “o agricultor humano que conseguiu aclimatar a flor divina do Evangelho sobre o mundo”2; reconhecemos o autor espiritual como o principal exegeta do Novo Testamento à luz do Espiritismo!

Esclarecida a relação entre Emmanuel e Paulo de Tarso, lembramos que a cidade de São Paulo foi fundada no dia 25/1/1554 por Manuel da Nóbrega. A cidade e o Estado homenageiam o Apóstolo da Gentilidade, o que foi evocado por Chico Xavier na cerimônia pública e televisada da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 19/5/1973, em que recebeu o título de “Cidadão Paulistano”. Em livro de Clóvis Tavares – amigo de Chico Xavier – e publicada com aprovação deste enquanto encarnado, esclarece-se que Nóbrega era uma das reencarnações do senador Lêntulus.

Registros históricos de conhecimento público anotam que Nóbrega, que atuava em São Vicente, subiu ao Planalto de Piratininga e resolveu fundar uma escola,  escolhendo o dia 25 de janeiro, data da tradição católica comemorativa da conversão do apóstolo Paulo. Anotou Neio Lúcius: "[…] Pelo amor profundo, devotado por ele à inesquecível figura de Paulo, poderá você concluir das razões que levaram o esforçado jesuíta a dar o nome do grande apóstolo à cidade que lhe mereceu especiais cuidados no lançamento, a ponto de esperar o aniversário da conversão do doutor de Tarso e, em janeiro, para iniciar os primórdios da grande metrópole brasileira, colocando-a sob a proteção do amigo da gentilidade."2

A cidade de São Paulo surgiu a partir de uma escola, homenageando o apóstolo da gentilidade, consolidando no seu desenvolvimento marcas significativas de educação, religiosidade e trabalho.

Herculano Pires comentou a relação entre Paulo e Nóbrega: “Dura foi a luta pela conversão do gentio. […] Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro.”3

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo. Cap.1. Matão: O Clarim.

2. Tavares, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. Cap.4 e 5. Araras: IDE.

3. Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano; Espíritos diversos. Diálogo dos vivos. Cap.23. São Bernardo do Campo: GEEM.

4. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Breve notícia.  Brasília: FEB.

5. Idem. 50 anos depois. 1ª. parte, cap.VI. Brasília: FEB.

6. Idem. Ave cristo. Cap.1. Brasília: FEB.

7. Idem. Renúncia. Cap.3. Brasília: FEB.

(Extraído de: Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cidade de São Paulo: homenagem ao apóstolo. Correio Fraterno do ABC. Ano 50. N.473. Janeiro-fevereiro de 2017. P.8-9).