Data de Chico Xavier e a aprendizagem e influência

Data de Chico Xavier e a aprendizagem e influência

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A 02 de abril de 1910, nascia Chico Xavier em Pedro Leopoldo (MG).

Nessa cidade fundou o Centro Espírita Luiz Gonzaga, iniciou sua romagem mediúnica e durante três décadas assinalou marcantes exemplos de dedicação ao próximo. Completou 75 anos de labores mediúnicos já em Uberaba, onde residiu a partir de 1959.

Nossa homenagem ao vulto aniversariante se expressa por gratidão pelas oportunidades de aprendizagem que aurimos em suas obras e nos contatos pessoais.

Desde nossa adolescência, à distância acompanhávamos as notícias sobre Chico Xavier e tivemos contato com suas obras psicográficas.

Durante cerca de vinte anos, juntamente com a esposa Célia visitamos Chico Xavier com assiduidade, nas reuniões da Comunhão Espírita Cristã, do Grupo Espírita da Prece e nas peregrinações, em Uberaba. Em vários momentos nos comovemos, como na conversa coloquial quando nos conhecemos, nas dedicatórias de livros que nos redigia de maneira bem informal, em gentilezas e oferta de mimos por ocasião do nascimento de nossos filhos, no atendimento carinhoso que dispensou a vários familiares e amigos e as correspondências, Nos seus atendimentos, principalmente na "peregrinação" assistimos a cenas muito humanas e cristãs. São aspectos de Chico Xavier como pessoa.

Quando obtivemos um exemplar da histórica 1a edição de Parnaso de além túmulo, solicitamos seu autógrafo. Sempre gentil, anotou de forma bem humorada um agradável registro histórico:

"Aos queridos amigos Cesar Perri de Carvalho e Célia entrego, afetuosamente, este livro, pedindo-lhes desculpas pelo atraso de cinquenta e três anos. Sempre reconhecidamente, Chico Xavier. Uberaba, 16/11/85".

A figura de Chico Xavier como pessoa é muito pouco conhecida. Tende-se a idolatrá-lo, esquecendo-se de reações mais simples e naturais do ser humano e que, no caso dele, são muito ricas e interessantes. Quando Chico Xavier completou 50 anos de labores mediúnicos, ele humildemente declarou a um jornal espírita: "Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso…”

O nosso livro Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões, não é biográfico. Trata-se de uma contribuição aos inúmeros subsídios sobre o conceituado médium. Cremos que nossos relatos, envolvendo nuances de Chico como pessoa, a análise de aspectos e das repercussões de sua obra, no conjunto, oferecem matérias para nossas reflexões como indivíduos e como dirigentes espíritas.

Como médium, destacamos a sua dedicação e persistência ao labor por tempo tão prolongado. Portador de vários dons mediúnicos, soube dar prioridade à sua tarefa maior, a psicografia.

A simplicidade e a espontaneidade de Chico Xavier assumem grande realce e fazem destacar sua ímpar figura humana.

Fontes:

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões. Capivari: EME; São Paulo: USE-SP. 2019. 224p.

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

Kardec e o “progredir sem cessar”

Kardec e o “progredir sem cessar”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Aos 31 de Março de 1869, desencarnava subitamente Allan Kardec, em Paris, em plena atividade de atendimento de seus compromissos, com a idade de 65 anos.

No dia 02 de abril realizou-se o sepultamento dos despojos no cemitério de Montmartre, com simplicidade, mas com o comparecimento de uma multidão de mais de mil pessoas.

Entre os diversos oradores, discípulos dedicados de Kardec, o Sr. E. Muller, assim se expressou: “Falo em nome de sua viúva, da qual lhe foi companheira fiel e ditosa durante trinta e sete anos de felicidade sem nuvens nem desgostos, daquela que lhe compartiu as crenças e os trabalhos, as vicissitudes e as alegrias, e que se orgulhava da pureza dos costumes, da honestidade absoluta e do desinteresse sublime do esposo; hoje, sozinha, é ela quem nos dá a todos o exemplo de coragem, de tolerância, do perdão das injúrias e do dever escrupulosamente cumprido.”

O discurso do astrônomo Camille Flammarion foi marcante, assinalando que Rivail ofereceu explicações racionais para acontecimentos, antes tidos como sobrenaturais. Emprega uma das qualificações mais usadas em referência ao homem que codificou o Espiritismo, que ele foi o bom senso encarnado. Eis um trecho: “Ele era o que eu denominarei simplesmente o bom senso encarnado. Razão reta e judiciosa, aplicava sem cessar à sua obra permanente as indicações íntimas do senso comum. Não era essa uma qualidade somenos, na ordem das coisas com que nos ocupamos. Era, ao contrário, pode-se afirmá-lo, a primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual, a obra não teria podido tornar-se popular, nem lançar pelo mundo suas raízes imensas.”

No ano seguinte, atendendo a um projeto do Sr. Sebille, foi construído no histórico Cemitério Père Lachaise um dólmen, constituído de três pedras de granito puro, em posição vertical, sobre as quais se colocou uma quarta pedra, tabular, ligeiramente inclinada, e pesando seis toneladas. Nessa pedra, foi insculpida a frase definida pelos seus amigos: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar esta é a lei". No interior deste dólmen, sobre uma coluna também de pedra, fixou-se um busto em bronze, de Kardec.

Esse monumento foi inaugurado em 31 de Março de 1870, quando houve o translado dos restos mortais de Kardec, e nessa ocasião o Sr. Levent, vice-presidente da “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”, discursou a pedido da viúva, Amélie Boudet, em nome dela e dos amigos.

Algumas nuances do perfil de Allan Kardec passam despercebidas. Aspectos do educador e pesquisador de fatos precisam ser valorizadas e interconectadas. Kardec não foi um entrevistador de espíritos, um mero intermediário para o registro de informações espirituais ou elaborador de obras com base em teorias. Com preparo intelectual, senso de observação, análise e avaliação, dialogava com seus pares e tinha opiniões próprias. Sempre buscou o contato com realidades e entendemos que com suas viagens, com base nas observações e significativos contatos doutrinários, Kardec deu início ao movimento espírita.

As recentes divulgações de manuscritos oriundos de pelo menos três arquivos históricos provenientes da França, estão enriquecendo com detalhes sobre o trabalho, as lutas e o pensamento de Kardec.

Essas nuances do perfil intelectual consolidado em obras e ações, inserido no contexto de sua época, de atento observador, caracterizando-se como o “bom senso encarnado”, conforme designação de Camille Flammarion, são sugestivas para os espíritas da atualidade.

Igualmente a inspirada frase registrada em sua lápide: "… progredir sem cessar esta é a lei", deve orientar os nossos esforços para um roteiro de vida assentado nos princípios exarados nas obras básicas do Codificador.

“Genes da mediunidade” – pesquisas iniciais e as naturais cautelas

“Genes da mediunidade” – pesquisas iniciais e as naturais cautelas

Em artigo recente “Genes da mediunidade: cautela na forma como divulgar” (Dirigente Espírita, março-abril/2025, USE-SP), Alexandre da Fonseca faz oportunas considerações sobre as notícias recentes das mídias espíritas e não-espíritas sobre a publicação do estudo “Candidate Genes Related to Spiritual Mediumship: A Whole Exome Sequencing Analysis of Highly Gifted Mediums” recém aceito para publicação na revista Brazilian Journal of Psychiatry (link, copie e cole: http://doi.org/10.47626/1516-4446 2024-3958).

Eis uns trechos de Alexandre da Fonseca:

“O trabalho é pioneiro e finca um marco importante no lado material da pesquisa sobre fenômenos espíritas, que a academia ainda considera anômalos. Sim, material, porque a pesquisa não comprova (nem intencionou comprovar) a existência e sobrevivência da alma, mas apenas buscou investigar que propriedades materiais distinguiriam pessoas que apresentam mediunidade daquelas que não apresentam. A pesquisa menciona que um dos genes relacionados com a produção de muco, é muito expressado na glândula pineal. […] o referido trabalho de pesquisa mostrou que não é só o gene de produção de muco que é muito expressado na glândula pineal que se destaca por ser variante/mutante em médiuns. Ele mostrou que dos mais de 7.000 genes mutados, encontrados nos médiuns, variações em um grupo de apenas 33 genes foram encontrados em 1/3 dos médiuns (e não estão presentes no DNA dos familiares próximos).

O trabalho concluiu, também, que a maioria desses genes tem papeis relevantes nos sistemas imune e inflamatório do corpo físico. Logo, a glândula pineal, embora possa ter alguma função no processo de concentração e transe mediúnico, não é o único órgão/sistema fisiológico que teria papel relevante na mediunidade. Esse trabalho não confirma nenhuma especificidade ou especialidade da glândula pineal com relação à mediunidade. Além disso, o artigo considera que ‘a glândula pineal, embora possa ter alguma função no processo de concentração e transe mediúnico, não é o único órgão/sistema fisiológico que teria papel relevante na mediunidade’, e não cita sobre que genes seriam relevantes para a mediunidade dos outros 2/3 de médiuns (que formam a maioria dos casos estudados). Talvez alguns médiuns nem tenham variações do gene que é muito expressado na pineal”.

No artigo, Alexandre da Fonseca recomenda:

“Portanto, espíritas (principalmente dirigentes espíritas) tenhamos cautela na forma como interpretamos esses resultados. Sim, parabenizemos os autores da pesquisa e desejamos sucesso nos próximos trabalhos. Oremos aos bons Espíritos os inspirem nesse trabalho. […] Aguardemos, portanto, as futuras pesquisas antes de comprometer o movimento espírita com afirmações que não foram, de fato, comprovadas.”

Daí a palavra empregada no título do artigo: “cautela na forma como divulgar”.

Leia o artigo completo na revista digital Dirigente Espírita (copie e cole): reDE-205_marco_abril_2025.pdf

Quo vadis? Na atualidade…

Quo vadis? Na atualidade…

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos últimos anos sente-se alterações bruscas de rumos e impactos em várias partes do mundo. Claramente geram instabilidades, dúvidas e receios.

O contexto mundial e nacional é muito diferente do ambiente geral que era vivido e das expectativas nutridas na passagem para o século XXI.

No cenário do movimento espírita também é notória uma alteração na compreensão e no ritmo de esforço conjunto e até de expansão.

A tão propalada época de transição, realmente está em curso. Muito embora jamais o mundo deixou de estar em transformações.

Na realidade crescem ou se aprofundam entrechoques pelo mundo afora.

Os radicalismos, os confrontos, as polarizações e o privilegiamento de interesses imediatos favorecem o florescimento de reações tipo ódio.

O cristianismo e muitas religiões que essencialmente se fundamentam na prudência, na reflexão e no respeito ao próximo, parecem não identificadas nas ações de parcela significativa da população e de suas lideranças.

Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, anota claramente: “a realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar”.1 Assim, recomenda de forma objetiva: “que é preciso cristianizar a humanidade é afirmação que não padece dúvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação.”1

Em outra obra o mesmo autor espiritual, numa apreciação geral, analisa que “a Civilização Ocidental está em crise; os observadores e os sociólogos trazem, para o amontoado de várias considerações, o resultado dos seus estudos. Alguns proclamam que toda civilização tem a fragilidade de uma vida; outros aventam hipóteses mais ou menos aceitáveis, e alguns apeiam para a cristianização dos espíritos. Estes últimos estão acertados em seus pareceres”.2

Como cidadãos do século XXI, observamos que no mundo dinâmico em que vivemos sucedem-se mudanças e inovações. Especialistas em gestão e transformações recomendam a valorização de novos talentos, nova cultura e novas formas de fazer as coisas, inclusive não se desprezando receios e preocupações.

Todavia ao se analisar a atualidade torna-se interesse se conhecer a trajetória dos primeiros tempos do cristianismo realizando-se algumas analogias com o movimento espírita.3

Evidentemente que o conceito e a prática de religião determinam diferenças de comportamentos e a origem de eventuais problemas de relacionamento em geral.

Nessa relação entre essência de proposta religiosa e institucionalização, entendemos como oportuna a reflexão nesses comentários do autor espiritual Emmanuel:

"As instituições humanas vivem cheias de códigos e escrituras. Os templos permanecem repletos de pregações. Os núcleos de natureza religiosa alinham inúmeros compêndios doutrinários. O Evangelho, entretanto, não oculta os propósitos do Senhor. Toda a movimentação de páginas rasgáveis, portadoras de vocabulário restrito, representa fase de preparo espiritual, porque o objetivo de Jesus é inscrever os seus ensinamentos em nossos corações e inteligências. Poderemos aderir de modo intelectual aos mais variados programas religiosos, navegarmos a pleno mar da filosofia e da cultura meramente verbalistas, com certo proveito à nossa posição individual, diante do próximo; mas, diante do Senhor, o problema fundamental de nosso espírito é a transformação para o bem, com a elevação de todos os nossos sentimentos e pensamentos. O Mestre escreverá nas páginas vivas de nossa alma os seus estatutos divinos.”4

A nosso ver é oportuna a lembrança de conhecida frase latina: Quo vadis?, que significa "Para onde vais?" ou "Aonde vais?".

Teria surgido em um relato considerado apócrifo conhecido como "Atos de Pedro", quando o apóstolo estaria tentando fugir de um provável sacrifício em Roma. Jesus teria aparecido a ele e pergunta: Quo vadis? Em seguida Jesus também responde: "Vou a Roma para ser crucificado de novo". Pedro teria desistindo da fuga e retornado a Roma onde foi sacrificado. A frase latina e o episódio citado ficaram imortalizados no filme cinematográfico americano épico “Quo vadis” de 1951.5

A propósito, há uma frase parecida registrada pelo apóstolo João (16, 5): “Agora que vou para aquele que me enviou, nenhum de vocês me pergunta: Para onde vais?“ Portanto é pertinente a questão para reflexões na atualidade: para onde vamos?

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. 28.ed. Cap. 2.5 e 4.1. Brasília: FEB. 2013.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. 12. Brasília: FEB. 2013.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais: aspectos históricos e visão espírita. Cap. 6. Matão: O Clarim. 2018.

4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Vinha de luz. Cap. 81. Brasília: FEB. 2005.

5) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Quo vadis: de Roma à atualidade. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIII. No. 4. Maio de 2018.

As instituições espíritas: ontem, hoje e amanhã

As instituições espíritas: ontem, hoje e amanhã

  

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Na atual quadra da vida, com décadas na ação espírita, inclusive em gestões federativas em vários níveis de abrangência: local, regional, estadual, nacional e internacional, refletimos sobre essa vivência diversificada.

As experiências notáveis e históricas vividas no século XX por instituições que efetivaram ações marcantes nos contextos da época indubitavelmente, oferecem subsídios para análises e avaliações.

Todavia, os primeiros lustros do século XXI mostram rápidas transformações em critérios de gestão; nas relações interpessoais, interinstitucionais e interreligiosas; nas formas de comunicação; na comercialização de livros; nas legislações trabalhistas, tributárias e fiscais, ou seja, um mundo em profundas mudanças.

As variadas experiências vividas oferecem material para se fundamentar diálogos a respeito de caminhos a serem planejados que objetivem a união de esforços para apoios, interações e a divulgação do espiritismo.

Nesse período de tempo fortalecemos a convicção de que é no centro espírita – a base do movimento – que se desenvolvem as atividades de estudo e de prática do espiritismo, local onde são atendidas as pessoas que procuram o acolhimento e a orientação espiritual, o ambiente em que se desenvolvem as interrelações entre dirigentes, colaboradores e frequentadores.

Com essa experiência aprendemos a separar atividade de centro e de entidade federativa. Esta última deve ser entendida como filha, pois existe como resultante do funcionamento do conjunto de centros espíritas.

Uma realidade que temos verificado após nosso retorno pleno à vivência e contatos mediante viagens, palestras presenciais e virtuais diretamente com os centros espíritas, é que considerável número deles tem ações autônomas, conhecem as siglas de entidades federativas, mas na prática estão desvinculados das orientações provenientes dessas entidades.

Ao reunirmos essas percepções e reflexões sentimos alguns descompassos no movimento espírita, sendo cabível a analogia com um doente que apresenta sinais e sintomas de febre e se faz necessário o diagnóstico e tratamentos adequados para evitar aprofundamento da enfermidade.

No contexto de nossas atuações na área federativa, atuamos em vários níveis e encargos na União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Interessante e histórico que essa surgiu em função de assembleia convocada com o objetivo de se discutir uma proposta, de criação de uma entidade estadual de união dos espíritas. Nos Estatutos aprovados em ampla assembleia a partir do voto de representantes de centros espíritas de todo o Estado, foi montada uma estrutura em “rede”. Na eleição da comissão executiva, incluindo o presidente, e nas decisões sobre as linhas mestras de atuação dessa comissão os votantes são representantes dos centros espíritas reunidos no Conselho Deliberativo Estadual.

Instituições que não eram unidas à USE-SP assinaram em maio de 2.000 uma “Carta de Intenções de Acordo de União pela Difusão da Doutrina Espírita” com o objetivo de: “[…] constituir um grupo de trabalho, de caráter informal e sem personalidade jurídica”, para estimular o “respeito à individualidade e o trabalho das Organizações signatárias, motivando a convivência e o intercâmbio fraterno entre si” […] a ação conjunta com vistas a agilização da difusão das Obras de Allan Kardec; […] analisar a ação conjunta em campanhas que tenham o respaldo nos princípios da Doutrina Espírita”. Nessa mesma linha, atualmente se desenvolve o Grupo Espírita Paulista.

Em decorrência da extensa pandemia mundial COVID-19, o movimento espírita rapidamente procurou utilizar os recursos da internet.

Experiências notáveis ocorreram, como o enorme evento on line em homenagem aos 110 anos de nascimento de Chico Xavier, em 2020, com coordenação da “Rede Amigo Espírita” (web TV – RAETV) com parcerias de várias webTVs e webRádios. Centenas de milhares de internautas estavam simultaneamente conectados.

Evento inédito foi o “Mês Espírita Mundial”, virtual e efetivado abril de 2022, com atuação de 120 expositores – incluindo palestras (lives) e TEDs (conferências rápidas de 20 minutos) – de 36 países e em 10 vários idiomas, com traduções. Com o objetivo de homenagear os 165 anos de publicação de O livro dos espíritos foi adotado o slogan: "O que nos une é muito maior do que aquilo que nos separa!", sendo um evento online inédito e gratuito, com transmissões nos idiomas de origem dos países e com os conteúdos legendados em: espanhol, francês, inglês e português. Foi apoiado pela Fundação Espírita André Luiz (São Paulo) e transmitido pelo canal do Youtube da TV Mundo Maior e com gravações disponíveis.

Nos últimos anos há substanciais transformações: a prática de trabalhos profissionais em “home office”; a terceirização de serviços; o custo fixo cada vez mais alto para manutenção de grandes sedes, em atendimento às regulamentações e exigências legais, cada vez mais detalhadas; nas formas de comunicação, ampliando a cada momento o emprego da internet, várias formas de redes sociais, chegando ao raiar da chamada “inteligência artificial”… Muitas inovações: palestras e seminários virtuais, os eventos e reuniões com transmissão pela internet, o crescimento de reuniões híbridas nos centros espíritas: presenciais e transmitidas simultaneamente, os periódicos e informativos digitais, prolifera a disponibilidade de livros digitais, o comércio de livros é predominantemente efetivado e com muita praticidade pela internet.

E agora, nessas novas realidades, como ficam as instituições espíritas tradicionais, muitas vezes assentadas em atividades de sedes? Há informações de fechamentos de algumas e de dificuldades financeiras de outras! Ainda seria pertinente a indicação de conteúdos fechados e programas padronizados, num país de grandes diversidades? Deveria abrir-se espaço para um tempo de avaliações, empregando instrumentos propostos por Allan Kardec caracterizados pela “fé raciocinada” e o próprio exemplo dele que, como homem de seu tempo, estava inserido no conhecimento social, cultural e político de seu país, observador atento e que recorria a consultores (que ele cita em seus livros), A experiência de vida e as obras de Kardec devem merecer mais atenção no movimento espírita.

A propósito, a edição da Revue Spirite de dezembro de 1868 contém o registro de sua última palestra, proferida em novembro de 1868 e transcrevemos alguns trechos:

"O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. […] o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isso, porque é doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza”.

De um lado, muitas tradições; de outro, as matérias instantâneas circulam pelo mundo sem barreiras… O que fazer, como se adequar ao novo mundo?

O ideal seria preparar-se ambiente para um diálogo racional e franco entre as lideranças que tiveram experiências ou que estejam com encargos nas instituições. Para isso é indispensável que se superem as ideias personalistas e de preponderância de instituições, evitando-se a elaboração de programas padronizados, a centralização em sedes e prolongadas permanências em cargos.

Fontes:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. União dos espíritas. Para onde vamos? Cap. 3.4. Capivari: Ed. EME. 2018. 142p.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

3. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor. São Paulo: CCDPE-ECM; Araçatuba: Cocriação. 2023. 200p.

(*) Foi presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira, e, membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional; atualmente, em São Paulo, é colaborador do Grupo Espírita Casa do Caminho e do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro).

Reflexões sobre a passagem do tempo e os caminhos

Reflexões sobre a passagem do tempo e os caminhos

Interessante reflexão intitulada “Caminhos do tempo”, foi escrita e divulgada por José Luiz Ricchetti(1).

Aposentado de ações como empresário, inclusive em nível internacional, com formação em engenharia mecânica e várias pós-graduações, agora reside em São Carlos (SP). Dedica-se como autor de crônicas, contos e livros com linguagem simples, clara e objetiva; e abordam normalmente fatos do cotidiano, que se entrelaçam com presente, passado, futuro, e pela espiritualidade.

Eis o texto:

“Caminhos do tempo

Há um silêncio que chega com os anos, e ele não é feito apenas da ausência de ruídos, mas da transição suave entre o que éramos e o que nos tornamos.

Aos 60, você começa a sentir a sutileza do distanciamento. A sala que antes pulsava com suas ideias agora parece cheia de vozes que não pedem mais sua opinião. Não é uma rejeição, é o ritmo da vida. É quando aprendemos que nossa contribuição não está no presente imediato, mas nos rastros que deixamos nos corações e mentes ao longo do caminho.

Aos 65, você percebe que o mundo corporativo, outrora tão vital, é um fluxo incessante. Ele segue, indiferente ao que você fez ou deixou de fazer. Não é uma derrota, é a libertação. Esse é o momento de olhar para si mesmo, despir-se do ego e vestir a serenidade. Não se trata mais de provar, mas de ensinar, de compartilhar, de ser mentor. A verdadeira realização não é a que se exibe, mas a que inspira.

Aos 70, a sociedade parece lhe esquecer, mas será mesmo? Talvez seja apenas um convite para reavaliar o que realmente importa. Os jovens não o reconhecerão pelo que você foi, e isso é uma bênção disfarçada: você pode agora ser apenas quem você é. Sem máscaras, sem títulos, apenas a essência. Os velhos amigos, aqueles que não perguntam quem você era, mas como você está, tornam-se joias preciosas, diamantes que brilham no crepúsculo da vida.

E então, aos 80 ou 90, é a família que, na sua correria, se afasta um pouco mais. Mas é aí que a sabedoria nos abraça com força. Entendemos que amor não é posse; é liberdade. Seus filhos, seus netos, seguem suas vidas, como você seguiu a sua. A distância física não diminui o afeto, mas ensina que o amor verdadeiro é generoso, não exigente. Quando a Terra finalmente chamar por você, não há motivo para medo.

É a última dança de um ciclo natural, o encerramento de um capítulo escrito com suor, lágrimas, risos e memórias. Mas o que fica, o que realmente nunca será eliminado, são as marcas que deixamos nas almas que tocamos.

Portanto, enquanto há fôlego, energia, enquanto o coração bate firme, viva intensamente. Abrace os encontros, ria alto, desfrute os prazeres simples e complexos da vida. Cultive suas amizades como quem cuida de um jardim. Porque, no final, o que resta não são as conquistas, nem os títulos, nem os aplausos.

O que resta são os laços, os momentos partilhados, a luz que espalhamos. Seja luz, seja presença, e você será eterno.

Dedico a todos que entendem que o tempo não apaga, mas apenas transforma.

José Luiz Ricchetti (11/12/2024)”.

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A propósito é oportuna a mensagem de Emmanuel (2):

“O tempo “Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz.” — Paulo (ROMANOS 14,6).

A maioria dos homens não percebe ainda os valores infinitos do tempo.

Existem efetivamente os que abusam dessa concessão divina. Julgam que a riqueza dos benefícios lhes é devida por Deus. Seria justo, entretanto, interrogá-los quanto ao motivo de semelhante presunção.

Constituindo a Criação Universal patrimônio comum, é razoável que todos gozem as possibilidades da vida; contudo, de modo geral, a criatura não medita na harmonia das circunstâncias que se ajustam na Terra, em favor de seu aperfeiçoamento espiritual.

É lógico que todo homem conte com o tempo, mas, se esse tempo estiver sem luz, sem equilíbrio, sem saúde, sem trabalho?

Não obstante a oportunidade da indagação, importa considerar que muito raros são aqueles que valorizam o dia, multiplicando-se em toda parte as fileiras dos que procuram aniquilá-lo de qualquer forma.

A velha expressão popular “matar o tempo” reflete a inconsciência vulgar, nesse sentido. Nos mais obscuros recantos da Terra, há criaturas exterminando possibilidades sagradas.

No entanto, um dia de paz, harmonia e iluminação, é muito importante para o concurso humano, na execução das leis divinas.

Os interesses imediatistas do mundo clamam que o “tempo é dinheiro”, para, em seguida, recomeçarem todas as obras incompletas na esteira das reencarnações…

Os homens, por isso mesmo, fazem e desfazem, constroem e destroem, aprendem levianamente e recapitulam com dificuldade, na conquista da experiência.

Em quase todos os setores de evolução terrestre, vemos o abuso da oportunidade complicando os caminhos da vida; entretanto, desde muitos séculos, o apóstolo nos afirma que o tempo deve ser do Senhor”.

Fontes:

1) Consulta em 23/02/2025 – (copie e cole): https://uiclap.bio/jlricchetti

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Caminho, verdade e vida, Cap. 1. FEB.

(GEECX)

Leopoldo Cirne venceu

Leopoldo Cirne venceu

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Alertado pelo amigo Luciano Klein, acessamos comentários de periódico de Belém do Pará de 1915(1) que se refere a uma querela do jornal Tribuna Espírita, com relação a três vultos marcantes do movimento espírita brasileiro da primeira metade do século XX.

O historiador Klein é pesquisador da vida de Vianna de Carvalho e é o prefaciador de nossa obra biográfica sobre Leopoldo Cirne(2).

Eis o trecho do periódico paraense Alma e Coração:

“Não nos quiseram entender os irmãos da Tribuna... […] Leopoldo Cirne venceu. Se o silêncio do Reformador foi, como acreditamos, seguido também por ele por suas palavras, e em seu coração contra essa onda de ódios e malquerenças. Leopoldo Cirne venceu em toda a linha, porque suportou com valor a prova dolorosa, servindo-se das armas brancas da calma e da humildade, da tolerância e do perdão. Agora é Vianna de Carvalho e Ignácio Bittencourt que vêm seus nomes envoltos no trapo da injúria bimbalhados aos ventos da publicidade. É um órgão da doutrina espírita que assim procede? Não. Não pode ser.” (1)

Torna-se oportuna uma breve informação a respeito dos citados, interativos contemporâneos, e que comentamos na biografia sobre Cirne(2).

Em virtude de disputas internas, Leopoldo Cirne (1870-1941), dinâmico e inovador gestor, não foi reeleito presidente da Federação Espírita Brasileira em 1914 e foi afastado da instituição. A vida e obra de Leopoldo Cirne, representa uma valiosa experiência vivencial e se constitui em formidável repositório para se analisar e se refletir sobre a trajetória, o estado atual e as perspectivas do Espiritismo no Brasil.

Manuel Vianna de Carvalho (1874-1926) foi militar e grande divulgador do Espiritismo, notabilizando-se como orador. À medida que era transferido de cidades em funções no Exército, passava a apoiar movimentos espíritas locais. Foi amigo e colaborador de Cirne na sua gestão como presidente da FEB.

Inácio Bittencourt (1862-1943) fundou e dirigiu durante 30 anos o semanário Aurora, no Rio de Janeiro. Exerceu a Vice- Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o Centro Humildade e Fé, onde nasceu a Tribuna Espírita, por ele dirigida durante alguns anos. Foi amigo de Vianna de Carvalho e de Leopoldo Cirne. Sob sua presidência foi fundado em 1919 o Abrigo Tereza de Jesus, no Rio de Janeiro, e Cirne proferiu a palestra na inauguração dessa instituição.

Realmente as “armas brancas” citadas no periódico Alma e Coração alimentaram a resiliência e a superação pelo trabalho dos três seareiros envoltos em “ondas de malquerenças”. Marcante a expressão “Leopoldo Cirne venceu em toda a linha”.

Há registros notáveis sobre as contribuições ao movimento espírita dos três vultos e esses espíritos assinam mensagens em obras psicográficas de Chico Xavier.

Fontes:

1) Alma e coração. Outubro de 1915. P. 5 (copie e cole): https://obrasraras.fcp.pa.gov.br/publication/file/colecaoexterna/alma-e-coracao/1915/10/

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor. São Paulo: CCDPE/Araçatuba: Cocriação. 2023. 194p.

Homenagem e gratidão à RIE centenária – Síntese da palestra comemorativa

Homenagem e gratidão à RIE centenária – Síntese da palestra comemorativa

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Cairbar Schutel que em 1905 havia fundado o Centro Espírita Amantes da Pobreza e criado o jornal O Clarim, em 15/02/1925 lança um periódico internacional!

Na atualidade, ficaria difícil imaginar o contexto em que Cairbar Schutel lançou a Revista Internacional de Espiritismo.

Matão, uma então pequena cidade do interior do Estado de São Paulo; o maquinário tipográfico manual; meio de transporte era a ferrovia com locomotivas lentas; a telefonia rara e precária; os serviços dos correios demorados; a alfabetização e o ambiente cultural eram limitados; predominava a ascendência da igreja católica sobre a população e, em vários momentos, com movimentos de discriminação e até perseguições ao próprio Cairbar.

Foi um autêntico “bandeirante do Espiritismo”.

Em meio a dificuldades e limitações da época, o idealista e intimorato pioneiro mantinha contatos com lideranças estrangeiras e acompanhava o desenrolar das ideias espíritas em várias partes do mundo. Pesquisadores das primeiras décadas do Século XX e autores de obras históricas e clássicas tinham matérias estampadas na Revista de Schutel, como: Léon Denis, Camille Flammarion, Gabriel Delanne, Cesare Lombroso, Ernesto Bozzano, Oliver Lodge, Charles Richet.

Além dessa atuação linha editorial inédita para a época, nas suas ações e textos Schutel mantinha posturas de inflamado divulgador dos princípios fundamentados em obras de Allan Kardec e dos ensinos de Jesus à luz do Espiritismo nos órgãos e livros publicados pela Casa Editora; e pela pioneira transmissão nas "Conferências Radiofônicas", pela Rádio Cultura PRD-4 de Araraquara (1936-1937).

Os registros dessa Revista do período de Schutel, que desencarnou em 1938, representam fontes preciosas para estudos sobre o movimento espírita.

De nossa parte, tivemos conhecimento sobre a RIE durante nossa adolescência e mantivemos correspondência em meados dos anos 1960, com a sra. Antônia Perche da Silveira Campelo (Antoninha) e depois com Carlos Vital Olson e Wallace Leal Valentim Rodrigues. No ano de 1971 já enviávamos algumas notícias para a RIE. Nossas contribuições com temas internacionais iniciaram-se em 1973, com o registro de nossas visitas em países europeus a centros de referência de pesquisas sobre mediunidade e locais históricos relacionados com o espiritismo.1

O nosso livro inicial – Os sábios e a sra. Piper. Provas da comunicabilidade dos espíritos (1986) e Entre a matéria e o espírito (1991) representam desdobramentos de pesquisas e visitas assinaladas no artigo citado.

Na década de 1970 iniciamos visitas e palestras no Centro Espírita Amantes da Pobreza e estabelecemos contatos e amizade com seus dirigentes: Carlos Vital Olson, Wallace Leal Valentim Rodrigues, Apparecido Onofre Belvedere, chegando até ao atual presidente José Luiz A. Marchesan e sua esposa Lúcia, e o redator Cássio Carrara.

Matéria nossa que teve repercussão foi a síntese de entrevistas com lideranças espíritas no cinquentenário de atividades mediúnicas de Chico Xavier (1977).2 Esse artigo foi reproduzido inclusive em livros, como Chico Xavier. Mandato de amor.3

Tarefa significativa foi a responsabilidade pela seção mensal “Periódicos Estrangeiros” na RIE, a partir de 1980 e mantida durante toda essa década. Fazíamos as resenhas dos periódicos estrangeiros recebidos pela Casa Editora. Nessa década integramos o Conselho de Redação da RIE.

Momentos inesquecíveis foram nossas participações no VIII Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas (Salvador, 1982), representando a RIE; na comemoração em 1998 do Centenário da elevação de Matão a Município, tendo Cairbar Schutel como primeiro prefeito, para a inauguração de placa da USE-SP em homenagem ao pioneiro, pois éramos presidente da USE-SP; em 2005, para as comemorações do Centenário do jornal O clarim, juntamente com Nestor João Masotti, presidente da FEB, e nós representávamos o Conselho Espírita Internacional.4

Episódio histórico é que no início de 2001, a Revue Spirite (fundada por Kardec) em francês, era impressa pela Casa Editora O Clarim e remetida para a França para distribuição aos assinantes, em convênio estabelecido entre o Conselho Espírita Internacional e a União Espírita Francesa e Francofônica, e, fazíamos a intermediação dessas duas Instituições com a Casa Editora. O lançamento dessa nova etapa editorial ocorreu em reunião do CEI em Berlim.4

A RIE teve edição especial para o 4º Congresso Espírita Mundial (Paris, 2004), em idiomas – português, francês, espanhol, esperanto, alemão, inglês.

Desde nossas primeiras incursões internacionais, registros em artigos a partir do ano de 1973, e durante nossa atuação no Conselho Espírita Internacional, entre 2000-2015, a RIE publicou informações sobre as atividades e sínteses das reuniões e congressos efetivados por essa instituição, em interação com Apparecido Belvedere, editor da RIE, pelo fato de estarmos em eventos que ele comparecia para divulgar a tradicional revista.

De nossa parte, transparece afinidade pelas ações de divulgação de Schutel. Entre nossas matérias doutrinárias, a RIE tem trazido comentários e resenhas dos sete livros que publicamos pela Casa Editora O Clarim até o recente Evangelho com simplicidade.

A nosso ver, as instituições fundadas por Schutel representam um marco na história do Espiritismo, aliás, bem documentados no Memorial anexo à Casa Editora e Centro.

Daí nossa homenagem ao nobre vulto e aos vários dirigentes ao longo desse tempo, a nossa gratidão pelo nosso vínculo há mais de 50 anos.

Consideramos oportuna a mensagem “Seja voluntário”, do espírito Cairbar Schutel, que nos sensibiliza desde nossa juventude:

“Ressoam os clarins da convocação geral para as fileiras do Espiritismo. Há mobilização de todos. Cada qual pode servir a seu modo. Aliste-se enquanto você se encontra válido”.5

E, que possamos repetir mensagem de Cairbar, por Urbano de Assis Xavier: “Vivi, vivo e viverei porque sou imortal”.

A RIE vive intensamente em 100 anos de divulgação imortalista!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Anotações de viagem. Revista internacional de espiritismo. Vol. 48. N.11. Dezembro de 1973. P.327-330.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Líderes espíritas opinam sobre Chico Xavier. Revista internacional de espiritismo. Vol. 52. N.6. Julho de 1977. P. 169-173.

3) União Espírita Mineira (Org.). Chico Xavier. Mandato de amor. 1.ed. Cap. Lideranças, algumas opiniões. Belo Horizonte: UEM. 1992.

4) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

5) Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Espíritos diversos. O Espírito da Verdade. Cap. 58. Brasília: FEB.

A opção do perdão

A opção do perdão

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O capítulo X de “O Evangelho segundo o Espiritismo” – Bem-aventurados os que são misericordiosos… -, apresenta análises de Kardec sobre versículos do Novo Testamento relacionados com o perdão.

Entre outras há a transcrição: “Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados; mas, se não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai celestial também não vos perdoará os pecados” (Mateus 6, 14 e 15).

Kardec comenta que em algumas “circunstâncias, é impossível uma reconciliação sincera de parte a parte. Não, não há aí generosidade; há apenas uma forma de satisfazer ao orgulho. Em toda contenda, aquele que se mostra mais conciliador, que demonstra mais desinteresse, caridade e verdadeira grandeza da alma granjeará sempre a simpatia das pessoas imparciais”.

Nas instruções espirituais, Kardec inclui mensagem do espírito Paulo, apóstolo: “o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de vãs palavras e de simulacros. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras” (Lyon,1861).

O interessante é que Paulo, encarnado, anotou na 2a Epístola aos Coríntios (2, 10): “E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos…”

Paulo de Tarso faz seu depoimento “eu também perdoei” e para essa atitude recorre à fundamentação na absorção dos ensinos de Jesus.

Em realidade, nas condições complexas do mundo em que vivemos, o perdão é uma prática difícil.

Todavia, nos textos evangélicos, há continuadas palavras, parábolas e exemplos de Jesus propondo a prática do perdão.

Aliás na oração do “Pai nosso” que ele ensinou no Sermão da Montanha, há o trecho que é um compromisso de quem a profere: “Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos que nos devem. Perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam…”

As reflexões para se pensar na opção de perdão, encontram oportunos comentários de autoria de Emmanuel:

“Imaginemos, por um minuto, que mundo maravilhoso seria a Terra, se todos perdoassem!… […] Se todos perdoarmos, reformaremos a vida na Terra, apagando de todos os idiomas a palavra “ressentimento”, para convivermos, uns com os outros, acreditando realmente que somos irmãos diante de Deus. Quando todos aprendermos a perdoar, o amor entoará hosanas, de polo a polo da Terra, e então o Reino de Deus fulgirá em nós e junto de nós para sempre”.1

Referência:

1) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Passos da vida. Cap. Se todos perdoassem. Araras: IDE.

A partida de Suzi

A partida de Suzi – família e espiritualidade

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Partiu para a espiritualidade Suzete Marinelli Chefaly, conhecida como Suzi, viúva de Lourival Perri Chefaly (conhecido pelo diminutivo Lôlo).

Suzi nasceu em Araçatuba (02/04/1934), filha de Gertrudes Perri Marinelli e Albino Marinelli. Neste lar vivia a irmã de Suzi, Letícia, e nossa genitora Bebé, sobrinha deste casal, e por eles criada após a desencarnação de nossa avó Antonieta.

Na terra natal Suzi concluiu o magistério (curso Normal), estudou piano inicialmente com a imigrante russa Camila Tomashinski; também o idioma italiano; foi “princesa da primavera” nos tradicionais bailes do Araçatuba Clube; uma das primeiras mulheres da cidade que obteve a carteira de motorista; em São Paulo concluiu sua formação como pianista.

Casou-se com o primo Lourival (irmão de Bebé) no final de 1955 e viveram na cidade do Rio de Janeiro. Tiveram os filhos Cristine, Heloíse, Glauco e Ernesto; três netos e três bisnetos. Lourival era médico atuando como pediatra e finalmente cancerologista. Sempre manteve clínica particular e foi médico do Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro. Teve intensa atuação na Campanha Nacional de Combate ao Câncer e foi presidente do Centro de Estudos do I.N.C. Juntamente com Suzi atuavam no Lyons Club-Gávea, onde ele proferia palestras educativas sobre saúde, e, intensamente na Igreja Episcopal (Anglicana) de Botafogo. Muitas vezes, durante nossas estadas no lar do casal, acompanhávamos as tarefas de nosso tio como médico, em hospitais e no seu consultório particular; em palestras que proferia; em congressos médicos; e em cultos na Igreja Episcopal de Botafogo.

O casal tornou-se espírita na época que Lourival foi acometido da mesma enfermidade que era o foco de suas atividades profissionais.

Durante fases do tratamento da insidiosa enfermidade de Lourival, acompanhamos os tios Lôlo e Suzi durante um longo período de tratamento cirúrgico realizado em Manchester (Inglaterra), em 1971. Ele desencarnou em 20 de fevereiro de 1976, na cidade do Rio de Janeiro. Como espíritas, frequentaram a Seara dos Servos de Deus, em Copacabana e depois no bairro Botafogo, que era dirigida pela médium Dolores Bacelar que, inclusive, recebia mensagens de Benedita Fernandes.

O casal manteve intercâmbio e receberam apoio de muitos dirigentes e médiuns do Rio de Janeiro, como Altivo Pamphiro, do Centro “Léon Denis”. Na época, colocamos nosso tio em contato com Divaldo Pereira Franco e estiveram juntos em atividades do orador no Rio de Janeiro e em Araçatuba, em nosso lar e de nossa genitora. Nosso tio conheceu Chico Xavier em viagem que o levamos a Uberaba, sendo alvo de muita atenção por parte do médium, e depois de lembranças em todas as vezes que retornávamos à cidade. No final de 1974, Lourival estava adoentado em seu apartamento no Rio de Janeiro e surpreendentemente recebeu a visita de Chico Xavier, estando presentes os irmãos Bebé, Rolandinho e Walter.

Desde a infância sentíamos uma grande afinidade com os tios e claramente aurimos influências benfazejas dos mesmos, visitando-os com constância ao longo dos anos e passando rotineiramente as férias em suas residências no Rio de Janeiro e no Rio das Ostras. Em função da admiração e gratidão pelo tio organizamos o livro Em louvor à vida, lançado em 1987 (Ed. LEAL), contendo textos dele como encarnado e como desencarnado, estas pela psicografia de Divaldo Pereira Franco.

No campo familiar, após a viuvez Suzi adotou renúncias para melhor apoiar os filhos; até o final da existência foi referência e apoio a eles, netos, bisnetos e a toda a grande família. Vários familiares compareceram ao almoço de confraternização pelo seu 90o aniversário, em abril de 2024. Suzi desencarnou na cidade do Rio de Janeiro, aos 90 anos de idade, no dia 21/01/2025.

Seu filho Ernesto publicou alguns comentários no seu Facebook, como: “É Velha Suzi, estamos vivendo misto de visões, devaneios, ilusões, de certo, fruto do ansioso receio do desconhecido real mas também do agradecimento em vida por tudo que nos foi ofertado: nascimento, o peito, os ensinos, os valores e a honradez de herdar os filhos menores de idade e passados quase 50 anos do retorno do Velho Lôlo e ainda vê-la lutar contra a vida orgânica no querer carregar e proteger seus filhos no colo e não soltar as mãos. Quanta luta silenciosa e quantos ensinamentos ofertados. Tenho certeza da recepção festiva, calorosa e vitoriosa, de um espírito especial que nos criou e protegeu além de suas dores e forças. Que nos unamos em seguir a jornada no quinhão que nos cabe, sendo talvez, uma pequena fração do que nos deixou de legado. Vamos à Luta, a luta de uma vida plantada por Lôlo e regada por Suzi. O sino soou e que Deus nos dê calma, sabedoria e luz para continuar pelas trilhas do legado. Se curtam muito Velho Lôlo e Velha Suzi, até breve…” (https://www.facebook.com/ernesto.perri.3; 24/02/2025).

De nossa parte, Suzi fez parte integrante de nossa existência, desde a infância que vivemos no lar movimentado ao toque italiano dos tios-avós/reais avós em Araçatuba, as continuadas viagens em visita aos tios, a estadia com eles na Inglaterra e visita a alguns países da Europa, padrinhos de meu casamento com Célia, no passado as trocas de cartas, e até o final com os telefonemas semanais. Originalmente nossa prima, depois também tia, mas, na realidade, uma afinidade tão grande semelhante a um calor materno. A esposa Célia e os nossos filhos sempre tiveram um carinho especial por ela.

A nossa homenagem e a certeza dos louros espirituais!

Bibliografia:

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Em louvor à vida. 2.ed. Salvador: Ed. LEA. 2016. 152p.

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 1.10. Araçatuba: Cocriação. 2021.