Alegria do Natal e ensinos de Jesus

Alegria do Natal e ensinos de Jesus

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O nascimento de Jesus foi anunciado por espíritos, identificados como “anjos”: “[…] eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo” (Lucas 2, 10) e em seguida “vozes” entoavam: “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lucas 2, 14).

Essas características prenunciadas espiritualmente se concretizaram com os ensinos e exemplos de Jesus. A época da comemoração do nascimento de Jesus, que é o real significado do Natal, deve merecer recordações e reflexões em torno do que representa a proposta de Jesus para a Humanidade.

Alguns episódios de ações e diálogos registrados pelos evangelistas, entendemos como sugestivos para se balisar estudos e reflexões sobre temas vinculados aos ensinos de Jesus. A questão fundamental e que transparece em todos os ensinos de Jesus tem a ver com a chamada “regra áurea”: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12, 31).

A nosso ver, o Sermão da Montanha resume a essência das propostas de Jesus para uma nova Civilização. Nesse marco histórico há o registro que assinala uma das suas características, de demonstrar conhecimento de algumas tradições da época que seriam aceitáveis. De início, de acordo com Mateus (5, 1): “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos”. Ensinar sentado era naquela época uma tradição dos mestres judaicos. Todavia, não foi a postura de estar sentado que lhe conferiu autoridade, mas os conceitos exarados naquele momento e compatíveis com seus exemplos: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas” (Mateus 7, 28-29).

Daquela expressiva conclamação, destacam-se as Bem-aventuranças e que devem ser balizadoras para os processos de educação espiritual, a partir da compreensão espírita: os pobres de espírito; os que choram, porque eles serão consolados; os mansos; os que têm fome e sede de justiça; os misericordiosos; os limpos de coração; os pacificadores; os que sofrem perseguição por causa da justiça; e sobre a conduta quando vos injuriarem e perseguirem (Mateus 5, 3-11). Desde O evangelho segundo o espiritismo há um grande repositório de obras espíritas com grande diversidade de subsídios fundamentais a serem trabalhados para a compreensão das Bem-aventuranças à luz do Espiritismo.

O Sermão da Montanha contém inúmeras recomendações e alertas sobre a divulgação da mensagem, principalmente pelos exemplos norteadores: “Vós sois o sal da terra”; “a luz do mundo”; “resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5, 13-16). Há recomendações para a efetiva utilização do livre-arbítrio como espírito imortal: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não” (Mateus 5, 37). Jesus, em vários momentos criticou as orações espalhafatosas e pomposas, apresentou orientações sobre a prece sincera e espontânea: “quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto” (Mateus 6, 6). E, objetivamente profere uma prece: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso…” (Mateus 6, 9).

Posições renovadoras e até inéditas na época surgiram, por exemplo, ao ensejo de situações que surgiam: o perdão, o respeito ao próximo e a misericórdia frente à mulher adúltera (João 8, 1-11); e posições enérgicas, como ante os vendilhões do templo (Mateus 21, 12-17). Nos caminhos entre cidades surgem ilustrações em torno de cenários e situações, como a Parábola da figueira (Mateus 24, 32-35), destacando-se o conceito de “fruto”, ou seja, de ações e obras concretas; e os esclarecimentos sobre o cego de nascença (João 9, 1-10), de onde emerge a ideia de reencarnação. Nos diálogos com seus discípulos, já nos seus últimos dias, propõe o trabalho em grupo, a ser o menor para ser o maior, a ser humilde: “Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve” (Lucas 22, 27). Também define a missão deles: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça daí” (Mateus 10, 8), perfeitamente adequável aos espíritas de nossos dias.

O delineamento de rumos também fica fortalecido num diapasão espiritual, como nas colocações sobre “o caminho, a verdade e a vida” (João 14, 4-6).

Coroando os roteiros a serem seguidos surge o anúncio do “Consolador” (João 14, 15-17), tão bem analisado por Kardec em O evangelho segundo o espiritismo, com desdobramentos e aplicações para as ações na seara espírita.

Nesses registros sintetizados encontramos subsídios fundamentais que podem colaborar com aqueles que estão envolvidos em atividades de ensino espírita em nossos dias, com o objetivo de atender os que adentram os centros espíritas e encontrem o farol e o porto seguro que se traduza por acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação. Razões para se fortalecer a fé, a esperança e que criam ambientação íntima para manifestações de alegria aos que se esforçam para a prática da boa vontade.

O ensino moral de Jesus à luz das obras de Kardec e dos livros que sejam coerentes com os mesmos, a nosso ver, deve merecer destaque nos estudos e nas reuniões públicas dos centros espíritas. E, obviamente, trazendo esses parâmetros morais para o contexto da atualidade.

(Texto adaptado de artigo do autor publicado na Revista Internacional de Espiritismo: Jesus – modelo de educador, na edição de dezembro de 2021)