Chico Xavier valorizado pelos modernistas Tarsila do Amaral e Menotti Del Picchia

Chico Xavier valorizado pelos modernistas Tarsila do Amaral e Menotti Del Picchia

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nesses dias comemora-se o Centenário da Semana de Arte Moderna, evento artístico e cultural que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 a 18 de fevereiro de 1922. A proposta era apresentar uma nova estética artística para todos os campos das artes, com apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras de arte, como pinturas e esculturas, e palestras. Foi apoiado pelo governador do Estado de São Paulo Washington Luís (depois presidente da República).

O evento centenário marcou o início do modernismo no país e se tornou a marcante referência cultural do século XX. Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram importantes lideranças desse movimento histórico, contando com presença de intelectuais e artistas como Anita Malfatti, Graça Aranha, Victor Brecheret, Plínio Salgado, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida.

A propósito do evento centenário destacamos um episódio interessante que veio a ocorrer anos depois com a aproximação da pintora Tarsila do Amaral com Chico Xavier. Tarsila do Amaral, um dos marcos do modernismo brasileiro, não participou da Semana de Arte Moderna porque se encontrava em Paris. Mas logo depois integrou-se ao grupo de artistas e inclusive esteve casada durante uns três anos com Oswald de Andrade.

Tarsila de Aguiar do Amaral (Capivari, SP, 1886 – São Paulo, 1973) foi membro do “Grupo dos Cinco”, destacados artistas brasileiros: Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Segundo Mário de Andrade, ela foi a “primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional”. Entre as telas famosas da pintora, destaca-se “Abaporu”, de 1928.

Já idosa, passando por grandes reveses na saúde e com a desencarnação da filha única e da neta, Tarsila, desesperada e deprimida, se aproxima do espiritismo e de Chico Xavier. Inclusive, passou a doar parte da venda dos seus quadros aos trabalhos assistenciais que Chico Xavier apoiava em Uberaba. Essa amizade foi registrada pelo casal Nena e Francisco Galves, que eram hospedeiros de Chico Xavier em São Paulo, e são fundadores do Centro Espírita União. Através deles ficou marcado inclusive o respeito e admiração de Chico tinha por Tarsila.

Arnaldo Camargo lembra que no discurso proferido por Francisco Cândido Xavier quando recebeu o título de Cidadão Paulistano em 19/05/1973, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, “o médium fez referência a Tarsila, que havia prometido estar nessa ocasião mesmo em cadeira de rodas, mas a vontade do Senhor a havia transferido para a Vida Maior”.1 Ela desencarnou quatro meses antes da cerimônia.

Chico Xavier chamou Tarsila de sua benfeitora: “a grande dama católica aceitava sua amizade como espírita e médium, com bondade inesquecível, que orava em cores e produzia telas que hoje são o encanto e riqueza do Brasil e do mundo. Afirmou que ‘dona Tarsila’ se inclinava aos pequeninos da mesma forma que acolhia as personalidades ilustres. […] tanto ela, como eu, acreditava que os gênios do Brasil não estão mortos, que os grandes fundadores da civilização paulista e brasileira estão vivos operando e cooperando em nosso favor, e eles nos auxiliam”.1

Por ocasião do lançamento de nosso livro Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões (2019)2, entre outras cidades, estivemos em Capivari, onde se situa a Editora EME. Na oportunidade, Arnaldo Camargo levou-nos, juntamente com nossa esposa Célia, para visitarmos a Galeria Tarsila do Amaral, espaço cultural de Capivari dedicado à vida e obras da pintora e desenhista capivariana Tarsila do Amaral. Essa Galeria foi inaugurada em 2018 e abriga cerca de 70 obras de arte, que são releituras e reproduções de telas de autoria da Tarsila do Amaral.

Há também registros interessantes sobre o poeta paulistano Menotti Del Picchia (São Paulo, 1892-1988), participante da “Semana de Arte Moderna” e depois membro da Academia Brasileira de Letras (1943). Ele foi um dos primeiros literatos a se manifestarem sobre a obra Parnaso de Além Túmulo (1932), identificando os estilos dos diversos poetas brasileiros e portugueses que escreveram pela psicografia de Chico Xavier.2

Outro fato sobre o poeta modernista Menotti Del Picchia merece ser destacado, pois escreveu o prefácio do livro Sol (1942), de autoria de Almir Rodrigues Bento (1918-1945), jornalista e ativo espírita de nossa terra natal, Araçatuba. No poema “Metempsicose” da obra citada, Almir deixa clara sua crença religiosa.3

Aí estão alguns episódios marcantes relacionando históricos modernistas brasileiros com obras espíritas.

Referência:

1) Camargo, Arnaldo Divo Rodrigues. Chico Xavier, Tarsila e “A caipirinha”. O Semanário, 11/12/2020. Acesso: https://www.jornalosemanario.com.br/chico-xavier-tarsila-e-a-caipirinha/

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Cap. 1.24. São Paulo: USE, Capivari: EME. 2019.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 1.4. Araçatuba: Cocriação. 2021.