“Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões”

“Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Atendendo à sugestão da redação de A Senda para escrevermos sobre nossa recente obra, de início enfatizamos que o livro Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões é uma forma de demonstrarmos nossa gratidão e reconhecimento a Chico Xavier e de divulgarmos seu exemplo de vida.

Ao longo de nossa vida usufruímos das suas obras psicográficas e tivemos o feliz privilégio de contínuas visitas, juntamente com a esposa, durante mais de 20 anos ao notável médium nos dois centros em que ele atuou em Uberaba – a Comunhão Espírita Cristã e o Grupo Espírita da Prece -, e no Centro Espírita União, de São Paulo. Essa foi a motivação para elaborarmos o novo livro que também traz, e de forma inédita, a apreciação de episódios que vivemos durante o período de 16 anos após a desencarnação de Chico Xavier.

A 1a edição desta obra foi lançada em 1997, época em que Chico Xavier completava 70 anos de práticas mediúnicas. Foi editado pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Teve boa circulação, foi entregue em mãos ao homenageado e se encontra na Biblioteca de Obras sobre Chico Xavier na “Casa de Chico Xavier”, em Pedro Leopoldo.

Passado o tempo, estimularam-nos para a reedição deste livro e com eventual atualização. Nosso primeiro pensamento foi de não alterar o conteúdo da 1a edição. Valorizamos o fato do livro ter sido publicado enquanto Chico estava encarnado e que ele teve conhecimento de seu conteúdo. A partir dessa premissa mantivemos esse texto como sendo a Parte 1 da nova versão, com os registros relacionados com os aspectos humanos e a obra psicográfica de Francisco Cândido Xavier.

Conhecemos um Chico Xavier alegre e brincalhão nos ambientes reservados e sempre muito atencioso. Essas características estavam sempre presentes junto àqueles que privaram do contato mais próximo, notadamente em seu lar. Em nossos contatos com Chico, sempre acompanhado da esposa Célia, e em alguns momentos também de familiares e de amigos, repetiam-se as lembranças e referências a nossos filhos, nossa genitora e um tio sobre quem relatamos o episódio notável da visita do médium a seu lar. Como ele solicitava que acompanhassemos de perto os seus diálogos nos prolongados atendimentos no centro e na peregrinação, pudemos aprender muito com os exemplos fraternos e solidários a todos que o procuravam e as suas orientações nobilitantes. Selecionamos alguns desses momentos, sempre com algumas observações doutrinárias. Fizemos uma síntese de matérias alusivas ao cinquentenário de sua prática mediúnica (1977), principalmente de artigo que publicamos na época reunindo opiniões de lideranças espíritas a respeito das marcantes obras psicográficas de Chico Xavier. Como amigo de Chico e de Divaldo Pereira Franco registramos o reencontro de ambos nos idos de 1978. Sobre a obra psicográfica de Chico, destacamos temas relacionados com família, assistência social, prática mediúnica, unificação e, ao final, sintetizamos a projeção de sua obra psicográfica em várias áreas da sociedade.

Profundo admirador da vida e da obra de Chico Xavier nesses 16 anos após sua desencarnação vivemos momentos excepcionais acompanhando históricas repercussões sobre o médium, subsídios incluídos na Parte 2 que passa a ser inédita. Nas condições de diretor e presidente da Federação Espírita Brasileira e membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional tivemos empenho em valorizar os exemplos de vida e os livros psicográficos de Chico Xavier em vários níveis de atuação no Brasil, nas Américas, na Europa e na África. Realçamos o primeiro lançamento de livros de Chico traduzidos para o francês e editados pelo Conselho Espírita Internacional, ocorrido em Paris em 2005.

Como desdobramento das versões em francês ocorreram as traduções para o russo e acompanhamos o impactante lançamento dessas obras na cidade de Mink (Bielorrússia), no final de 2009. Sobre as traduções de obras de Chico, destacamos o papel meritório e ímpar executado pelo venezuelano Alípio Gonzales que criou uma editora específica, a Mensaje Fraternal, disponibilizando versões em espanhol e de cortesia para todos os países do idioma hispânico, e, contando com o apoio do IDE de Araras. Como preparativos para o Centenário de Chico Xavier, relatamos sobre providências para as remodelações físicas na Fazenda Modelo e a construção do Memorial do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo.

Nos ambientes em que Chico atuou em Pedro Leopoldo e em Uberaba, tivemos a oportunidade de conhecer vários de seus colaboradores e de entrevistá-los. Por ocasião das comemorações do Centenário de nascimento de Chico Xavier, ocorreram cerca de 600 eventos em todo o país, tendo como ponto alto o 3º Congresso Espírita Brasileiro efetivado em Brasília. Os dois filmes lançados em 2010 – “Chico Xavier” e “Nosso Lar” -, assumiram o lugar entre os filmes brasileiros com maiores frequências nos cinemas. E os eventos sobre o Centenário de Chico se espraiaram para diversos países, com temas em congressos e seminários, em eventos do Conselho Espírita Internacional e um histórico “Tributo a Chico Xavier” na sede da ONU, em Nova York.

Livros sobre Chico Xavier foram elaborados e divulgados por cidadãos britânico e francês e que de nossa parte mereceram alguns comentários. Fatos marcantes vivemos em Moçambique ao conhecermos instituição espírita fundada pelo capista Jô (Joaquim Alves), muito amigo de Chico Xavier, e que a denominou Comunhão Espírita Cristã, em homenagem à instituição em que Chico atuava na época em Uberaba. Episódio emocionante vivemos nos altiplanos da Guatemala em evento espírita nacional, basicamente frequentado por descendentes dos maias. Humildes e simples, todos receberam gratuitamente livros de Chico vertidos para o espanhol, ofertados pela editora dirigida por Alípio Gonzales. As repercussões e influências de suas obras psicográficas são apontadas em vários estudos e ações em andamento no movimento espírita.

Passados vários anos após a partida de Chico Xavier para o mundo espiritual, seus exemplos e obras psicográficas prosseguem bem vivos no seio na seara espírita e junto à população brasileira. O nome de Chico Xavier está presente em logradouros, instituições, comendas e eventos. Pedro Leopoldo – sua terra natal – dispõe da Praça Chico Xavier, incluindo um monumento. Em Uberaba, em rotatória defronte ao Grupo Espírita da Prece há um busto de Chico Xavier. Nesta cidade funciona o Memorial Chico Xavier e há placas de trânsito indicando a direção do Grupo Espírita da Prece. O trecho da rodovia federal BR-050, entre a divisa dos Estados de São Paulo e Minas Gerais e a divisa dos Municípios de Uberaba com Uberlândia, recebeu o nome de Chico Xavier. Instituída pelo Governo do Estado de Minas Gerais, a “Comenda da Paz Chico Xavier” é uma condecoração destinada a pessoas físicas ou jurídicas que trabalham pela paz e pelo bem estar social. As homenagens culminaram em 2012 quando em disputa promovida pela TV SBT, Chico foi eleito “o maior brasileiro de todos os tempos”!

No livro destacamos algumas repercussões que vivenciamos. Continuadamente somos convidados para abordamos temas sobre a vida e a obra de Chico Xavier em várias partes do Brasil. Ao refletirmos sobre a vida e a obra do notável vulto espírita e as repercussões que se ampliam vêm à nossa mente a cena belíssima que assistimos nas comemorações dos 100 anos de seu nascimento, defronte ao Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo: o voo em autêntico bailado das pombas brancas e cinzentas, com o comentário do mestre de cerimônias de que o voo das pombas libertas simboliza “[…] a libertação das almas iluminadas pelo Evangelho à luz do Espiritismo, que por aqui estiveram, ao se desprenderem do corpo físico”.

Passado uns anos após sua desencarnação, tivemos oportunidade de refletir várias vezes sobre a vida e a obra do notável medianeiro. Em nossa tela mental sempre repassam os tempos em que seus livros eram lançados e enviados como “novidades” pela Editora da FEB, com a sensação de alegria e de expectativas e a cada livro de Emmanuel e de André Luiz que chegava ao Grupo de Estudos – que apesar de nossa idade precoce, participávamos ativamente em Araçatuba (SP). Mais à frente acompanhamos as históricas entrevistas na TV Tupi, em 1968 e a série dos “Pinga Fogo”. A leitura de suas obras mediúnicas, desde nossa adolescência e as releituras continuadas sempre ensejam momentos de novas descobertas ou compreensões aprofundadas. E, sem dúvida, os exemplos que presenciamos e os diálogos com Chico, em visitas assíduas, ou seja, a concretude de seus exemplos de dedicação, simplicidade, humildade e amor ao próximo.

Em nossas atuações na USE-SP, na FEB e no CEI procuramos estimular a difusão e o estudo das obras psicografadas por Chico Xavier, como apoio à compreensão das Obras Básicas de Allan Kardec. Sempre repetimos que Chico Xavier é um “divisor de águas” no movimento espírita brasileiro. Reunimos esses episódios e todos os relatos estão fundamentados em publicações, como livros e periódicos espíritas do período do ano de 2002 até nossos dias. Assim surgiu nosso livro editado conjuntamente pela EME e USE-SP.

O nosso livro tem um fio condutor, pois entendemos que se faz necessário um forte chamamento que emana da análise da vida e da obra de Chico Xavier, a saber: a valorização do estudo dos livros de Allan Kardec e de Chico Xavier; a coerência entre tais obras; a humildade e dedicação de Chico; a simplicidade do cristianismo primitivo como foi descrito nos romances históricos de Emmanuel; subsídios para se repensar o formalismo e alguns focos em aparências, vigentes na atualidade. Recordamos que Chico sempre colocou em prática a orientação inicial de seu orientador Emmanuel, à beira do açude de Pedro Leopoldo, de ser fiel a Jesus e a Kardec!

Certamente não seria o desejo do médium, pois simples e humilde se colocava como um “cisco”, mas as repercussões de sua vida e as homenagens de que é alvo representam o reconhecimento à história de vida de um homem voltado ao bem, do “homem amor”! Para concluir, transcrevemos frase de nosso livro, proferida por Chico nos idos de 1977: “Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso…”

(Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Capivari/São Paulo: EME/USE-SP. 2019. 224p.)

DE: Revista A Senda. FEEES. Ano 97. N. 198. Jul-ago 2019. P. 12-14.