A verdadeira edificação

Izabel Vitusso

Como é bom lembrar que no Brasil podemos contar com um sem- -número de casas espíritas, oferecendo socorro espiritual, acolhimento fraterno, oportunidade de estudo e orientação. Quem já precisou de socorro neste quesito fora do país entende o valor desta grande oferta de núcleos espíritas ao nosso dispor.

A forma como cada um deles teve iní- cio é a mais variada. Alguns surgiram ainda no século 19. Os registros apontam para o ano de 1865 o marco da fundação da primeira casa espírita do Brasil, o Grupo Familiar de Espiritismo, na cidade de Salvador, BA. Hoje, somam-se cerca de 15 mil em todo o Brasil (1) .

Os vínculos espirituais também são os mais variados. Frequentemente eles acontecem pela identificação do centro com um grupo de assistência do plano espiritual, capitaneado por trabalhadores expoentes do movimento espírita e sua equipe, missionários que abraçaram a causa e se mantêm incansáveis na tarefa de assistência na crosta terreste.

Quando não, o inverso. O planejamento da fundação da casa espírita vem como consequência dos anseios da espiritualidade maior. Impossível generalizar.

Mas o que importa é saber da grande responsabilidade que envolve a fundação de uma casa espírita, de mais um foco de luz na grande ciranda da fraternidade.

O que aconteceu com o casal Francisco e Nena Galves a partir de 1959 ilustra isso muito bem e evidencia todo o cuidado dispensado pela espiritualidade maior junto ao núcleo que se forma para servir na seara do Jesus.

Nena e Francisco Galves já frequentavam algumas casas espíritas na cidade de São Paulo e tiveram derpertada a vontade de conhecer o médium mineiro Chico Xavier. Partiram os dois com um grupo de vinte frequentadores e dirigentes espíritas para Uberaba, MG. Só não imaginavam o impacto que teriam e um novo mundo que se abriria depois daquela viagem.

É Nena quem conta:

“Maio de 1959 é data que recordamos com imensa alegria. O encontro com o médium fez florescer na memória atual reencarnações passadas na Espanha e na França. Chico nos confidenciou que nos reconheceu imediatamente. Galves e eu sentimos uma atração imensa, uma grande afeição, e quando Chico tomou as mãos de Galves e as minhas entre as suas e as beijou, tivemos a certeza de que elas já haviam estado unidas num passado distante.”(2)

“A força do amor materializava-se em forma de homem de pequena estatura e de gestos lentos, ensinando-nos a andar certos e seguros, sem tropeços. (…) Está- vamos longe de imaginar que aquela aten- ção representava trabalho e alegria futuros. (…) Nesse dia, senti-me mais esposa, mais mãe, mais filha. Um ser que renascia diante de um pai espiritual que acabava de reencontrar, enfim.”

Nas visitas constantes de Nena e Francisco Galves ao médium (acabaram se tornando amigos íntimos), as orientações da espiritualidade foram chegando, com o respeito próprio da espiritualidade superior à condição de cada um, observando o tempo de maturação do casal e de todo o grupo que aos poucos se estruturava.

Em 1965, Bezerra de Menezes orientaria:

“A ideia do grupo íntimo com a finalidade de desobsessão é um plano feliz, para cuja execução rogamos o amparo da providência divina”.

“O conjunto pequeno, como é necessário à formação de corações fraternos, poderá reunir-se uma vez por semana, à noite, e pouco a pouco as diretrizes virão, de vez que é aconselhável dar tempo ao tempo e verificar o desenvolvimento da nova planta de amor fraternal na terra do Cristo.”

Em outra mensagem, Bezerra atenta para o esforço necessário no desenvolvimento moral e no sentimento de fraternidade para a sustentação de uma obra para o bem. Antes de erguidas as paredes da casa espírita, há que se ter a edificação mental:

“É preciso nos decidamos levantar a construção íntima, aquela que se baseia no ajuste dos corações fraternos em uma obra de elevação espiritual em comum.”

“Continuemos na tarefa da edificação mental, na certeza de que já podemos contar com o amparo da construção externa.”

E, por fim, a orientação que revela a sutileza da presença da espiritualidade na base dos trabalhos de uma casa espírita, que nos apoia de maneira incondicional, mas que respeita sempre o direito de fazermos nossas escolhas.

“Através da inspiração, trocaremos ideias todos juntos acerca dos alicerces espirituais do conjunto em via de se formar.”

Dois anos depois, o Centro Espírita União (3) abriria suas portas no bairro Jabaquara, com um significativo trabalho de assistência social e espiritual, e até hoje, cinquenta anos depois, o laborioso casal continua à frente, junto com o grande tarefeiro, dr. Bezerra de Menezes, assistindo necessitados e despertando corações para a verdadeira ciranda de amor e de luz.

Referências:

 1) Estimativa segundo a FEB.

2) Até sempre, Chico Xavier, Nena Galves, CEU, 2008.

3) www.centroespiritauniao.org

(Transcrito de Correio Fraterno do ABC. Ano 50. No. 475. Edição maio-junho de 2017, p. 7)