Princípios ético-morais na atualidade

Princípios ético-morais na atualidade

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Os momentos vividos no mundo provocam impactos na sociedade em geral e diversas abordagens têm sido realizadas para se compreender o cenário atual.
As análises com base na ética e na moral são sempre pertinentes. Há muitos estudos acadêmicos que discutem os conceitos e a aplicação da ética e da moral, porém parece-nos oportuna a reflexão fundamentada na concepção espírita e de maneira simples.
Em geral, aceita-se que a ética procura distinguir o bem do mal, o justo do injusto, o certo do errado, o que é permitido e o que é proibido, tendo em vista o conjunto de normas adotadas por uma sociedade; seria mais especulativa. Já a moral se refere às normas ou regras que regem a conduta humana e envolve o dever e prática consciencial. A chamada consciência moral é a capacidade de decidir diante das alternativas possíveis, de distinguir o bem do mal. Portanto, a ética é o fundamento e a moral é a prática. Muitos entendem que ética e moral são inseparáveis.1
Allan Kardec, em suas obras, não empregou a palavra “ética”, mas o conceito e o objeto desta estão implícitos em O livro dos espíritos e O evangelho segundo o espiritismo. No livro inaugural do Espiritismo, o Codificador analisa as “Leis Morais”2, e na Introdução de O evangelho segundo o espiritismo, ele define o ensino moral como o objetivo desta obra.3
A ética cristã está fundamentada nos ensinos do Cristo, sintetizados na “regra de ouro”: "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós” (Mateus 7, 12).
Em memoráveis Epístolas, Paulo de Tarso definiu diretrizes de ordem comportamental das quais destacamos alguns versículos4:
“Examinai tudo. Retende o bem" (1 Tessalonicenses 5, 21); Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam" (I Coríntios 10, 23); "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem" (Romanos 12, 21); "[…] já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2, 19-20).
O fato de Paulo citar o chavão da época referente à cidade de Corinto – “todas as coisas são lícitas” -, aponta para uma situação que o afligia. Os cristãos dos nascentes grupos de Corinto sofriam influências do contexto perverso daquela cidade. A expressão “viver como um coríntio” referia-se a desregramentos comportamentais, considerados “normais” naquela cidade. A tendência de adoção de práticas aberrantes, motivou a elaboração da 1a Epístola aos Coríntios.4
Paulo desenvolveu o raciocínio de que alguns princípios defendidos naquela sociedade precisavam ser observados através de diretrizes ligadas à conduta cristã, não se restringindo às tradições e normas vigentes.
Respeitadas as diferenças, parece-nos que a colocação de Paulo é adequada aos nossos dias, em que num ambiente de liberdade de pensamento e de legislações liberais, proliferam vários tipos de guerras, dentro dos países ou entre eles, ocorrem questionamentos de valores e facilidades de comunicação, incluindo a indiscriminada disseminação de notícias e análises dúbias ou inverídicas nas redes sociais.
No conjunto – Constituição do país, Leis e normas -, define-se o que é legal, o que é “lícito” no dizer de Paulo de Tarso.
Como ficariam as ideias de conveniência e de edificação que Paulo emprega na citada Epístola para a análise das licitudes? E isso sem se entrar na questão da proliferação de hábitos e ações ilícitos…
A mensagem essencial da Boa Nova fortalece princípios e o cultivo de virtudes. Sobre isso, o Espiritismo traz à tona a ideia do livre-arbítrio dentro dos conceitos que emanam do conhecimento de vida imortal e de reencarnação, e, dos compromissos do ser espiritual consigo mesmo e com a sociedade.
Em O livro dos espíritos há várias abordagens referentes à moral, como as questões abaixo2:
“- A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”
“- O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringí-la.”
Em as Leis Morais de O livro dos espíritos, Allan Kardec destaca que a lei divina ou natural, a Lei de Deus, é “a única e verdadeira a conduzir o homem à felicidade e que lhe indica o que ele deve ou não fazer” e que essa “lei está escrita na consciência do homem.”2
A ética espírita baseia-se nas máximas morais do Cristo e na busca o conhecimento da verdade. Está definida no livro inicial de Kardec ao examinar a Lei de Deus no tocante ao bem e o mal e ao apresentá-la subdividida em várias leis. Para Kardec, a justiça, amor e caridade é a lei “mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras" […] “lei que se funda na certeza do futuro."2
Os valores espirituais e afetivos não podem ser subjugados por valores cognitivos e imediatistas. Emmanuel faz um valioso apontamento sintético: “O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita.”5
Essas colocações espirituais e espíritas oferecem parâmetros para se definir o que é lícito e conveniente, o que atende aos objetivos do bem, ou seja, o que é moralmente compatível com os ensinos do Cristo e os princípios do Espiritismo.
A enfermidade ética e moral tem raízes desde a base da sociedade. E repercutem em várias instâncias das nações.
Haja vista as vigentes manifestações guerreiras e torna-se oportuno recordarmos de comentário de Emmanuel: “[…] A guerra é inevitável nessa civilização que depende exclusivamente do militarismo. Os grandes exércitos são a sua grande ruína,” e aponta: “[…] o afinamento da mentalidade do mundo terrestre no ideal de perfeição e de amor de Jesus Cristo não chegou a se verificar em tempo algum. Apelamos para a cristianização de todos os espíritos e é dentro desse sentido que se guarda o mais alto objetivo de todas as nossas mensagens”.6
As inquietações e até turbulências que advém das dificuldades que a população passa nos momentos de crises mais intensas devem ser encaradas com respeito e serenidade.
Sobre esse cenário, Emmanuel pondera: “[…] no fracasso de todas as tentativas pacíficas, o cristão sincero, na sua feição individual, nunca deverá cair ao nível do agressor, sabendo estabelecer, em todas as circunstâncias, a diferença entre os seus valores morais e os instintos animalizados da violência física.”5
Para concluir, lembramos que as obras de Kardec, em vários trechos comentam a causa principal dos distúrbios ético-morais, que pode ser resumida com a frase: “O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta.”2
Evocamos mais uma vez o apóstolo Paulo com seus marcantes registros. Anota a situação dele e, pode-se dizer de muitos, que adotam princípios ético-morais no contexto de nosso mundo e deixa claro que a consciência tranquila e o dever cumprido são as melhores recompensas espirituais:
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2 Timóteo 4, 7)

Referências:
1) Souza, Sonia Maria Ribeiro. Um outro olhar: filosofia. 1.ed. Cap. 10. São Paulo: FTD. 1995.
2) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. 70.ed. 3a Parte, cap. II a XI; questões 629 e 630; Conclusão IV. Rio de Janeiro: FEB. 1989.
3) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. 131.e. Cap. XI, item 11. Brasília: FEB. 2013.
4) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do espiritismo. 1.ed. Cap. 2 e 5. Matão: O Clarim. 2016.
5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O consolador. 29.ed. Questões 68, 127, 148, 170, 204, 345, 365. Brasília: FEB. 2013.
6) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Ação, vida e luz. P. 25-26. São Paulo: CEU. 1991.
DE:
Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIX. N. 1. Fevereiro de 2024. P. 44-45.

Uma reflexão sobre as críticas ao trabalho de Chico Xavier

Uma reflexão sobre as críticas ao trabalho de Chico Xavier

Vladimir Alexei

Leon Denis (1846 – 1927), um dos pensadores mais lúcidos do Espiritismo, disse em uma de suas obras que, conforme for o ideal, assim será o homem.

No ano em que completam 22 anos do seu desencarne, os temas difundidos em torno do nome de Chico Xavier ainda causam muitas reflexões.

Ao mesmo tempo em que se erige pedestais para o endeusamento da figura de Francisco Cândido Xavier, existem sítios dedicados a analisar possíveis plágios em suas obras e de tantos outros escritores, arrolando o médium aos processos de indivíduo fraudulento.

Além, é claro, das celeumas que se instauraram após o seu desencarne em torno de diálogos com extraterrestres e suas possíveis reencarnações.

O que causa espanto, e espécie, é a completa ausência de pudor nas críticas com fundamentações bastante questionáveis, tanto para os que exaltam, quanto para os que tentam denegrir a imagem do Chico Xavier.

O conhecimento é a busca da verdade, ele não é a busca pela certeza, já dizia Sir Karl R. Popper. É relevante refletir sobre isso.

Todo conhecimento humano é falível, portanto, incerto. Errar é humano!

Por isso é oportuno que se faça distinção entre verdade e certeza. Dizer que tem “certeza” que Chico Xavier fraudou, pode não ser “verdade”. De fato, a ciência tem limites, contudo, a humanidade tem se esforçado para superar seus limites e as contribuições podem ser percebidas, se soubermos o que buscar. Uma pesquisa científica não é traduzida em uma escrita comum, popular. Quando se busca dar algum “ar científico” a qualquer texto, é preciso, de fato, que o autor tenha uma ideia de método, do contrário, corre-se o risco de cair na infantilidade que se vê por aí.

Melhor atribuir o que se vê a infantilidade do que maldade, porque, parafraseando Leon Denis, se o ideal dessas pessoas que escrevem sobre o Chico Xavier é desmascará-lo ou endeusá-lo, vê-se que pouco compreenderam da essência do Espiritismo.

Na esteira do espanto, diante de tantas críticas ácidas, deseducadas e porque não injustas, dirigidas ao Chico Xavier, entidades e suas respectivas editoras, que publicam e vendem seus livros, fazem um profundo silêncio diante de tudo que se diz sobre ele. Na hora do bônus, divulgam-se os trabalhos do Chico Xavier. Quando o autor é criticado e arrolado como possível fraude, essas mesmas entidades que editam seus livros, emudecem.

Allan Kardec deixou claro a diferença entre “polêmica e polêmica” na Revista Espírita de 1858. Aquela que visava defender o ponto de vista pessoal, Kardec abria mão. As outras que diziam respeito à defesa do entendimento doutrinário, ele não recuava!

Estão interpretando e analisando errado as obras espíritas e nenhuma instituição que edita seus livros, se levantou para esclarecer e auxiliar no melhor entendimento do que seja um estudo espírita. Servem para o que, então?

As críticas ao trabalho do Chico Xavier, em essência, são críticas à Doutrina Espírita! E o que os dirigentes das entidades espíritas têm feito a esse respeito?

Buscando informações em outros sítios, nos deparamos com um vídeo de um ex-companheiro do Chico Xavier, que abandonou o Espiritismo para se dedicar a outra área do conhecimento, dizendo que as fragrâncias exaladas quando da presença de um Espírito Benfeitor foram encontradas em frascos no armário de uma sala ao lado da sala de tratamentos. Entretanto, apenas o Chico Xavier estava envolvido, segundo o ex-companheiro. Ambos desencarnados.

O que é importante esclarecer: a verdade ou a certeza? Ter certeza que é “mentira”, pode não refletir a verdade. Para dizer que é verdade, é necessário que o conhecimento seja construído com método e mesmo assim, pode-se concluir que ficará o “dito pelo não dito”.

Por outro lado, pode-se aprender com a situação e analisar o contexto para que casos assim sejam tratados com a devida fraternidade que um Espírita desenvolve quando está em busca de melhorar-se.

E continua! Assistimos um desses vídeos curtos de uma rede social dizendo que o Chico Xavier foi um “assassino cruel” em outro planeta. Veio para esse planeta para resgatar suas maldades.

O que estão fazendo com o trabalho do Chico Xavier? O que as casas espíritas tem ensinado sobre o Espiritismo?

Há décadas entidades e seus respectivos dirigentes vem auferindo vantagens em forma de projeção, exposição de imagem, perpetuação de uma ideia, de um ideal, como disse Leon Denis, mas junto com essa semeadura existe a colheita. Os que ficam, o que tem feito para esclarecer a respeito dos equívocos de interpretações doutrinárias? Ou essas entidades acreditam que não são corresponsáveis pelo que está acontecendo?

Há uma profunda distância entre falar-se sobre o conteúdo de uma obra, como o sítio citado, comparando frases, utilizando testemunhos e etc. para identificar “plágios”, e concluir-se que o autor é uma fraude.

Alto lá! Para ser considerado “verdade” é preciso desenvolver um método que seja aceito de forma universal e o que usam é tão frágil quanto o que acusam. Citamos novamente o Popper que diz que, já que errar é humano, isso significa que devemos lutar sem cessar contra o erro, mas também, com todo cuidado, nunca podemos estar totalmente certos de que não estejamos cometendo um erro.

Diante desse cenário, deveras dantesco, o combate às análises apressadas e conclusões inadvertidas, deve ser feito com método, prudência e cautela. Em meio ao cascalho podem existir pedras preciosas, interpretações oportunas, reflexões superiores de perspectivas pouco exploradas.

Contudo, é preciso ser firme diante das críticas a trabalhos longevos, consistentes, coerentes, repleto de exemplos, testados em “verso e prosa”, analisados por diversos ângulos, inclusive acadêmico, antes de se optar pelo veredito da fraude como estão fazendo com o trabalho de Chico Xavier.

Por fim, resta saber o que as entidades farão para defender o trabalho daquele que tanto tem contribuído para suas existências. A conta está chegando.

(O articulista  Vladimir Alexei reside em Belo Horizonte).

O filme “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros”

O filme “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros”

        

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Desde 25 de janeiro os cinemas do país passaram a exibir o filme “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros”.

O enredo é baseado no livro Os Mensageiros, do espírito André Luiz e psicografado por Chico Xavier; o segundo da série “a vida no mundo espiritual”, iniciada com Nosso Lar. É uma continuação do bem sucedido filme anterior, exibido em 2010.

No livro Os mensageiros, é relatada a atuação de espíritos vinculados à colônia Nosso Lar, no atendimento a encarnados. O filme focaliza um desses apoios: um grupo de espíritos da colônia Nosso Lar se dedica a cuidar de três pessoas que fazem parte de um planejamento espiritual, sem saber que são os escolhidos. Em síntese, os três vultos focalizados são o jovem médium que não estava cumprindo sua missão, um líder de centro espírita e um empresário benemérito.

Trata-se de produção da Cinética Filmes, com Wagner de Assis e Iafa Britz; direção e roteiro por Wagner de Assis; com atores principais Renato Prieto (papel de André Luiz), Edson Celulari (coordenador da equipe espiritual) e Felipe de Carolis (o obsessor). Destacamos a primorosa encenação de Felipe de Carolis.

Assistimos ao filme no dia do lançamento juntamente com a esposa, filho e nora, em São Paulo. A sala estava bem ocupada, com público predominantemente da terceira idade.

Interessante que após o sucesso do filme “Nosso Lar”, a produtora Cinética começou a elaborar o projeto do novo filme. A proposta inicial desse filme, em meados de 2012, foi aprovada em diretoria da Federação Espírita Brasileira (que detém os direitos autorais do livro) no período em que ocupávamos a presidência da Instituição e assinamos o primeiro contrato com a Cinética Filmes. Daí a razão de nosso nome aparecer nos créditos finais do filme.

O enredo é fiel aos textos do espírito André Luiz, mas há imagens, cenas e diálogos que provavelmente não sejam de fácil compreensão para o público não espírita. Houve ampla campanha nas instituições espíritas para que seus frequentadores prestigiassem os primeiros dias de exibição. Há informações que em centenas de cinemas, entre 25 de janeiro e o final de semana, acorreram perto de 500 mil frequentadores. Um caso de sucesso no conjunto dos filmes brasileiros.

O filme deve suscitar a leitura do livro base do enredo, valorizando a mensagem central de vigilância com os compromissos espirituais durante a existência corpórea.

Na apresentação de Os Mensageiros Emmanuel destaca: “recorda que as mensagens edificantes do Além não se destinam apenas à expressão emocional, mas, acima de tudo, ao teu senso de filho de Deus, para que faças o inventário de tuas próprias realizações e te integres, de fato, na responsabilidade de viver diante do Senhor”.

Antonio Cesar Perri de Carvalho é escritor, foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.

Extraído de: Folha da Região. Araçatuba, 31/01/2024. P.2.

São Paulo: há 470 anos homenageia o Apóstolo!

São Paulo: há 470 anos homenageia o Apóstolo!

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Neste ano completa-se 470 anos da fundação da cidade de São Paulo.

Fundada no dia 25 de janeiro de 1554, pelo padre Manuel da Nóbrega.

Este veio à então Colônia de Portugal acompanhando o primeiro governador Tomé de Souza, designado pelo rei Dom João III e com a missão específica de instalar o processo educacional no Brasil. Foi autor do primeiro livro escrito no país: “Cartas do Brasil”. Nóbrega (1517-1570) era bacharel em filosofia e direito canônico pelas Universidades de Salamanca e de Coimbra, antes de ingressar no jesuitismo.

O marco inicial da cidade foi o Colégio São Paulo, onde atualmente se localiza o Pátio do Colégio, no centro antigo da cidade, e funciona um museu alusivo à fundação da cidade e homenageando Manuel da Nóbrega e seu noviço José de Anchieta, considerados os dois primeiros evangelizadores do país.

Em registros históricos de conhecimento público sabe-se que Nóbrega, que atuava em São Vicente, subiu ao Planalto de Piratininga e resolveu fundar uma escola, escolhendo o dia 25 de janeiro, que era a data comemorativa da conversão do apóstolo Paulo. Assim, surgiu a cidade de São Paulo, significativamente a partir de uma escola e homenageando a apóstolo da gentilidade.

Esse episódio histórico foi evocado por Chico Xavier durante o 2o Pinga-Fogo, a longa entrevista na TV Tupi de São Paulo em dezembro de 1971, ao comentar que Manuel da Nóbrega foi uma das reencarnações do espírito Emmanuel. Chico também fez referência a este fato na cerimônia pública e televisada ao vivo da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 19/5/1973, quando recebeu o título de “Cidadão Paulistano”.1,2

Mas essa revelação já havia sido feita por Chico Xavier e foi registrada em livro de Clóvis Tavares – amigo de Chico Xavier – e publicado com apoio deste enquanto encarnado: “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, lançado em 1970 pela Editora Calvário e atualmente editado pelo IDE.3

O filósofo espírita paulista Herculano Pires comentou a missão de Nóbrega junto aos indígenas e aos portugueses que aqui vieram, e estabeleceu a relação entre Paulo e Nóbrega: “Dura foi a luta pela conversão do gentio. […] Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro.”4

Nóbrega era admirador de Paulo de Tarso. Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier elaborou o monumental romance histórico “Paulo e Estêvão” e analisou versículos das epístolas de Paulo em diversas obras. As relações entre o espírito Emmanuel e Paulo de Tarso comentamos em livros de nossa autoria, sobre as epístolas de Paulo, Chico Xavier e Emmanuel.1,2,5

O fundador Manuel da Nóbrega é homenageado não apenas no Pátio do Colégio, mas também em dois monumentos e rua da cidade de São Paulo e uma rodovia no litoral paulista. Há um monumento em homenagem a Paulo de Tarso na Praça da Sé, próximo ao “marco zero”, aliás, o vulto segurando um pergaminho com a frase: “Senhor, que queres que eu faça”.

O nome do Apóstolo designa a cidade e o Estado! Atualmente é a maior cidade do país e do Hemisfério Sul.

A cidade do trabalho, estudo, pesquisa, cultura, multiculturalidade, diversidade e do progresso – “a que nunca para” – há 470 anos homenageia o apóstolo Paulo!

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“Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (II Timóteo 2, 20-21).

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo. Matão: O Clarim. 2016.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Capivari: EME. 2019.

3. Tavares, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. São Paulo: Ed. Calvário. 1970.

4. Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano; Espíritos diversos. Diálogo dos vivos. Cap.23. São Bernardo do Campo: GEEM. 1974.

5. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020.

DE:

Boletim de Notícias do Movimento Espírita (Ismael Gobbo) – copie e cole: https://www.noticiasespiritas.com.br/2024/JANEIRO/25-01-2024.htm

A vida de Cirne e suas propostas por um mundo melhor

A vida de Cirne e suas propostas por um mundo melhor

Excertos do Prefácio e da Apresentação da nova obra

A nova obra – e inédita – “Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor” (de Antonio Cesar Perri de Carvalho, edição conjunta Cocriação e CCDPE-ECM) em lançamento, em janeiro de 2024, conta com textos e ilustrações marcantes.(*)

No Prefácio, Luciano Klein (historiador, autor de biografias, foi presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará), faz comentários significativos: “Leopoldo Cirne, sem favor, uma das maiores expressões do Espiritismo no Brasil, lamentavelmente, pouco lembrado em nossos dias. […] Cesar revela-nos, de forma clara e direta, com nuanças encantadoras, a ação missionária de Leopoldo Cirne, permitindo, destarte, tornar conhecido das gerações futuras, o nome do ex-presidente da FEB. […] asseguramos ser este o mais completo resgate biográfico a respeito do sucessor de Bezerra de Menezes”.

Na Apresentação, o autor considera “o cenário em que Leopoldo Cirne tornou-se espírita, iniciou suas ações na FEB e tornou-se presidente da instituição”; destaca que “na trajetória de vida de Leopoldo Cirne, emergem fortes sinais de contextos de incompreensões, vinculados a momentos de paixão por algumas ideias e posturas”. Apresenta transcrições de “mensagens de autoria de Leopoldo Cirne e de relatos sobre sua atuação, registrados por diversos espíritos, que apresentam coerência com a essência de suas preocupações e pensamentos expressos em artigos e livros enquanto encarnado, e, sem dúvida com seus objetivos e experiências de vida”.

Para o autor, a obra “contribui para se ampliar o conhecimento sobre a sua experiência de vida”; e realça que “a vida e obra de Leopoldo Cirne, seus notáveis predicados morais e intelectuais, alimentados por nobres ideais, representam uma valiosa experiência vivencial e se constituem em formidável subsídio para se analisar e se refletir sobre a trajetória, o estado atual e as perspectivas do Espiritismo no Brasil”.

Nas páginas iniciais da obra é destacada frase de Leopoldo Cirne: “O que falta realmente ao homem contemporâneo é o sentimento, não apenas a notícia, de seus destinos superiores, fundado na inabalável certeza de Deus e na maravilhosa perfeição de suas leis” (do livro O homem colaborador de Deus).

(*) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor. São Paulo/Araçatuba: CCDPE-ECM/Cocriação. 2024. 200p.

Informações:

CCDPE-ECM (copie e cole): https://ccdpe.org.br/produto/leopoldo-cirne-vida-e-propostas-por-um-mundo-melhor/

COCRIAÇÃO EDITORA (copie e cole): cocriacaobencultural.com.br

Adoração a Deus e o compromisso com o ser e a sociedade

Adoração a Deus e o compromisso com o ser e a sociedade

Aylton Paiva

“Deus tem preferência pelos que o adoram dessa ou daquela maneira? – Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes (Questão nº 654 de O Livro dos Espíritos).”

A ligação da criatura com o Criador, com a interpretação das religiões, ao longo do tempo, sempre refletiu as formas de pensar, sentir e agir dos dirigentes dessas religiões.

Assim, nelas constatamos normas que impõem ao adepto daquela religião: o medo, o temor, a submissão absoluta, o de povo escolhido, de grupos eleitos; outras refletem o amor, a solidariedade e a fraternidade. E entre elas há uma gradação grande de exteriorização desses sentimentos, de forma negativa ou positiva.

De forma geral, para agradar o deus apresentado naquela religião gosta de ser louvado, de ser admirado, de ser temido e ele só salva os profitentes que participam daquela organização religiosa, daquele grupo de fieis ou até mesmo daquele povo eleito.

Claro que são projeções dos dirigentes, líderes, condutores daquilo que sentem, projetando como se fosse aquilo que Deus sente. E a forma mais ou menos rigorosa em conduzir os adeptos por parte das classes sacerdotais e das autoridades religiosas têm variado através do tempo, das culturas e de maior ou menor avanço no atendimento aos direitos humanos nas legislações dos países onde as religiões estão inseridas.

Segundo a Doutrina Espírita para adorar a Deus não é necessário atender a formalismos exteriores ou pertencer a essa ou aquela religião.

Na questão acima citada fica muito claro o fundamento da adoração a Deus: “Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal”.

Para se fazer o bem e evitar o mal é necessário que o ser humano seja participante como cidadão da sociedade em que vive, através de ações que preservem os próprios direitos naturais, como, também dentro de suas possibilidades, defenda os direitos naturais do seu semelhante.

Claro que nada vale a adoração exterior manifesta em rituais e posturas falsas, se o comportamento da pessoa se motiva pelo egoísmo, orgulho, vaidade e prepotência.

Para fazer o bem e evitar o mal é necessário procurar extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a prepotência, não só em si mesmo, como também das instituições e grupos sociais.

Esse conceito de adoração leva não só à autoeducação da pessoa, como à reforma da sociedade em seus padrões de egoísmo e orgulho, em nome dos quais se justificam as desigualdades e as injustiças.

Há religiões que se constituem em instrumentos dos poderosos do mundo para a manipulação das massas, de conformidade com seus interesses pessoais ou dos grupos a que pertencem.

A submissão é de suma importância para tais religiões e o maior “pecado” é a desobediência. Esse posicionamento de submissão cria no homem a dependência total à autoridade impedindo-o, consequentemente, de, por seu livre arbítrio, exercitar sua capacidade de amar e raciocinar.

Destarte, ser religioso significa, principalmente, entender a si mesmo e ao seu semelhante, amando-o e amando-se ( “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus).

Segundo o Espiritismo, o valor espiritual de uma religião, filosofia ou seita, está em promover o crescimento, a força, a liberdade para aquelas pessoas que a seguem ou professam.

Por isso, o conceito espírita de adoração infunde um profundo respeito pela Vida, uma permanente indagação sobre o universo e o homem, um intrínseco amor pelo semelhante. Estimula sempre o aperfeiçoamento e o progresso da pessoa e da sociedade, através da solidariedade.

Bibliografia para consulta:

- O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, Terceira Parte – Das Leis Morais – Ed. FEB

- O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade, Aylton Paiva – Ed. Casa dos Espíritas de Lins.

Extraído de:

Boletim de Notícias do Movimento Espírita, 12/01/24: https://www.noticiasespiritas.com.br/2024/JANEIRO/12-01-2024.htm

“Viver em família” há 30 anos

“Viver em família” há 30 anos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há 30 anos, nos dias 29 e 30 de janeiro de 1994, houve o lançamento nacional da Campanha "Viver em Família" em São Paulo, com realização da USE-SP na sede do Centro Espírita Nosso Lar. O slogan “O melhor é viver em família. Aperte mais esse laço” ficou bem difundido.

Num final de semana foi desenvolvido o Seminário “Formação de equipes para a Campanha”, com atuação de diversos companheiros. Divaldo Pereira Franco proferiu a palestra de abertura e desenvolveu um seminário sobre o tema.

Este evento histórico originou o livro Laços de família, editado pela USE-SP1.

Essa Campanha nasceu por proposta da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, durante nossa gestão como presidente da Entidade. A USE-SP já havia promovido a "Campanha Integração da Família", em 1980. As ideias para a nova Campanha se consolidaram durante nossa gestão como presidente da USE, em função da realização de reuniões de estudo e seminários com coordenação de nossa esposa Célia, que motivaram os lançamentos de livros sobre família2,3. Nesse cenário, no ano de 1992, os diretores Sander Salles Leite e Joaquim Soares informaram que a Organização das Nações Unidas-ONU, preparava-se para promover o "Ano Internacional da Família", em 1994 – com o objetivo de "contribuir para construir a família, a menor democracia no coração da sociedade".

Pela oportunidade temática, a USE-SP definiu a elaboração de uma proposta de Campanha sobre Família e apresentou-a na reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em novembro de 1992. Foi formada uma Comissão, incumbida de elaborar uma proposta para a reunião do CFN da FEB do ano seguinte, integrada por representantes de São Paulo: Antonio Cesar Perri de Carvalho e Célia Maria Rey de Carvalho; Rio de Janeiro: Gerson Simões Monteiro e Lydiênio Barreto de Menezes: FEB: Nestor João Masotti e Paulo Roberto Pereira da Costa; havendo assessoria de Merhy Seba (SP). O feliz slogan da Campanha foi de autoria de Merhy Seba.

O projeto completo da Campanha "Viver em Família", foi aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB em suas reuniões de novembro de 1993. Naquela oportunidade a Campanha foi apresentada em evento público no Auditório do Senado Federal.

Dois meses depois houve o marcante lançamento nacional da Campanha "Viver em Família" em São Paulo. A propósito, recordamos de questões de O livro dos espíritos que inspiraram o título e o temário da Campanha:

"Os laços sociais são necessários ao progresso e os laços de família estreitam os laços sociais. […] Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família? ̶ Uma recrudescência do egoísmo."4

Entendemos que a família deve contar com um espaço integrado e conjunto nos centros espíritas, superando-se as ações pulverizadas e estanques – com barreiras etárias -, apenas em reuniões específicas para crianças, jovens e adultos.

Atualmente, numa época tão complexa, torna-se importante o incentivo para o cultivo de valores para o fortalecimento da família!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Laços de família. 8.ed. São Paulo: Ed. USE. 150p.

2) Carvalho, Célia Maria Rey (Org.). Família & espiritismo. 6.ed. São Paulo: USE. 231p.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). A família, o espírito e o tempo. 1.ed. São Paulo: USE. 140p.

4) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. Questões 774 e 775. Brasília: FEB.

A cada novo ano…

A cada novo ano…

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nas passagens de anos são naturais as expectativas de melhorias em todos sentidos.

Afinal a esperança é indispensável para alimentar ideais.

A História demonstra e o Espiritismo esclarece que “a natureza não dá saltos” em todas suas nuances. O progresso ocorre passo a passo. Detalhe importante é que o Espiritismo não aceita a ideia de milagre.

Na obra de Allan Kardec há judiciosos comentários a propósito do aperfeiçoamento da Humanidade e até estabelecendo algumas relações entre passado, presente e futuro.

No capítulo “São chegados os tempos”, em A Gênese, o Codificador pondera: “A humanidade tem realizado, até o presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho”.1

Kardec deixa claro: “Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de ideias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante”.1

Com base no raciocínio de Kardec, fundamentado nas informações espirituais presentes em suas obras, parece-nos que são incabíveis os exageros daqueles que fixam datas e até admitem que estaria próximo o chamado “mundo de regeneração”.

Haja vista a situação do povo em geral e das várias nações… O “bem-estar moral” destacado por Kardec dependerá da adoção na prática das leis morais apregoadas por Jesus, fundamentadas no respeito ao próximo como a si mesmo. O cenário geral ainda é sombrio, mas há cintilações de algumas réstias de luz.

Por outro lado, o conjunto se faz do esforço das partes. A sociedade somente estará mais equilibrada e harmônica quando parcela expressiva de seus integrantes estiverem animados por propósitos de aperfeiçoamento moral e social.

Portanto, outra análise de Kardec é pertinente: “Jesus não faz da caridade apenas uma das condições de salvação, mas a única condição. Se houvessem outras a preencher, Ele as mencionaria. Se Ele situa a caridade no primeiro patamar das virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a indulgência, a justiça etc., e porque ela é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”2

A cada ano que se inicia, torna-se interessante a auto-avaliação sobre nossos esforços em superar as expressões do orgulho e do egoísmo, dando condições para substituições por virtudes.

Assim, a cada novo ano, cabem os esforços para a superação de dificuldades e a concretização de uma prática moral assentada na mensagem de Jesus e robustecida pela certeza que somos espíritos imortais.

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“… paz na terra entre os homens de boa vontade” (Lucas 2,14)

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. A gênese. Cap. XVIII. Itens 5 e 6. FEB.

2) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XV. Item 3. FEB.

Benedita cria momento histórico em Araçatuba

Benedita cria momento histórico em Araçatuba

  

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O antigo Cine Pedutti – atual Centro Cultural Thathi – foi palco de um momento histórico na tarde do dia 17 de dezembro.

Numeroso público compareceu para assistir o lançamento do filme "Benedita – uma heroína invisível. O legado da superação".

Previamente à exibição do filme, houve apresentação musical e de vídeo sobre o tema musical “A summer place” que assinalava o início dos filmes nos Cines São Francisco e Pedutti. Hélio Consolaro, da Academia Araçatubense de Letras, fez o registro que ele compareceu à inauguração do Cine Pedutti, em 1968, para assistir ao filme “Noviça Rebelde” e de sua satisfação de estar novamente no local para assistir a um filme sobre vulto local. Maria Teresa Assis Lemos Marques de Oliveira (Tieza), secretária de Cultura de Araçatuba, fez saudação, pois a produção do filme contou com apoio dessa Secretaria Municipal. Antonio Cesar Perri de Carvalho (de São Paulo), autor do livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, enredo base para o filme, relatou as suas motivações que levaram a elaborar essa biografia. Foram apresentados o diretor e produtor do filme, Sirlei Nogueira e Samuel Lalucci, da co-produção Editora Cocriação e Lalucci Filmes, e dois atores. Nelson Custódio atuou como mestre de cerimônias.

Após a exibição do longa metragem o público aplaudiu.

Em seguida, ocorreram os cumprimentos a Sirlei Nogueira e Samuel Lalucci. Ocorreram gravações de entrevistas/depoimentos com vários dos presentes e Perri autografou o livro "Benedita Fernandes. A dama da caridade" (da Editora Cocriação).

Esse evento no Espaço Cultural Thathi assinalou marcante momento histórico: a apresentação de filme no antigo Cine Pedutti, que foi ambiente de lazer de várias gerações, e, especialmente a apresentação de um filme produzido por equipe e com atuação de atores de Araçatuba, focalizando um vulto benemérito que atuou na cidade. Benedita Fernandes fundou em Araçatuba, em 1932, a Associação das Senhoras Cristãs, entidade assistencial espírita pioneira na cidade e região. Até seu falecimento em 1947, houve desdobramento para atendimentos de doentes mentais, crianças órfãs ou abandonadas, escola municipal, albergue noturno. Tornou-se mais conhecido o Hospital Psiquiátrico Benedita Fernandes que funcionou até poucos anos atrás, desativado em função de políticas de saúde mental e transformado em CAPS.

Esse filme está sendo exibido em circuito alternativo mediante agendamentos. O percentual da venda de ingressos fica para os promotores locais. Inclusive o lançamento em Araçatuba tem a renda revertida para várias instituições parceiras. Várias cidades do país e algumas dos Estados Unidos já fizeram exibições desse filme nos últimos dias.

O vulto Benedita Fernandes tem levado Araçatuba para diferentes rincões.

(O autor foi dirigente espírita em Araçatuba; exerceu a presidência da USE-SP e da FEB).

Publicado em:

Folha da Região, Araçatuba, 20/12/2023. P.2.

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Os finais de ano são assinalados, notadamente nos países ocidentais, com as evocações sobre o nascimento de Jesus.

Num recorte às variadas formas de lembranças e comemorações sobre essa efeméride de nossa Civilização, realçamos a visão oferecida pelo espiritismo.

Allan Kardec, dedica a substanciosa 3a Parte de O livro dos espíritos às leis morais; em O evangelho segundo o espiritismo define o ensino moral como o objetivo dessa obra:

“Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas”.1

No livro A caminho da luz, Emmanuel analisa sob a ótica espiritual a época do nascimento de Jesus:

“[…] eis que ia cumprir-se a missão do Cristo, depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano. A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande tranquilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. […] que assinalam, junto de outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do chamado século de Augusto, com as suas obras numerosas.”2

Realça esse momento da evolução terrestre: “Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa maturação do pensamento terrestre.”2

O “século de Augusto” e a “maioridade terrestre” representam momentos marcantes na história da Humanidade e como uma preparação para a atuação do Cristo. Passados séculos, em mensagem pouco divulgada, Emmanuel considera: “O homem cresceu e evoluiu fisicamente, sem que progredisse, em identidade de circunstâncias, à sua posição espiritual. Algumas almas nobilíssimas trouxeram-lhe num esforço generoso as grandes ideias dos seus tratados de filosofia social e política”. […] A prova disso é que os homens, como os Estados que são os aparelhos físicos da coletividade terrestre e humana, regressam atualmente a todos os processos da força”.3

Mesmo após os discursos e providências em prol da paz, vivemos terrível contexto com diversas formas e intensidades de belicosidades em curso. Após dois mil anos, muitos impérios políticos e religiosos, consolidaram aspectos negativos. Em meio às disputas de poder político, econômico e de extremismos religiosos, há o intenso sofrimento de populações.

Apesar de várias deturpações, a mensagem de Cristo sobreviveu.

Em nossos dias há o esforço do “Consolador Prometido” pelo Mestre. O Espiritismo vive no seu terceiro século de disseminação em vários Continentes, em época de variadas conturbações mundiais. A força da mensagem-proposta do Cristo, expressa nos Evangelhos, representa um potencial de transformação substancial para o homem e para a sociedade em geral.

No geral, num mundo caracteristicamente de “provas e expiações”, que parece distante da “regeneração”, é cabível a proposta de Emmanuel, dos momentos prévios à Grande Guerra, em psicografia de Chico Xavier, aos 17/03/1938, em Pedro Leopoldo3:

“[…] não falamos de recristianização, por quanto o afinamento da mentalidade do mundo terrestre no ideal de perfeição e de amor de Jesus Cristo não chegou a se verificar em tempo algum. Apelamos para a cristianização de todos os espíritos e é dentro desse sentido que se guarda o mais alto objetivo de todas as nossas mensagens extraterrestres”.3

Ao ensejo das evocações sobre o nascimento de Jesus parece-nos claro que a sua mensagem ainda não tem ampla penetração em considerável parcela de nossa Civilização. De nossa parte, compete-nos os esforços para assumirmos como cidadãos conscientes e coerentes com os princípios espíritas.

Nos registros de Paulo de Tarso, há oportunas recomendações para ações: “vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Coríntios 3,3) na condição de “[…] herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hebreus 1,2) e animados pela orientação: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados” (2 Coríntios 4,8).

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Introdução e Cap.6, ítem 5. Brasília: FEB. 2014.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap.11 e 13. Brasília: FEB. 2013.

3) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Ação, vida e luz. P. 25-26. São Paulo: CEU. 1991.

Transcrição parcial de artigo do autor publicado em: Revista internacional de espiritismo. Ano XCVIII. N. 11. Dezembro de 2023.