As reflexões sobre o Pacto Áureo e o futuro do movimento espírita

Especial

As reflexões sobre o Pacto Áureo e o futuro do movimento espírita

Eliana Haddad

Na tarde de 19 de outubro, sábado, foi realizado na sede da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo o Seminário "70 anos do Pacto Áureo – História e Reflexão", com considerações alusivas ao passado, presente e futuro do movimento espírita.

Contando com a presença de representantes de órgãos espíritas paulistas e das entidades inicialmente patrocinadoras a Federação Espírita do Estado de São Paulo (Roberto Watanabe), a Liga Espírita do Estado de São Paulo (Silvio Neris da Silva e Alcides Barbosa) e a Sinagoga Espírita Nova Jerusalém (Daniel Quinto e Sergio Ruiz Piovesan), o evento analisou o histórico acordo assinado em 5 de outubro de 1949 entre o presidente da Federação Espírita Brasileira e representantes de algumas federativas estaduais do Sul e do Sudeste e que resultou na criação do Conselho Federativo Nacional da FEB.

O seminário (coordenado por Maurício Romão, diretor da USE-SP), contou com exposições de Antonio Cesar Perri de Carvalho sobre "Da fundação da USE até o Pacto Áureo"; Júlia Nezu sobre “A prática do Pacto Áureo”, e Rosana Amado Gaspar, atual presidente interina da USE, sobre o tema "Construindo o futuro".

Em seguida, os expositores responderam a perguntas, formuladas pelos presentes, dirigentes de centros e órgãos da USE, principalmente da Capital e alguns do interior.

Além de representantes da USE Regional de São Paulo e dos órgãos que a compõem, estiveram presentes os representantes das USEs Intermunicipais de São José do Rio Preto (Silvana Aparecida Correa), Catanduva e Mauá.

Seguem abaixo trechos das exposições e respostas ao público dos palestrantes.

Sobre o presente

“Uma reflexão que fazemos para o momento atual é com respeito ao Conselho Federativo Nacional. Diz o Pacto Áureo que a FEB criará um Conselho Federativo Nacional permanente com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da sua organização federativa. O CFN hoje congrega os 27 estados brasileiros e não podemos tirar o mérito do Conselho. Apesar de hoje funcionar como um órgão subordinado à FEB, e sua estrutura não ser ideal no nosso modo de ver, sua ação contribuiu para o crescimento e a difusão do espiritismo no Brasil inteiro, principalmente nos estados do Norte e Nordeste. No Sul, por exemplo, os cursos começaram a ser adotados pelas casas espíritas, tivemos o Edgard Armond que fundou as escolas na Federação Espírita do Estado de São Paulo e outras iniciativas. Assim, não tivemos por aqui carências tão grandes dessa ajuda mútua que acontece no CFN.

Não estamos aqui para tirar os méritos daquilo que já aconteceu e também a importância desse trabalho conjunto realizado pelo CFN.

Na época do Nestor Masotti e do Cesar Perri [ex-presidentes da FEB], pensamos que teríamos algumas aberturas, com participação mais coletiva do movimento espirita através das federativas dentro do CFN. Havia um regimento e essa abertura foi uma tentativa para democratizar um pouco mais e para que as federativas pudessem ter maior poder de ação.

Ao nosso ver, o Pacto Áureo serviu para esses 70 anos, construiu-se muito, e ninguém nega o valor do trabalho que as federativas realizaram, o trabalho dos diretores e seus esforços em levar o movimento espírita com uma direção segura.

Penso que o Pacto Áureo foi escrito para um tempo, mas ele continua norteando algumas coisas no movimento espírita e talvez seja sobre isso que tenhamos que refletir. Não é alterar o Pacto Áureo, mas seria um novo pensar, um novo direcionamento, uma adequação aos tempos atuais para a exigência de um movimento espirita mais amadurecido.” (Júlia Nezu)

Sobre o futuro

“Quando falamos de movimento espírita, de construção de futuro, percebemos que o passado pode alterar o nosso presente. E começamos a ter um ponto de vista diferente do que tínhamos quando estudamos a história, constatando que é com as nossas ações no presente que podemos mudar o futuro.

As ações corajosas do Pacto Áureo conseguiram consolidar, fortalecer o CFN – Conselho Federativo Nacional. Os Estados têm suas federativas, que são exitosas e atuantes.

De certa maneira, graças a esses homens e à participação da Federação Espirita Brasileira, conseguimos ter um CFN fortalecido atualmente e é por conta disso mesmo que estamos conversando sobre este assunto.

Vemos que no Pacto Áureo alguns itens geram polêmicas, como seu primeiro item, e que em algumas gestões vários itens foram atualizados através de documentos, como: Orientação ao centro espírita e Orientação aos órgãos de unificação.

Kardec diz que não há nenhum documento, nenhum contrato entre os espíritas para que eles se reúnam. O que deve haver é a fraternidade entre os homens. E, também, que um dos maiores obstáculos que poderiam entravar a propagação da doutrina seria a falta da unidade.

Jesus conclama para que coloquemos a candeia acima do alqueire e a nossa postura é de construção sempre. Não é de dissensão, de desarmonia, mas de construir, de modificar, de melhorar o que já está estabelecido." (Rosana Amado Gaspar)

Um documento histórico

"No movimento espírita, a gente tem uma ideia de conservação, mas vamos lembrar quantas constituições o Brasil já teve nesses anos. Existe alguma coisa mais importante do que a constituição do país? Ou um acordo de união escrito num momento histórico significativo, marcante, um documento cabível para aquele momento? Temos que pensar nisso. O que é documento histórico e o que é vigente.

O mais importante é que haja uma maior atuação administrativa das federativas no CFN. Pressupõe-se que o presidente de uma federativa tenha vivência espírita de seu estado e isso deve ser valorizado no Conselho. Essa era uma ideia do ex-presidente Nestor Masotti e nossa, que o sucedemos. Todavia há dificuldade em se compreender por que a diretoria da FEB é eleita por um conselho superior, composto por pessoas físicas e não por federativas. E essas pessoas físicas são indicadas pela diretoria da FEB. Em mais de 130 anos de existência, a FEB teve apenas dois presidentes que caminharam efetivamente (pelo Movimento Espírita) do tempo de mocidade espírita, direção de centro espírita, direção de órgão de unificação, direção de federativa, até chegar à presidência.” (Antonio Cesar Perri de Carvalho)

Transcrito de:

Jornal Dirigente Espírita, USE-SP, São Paulo. Ano XXX, No. 174. Novembro/Dezembro de 2019. P. 8 e 9.