Os cultos a Maria e o modelo de Jesus

Os cultos a Maria e o modelo de Jesus

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos primeiros meses à frente da Igreja Católica, o papa Leão XIV aprovou documentos que reacendem debates dentro e fora da Igreja Católica.

Entre os documentos recentes, abordou temas como o papel de Maria. O Vaticano impôs limites para veneração a Maria, com o objetivo de evitar interpretações equivocadas sobre a devoção mariana, na tentativa de encerrar um debate que divide teólogos há décadas.

A nova orientação papal reforça que “Jesus é o único Salvador” e desaconselhou o uso do título “corredentora” para Maria, destacando que "Esse título… (pode) criar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã."1

Por mera coincidência o recente documento papal surge dias após as intensas comemorações no Brasil da “padroeira Nossa Senhora da Aparecida” na Basílica de mesmo nome e do tradicional “círio de Nazaré” de Belém do Pará.

Todavia não é apenas no Brasil, entre muitos outros, há os tradicionais santuários de Fátima (Portugal), de Lourdes (França), de Guadalupe (México)… Além das celebrações e igrejas com estes nomes no Brasil também há muitas designações de “nossas senhoras”, como a da Conceição e outras, e, a veneração de suas imagens, procissões, promessas, novenas etc.

Aliás, é pouco divulgado que antes da proclamação oficial de Nossa Senhora Aparecida como “padroeira” do Brasil, a partir de decreto assinado no Vaticano em 16 de julho de 1930, durante o pontificado do Papa Pio XI, havia um outro “padroeiro” do país. Era São Pedro de Alcântara, por solicitação de Dom Pedro I ao papa Leão XII em 1826.2

Fica claro que as decisões de “padroeiros” são decisões humanas, algumas loco-regionais e outras do Vaticano.2

O fato é que as chamadas “Nossas Senhoras” – com aparições espirituais em várias partes do mundo e que foram identificadas como sendo a mãe de Jesus, devem ser aparições de espíritos, alguns com traços de luminosidade e os espectadores, não conhecendo o fenômeno e imbuídos pelo misticismo de religiões tradicionais, logo inferem como sendo a mãe de Jesus.2

Evidentemente que não estamos questionando o mérito do notável espírito, a personalidade sublimada de Maria.

Na literatura espírita há inúmeras referências sobre o papel de Maria como mãe de Jesus e sobre suas ações espirituais. Inclusive há um livro Maria, a mãe de Jesus3, uma antologia que reúne vários textos sobre Maria, incluindo preces, depoimentos de encarnados e desencarnados. Trata-se de textos psicografados por Chico Xavier, Yvonne Pereira e outros médiuns. Há temas como a figura maternal de Maria e suas atividades na espiritualidade.

Isso posto, parece-nos claro que o papa Leão XIV põe limites na chamada “mariolatria”, caracterizada pelos tradicionais cultos, peregrinações e procissões em torno de imagens criadas pelos homens a partir, provavelmente, de aparições e visões espirituais não compreendidas e com venerações às suas imagens que ornam os templos religiosos e dão nome a eles.

Na base do espiritismo, em O livro dos espíritos, esclarece-se que “a adoração verdadeira é do coração”, e, que Jesus é “o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo”.4

Ao ensejo da proximidade das comemorações do Natal, que assinala o episódio do nascimento de Jesus, é oportuna a reflexão em torno do vulto marcante e da mensagem de Jesus.

Que o Natal represente mais uma oportunidade para que a mensagem de Jesus se desenvolva nos corações e seja um efetivo roteiro.

Bibliografia:

1) Internet: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/12/05/papel-de-maria-poliamor-e-sexo-no-casamento-leao-xiv-inicia-papado-com-declaracoes-polemicas-do-vaticano-veja-lista.ghtml

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Padroeiros do Brasil: história e reflexões. Revista internacional de espiritismo. Ano C. No 11. Dezembro de 2025. Site GEECX: https://grupochicoxavier.com.br/padroeiros-do-brasil/

3) Xavier, Francisco Cândido; Pereira, Yvonne Amaral; Carneiro, Edison (org.). Maria, mãe de Jesus. 2ª e. São Paulo: Ed. Aliança. 2011.

4) Kardec, Allan. (Trad. Ribeiro, Guillon). O livro dos espíritos. Q. 625 e 653. Brasília: FEB.

Concílio de Niceia completa 1700 anos: a homenagem do Papa e a visão espírita

Concílio de Niceia completa 1700 anos: a homenagem do Papa e a visão espírita

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Na primeira viagem ao exterior desde sua posse em maio, o papa Leão XIV visitou a Turquia. O roteiro papal começou com a comemoração dos 1.700 anos do Concílio de Niceia. A novidade na viagem do Papa estendendo pelo Líbano foi a interação interreligiosa, solicitando coexistência pacífica entre as religiões.

A efeméride evocada sobre o histórico Concílio nos remete ao evento coordenado pelo imperador romano Constantino que reuniu centenas de lideranças cristãs do Império Romano na cidade de Niceia, atualmente a cidade turca Iznik.

O fato merece visões históricas e espíritas.

A decisão firmada em Milão no ano 313 pelos imperadores Constantino (período 306-337 d.C.), pessoalmente convertido, e Licínio concedeu “aos cristãos, como a todos, a liberdade de poder praticar a religião de sua escolha de modo que o que há de divino na morada celeste possa ser benévolo e propício”.1

O imperador Constantino foi chamado por representantes cristãos para interferir nas polêmicas das lideranças cristãs e resolveu reunir todos os bispos em Niceia (hoje Iznik) no ano 325. A sessão de abertura ocorreu no dia 20 de maio de 325 no palácio imperial de Niceia, onde Constantino presidiu a sessão inaugural e este se reservava o direito de intervir diretamente nos trabalhos da assembleia. Até sua conclusão, provavelmente por volta do dia 25 de julho, o Imperador se manteve como papel destacado da assembleia. Foi encerrado com as celebrações pelos vinte anos do reinado de Constantino.1

A proposta de Constantino visava conseguir a pacificação entre as facções de cristãos e a nova organização da Igreja, que já se tornara importante instituição de apoio ao Império Romano. Constantino conferiu aos decretos do concílio validade de leis do Estado.

Com o Concílio de Niceia, inicia-se claramente a nova etapa do cristianismo, de institucionalização da Igreja Católica Apostólica Romana. A rigor, seria a data real de nascimento dessa religião que o Papa comemorou 1700 anos.

Os exemplos marcantes vividos pelos cristãos idealistas sofreram alguns comprometimentos a partir dos momentos em que a religião cristã se ligou ao Estado Romano, tendo como marco o Concílio de Niceia.

Léon Denis comenta que: “[…] a concepção trinitária, tão obscura e tão incompreensível, oferecia, entretanto, grande vantagem às pretensões da Igreja. Permitia-lhe fazer de Jesus-Cristo um Deus. Conferia ao poderoso Espírito, a que ela chama seu fundador, um prestígio, uma autoridade, cujo esplendor sobre ela recaía e assegurava o seu poder. Nisso está o segredo da sua adoção pelo concílio de Niceia”.2

As alterações no desenvolvimento do cristianismo, a partir de decisões desse Concílio e de outros que se seguiram, são analisadas em obra psicográfica de Francisco Cândido Xavier – A caminho da luz - que focaliza a trajetória da Civilização: “[…] Os primeiros dogmas católicos saem, com força de lei, desse parlamento eclesiástico de 325. […] O Cristianismo, porém, já não aparecia com aquela mesma humildade de outros tempos. Suas cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das pedrarias, mal lembrando a madeira tosca, da época gloriosa das virtudes apostólicas. Seus concílios, como os de Niceia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia, não eram assembleias que imitassem as reuniões plácidas e humildes da Galileia. A união com o Estado era motivo para grandes espetáculos de riqueza e vaidade orgulhosa, em contraposição com os ensinos d'Aquele que não possuía uma pedra para repousar a cabeça dolorida.”3

Em outra obra, intitulada Emmanuel, psicografada por Francisco Cândido Xavier há comentários relacionados com fatos imediatos ao Concílio de Niceia: “A história da Igreja cristã nos primitivos séculos está cheia de heroísmos santificantes e de redentoras abnegações. Nas dez principais perseguições aos cristãos, de Nero a Diocleciano, vemos, pelo testemunho da História, gestos de beleza moral, dignos de monumentos imperecíveis. […] Nos primitivos movimentos de propaganda da nova fé, não possuíam nenhuma supremacia os bispos romanos entre os seus companheiros de episcopado e a Igreja era pura e simples, como nos tempos que se seguiram ao regresso do seu divino fundador às regiões da Luz. As primeiras reformas surgiram no quarto século da vossa era, quando Basílio de Cesareia e Gregório Nazianzeno instituíram o culto aos santos. Os bispos romanos sempre desejaram exercer injustificável primazia entre os seus coirmãos; […] desde o primeiro concílio ecumênico de Niceia, convocado para condenação da cisma de Ário, continuaram as reuniões desses parlamentos eclesiásticos, onde eram debatidos todos os problemas que interessavam ao movimento cristão. Datam dessas famosas reuniões as inovações desfiguradoras da beleza simples do Evangelho; ainda aí, contudo, nesses primeiros séculos que sucederam à implantação da doutrina de Jesus, destinada a exercer tão acentuada influência na legislação de todos os povos, não se conhecia, em absoluto, a hegemonia da Igreja de Roma entre as outras congêneres.”4

O intelectual e jornalista espírita paulista, Wallace Leal Valentim Rodrigues escreveu a obra A esquina de pedra5, contendo relatos históricos e descrições inspiradas sobre fatos que se passam em momentos próximos ao Concílio de Niceia, época de muitos sacrifícios de cristãos no período (284 a 305 d.C.) do imperador Diocleciano. O autor focalizou situações e polêmicas em que ocorreram as descaracterizações do cristianismo primitivo e puro.

A rememoração do Concílio de Niceia deve ser motivo para o estudo e reflexão, para se evitar recidivas históricas em situações enganosas do passado, para a profilaxia de novas "pedras de tropeço" (1 Pedro 2, 8).

Allan Kardec foi muito lúcido ao trazer e defender os laços morais do Evangelho de Jesus para o Espiritismo, utilizando-os como religião natural, de comunhão de pensamentos e fraternidade, que deve ser a tônica de atuação do "Consolador prometido por Jesus"!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais. Análise histórica e visão espírita. Matão: O Clarim. 2018. 286p.

2) Denis, Léon. Trad. Cirne, Leopoldo. Cristianismo e espiritismo. Cap. Alteração do cristianismo. Os dogmas. Rio de Janeiro: FEB. 2013.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. 16. Brasília: FEB. 2013.

4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. Cap. 3.2 e 3.3. Brasília: FEB. 2013.

5) Rodrigues, Wallace Leal V. A esquina de pedra. Matão: Ed. O Clarim. 2003. 411p.

Interesse internacional iniciou-se em Araçatuba

Interesse internacional iniciou-se em Araçatuba

 

      

Antonio Cesar Perri de Carvalhos

Um mês após o lançamento do livro Movimento Espírita Internacionali. Origens, ideais e experiências em evento público e concorrido na sede do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo (em São Paulo), que o editou, o evento presencial seguinte de apresentação da nova obra aconteceu em Araçatuba (SP).
A mera coincidência (seria isso mesmo?) do segundo evento publico acontecer em nossa terra natal realmente tem significados e recordações.
Naquela cidade iniciamos nossas atividades no movimento espírita há 61 anos. Entre compromissos diversos, desde a juventude acompanhávamos as notícias internacionais publicadas em Anuário Espírita (do IDE) e na Revista Internacional de Espíritismo (de O Clarim).
Por essas publicações soubemos da histórica viagem de Chico Xavier e Waldo Vieira aos Estados Unidos e alguns países da Europa, em 1965. Logo depois adquirimos a 1ª edição do livro Entre irmãos de outras terras, contendo mensagens psicografadas pelos dois médiuns nesta viagem e editado pela FEB em 1966.
Logo depois, já mantendo amizade com Divaldo Pereira Franco passamos a acompanhar as viagens internacionais que ele empreendeu, iniciando pela Argentina.
Em viagens particulares em 1971 e 1973 procuramos conhecer locais relacionados com o Espiritismo e pesquisas mediúnicas na Inglaterra e na França. Assim, surgiu nosso primeiro artigo sobre essas visitas, publicado na Revista Internacional de Espiritismo (dezembro de 1973).
Tarefa que nos marcou foi a responsabilidade pela seção “Periódicos Estrangeiros” na Revista Internacional de Espiritismo, a partir de 1980. A Casa Editora O Clarim nos enviava pelo correio para nossa residência em Araçatuba todas as publicações estrangeiras que recebiam e, mensalmente, fazíamos a resenha delas para a citada seção da RIE.
Na condição de docente e depois Pró-Reitor da Universidade Estadual Paulista, empreendemos diversas viagens profissionais e acadêmicas e aproveitamos para manter contato com movimentos espíritas dos Estados Unidos, Cuba, Venezuela.
Em decorrência dessas viagens, contatos e aquisição de obras especializadas, é que elaboramos os livros Os sábios e a senhora Piper. Provas da comunicabilidade dos espíritos e Entre a matéria e o espírito, ambos editados por O Clarim, respectivamente, em 1986 e 1991.
Num crescendo de leituras e contatos, atuamos no 1o Congresso Espírita Internacional (Brasília, 1989) e passamos a acompanhar os preparativos para a fundação do Conselho Espírita Internacional. A partir daí, já residindo em São Paulo e depois em Brasília, acompanhamos os esforços e ações de Nestor Masotti e vivenciamos intensamente as atividades do Conselho Espírita Internacional durante 16 anos.
Esses fatos, ora sintetizados, integram nossos relatos e depoimentos no livro recente Movimento Espírita Internacional.
Assim, nosso interesse ações iniciais pelas atividades internacionais iniciaram-se no período em que residíamos em Araçatuba.
Nada mais natural que após o lançamento oficial na sede da Editora, o CCDPE, em São Paulo, num preito de reconhecimento e gratidão, fizéssemos lançamento presencial em nossa terra natal.
Acesso ao livro (copie e cole):

https://ccdpe.org.br/produto/movimento-espirita-internacional-origens-ideais-e-experiencias/

A ciência, as escolhas e a moral da vida

A ciência, as escolhas e a moral da vida

Djalma Santos

A Terra passa por uma profunda transformação, em que tudo será remodelado: as leis, os costumes, as religiões, as ciências, as artes, a filosofia e a organização das nações, passando pelo livre arbítrio, que é um instrumento divino concedido por Deus para que o homem terrestre possa escolher livremente o seu próprio destino, mas que é apenas a liberdade de escolher e não a capacidade de escolhas.

E é exatamente por isso que as pessoas se confundem e pensam que são sábias e seguras, sem se dar conta de que, todas vezes que pensamos ou falamos, estamos nos comprometendo com o bem ou com o mal, numa troca incessante de energias com os nossos semelhantes.

A vida é um processo eterno de escolhas; escolhemos todos os dias, desde a hora em que levantamos após o sono, até a hora de dormir; e até mesmo dormindo, escolhemos as nossas companhias, que aparecem em nossos sonhos, e é exatamente por isso que precisamos ser criteriosos em nossas escolhas; porque vive melhor quem aprende a escolher.

De um modo geral, gostamos das escolhas erradas, porque são as que dão maior prazer e, consequentemente, satisfazem os nossos instintos grosseiros; mas chegará uma hora em que teremos de refletir sobre o que estamos fazendo e sobre o que já fizemos, porque no fundo de nossa consciência sabemos perfeitamente o que é certo e o que é errado, mas ainda assim continuamos na prática do mal, devido ao enraizamento do mal em nossos corações, e isso é tão real, que o Apóstolo Paulo confessou em uma de suas Epistolas aos gentios:

[…] “o bem que quero, não faço, mas o mal que não quero, esse eu faço, porque não é o mal que está em mim, mas o pecado que está dentro de mim”.

Paulo, o maior seguidor do Cristo de todos os tempos, confessa humildemente que é muito difícil se afastar dos vícios, desejos e paixões, que nos acompanham há séculos e só mesmo um desejo forte, aliado a uma fé inabalável, pode estancar essa sangria de erros e equívocos, aos quais estamos acostumados e viciados.

Todo esse acervo de pecados nos leva ao sofrimento e à dor, deixando-nos tristes e desesperados, sem saber o que fazer diante das tempestades, que nós mesmos desencadeamos; mas chegará a hora em que teremos que, obrigatoriamente, ouvir a voz da nossa consciência imortal, nosso advogado, nosso promotor e, principalmente o juiz, que estará sempre conosco, aqui ou no além, julgando, punindo ou absolvendo faltas leves, médias ou graves, provocadas pela nossa intemperança mental.

Aproxima-se o dia que vem raiando de sublime redenção, já aparecendo os primeiros clarões dessa alvorada de luz, de paz, de alegria e felicidade; dessa manhã de risos e esperanças, despontando sob um sol radiante a luz do espiritismo, que vem consolar as almas e iluminar as consciências terrestres, e aproximar a humanidade de Deus.

Está chegando o momento da libertação, que só irá com o trabalho, com a prece, silêncio, recolhimento, leitura edificante e o culto no lar.

Precisamos voltar nosso pensamento para Jesus, e o nosso olhar para o alto, pedindo a Deus que nos dê a luz necessária para que possamos compreender suas Leis e seus desígnios, e analisar as luminosas palavras contidas no Evangelho de Jesus.

A Terra se aproxima do mundo de Regeneração, sob a supervisão do querido mestre Jesus, apoiando aqueles que se sacrificam para remodelar o Planeta, em especial os que se empenham em divulgar a Doutrina do Consolador, propagando seus ensinamentos.

Estamos terminando o ciclo de planeta de provas e expiações, caminhando para a ascensão a mundos superiores.

Referências:

Evolução em dois Mundos, André Luiz – psicografia Chico Xavier.

Evolução para o Terceiro Milênio, Carlos Toledo Rizzini.

A Gênese, Allan Kardec.

Transcrito de Correio Fraterno, Agosto 2020 (copie e cole):

https://www.correioespirita.org.br/categorias/ciencia-e-espiritismo/4031-a-ciencia-as-escolhas-e-a-moral-da-vida

 

O ESPÍRITA E A CIDADANIA

O ESPÍRITA E A CIDADANIA

Aylton Paiva

“As pessoas progressistas se depararam na ideia espírita poderosa alavanca e o Espiritismo achará, nas pessoas, espíritos inteiramente dispostos a acolhê-lo.” (Kardec, A Gênese, cap. XVIII, it. 24)

É comum ouvirmos no meio espírita as frases: “ Não se pode tratar de política no centro espírita”, “ O Espiritismo nada tem a ver com a política”.

São compreensíveis e justas essas afirmações quando a pessoa está considerando a política no seu aspecto de política partidária executiva e legislativa exercidas por pessoas de mau caráter.

É o que se chama de “politicalha”.

No entanto, precisamos considerar que a palavra política tem vários significados:

1. A arte e a ciência da administração justa para o Bem comum. É o conjunto de conhecimentos sobre a administração pública e as técnicas para a sua aplicação.

2. Partidos Políticos: no processo democrático, é a organização das pessoas em torno de objetivos comuns para a governança da sociedade.

3. Poderes: nesse sentido, temos organização dos Poder Legislativo pela constituição dos cargos: vereador, deputado estadual, deputado federal e senador e Poder Executivo com os cargos: prefeito, governador e presidente da república federativa do Brasil.

Esses cargos são assumidos por pessoas que são votadas secretamente pelo povo. O que causa indignação geral, e mesmo decepção, é o uso desses cargos por pessoas de mau caráter, sem ética, cujos atos estão sempre voltados para o próprio interesse, muitas vezes de forma criminosa.

Por isso muitas pessoas repudiam a “política”, que, em verdade, é a “politicalha”, ou seja, o uso do cargo de forma indevida, desonesta e até criminosa.

No entanto, a sociedade precisa ser governada e o regime democrático, embora não perfeito, é o melhor que se tem até o momento.

Vivemos, como cidadãos, em sociedade. O espírita como cidadão vive em sociedade e da sociedade deve participar. Uma das suas atribuições é votar e, também podendo ser votado a cargos que aspire. Para fazer isso, com consciência e honestamente, o espírita precisa conhecer os valores morais, éticos, para essas ações.

Consequentemente, o conhecimento da Política como ciência e arte da administração justa é fundamental.

Ele encontra esses valores na Filosofia Espiritualista Espírita, que estão inseridos em O Livro dos espíritos, de Allan Kardec, na sua 3ª Parte – Das Leis Morais. Portanto, nesse aspecto a Política pode e deve ser estudada no centro espírita a fim de que o espírita seja um cidadão consciente e responsável pela sociedade em que está vivendo.

Será eleitor consciente e responsável e, podendo, da mesma forma, pleitear cargos nos Poderes Legislativo e Executivo.

O que não poderá ser trazido ao centro espírita e ao movimento espírita é a política partidária, com citação de partidos e nomes de candidatos.

Problemas sociais e violências

Problemas sociais e violências

Antonio Cesar Perri de Carvalho

As teorias e propostas de solidariedade e fraternidade sugerem equacionamentos adequados, mas a prática permanece complicada dentro de contexto tão sério e impactantes para as pessoas em todos os seus ambientes de convivência.

Parcela considerável da população tem dificuldades de sobrevivência física, de alimentação e de acesso à saúde. Muitas famílias entraram em dificuldades em função de desempregos, diminuição e alguns quase ausência de rendas. Concomitantemente cresce o ritmo de todas as formas de violências, gerando quadros fortes de agressividade e de inseguranças.

Em função desse cenário preocupante e às vezes desolador, há problemas vividos pelos espíritas como cidadãos, no contexto de suas famílias, e inclusive à vista das necessidades de subsistência das instituições a que são vinculados. Se numa grande cidade, alguém fizer uma caminhada à guisa de exercício, se defrontará com presença de moradores em situações de rua e de seguidas abordagens de pedintes solicitando auxílios. Pelo whatsapp e pelas redes sociais em geral, há campanhas de instituições de várias regiões.

Na realidade, instituições dos vários Estados certamente enfrentam dificuldades financeiras. E, sem dúvida, alguns frequentadores e colaboradores de centros podem estar passando por momentos delicados.

Por outro lado, as novas alternativas para os vários tipos de comunicação – reuniões e estudos – on line, multiplicam-se, em geral não respeitam valores morais e espirituais e acentuam o alarmismo e até estimulam posições radicais. As novidades levam a exageros. A nosso ver, as “lives” de caráter pessoal merecem uma análise especial. Isso porque surgem aquelas com recursos de “impulsos” e “turbinamentos” pagos para se ampliar a disseminação de mensagens nas redes sociais, e, observamos com muitas reservas e dúvidas os objetivos desses procedimentos que visam o crescimento numérico de “seguidores” e o emprego de plataformas do chamado marketing digital, muito empregado em meios empresariais.

Frente a questões tão delicadas, cabem muitas reflexões e avaliações.

Para isso o Espiritismo dispõe de subsídios infindáveis, mas é necessária uma atenção no conteúdo prevalente em “O Evangelho segundo o Espiritismo” a propósito da prática do ensino moral do Cristo. Há orientações e recomendações gerais para as premissas da fraternidade e da solidariedade, mas os saberes sobre o sentir, ouvir, adequar e agir serão muito importantes para se analisar caso a caso as problemáticas das pessoas e das instituições espíritas.

Dentro dos parâmetros espíritas e cristãos há meios para se rever posturas e ações, do âmbito pessoal até o social, mas as doses e o “timing” são variáveis e não se pode generalizar ou se padronizar. Não há soluções mágicas, “salvacionistas” ou revolucionárias, pois se que se trata da necessidade de educação de base e da difícil e complexa consciência da cidadania.

Em realidade, um longo processo para se atingir um nível de conscientização e de autonomia isento das comuns contaminações das manipulações político-ideológicas.

Tempos difíceis: momentos para análises, avaliações e reflexões! Allan Kardec desenvolve tema correlato no capítulo “sinais dos tempos” no livro A gênese. Emmanuel na análise do processo civilizatório em A caminho da luz (Introdução e Cap. 25), comenta sobre os tempos de “aferição de valores” e que a Humanidade ainda não se cristianizou.

Como reflexão sugestiva para as superações em tempos conturbados: “As dificuldades de qualquer natureza são sempre pedras simbólicas, asfixiando-nos as melhores esperanças do dia, do ideal, do trabalho ou do destino, que recebemos na glória do tempo. É necessário saber tratá-las com prudência, serenidade e sabedoria” – Emmanuel (Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Vida em vida. Cap. Pedras. São Paulo: IDEAL).

Claro alerta de Emmanuel: “Acautelemo-nos, porém, contra o perigo da simples rotulagem. […] não nos esqueçamos de que, se não possuímos o espírito do Cristo, dele nos achamos ainda consideravelmente distantes” (Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte Viva. Cap. 170. FEB).

Dia dos “mortos” e túmulos

Dia dos “mortos” e túmulos

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há pouco tempo, estivemos rapidamente no Cemitério de Araçatuba para verificação da situação de túmulos de familiares.

No trajeto vimos muitas placas e fotos de personalidades que conhecemos e passamos pelo túmulo de Benedita Fernandes, vulto pioneiro espírita da cidade, desencarnada aos 09/10/1947. Além de bem conservado, chamou-nos atenção uma placa acrescentada com os dizeres: “Da Benedita – agradeço a uma graça recebida. 19/02/2012. JLP”.

Sem conhecer o fato ali sumariamente registrado, muitos tem conhecimento, nós inclusive, da intensa atuação espiritual de Benedita Fernandes.

Em termos de frases em túmulos, a marcante e sintetizadora de princípios espíritas, está registrada no dolmen de Allan Kardec, no histórico Cemitério Père Lachaise, em Paris: “Nascer, morrer, renascer novamente e progredir sem cessar é a lei”.

Nessa época, ocorre o cultivo do dia de Finados. A literatura espírita é muito rica de informações sobre as comemorações relacionadas com o chamado “dia dos mortos”. A título de lembrança, é sempre oportuno recorrer-se a obras de Allan Kardec. Assim, na obra inaugural O Livro dos Espíritos há registros no item “Comemoração dos mortos. Funerais"1:

Perg. 320. Sensibiliza os Espíritos o lembrarem-se deles os que lhes foram caros na Terra? R – “Muito mais do que podeis supor. Se são felizes, esse fato lhes aumenta a felicidade. Se são desgraçados, serve-lhes de lenitivo.”

Perg. 321. O dia da comemoração dos mortos é, para os Espíritos, mais solene do que os outros dias? Apraz-lhes ir ao encontro dos que vão orar nos cemitérios sobre seus túmulos? R – “Os Espíritos acodem nesse dia ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer.”

a) Mas o de finados é, para eles, um dia especial de reunião junto de suas sepulturas? R – “Nesse dia, em maior número se reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.”

b) Sob que forma aí comparecem e como os veríamos, se pudessem tornar-se visíveis? R – “Sob a que tinham quando encarnados.”

Perg. 322. E os esquecidos, cujos túmulos ninguém vai visitar, também lá, não obstante, comparecem e sentem algum pesar por verem que nenhum amigo se lembra deles? Que lhes importa a Terra? R – “Só pelo coração nos achamos a ela presos. Desde que aí ninguém mais lhe vota afeição, nada mais prende a esse planeta o Espírito, que tem para si o Universo inteiro.”

Perg. 323. A visita de uma pessoa a um túmulo causa maior contentamento ao Espírito, cujos despojos corporais aí se encontrem, do que a prece que por ele faça essa pessoa em sua casa? R – “Aquele que visita um túmulo apenas manifesta, por essa forma, que pensa no Espírito ausente. A visita é a representação exterior de um fato íntimo. Já dissemos que a prece é que santifica o ato da rememoração. Nada importa o lugar, desde que é feita com o coração.”

No seu último discurso – Dia de Finados do ano de 1868 -, Kardec comenta: “Ofereçamos aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição, encorajamentos e consolações aos que deles necessitem. Façamos de modo que cada um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de esperar”2.

Entre centenas de manifestações espirituais, destacamos o alerta de Eurípedes Barsanulfo, no livro O Espírito da Verdade para nós, os encarnados, sobre os valores eternos: “O espírito deve ser conhecido por suas obras. É necessário viver e servir. É necessário viver, meus irmãos, e ser mais do que pó!”.3

“Viver e ser mais do pó” vem à tona em texto de Emmanuel, lembrando que “irmãos da Terra procuram a nós outros desencarnados, nas fronteiras de cinza, […] também nós, de coração reconhecido, suplicamos-te apoio em auxílio de todos eles”. E roga orações pelos quase mortos: “para todos os nossos irmãos que atravessam a experiência humana quase mortos de sofrimentos e agravos, complicações e problemas criados por eles mesmos, nós te rogamos auxílio e bênção!…”4

Registros espíritas como subsídios para nossas reflexões sobre o chamado “dia dos mortos”.

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. FEB.

2) Kardec, Allan. Trad. Noleto, Evandro Bezerra. O Espiritismo é uma religião? Revista espírita. Dezembro de 1868. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Espíritos diversos. O espírito da verdade. Lição no 12. FEB.

4) Xavier, Francisco Cândido; Espíritos diversos; Pires, Herculano. Na era do espírito. Cap. 21. GEEM.

Utilidade providencial da riqueza

Utilidade providencial da riqueza

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Na obra O evangelho segundo o espiritismo, há interessante item comentado por Kardec, intitulado “utilidade providencial da riqueza”, inserido no capítulo 19 que tem por título “Não se pode servir a Deus e a Mamon”. O Codificador analisa vários versículos do Novo Testamento relacionados com o tema e introduz instruções dos espíritos sobre: A verdadeira propriedade, Emprego da riqueza, Desprendimento dos bens terrenos e Transmissão da riqueza.

Nessa obra há trechos muito claros:

“Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual. Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta”.

E há alertas: “uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não resulta dano para ninguém. […] Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja Ele dado, em virtude do seu livre-arbítrio. […] O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo”.

A questão do emprego de riqueza em benefício de comunidades, áreas do conhecimento e desenvolvimento do progresso, nos leva à recordação de alguns exemplos nobres. E sem dúvida há uma infinidade deles.

Entre os exemplos históricos, destacamos o caso de Leland Stanford (1824-1893), magnata e político da Califórnia (EUA), que após perder o amado filho único, Leland Stanford Jr., de 15 anos, juntamente com a esposa tiveram a determinação de honrar seu filho de alguma forma. O resultado disso foi a criação da Universidade de Stanford, que Leland Stanford decidiu construir com a considerável fortuna dele e de sua esposa. Esta Universidade, uma das principais dos EUA, deu origem ao “vale do silício” gerando incrível desenvolvimento tecnológico principalmente na área digital e de redes sociais.

Em nosso país, há muitas famílias que fomentaram a criação e a manutenção, dos principais hospitais da cidade de São Paulo, que dispõem de notoriedade internacional no atendimento da saúde.

Na área espírita, focalizamos dois casos (mas haverá muitos outros), que com a disponibilização de seus recursos materiais contribuíram com a difusão do espiritismo. Frederico Figner (1866-1947), imigrante judeu, atualmente é conhecido na literatura espírita como Irmão Jacó (livro Voltei, psicografia de Chico Xavier). Na cidade do Rio de Janeiro, destacou-se como pioneiro no Brasil na introdução da discografia e de cinema, criador do Retiro dos Artistas naquela cidade. Ao aceitar o espiritismo, transformou-se em diretor da Federação Espírita Brasileira, colaborador ativo em atendimento a pessoas simples e um dos sustentadores para a construção da sede da editora desta instituição. Ao desencarnar direcionou uma herança a Chico Xavier. Como sempre este médium não aceitava favores e doações e repassou à FEB. Mais um legado para o chamado parque gráfico da Instituição.

A propósito torna-se importante o registro sobre o papel desempenhado por Alípio González Hernandez (1942-2018), radicado em Caracas (Venezuela). Tivemos muitos contatos e fizemos visitas a Alípio na Venezuela.

Alípio resolveu interromper suas atividades empresariais em área de indústria e passou a destinar seus recursos para a difusão do espiritismo em idioma espanhol. Fundou a Editora Mensaje Fraternal, em Caracas, e durante cerca de 40 anos utilizou recursos próprios seus para promoção da tradução e edição em espanhol de cerca de 30 livros psicografados por Chico Xavier, contando com apoio e parceria para impressões no Instituto de Difusão Espírita de Araras (SP). Assim, editou mais de três milhões de livros em espanhol que eram fornecidos gratuitamente aos países de idioma hispânico da América Latina. No período em que estávamos como presidente da FEB, Alípio prestou um grande apoio ao doar esses livros para distribuição durante o 7o Congresso Mundial de Espiritismo, promovido pelo CEI, em Havana (Cuba), em 2013.

Consideramos Alípio González Hernandez o principal divulgador das obras de Chico Xavier nas Américas!

Realmente, a anotação de O evangelho segundo o espiritismo sobre a riqueza: “compete ao homem fazê-la produzir o bem”, pode ser identificada em casos concretos de experiências de vida.

“Padroeiros” do Brasil

“Padroeiros” do Brasil

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No mês de outubro, a tradição católica do Brasil, destaca no dia 12 de outubro a “padroeira Nossa Senhora da Aparecida”.

Há outro vulto reverenciado pelo catolicismo no dia 19 de outubro: São Pedro de Alcântara. Na realidade um dia após a data de sua morte pois já havia uma comemoração oficializada no calendário da Igreja.

Há uma relação entre ambos, pois poucos sabem que antes da atual consagrada “padroeira do Brasil”, o “padroeiro” era São Pedro de Alcântara. São Pedro de Alcântara – nome real Juan de Garabito y Vilela de Sanabria, (Alcântara, 1499 – Arenas de San Pedro, 18/10/1562), foi um frade franciscano espanhol que fez grandes reformas na sua ordem religiosa, a Ordem dos Frades Menores, no Reino de Portugal. Era notável pregador e místico, amigo e confessor de Santa Teresa de Jesus e do rei dom João III, de Portugal. Foi beatificado Papa Gregório XV (1622) e canonizado pelo papa Clemente IX (1669). 

Tornou-se, mais tarde, o santo de devoção da Família Real de Portugal. Seu nome, Pedro de Alcântara, foi escolhido para dois imperadores do Brasil, Pedro I e Pedro II.

Dom Pedro I foi quem solicitou ao papa que proclamasse Pedro de Alcântara o padroeiro do Brasil, o que aconteceu em 1826, pelo papa Leão XII. Em Petrópolis há a Catedral de São Pedro de Alcântara, onde está a cripta imperial, com os corpos dos casais Pedro II e Tereza Cristina, princesa Isabel e conde D’Eu.

Interessante destacarmos que o chamado santo do catolicismo, Pedro de Alcântara, conforme informações antigas de Chico Xavier, seria as personagens do romance Ave Cristo!: Quinto Varro e Quinto Celso. Em diálogos muitas vezes Chico Xavier citava o espírito Pedro de Alcântara. Em obras psicográficas de Chico Xavier, desde Parnaso de além túmulo, há poemas assinados pelo espírito Pedro de Alcântara.

Acontece que em 1930 houve a proclamação oficial de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil, a partir de decreto assinado no Vaticano em 16 de julho, durante o pontificado do Papa Pio XI. A cerimônia que confirmou o título e a proclamou padroeira do Brasil foi realizada quase um ano depois no Rio de Janeiro, pelo cardeal dom Sebastião Leme.

Essa veneração tornou-se extremamente popular e, a rigor, apenas essa imagem é reverenciada. Desapareceu o vulto Pedro de Alcântara, muito embora, haja citações católicas, não sei se eufemísticas, de que ela é “a padroeira” e ele “o padroeiro”… Mas o povo não sabe disso!

O fato é que além das chamadas “Nossas Senhoras” – com aparições espirituais em várias partes do mundo e que identificaram como sendo a mãe de Jesus ou até a caracterizada com uma pequena imagem encontrada por pescadores no rio Paraíba, no interior de São Paulo -, sabe-se que há uma plêiade de espíritos que apoiam e colaboram com o país.

Fica claro que são de ordem humana as designações de “padroeiro” e de “santo”. Como também a adoção de rituais e manifestações exteriores, geralmente relacionados com extrapolações comerciais.

De nossa parte, vêm à mente as informações históricas sobre os cultos de divindades adotados em momentos de antigas civilizações, como os presentes nas culturas: suméria, persa, hindu, egípcia, hebraica, grega e romana. Essas reminiscências em cultos populares podem ser esclarecidas pelo conhecimento do mecanismo das reencarnações.

Por outro lado, sem serem considerados “padroeiros”, na história do Brasil, há vultos marcantes relacionados com a religião e consolidação de propostas voltadas à educação e ao atendimento do próximo.

Entre esses, o pioneiro Manuel da Nóbrega (Sanfins do Douro, Portugal, 18/10/1517 – Rio de Janeiro, 18/10/1570), jurista e jesuíta português, chefe da primeira missão jesuítica à América. As cartas enviadas a seus superiores são documentos históricos sobre o Brasil colonial e a ação jesuítica no século XVI. Nóbrega foi autor do primeiro livro redigido na Colônia: Cartas do Brasil, registrando suas experiências educacionais, principalmente de catequese entre 1549 e 1560. Teve um papel fundamental na fundação de três das maiores cidades do Brasil: Salvador (1549), São Paulo (1554) e Rio de Janeiro (1565). Nóbrega é personagem em romances psicografados por Chico Xavier, em vivências do espírito Emmanuel, depois se caracterizando como orientador e autêntico pai espiritual do médium.

O conhecido filósofo e jornalista espírita paulista Herculano Pires: “Dura foi a luta pela conversão do gentio. […] Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro.”

Nóbrega contou com a atuação do jovem José de Anchieta, nascido em 19/03/1534, nas Ilhas Canárias, e falecido em 09/06/1597, em Reritiba (atual Anchieta, no Espírito Santo). Foi uma das figuras mais influentes e multifacetadas do período colonial brasileiro. Missionário jesuíta, poeta, dramaturgo, gramático e historiador; desempenhou um papel crucial na catequização dos indígenas, na fundação de cidades e na consolidação da presença portuguesa na Colônia. Anchieta deixou um legado indelével na história, na cultura e na religião do país, conhecido como o “Apóstolo do Brasil”.

Outro vulto marcante é o frei Fabiano de Cristo, nome real João Barbosa (Soengas, Portugal, 08/02/1676 – Rio de Janeiro, 17/10/1747), integrante da Ordem dos Frades Menores. Ainda jovem emigrou para o Brasil e deixou registros de chamamentos espirituais do Cristo, alertando-o para sua verdadeira missão. Ao adormecer teve um sonho estranho, reconhecendo a figura de Francisco de Assis, chamando-o para amparar os aflitos. Em seguida, despoja-se de seus bens terrenos. No dia 12/10/1705, mudou o nome para "Frei Fabiano de Cristo" e transfere-se de Angra dos Reis, onde residia, para o Rio de Janeiro onde veio a desempenhar a função de porteiro do Convento de Santo Antônio. Depois assumiu o cargo de enfermeiro, e com seu amor seria exemplo de dedicação, tendo servido neste posto por quase trinta e oito anos. Há o Hospital Espírita Fabiano de Cristo (Caieiras, região metropolitana de São Paulo), e outras instituições fundadas com o seu nome e são muitos os casos considerados de curas atribuídas ao espírito frei Fabiano de Cristo.

O livro – Fabiano de Cristo, o peregrino da caridade, contém registros notáveis sobre sua atuação e anota-se que é considerado por muitos a reencarnação de José de Anchieta, o secretário espiritual de Manuel da Nóbrega, o nosso conhecido Emmanuel.

Desde momentos do século XIX, há informações e depois em livros espíritas, como os de autoria de Irmão X, sobre o espírito chamado Ismael, como o orientador espiritual do Brasil.

Desde obras de Kardec, há registros na literatura espírita de que há equipes de espíritos vinculados a apoios espirituais a países e ao processo civilizatório em geral.

O importante é que sem divinizações, haja a valorização dos exemplos de vida de vultos destacados na construção da religiosidade e com efetiva atuação na edificação de um mundo de respeito ao próximo, com base na “lei áurea” de Jesus.

Fontes:

- Wikipedia, acesso pela internet;

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação espiritual com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020. 208p.

- Costa, Carlos Alberto Braga. Chico, diálogos e recordações. Matão: O Clarim. 2017. 366p.

Benedita Fernandes prossegue em ações espirituais

Benedita Fernandes prossegue em ações espirituais

       

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A benemérita e pioneira da assistencial social espírita na região de Araçatuba, Benedita Fernandes, completou sua existência física há 78 anos.

Depois de curada por espíritas e empreender um vasto trabalho assistencial em Araçatuba ela desencarnou na madrugada do dia 09 de outubro de 1947. Companheiras dela relataram-nos que Benedita sentiu-se mal na noite anterior e antevendo o desfecho iminente, conversou e aconselhou as crianças. De¬sencarnou poucas horas depois, vítima de insuficiência cardíaca.

O féretro para o sepultamento de Benedita foi um dos maiores já ocorridos, até então, em Araçatuba. Seu túmulo era dos mais visitados no cemitério da Avenida da Saudade.

Na elaboração de nosso livro Benedita Fernandes. A dama da caridade, lançado nas comemorações do Cinquentenário (1982) da instituição por ela fundada, a Associação das Senhoras Cristãs, reunimos as pesquisas, muitas entrevistas e constatamos que ela se desapegou da família, na fase de obsidiada e foi considerada “louca”.

Nessa obra – reeditada pela Cocriação, de Araçatuba – está incluída a mensagem espiritual pioneira sobre ela – “Num domingo de calor” -, de autoria de Hilário Silva, psicografada por Chico Xavier em 27 de julho de 1963 e originalmente publicada em Anuário espírita 1964 (Ed. IDE).

O espírito pode dar mostra de sua sobrevivência e identidade espiritual. Coletamos informações sobre a atuação de Benedita Fernandes no mundo espiritual. Ela escreveu várias mensagens, psicografadas por Divaldo Pereira Franco, incluídas em nosso livro e em obras do citado médium. Os exemplos de Benedita e suas mensagens espirituais foram utilizados por muitos expositores, como Mário da Costa Barbosa, que atuou na assistência social espírita, e desenvolveu seminários sobre tal temática, inclusive em Araçatuba. Ele ficou cativado pela figura e principalmente pela mensagem “Cruzada de Amor” (psicografada por Divaldo, em nossa residência, em Araçatuba, em novembro de 1979). A nosso convite, ele desenvolveu palestra com esse tema no histórico 1o Encontro de Delegados de Polícia Espíritas do Estado de São Paulo (Araçatuba, 23-25/05/1980); também compareceu o importante vulto espírita Deolindo Amorim. A mensagem citada ganhou repercussão.

Recentemente, em junho de 2025, houve o lançamento do livro Os desafios da educação nos tempos de regeneração, autoria do espírito Benedita Fernandes, psicografia de José Francisco Gomes (de Ipatinga, MG), contando com nosso prefácio. Estivemos presentes nos lançamentos em instituições de Araçatuba juntamente com o médium e com Sirlei Nogueira (que desencarnou aos 12/09/2025).

Em viagens para palestras, no Brasil e no exterior, recebemos informações sobre Benedita, sempre de forma espontânea e através de diferentes médiuns.

Após 78 anos de sua partida, Benedita Fernandes é um espírito ativo, lúcido e benfazejo, agora conhecida nacionalmente!