Casas e Causa

Antonio Cesar Perri de Carvalho

 

No Movimento Espírita é natural que exista a preocupação com a existência de sedes das instituições e, se possível, que sejam próprias.

Nessas sedes se desenvolvem as atividades em geral e, no contexto atual, é desejável que elas ofereçam conforto e boa aparência sem, no entanto, resvalar na grandiosidade e no luxo. Evidentemente que devem ser adequadas ao cumprimento de suas finalidades e também ao meio onde foram edificadas.

A propósito, Emmanuel assim define o Centro Espírita:

“Um centro espírita é uma escola onde podemos aprender e ensinar, plantar o bem e recolher-lhe as graças, aprimorar-nos e aperfeiçoar os outros, na senda eterna.”1

E André Luiz sugere sobre as condições físicas:

“O recinto das reuniões pede limpeza e simplicidade”.2

A análise histórica poderá ser boa conselheira no sentido de se verificar o que ocorreu com os movimentos religiosos que se fundamentaram nas edificações materiais e na estrutura organizacional.

Com base em Paulo – “Temos um altar”3 – Emmanuel comenta sobre o “Altar íntimo”: 

“Até agora, construímos altares em toda parte, reverenciando o Mestre e Senhor. […] Materializado o monumento da fé, ajoelhamo-nos em atitude de prece e procuramos a inspiração divina. […] Apresentemos, portanto, ao Senhor as nossas oferendas e sacrifícios em quotas abençoadas de amor ao próximo, adorando-o, através do altar do coração, e prossigamos no trabalho que nos cabe realizar.”4 
Sobre o assunto, também merecem atenção as sedes de Órgãos e de Entidades Federativas, que têm a tarefa de dinamizar a união e a unificação. 

O documento de trabalho Orientação aos Órgãos de Unificação, aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, define conceitos relacionados com o tema, como as ações de Entidade Federativa como Centro Espírita e campo experimental: 

“Em algumas condições a Entidade Federativa pode executar ações chamadas de campo experimental. O campo experimental, agregado à própria Entidade Federativa, ou a um ou mais Centros Espíritas por ela designados, deve ser entendido como um local onde estão sendo implementados projetos, pesquisas e programas de estudo e de prática, inclusive com o objetivo de avaliá-los e convalidá-los. Historicamente, a Entidade Federativa pode ter se estruturado em um Centro Espírita e este pode ter mantido suas atividades, que não devem ser confundidas com as de campo experimental. A estrutura e as atividades que caracterizam um Centro Espírita devem atender às recomendações de Orientação ao Centro Espírita. A Entidade Federativa que mantém campo experimental ou um Centro Espírita deve priorizar suas atividades federativas, de forma coerente com seus estatutos. O campo experimental ou o Centro Espírita podem colaborar com a formação de equipes de trabalho para as atividades federativas, nas quais deve-se privilegiar a participação representativa e as experiências bem sucedidas de todo o território de abrangência da Federativa.”5

A sede física de um Órgão deve ser entendida como um ponto de referência. Na realidade, deve-se trabalhar com o conceito ampliado de sede – estendida –, e relacionada com a seara espírita e a comunidade em que se inserem.

“Entende-se por atividade federativa as ações que visem a difusão da Doutrina Espírita, a união fraterna entre as instituições espíritas e os espíritas, bem como o apoio aos Centros Espíritas, propiciando o trabalho em equipe e a preparação de trabalhadores. As ações devem ser implementadas pela Entidade Federativa e seus órgãos, em todo o território de sua abrangência.”5

As sedes devem ser entendidas como postos de trabalho, prioritariamente voltadas para a preparação de trabalhadores espíritas. O foco de atenção dos trabalhadores e o público-alvo não devem estar circunscritos a trabalhos internos, ou seja, às atividades intramuros. A ação envolve toda a área de abrangência do Órgão ou da Federativa. 

O desenvolvimento de atividades com base em objetivos bem definidos enseja condições para o planejamento consubstanciado em prioridades. A execução do plano de trabalho da instituição é fim, enquanto a sede e as necessárias estruturas organizacionais são meios. A edificação física e a organização administrativa são importantes, mas a dinamização das atividades-fim são indispensáveis, para que “prossigamos no trabalho que nos cabe realizar”.

As soluções para os problemas administrativos, inclusive das sedes das instituições, e as recomendações para as suas atividades “devem ter como parâmetro o que é simples e viável para a maioria das instituições”6 brasileiras, pois urge a difusão dos princípios espíritas em todas as faixas sociais, até mesmo favorecendo o acolhimento dos simples no Movimento Espírita.7

A transição para a Nova Era já se inicia e o Espiritismo deve “cumprir seu papel – de consolo, apoio, esclarecimento e contribuição para a libertação espiritual”.7

A Causa é mais importante do que a Casa!

 
Referências
1) XAVIER, Francisco C. O centro espírita. Pelo Espírito Emmanuel. In: Reformador, ano 59, n. 1, p. 9(5), jan. 1951.

2) XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 10.

3) HEBREUS, 13:10.

4) XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 93.

5) CARVALHO, Antonio Cesar Perri de (Organizador). Orientação aos órgãos de unificação. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 8, it. 3.1, subit. Conceituações, p. 91-92.

6) União com fidelidade, simplicidade e fraternidade. In: Reformador, ano 129, n. 2.185, p. 29(147)-31(149), abr. 2011.

7) Acolhimento dos simples. In: Reformador, ano 129, n. 2.183, p. 22(60)-24(62), fev. 2011.

 

Extraído de: Carvalho, Antonio Cesar Perri. Casas e causa. Reformador. Ano 129. N.2.186. Maio de 2011. P. 186-187.

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Matérias recentes sobre o tema:

Livro "Centro Espírita. Prática espírita e cristã", do mesmo autor, Ed. USE-SP, 2016.