Chico Xavier e os ensinos de Jesus no cinquentenário “Pinga-Fogo”

Mensagem de Jesus: do monte e às antenas

Chico Xavier e os ensinos de Jesus no cinquentenário “Pinga-Fogo”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos dias 27 e 28 de julho de 1971, era transmitido ao vivo o histórico programa “Pínga-Fogo”, tendo Chico Xavier como entrevistado, na antiga TV Tupi de São Paulo.

O evento televisivo alcançou altíssimos índices de audiência e se transformou em um marco da difusão do pensamento espírita. Coroou os esforços do repórter investigativo Saulo Gomes e além dele atuaram como entrevistadores: João de Scantimburgo, Helle Alves, Reali Júnior, José Herculano Pires contando com o jornalista Almyr Guimarães como coordenador.1

Com simplicidade, desenvoltura e sempre se referindo ao apoio espiritual de Emmanuel, Chico Xavier atendeu a questões dos mais variados matizes do conhecimento e, várias delas, sendo foco de polêmicas na época. As respostas inspiradas e prudentes de Chico Xavier foram preditivas quando as analisamos após 50 anos do histórico programa, o que já tivemos oportunidade de comentar em outras matérias.2,3

À vista da época conturbada que vivemos, são oportunos alguns realces das manifestações de Chico Xavier, fazendo-se um cotejo com fundamentos ético-morais dos ensinos de Jesus. E aí, sem dúvida, o Sermão da Montanha contém a síntese das propostas de Jesus, sendo considerado o “coração do Evangelho”. O interessante é que o citado “Sermão” foi proferido sobre um lugar de destaque, registrado como um monte, para que o Mestre fosse visto e a mensagem fosse mais audível. Dezenove séculos depois, a imagem e a voz do médium Chico Xavier foram amplamente propagadas pelas antenas transmissoras de TV. Isso posto, estabelecemos uma rápida relação entre as palavras de Chico Xavier e a fundamentação notadamente no Sermão da Montanha4. Eis uns trechos significativos1:

FCX: “Nós, os espíritas evangélicos, nos detemos no Novo Testamento para compreender a essência dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e daqueles que o sucederam, os apóstolos da causa evangélica.” Jesus: “Não penseis que vim destruir a lei os profetas; não vim destruir, mas cumprir. […] tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.”

FCX: “[…] estamos subordinados ao critério de Nosso Senhor Jesus Cristo que estabelece aquele princípio ‘dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de César’, isto é, aquilo que pertence ao mundo superior da nossa mente, as realizações com Deus, que constituem o progresso e o aprimoramento de nossa alma e aquilo que nós devemos aos poderes constituídos do mundo que nos orientam e que administram os nossos interesses.” Jesus: “[…] quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita. […] Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; […] Seja o vosso falar; Sim, sim; não, não.”

FCX: “[…] a vinculação do amor não terminará nunca porque o amor é a presença de Deus. O amor continuará a nos unir, uns aos outros, para sempre e nós nos amaremos cada vez mais. Agora, vamos educar o amor porque não temos sabido amar uns aos outros conforme Jesus nos amou.” Jesus: “Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, […] Vós sois a luz do mundo…” Tema palpitante na época, pouco depois de astronautas terem descido na Lua, surgem perguntas sobre vida extraterrestre.

FCX: “[…] vamos compreender que fazemos parte de uma só família universal, que não somos o único mundo criado por Deus. O próprio Jesus a quem reverenciamos como Nosso Senhor e mestre, disse: ”Há muitas moradas na casa de meu pai.” A essa questão torna-se explícito o registro do evangelista João sobre afirmações de Jesus: “Não se turbe o vosso coração. — Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.”4

Há vários trechos das respostas de Chico Xavier que merecem nossa reflexão na atualidade. Todavia, em momentos que muito se fala em “época de transição” e são nítidas as expectativas entre os espíritas a propósito da transformação de nosso habitat planetário em mundo de regeneração, há uma manifestação extremamente ponderada do notável médium quando instado a responder sobre os progressos da Civilização.

FCX: “[…] Será o preço da paz. Se pudermos nos suportar uns aos outros, amar uns aos outros, seguindo os preceitos de Jesus, até que essa era prevaleça, provavelmente no próximo milênio, não sabemos se no princípio, se nos meados ou se no fim. O terceiro milênio nos promete maravilhas, mas se o homem, filho e herdeiro de Deus, também se mostrar digno dessas concessões. Senão vamos aguentar nós todos, talvez com as estacas zero ou quase zero para recomeçar tudo de novo.” Jesus: “[…] buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, […] Eu, porém vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; […] Sede vós, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.”

Além do valor histórico de ter exposto amplamente o pensamento espírita junto à mídia, o cinquentenário programa “Pinga-Fogo” reúne comentários e análises judiciosas do médium Chico Xavier.

Os textos e gravações que registram essa entrevista devem merecer atenção por parte da seara espírita.

Bibliografia:

1. Gomes, Saulo (Org.). Pinga-fogo com Chico Xavier. Catanduva: Intervidas. 2010. 269p.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. 50 anos depois dos “Pinga-Fogos”. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.6. Julho de 2021. P.300-302.

3. Carvalho, Antonio Cesar Perri. 50 anos do “Pinga-Fogo”: a superação de temas polêmicos na atualidade. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.7. Agosto de 2021. P. 348-349.

4. Versículos sobre o Sermão da Montanha (Mateus, 5-7) e de João (14, 1 a 3).

Extraído de:

Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.7. Setembro de 2021.