Palestras sobre Evangelho: Rio Preto e Brasília

  

Na noite do dia 4 de maio, o Centro Espírita Rodrigo Lobato, de São José do Rio Preto (SP) contou com palestra de Antonio Cesar Perri de Carvalho, ex-presidente da USE-SP e da FEB. O expositor abordou o tema "160 anos de O Livro dos Espíritos e os ensinos de Paulo" e também autografou seus recentes livros: "Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo" (Ed.O Clarim) e "Centro Espírita. Prática espírita e cristã" (Ed.USE-SP).

Célia Maria Rey de Carvalho (SEIR e GEECX; ex diretora da FEB) proferiu palestras sobre o Evangelho à luz do Espiritismo: na manhã do dia 7 de maio, em atividade assistencial da Sociedade Espírita Irmã Rosália – SEIR (Areal, DF) e na tarde do dia 9, no Centro Espírita da Fraternidade Cícero Pereira (Asa Norte, Brasília).

Acesso:

https://www.facebook.com/cesar.perridecarvalho

As Sentinelas da Luz do Santuário

A tempestade avizinha-se nos horizontes políticos e sociais do mundo inteiro. Todas as vozes falam de um perigo iminente e todos os corações sentem algo de estranho no ar que respiram.

Fala-se no coletivismo, recolhendo-se cada qual no exclusivismo feroz, e fala-se de nacionalismo e de pátria, dentro do mesmo conceito de egoísmo e de isolamento. Esses extremismos caracterizam um período de profunda decadência nos costumes sociais e políticos desta época de transições.

Apesar, porém, de sua complexidade, esse fenômeno pode ser definido como a angústia generalizada do homem, nas vésperas de abandonar a sua crisálida de cidadão.

Todos os acontecimentos que abalam o planeta, espalhando nos seus recantos mais remotos uma onda revolucionária e regeneradora, significam o trabalho intenso e difícil da laboriosa gestação do novo organismo de leis pelo qual se regerão, mais tarde, os institutos terrenos.

Ditadores e extremismos são expressões transitórias dessa fase de experiências dolorosas porque a verdade é que o cidadão da pátria será substituído pelo homem fraterno, irmão dos seus semelhantes e compenetrado dos seus deveres de amor. Muitas dores implicam, por certo, nessa transformação das fórmulas patrióticas da atualidade, mas as democracias avançadas guardam, na sua estrutura, as sementes desse luminoso porvir.

Todavia, se falamos com respeito a esse assunto, é para dizermos aos nossos irmãos espiritualistas que eles são as sentinelas da Luz do Santuário, à maneira dos antigos heróis que guardavam as primícias do fogo sagrado.

Na hora das sombras, quando a subversão ameaçar o planeta, compete-lhes fornecer o testemunho de sua fé, como um penhor de segurança para as gerações do futuro.

A tarefa do espiritismo está, portanto, adstrita à realização do Homem Interior, dentro de um novo conceito de fraternidade.

Fora desses princípios, as atividades de cada qual serão como folhas volantes, dentro do seu caráter dispersivo, porque todo o nosso esforço está enquadrado no “amarmo-nos uns aos outros” e é essa fórmula que deverá representar a bússola das atividades dos espiritualistas sinceros, os quais, com os seus abençoados sacrifícios, serão os “engenheiros sociais” dos tempos do porvir.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Esperança e luz. Cap. As Sentinelas da Luz do Santuário. São Paulo: Ed. CEU)

NAS AÇÕES DO BEM, O PASSADO É SEMPRE PRESENTE

Célia Maria Rey de Carvalho (*)

Como espíritos imortais, nosso destino é o bem, o amor, com esforços individuais. Jesus orientou que ele se faria presente no socorro aos necessitados. Pela lei da cooperação entre os homens que ele estaria conosco. Ninguém cruza o nosso caminho em vão, aproveitando-se ou não a oportunidade.

Esse raciocínio se aplica à história de uma senhora desequilibrada que perambulava por Penápolis. Pelo sentimento de cooperação, foi acolhida e tratada espiritualmente de uma obsessão contumaz que sofria há anos. Curada, se lembrou de seu nome: Benedita Fernandes. Praticou em Araçatuba a ajuda aos semelhantes, como haviam feito com ela.

Não a conheci e chegavam aos meus ouvidos de jovem os seus feitos. Conheci um jovem que mais tarde tornou-se meu marido – Cesar Perri. Pesquisador nato, estudioso, escritor de “fácil letras” como se dizia, que desde cedo interessou-se pela figura de Benedita. Quase não havia registros sobre a vida dela. O desejo incansável em conhecer aquela personagem não lhe deu tréguas. Reuniu dados e fatos e os publicou em singelo opúsculo. Isso não o satisfez. Mensagens espirituais de Benedita revelaram que sua preocupação continuava sendo as crianças e os obsediados. Quem era esse Espírito, que de forma inteligente, amorosa e sábia enviava essas mensagens do além?

Para Cesar, novos desafios e pesquisas prosseguiram durante anos. Após a publicação do opúsculo, ele fez palestras sobre a vida daquela personagem que passou a ser conhecida como a “Dama da Caridade”. Núcleos de assistência e Centros Espíritas passaram a homenageá-la dando-lhe seu nome. Era vista por médiuns do Brasil e do exterior.

Passados mais de 50 anos nesse afã do Cesar em compreender Benedita Fernandes, sem conhecê-la pessoalmente, perguntamos o que está por trás disso?

A espiritualidade esclarece sobre a parentela material e a espiritual e que esta, remonta milênios e é sustentada pela afinidade, pelo bem querer, e se solidifica ao longo dos tempos. Também há um revezamento nos processos reencarnatórios: alguns espíritos afins retornam ao corpo físico e os demais ficam na espiritualidade velando por eles, ora a situação se inverte. Presumo ser essa a história espiritual entre Benedita Fernandes e Antonio Cesar Perri de Carvalho, são espíritos da mesma família espiritual, mas com evoluções espirituais distintas.

Agora é acessível a história dessa mulher ímpar. Para Cesar, a gratidão continua norteando suas ações em prol da divulgação do vulto Benedita, que por “coincidência” desenvolveu sua obra em Araçatuba. União de dois trabalhadores de Jesus, com os mesmos ideais de ajuda aos semelhantes e divulgação da sua Doutrina. Se não fosse o esquecimento das reencarnações passadas, saberíamos que são milenares caminheiros, com ajudas mútuas pelos caminhos de Jesus. São as afinidades da família espiritual cultivadas aqui e no além, solidificando mais e mais os caminhos do amor e do bem comum.

 

(*) Mestre em Educação e professora aposentada; foi atuante no movimento espírita de Araçatuba; ex-diretora da USE-SP e da FEB.

(Artigo publicado no jornal “Folha da Região”, Araçatuba (SP), 3/5/2017. Lido na cerimônia de lançamento do livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, no dia 6 de maio, em Araçatuba.)

Volta às origens com livro de Benedita

No dia 6 de maio, depois do lançamento da obra ‘Benedita Fernandes. A Dama da Caridade’, no Museu Araçatubense de Artes Plásticas (MAAP) de Araçatuba (SP), Antonio Cesar Perri de Carvalho proferiu palestra à noite no Centro Espírita Amor e Luz, na vizinha cidade de Santo Antonio do Aracanguá. Interessante que os dirigentes deste pequeno Centro destacaram que o expositor fez palestra de inauguração da sede do mesmo há 39 anos atrás. No dia 7 de maio, pela manhã, o ex-presidente da FEB proferiu palestra em homenagem a Benedita, com autógrafos no novo livro sobre o vulto, na Instituição Nosso Lar, em Araçatuba. Neste local o visitante iniciou suas atividades espíritas no início dos anos 1960, juntamente com familiares e Emília Santos (ex colaboradora de Benedita Fernandes). A reunião foi dirigida pelo seu irmão Paulo Sérgio Perri de Carvalho, presidente da Instituição.

Evento marcante para lançamento de livro sobre Benedita Fernandes

Na manhã do dia 6 de maio, o Museu Araçatubense de Artes Plásticas (MAAP) de Araçatuba (SP) foi palco de cerimônia significativa: lançamento da obra ‘Benedita Fernandes. A Dama da Caridade’, de autoria de Antonio Cesar Perri de Carvalho, editada pela parceria USE Regional de Araçatuba/ Cocriação Editora, e, abertura da “Exposição: OLHAR À DAMA. OLHAR A CARIDADE”, sobre a vida e obra de Benedita. O evento foi organizado por Sirlei Nogueira, da USE Regional de Araçatuba. Compareceram, o público espírita, dirigentes de instituições como a diretoria da Associação das Senhoras Cristãs, fundada por Benedita, e que completa 85 anos, várias autoridades e repórteres. Entre as autoridades, o Prefeito Municipal de Araçatuba, a vice-prefeita, secretários da Prefeitura, vereador e ex-prefeito. Usaram da palavra o Prefeito, o ex-Prefeito e o autor do livro Antonio Cesar Perri de Carvalho. Foi lida saudação da esposa de Perri, Célia Maria Rey de Carvalho, publicada no jornal “Folha de Região”, da cidade. Durante o evento houve apresentação musical e um lanche, sempre num ambiente fraterno, de emoções, e de gratidão pela notável seareira da cidade de Araçatuba . Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=scaHBOyZO0E

Equilíbrio religioso e crítica

Obra Regis

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Oportuno o livro de autoria de Regis de Morais intitulado Sobre o equilíbrio religioso. Fé e comunidade (*).

Nas páginas iniciais, o autor destaca a frase de Kardec : «A verdade é como a luz; é preciso que nos habituemos a ela, pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria » (LE, q. 628).

O autor esclarece o tipo de análise e de crítica que desenvolve: “Quando há limpeza de alma a crítica é generosa. Os que assim criticam sabem que é olhando os semelhantes nos olhos, com mansuetude e tom respeitoso, que devem fazer avaliações doutrinárias ou comportamentais em nome de uma causa. Isto não será censurar, mas referir atitudes e comportamentos a parâmetros de amor cristão. […] Este é um escrito crítico, mas no melhor e mais legítimo sentido de crítica: avaliar à luz de critérios  parâmetros firmes e sensatos. Por isso não é um texto de julgamentos.”

Morais, que é da área de Filosofia Social e Educação, destaca que a filiação a uma doutrina precisa ser a base ética das relações inter-humanas e aponta valores éticos, como a bondade, a pureza, a veracidade e a humildade do homem. Apresenta como fundamentos éticos: o respeito, a solidariedade e a compreensão para com as imperfeições humanas.

Sobre isso, exemplifica com escrito de Santo Agostinho de que a assembléia religiosa não é comunhão dos santos, mas sim dos pecadores. Cita o filósofo Gianotti de que exerce o senso crítico sobre seu meio, o universitário, porque sempre o amou muito.

O autor comenta que “o equilíbrio na vida religiosa – e mesmo no cotidiano não religioso – não aceita nenhuma indiferença ao sofrimento de nosso próximo.”

Nas suas fundamentações o autor considera: “O caminho das religiões é duplo: ou escolhemos aquele lado da estrada que amadurece e enseja crescimento espiritual, ou o lado que infantiliza e nos mete em subserviências cegas, instalando ilusório progresso íntimo. Muitas vezes por conveniências manipulatórias, as religiões pregam enfaticamente a obediência.”

O bloqueio a críticas é lembrado que “está relacionado com o autoengano, deficiência de autocrítica muito frequentemente gerada por engessamentos, endurecimentos do próprio pensar…” Relaciona humildade com abertura para o diálogo.

Importante a colocação de que “se deve esperar é que a prática espírita seja consoante à sua doutrina, não apresentando exlusivismos provincianos.” Para Regis, “as ortodoxias pretendem ter o domínio exclusivo da verdade e dos procedimentos corretos.” Prossegue se referindo à expressão “pureza doutrinária” que acaba remetendo a atitudes fundamentalistas e frequentemente separatistas.

Remete à história inclusive sobre o lamentável Index Prohibitorum (do Concílio de Trento)…

Regis entende que “o cultivo da doutrina espírita exige coerência e lealdade. […] se quisermos sua grandeza doutrinária e não um esquálido ídolo, precisamos pensá-la como educação para a ação transformadora das almas e das sociedades, a qual jamais aceite ser um conjunto de slogans separatistas.”

O livro Sobre o equilíbrio religioso. Fé e comunidade é um convite ao bom senso para se evitar slogans separatistas e excludentes; merece estudos e reflexões na seara espírita!

 

(*) Editora Allan Kardec, de Campinas (SP): www.allankardec.org.br

Equilíbrio religioso e crítica

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Oportuno o livro de autoria de Regis de Morais intitulado Sobre o equilíbrio religioso. Fé e comunidade (*).

Nas páginas iniciais, o autor destaca a frase de Kardec : «A verdade é como a luz; é preciso que nos habituemos a ela, pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria » (LE, q. 628).

O autor esclarece o tipo de análise e de crítica que desenvolve: “Quando há limpeza de alma a crítica é generosa. Os que assim criticam sabem que é olhando os semelhantes nos olhos, com mansuetude e tom respeitoso, que devem fazer avaliações doutrinárias ou comportamentais em nome de uma causa. Isto não será censurar, mas referir atitudes e comportamentos a parâmetros de amor cristão. […] Este é um escrito crítico, mas no melhor e mais legítimo sentido de crítica: avaliar à luz de critérios  parâmetros firmes e sensatos. Por isso não é um texto de julgamentos.”

Morais, que é da área de Filosofia Social e Educação, destaca que a filiação a uma doutrina precisa ser a base ética das relações inter-humanas e aponta valores éticos, como a bondade, a pureza, a veracidade e a humildade do homem. Apresenta como fundamentos éticos: o respeito, a solidariedade e a compreensão para com as imperfeições humanas.

Sobre isso, exemplifica com escrito de Santo Agostinho de que a assembléia religiosa não é comunhão dos santos, mas sim dos pecadores. Cita o filósofo Gianotti de que exerce o senso crítico sobre seu meio, o universitário, porque sempre o amou muito.

O autor comenta que “o equilíbrio na vida religiosa – e mesmo no cotidiano não religioso – não aceita nenhuma indiferença ao sofrimento de nosso próximo.”

Nas suas fundamentações o autor considera: “O caminho das religiões é duplo: ou escolhemos aquele lado da estrada que amadurece e enseja crescimento espiritual, ou o lado que infantiliza e nos mete em subserviências cegas, instalando ilusório progresso íntimo. Muitas vezes por conveniências manipulatórias, as religiões pregam enfaticamente a obediência.”

O bloqueio a críticas é lembrado que “está relacionado com o autoengano, deficiência de autocrítica muito frequentemente gerada por engessamentos, endurecimentos do próprio pensar…” Relaciona humildade com abertura para o diálogo.

Importante a colocação de que “se deve esperar é que a prática espírita seja consoante à sua doutrina, não apresentando exlusivismos provincianos.” Para Regis, “as ortodoxias pretendem ter o domínio exclusivo da verdade e dos procedimentos corretos.” Prossegue se referindo à expressão “pureza doutrinária” que acaba remetendo a atitudes fundamentalistas e frequentemente separatistas.

Remete à história inclusive sobre o lamentável Index Prohibitorum (do Concílio de Trento)…

Regis entende que “o cultivo da doutrina espírita exige coerência e lealdade. […] se quisermos sua grandeza doutrinária e não um esquálido ídolo, precisamos pensá-la como educação para a ação transformadora das almas e das sociedades, a qual jamais aceite ser um conjunto de slogans separatistas.”

O livro Sobre o equilíbrio religioso. Fé e comunidade é um convite ao bom senso para se evitar slogans separatistas e excludentes; merece estudos e reflexões na seara espírita!

 

(*) Editora Allan Kardec, de Campinas (SP): www.allankardec.org.br

Equilíbrio religioso e crítica

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Oportuno o livro de autoria de Regis de Morais intitulado Sobre o equilíbrio religioso. Fé e comunidade (*).

Nas páginas iniciais, o autor destaca a frase de Kardec : «A verdade é como a luz; é preciso que nos habituemos a ela, pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria » (LE, q. 628).

O autor esclarece o tipo de análise e de crítica que desenvolve: “Quando há limpeza de alma a crítica é generosa. Os que assim criticam sabem que é olhando os semelhantes nos olhos, com mansuetude e tom respeitoso, que devem fazer avaliações doutrinárias ou comportamentais em nome de uma causa. Isto não será censurar, mas referir atitudes e comportamentos a parâmetros de amor cristão. […] Este é um escrito crítico, mas no melhor e mais legítimo sentido de crítica: avaliar à luz de critérios  parâmetros firmes e sensatos. Por isso não é um texto de julgamentos.”

Morais, que é da área de Filosofia Social e Educação, destaca que a filiação a uma doutrina precisa ser a base ética das relações inter-humanas e aponta valores éticos, como a bondade, a pureza, a veracidade e a humildade do homem. Apresenta como fundamentos éticos: o respeito, a solidariedade e a compreensão para com as imperfeições humanas.

Sobre isso, exemplifica com escrito de Santo Agostinho de que a assembléia religiosa não é comunhão dos santos, mas sim dos pecadores. Cita o filósofo Gianotti de que exerce o senso crítico sobre seu meio, o universitário, porque sempre o amou muito.

O autor comenta que “o equilíbrio na vida religiosa – e mesmo no cotidiano não religioso – não aceita nenhuma indiferença ao sofrimento de nosso próximo.”

Nas suas fundamentações o autor considera: “O caminho das religiões é duplo: ou escolhemos aquele lado da estrada que amadurece e enseja crescimento espiritual, ou o lado que infantiliza e nos mete em subserviências cegas, instalando ilusório progresso íntimo. Muitas vezes por conveniências manipulatórias, as religiões pregam enfaticamente a obediência.”

O bloqueio a críticas é lembrado que “está relacionado com o autoengano, deficiência de autocrítica muito frequentemente gerada por engessamentos, endurecimentos do próprio pensar…” Relaciona humildade com abertura para o diálogo.

Importante a colocação de que “se deve esperar é que a prática espírita seja consoante à sua doutrina, não apresentando exlusivismos provincianos.” Para Regis, “as ortodoxias pretendem ter o domínio exclusivo da verdade e dos procedimentos corretos.” Prossegue se referindo à expressão “pureza doutrinária” que acaba remetendo a atitudes fundamentalistas e frequentemente separatistas.

Remete à história inclusive sobre o lamentável Index Prohibitorum (do Concílio de Trento)…

Regis entende que “o cultivo da doutrina espírita exige coerência e lealdade. […] se quisermos sua grandeza doutrinária e não um esquálido ídolo, precisamos pensá-la como educação para a ação transformadora das almas e das sociedades, a qual jamais aceite ser um conjunto de slogans separatistas.”

O livro Sobre o equilíbrio religioso. Fé e comunidade é um convite ao bom senso para se evitar slogans separatistas e excludentes; merece estudos e reflexões na seara espírita!

 

(*) Editora Allan Kardec, de Campinas (SP): www.allankardec.org.br

 

 

VISÃO DE EURÍPEDES

Começara Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da mediunidade, em Sacramento, no Estado de Minas Gerais, a observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, quando, certa feita, à noite, viu a si próprio em prodigiosa volitação. Embora inquieto, como que arrastado pela vontade de alguém num torvelinho de amor, subia, subia…

Subia sempre.

Queria parar, e descer, reavendo o veículo carnal, mas não conseguia. Braços intangíveis tutelavam-lhe a sublime excursão. Respirava outro ambiente. Envergava forma leve, respirando num oceano de ar mais leve ainda… Viajou, viajou, à maneira de pássaro teleguiado, até que se reconheceu em campina verdejante. Reparava na formosa paisagem, quando não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz.

Como que magnetizado pelo desconhecido, aproximou-se…

Houve, porém, um momento, em que estacou, trêmulo.

Algo lhe dizia no íntimo para que não avançasse mais…

E num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.

Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista, e ficou em silêncio, sentindo-se como intruso, incapaz de voltar ou seguir adiante.

Recordou as lições do Cristianismo, os templos do mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na literatura e nas artes, e a mensagem d’Ele a ecoar entre os homens, no curso de quase vinte séculos…

Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar…

Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quando adquiriu coragem e ergueu os olhos, humilde. Viu, porém, que Jesus também chorava…

Traspassado de súbito sofrimento, por ver-lhe o pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime… Afagar-lhe as mãos ou estirar-se à maneira de um cão leal aos seus pés…

Mas estava como que chumbado ao solo estranho…

Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, lhe atiram incompreensão e sarcasmo…

Nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou suplicante:

– Senhor, por que choras?

O interpelado não respondeu.

Mas desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes reiterou:

– Choras pelos descrentes do mundo?

Enlevado, o missionário de Sacramento notou que o Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima:

– Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam…

Eurípedes não saberia descrever o que se passou então.

Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu…

E acordou no corpo de carne.

Era madrugada.

Levantou-se e não mais dormiu. E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até a morte.

Hilário Silva (FCX)

(Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Pelo espírito de Hilário Silva. A vida escreve. 2ª parte. Cap. 27. FEB)

DEUS

Eurípedes Barsanulfo (1)

O Universo é obra inteligentíssima; obra que transcende a mais genial inteligência humana; e, como todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, é forçoso inferir que a do universo é superior a toda inteligência; é a inteligência das inteligências; a causa das causas; a lei das leis; o princípio dos princípios; a razão das razões; a consciências das consciências; é Deus! Deus! Nome mil vezes santo, que Newton jamais pronunciava sem se descobrir!

Ó Deus que vos revelais pela natureza, vossa filha e nossa mãe, reconheço-vos eu, Senhor, na poesia da criação; na criancinha que sorri; no ancião que tropeça; no mendigo que implora; na mão que assiste; na mãe querida que vela; no pai extremoso que instrui; no apóstolo abnegado que evangeliza as multidões.

Ó Deus! Reconheço-vos eu, Senhor, no amor do esposo; no afeto do filho; na estima da irmã; na justiça do justo; na misericórdia do indulgente; na fé do homem piedoso; na esperança dos povos; na caridade dos bons; na inteireza dos íntegros.

Ó Deus! Reconheço-vos eu, Senhor! no estro2 do vate3; na eloquência do orador; na inspiração do artista; na santidade do mestre; na sabedoria do filósofo e nos fogos eternos do gênio!

Ó Deus! Reconheço-vos eu, Senhor! na flor dos vergéis4, na relva dos vales; no matiz dos campos; na brisa dos prados; no perfume das campinas; no murmúrio das fontes; no rumorejo das franças; na música dos bosques; na placidez dos lagos; na altivez dos montes; na amplidão dos oceanos e na majestade do firmamento!

Ó Deus! Reconheço-vos eu, Senhor! nos lindos antélios5, no íris multicor; nas auroras polares; no argênteo6 da Lua; no brilho do Sol; na fulgência das estrelas; no fulgor das constelações! Ó Deus! Reconheço-vos eu, Senhor! na formação das nebulosas; na origem dos mundos; na gênese dos sóis; no berço das humanidades; na maravilha, no esplendor e no sublime do Infinito!

Ó Deus! Reconheço-vos eu, Senhor! com Jesus, quando ora: "Pai nosso que estais nos céus…" ou com os anjos quando cantam: "Glória a Deus nas alturas, Paz na Terra aos Homens e Mulheres da Boa Vontade de Deus".

Notas:

  1. O poema Deus foi escrito no dia 18 de janeiro de 1914, em Sacramento (MG).
  2. Estro – Inspiração ou entusiasmo poético ou artístico.
  3. Vate – poeta, profeta.
  4. Vergel – Lugar com árvores, horto, jardim, pomar.
  5. Antélio – Fenômeno luminoso solar.
  6. Argênteo – prata.

Corporativismo mediúnico?

RIE-Corporativismo mediúnico

Verifica-se a incompreensão do que seja mediunidade, anexada ao desejo do autoritarismo.

Roberto Vilmar Quaresma | robertovilmarquaresma@gmail.com

Estruturas espíritas tornam-se inabaláveis quando são cercadas pelos apontamentos, insofismáveis, da Codificação da Doutrina Espírita. Qualquer desvio, o mínimo traço fora das recomendações do Espírito de Verdade, acarreta sensíveis transtornos, com a permissibilidade de graves interferências perniciosas, levando, irremediavelmente, para caminhos impróprios os movimentos que se mantinham fertilizados pela certeza do progresso espiritual, assegurado pelas orientações da Doutrina dos Espíritos.

Grupos e indivíduos em desalinho, portanto, não preparados evangelicamente por se encontrarem à margem de estudos das orientações doutrinárias, em conformidade com a atualidade terrena, têm promovido turbulências em grandes proporções em inúmeras casas espíritas, implantando a desarmonia e abrindo a “porta larga”[1].

Todavia, tal acontece porque nessas casas encontram as facilidades impostas pelos seus dirigentes que, por sua vez, também, colocam-se afastados das verdades da Codificação do Espiritismo, e dos aconselhamentos trazidos, constantemente, pelos benfeitores espirituais.

Não compreenderam que os Livros da Codificação traduzem orientações e instruções de Jesus e, em sendo Jesus nosso guia e modelo, nada deve ser modificado; contudo, as essências neles contidas precisam ser condicionadas à luz dos dias atuais, entretanto, mantendo os mesmos princípios da verdade; esta jamais deve sofrer quaisquer alterações ou interferências.

Os conteúdos desses livros, para que não sejam promovidos desvios, precisam ser observados e estudados, constantemente, com a vontade de entendê-los, para penetrar nas energias contidas nas estruturas verbais, e adaptá-los e qualificá-los para as horas hodiernas. Este procedimento constrói barreiras magnéticas capazes de anular quaisquer influências descompostas, que se aventurem a mobilizações impróprias às razões evangélicas; e mais, além da proteção fluídica o Ser permanece em sintonia com os benfeitores espirituais que o assistem, operando na intimidade dos pensamentos.

Observam-se, nos momentos atuais, comunidades formadas por pessoas inabilitadas, cujo degenerado teor perceptivo é obscurecido pelo orgulho e desmedida vaidade, que aventam; tornando-se joguetes de espíritos detratores, fomentam ideias equivocadas no intuito de induzir pessoas no circuito em que atuam à famigerada implantação de um possível corporativismo mediúnico. Isto é, os grupos mediúnicos das casas espíritas passariam a obedecer às regras traçadas por um Comando Central. Ora, a casa assim como cada médium têm mediunidades específicas a serem desenvolvidas e trabalhadas; jamais se pode atrelar casas espíritas e médiuns a regras únicas, pois, assim como não há espíritos iguais, obviamente não existem mediunidades iguais. Semelhantes, sim. Porém, o que é semelhante contém detalhes específicos e variados, e precisam ser observados e respeitados; nunca cumprirem determinada formatação e regidos por lamentáveis regras delimitadoras.

Verifica-se a incompreensão do que seja mediunidade, anexada ao desejo do autoritarismo, pois, ambicionar padronizar o que é específico e único em cada espírito, é o mesmo que impor a todos os espíritos assumirem exatamente o mesmo nível evolutivo, situação plenamente impossível.

Mediunidade é condição especialíssima em cada Espírito. Allan Kardec revela: “Não há nenhum sinal pelo qual se reconheça a existência da faculdade mediúnica; só a experiência pode revelá-la”[2]. Sem este propósito não há quem seja capaz de identificá-la; e mais, como já dito, a mediunidade opera na intimidade do pensamento, para, após, manifestar-se corporalmente, quando necessário. Em muitas ocasiões a comunicação apenas se dá na profundeza do médium, sem qualquer exteriorização que a identifique. O médium agirá com ações comuns, viabilizando a orientação recebida, ou não.

Evidentemente, estas percepções somente serão sentidas pela sensibilidade dos estudiosos. Aqueles que simplesmente fazem uso da observação sem os conhecimentos já trazidos à luz pelo Espiritismo mergulham no abismo do erro, porque mediunidade não é vestimenta exterior, mas sim, faculdade que tem os seus mecanismos no âmago da alma, com seus efeitos transferidos para o perispírito e com a informação apresentada pelo corpo físico; todavia, com certos detalhes, porque nem tudo o que a mediunidade revela nas informações é a totalidade do processo nos eventos. Muitas revelações são destinadas ao trabalho do médium, e estas ficam em segredo para as suas devidas ações, sem a necessidade de ser expostas ou comentadas.

A mediunidade, como já visto, é individualizada e não carece de padronização, como esperam conseguir pessoas que ambicionam impor seus domínios em casas espíritas que apresentam a falta de conhecimento, assim como elas.

Ora, como imprimir um mesmo desenvolvimento a faculdades que se apresentam segundo a evolução e as necessidade de cada alma? Se bastante não fosse, o organismo físico foi biologicamente estruturado para determinado tipo de mediunidade, de acordo com as necessidades a serem manipuladas na presente encarnação, e estas foram pautadas quando da elaboração da programação reencarnatória ou mapa de provas úteis, como cita André Luiz em Missionários da Luz, capítulo 13[3]. Se tal condição, perniciosa, é acionada, é o mesmo que querer impor ao Universo que os mundos obedeçam a uma única pauta exclusiva de desenvolvimento, sem ser considerado o nível evolutivo no qual se encontrem. Obediência completamente inaceitável, jamais seria cumprida; nunca obteria êxito.

Situação facilmente compreensível: cada mundo está em um patamar na escala da lei do progresso; e mais, lá encontra-se uma população hospedada onde cada membro ostenta um grau espiritual de desenvolvimento. Não há a mínima condição para estabelecimento de uma única pauta educativa; a movimentação é complexa e somente planejada e colocada em execução por espíritos, encarnados ou desencarnados, estudiosos e especializados em diagnosticar estruturas íntimas.

Pois bem, os grupos ou aqueles que individualmente vêm tentando estabelecer um corporativismo mediúnico, para que possam ter o domínio das ações e concretizarem os seus critérios perniciosos de comando, é bom que desistam da alçada, porque mediunidade é faculdade doada por Deus de acordo com as necessidades de cada alma, como já verificado, e ninguém é capaz de modificar as características configuradas; poderá sim, prejudicar suas investidas, desviando-as, fazendo com que aconteçam de maneiras indevidas e equivocadas. Porém, se alguém assim agir, assume a responsabilidade do mal proporcionado, e assinala em sua pauta reencarnatória as ações controvertidas, para, futuramente, com novas ações eliminar os efeitos maléficos construídos, corrigindo-se.

Mediunidade é faculdade da alma que se projeta nos seus instrumentos de trabalho – perispírito e corpo físico –, predisposta para a sua ascensão na diretriz do progresso a caminho da perfeição. Por estes principais motivos, a atenção à manifestação da qualidade mediúnica deve ser respeitada sem quaisquer imposições para modificá-la, mas sim, com todo carinho, educá-la e aprimorá-la.

Os estudiosos da Codificação da Doutrina dos Espíritos conhecem e sabem lidar com as condições mediúnicas de cada indivíduo. Sabem que em não havendo duas almas iguais, impossível existir mediunidades iguais.

Daí fica mais do que constatada a falta de conhecimento e aprendizado, por estudos mal feitos ou, quem sabe, por necessidades pessoais de satisfação promovida pelo orgulho, filho dileto do egoísmo, a tentativa de estabelecer um ineficaz corporativismo mediúnico, a fim de imprimir as falsas verdades individuais.

Tenhamos, finalmente, então, o cuidado de não permitirmos que indivíduos inescrupulosos se infiltrem nas estruturas bem direcionadas das nossas casas espíritas. Para tanto, sejamos estudiosos contumazes da Doutrina Espírita, e estejamos atualizados, isto é, os conhecimentos e aprendizados devem ser adaptados e aplicados considerando a luminosidade dos novos dias.

1. Mateus 7:13 – Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela.

2. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte. Cap. II – 62.

3. XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Pelo espírito André Luiz. FEB.

O autor é engenheiro aposentado, pós-graduado em Administração. Atua como médium e expositor no Centro Espírita Léon Denis (CELD) e é autor do livro “Coisas da vida na visão espírita”, Ed. O Clarim.

Extraído de: Quaresma, Roberto Vilmar. Corporativismo mediúnico? Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCII. N. 3. Abril de 2017. P. 123-124.