216 anos do nascimento de Kardec

216 anos do nascimento de Kardec

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O dia 3 de outubro é tradicionalmente recordado no movimento espírita para se evocar a data de nascimento de Allan Kardec, ocorrida no ano de 1804, em Lyon.

É fato sabido que Hipppolyte Léon Denizard Rivail apenas nasceu naquela cidade francesa. Na realidade, nunca lá residiu e foi criado com a família de sua genitora em Bourg en Bresse e Saint Denis les Bourg, duas cidades do Departamento de Ain, próximas a Lyon; depois estudou em Yverdon (Suíça) e atuou como professor em Paris, onde veio a executar seu papel como Codificador do Espiritismo.

Resumimos dois artigos recentes que publicamos nas revistas A senda1 e Revista internacional de espiritismo2.

Neste ano, nos meses de julho e agosto, o documentário “Em busca de Kardec” foi exibido como um seriado de oito episódios pelo canal de TV “Prime Box Brasil“ e depois disponibilizado na internet pela “Prime-Amazon”. O documentário foi dirigido por Karim Akadiri Soumaïla, de nacionalidade francesa. O enredo evoca momentos da vida de Kardec, locais onde viveu e atuou na França e Suíça e as repercussões de suas obras na França e no Brasil.

Um século e meio após a publicação das obras do Codificador e de sua desencarnação, tornam-se importantes alguns destaques de seus pensamentos e propostas. As obras de Kardec contém os princípios do Espiritismo e ele define na Revista espírita de 1866: “Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a suprema lei do Cristo, abrimos o caminho para o Espiritismo cristão; assim, dedicamo-nos a desenvolver os seus princípios, bem como os caracteres do verdadeiro espírita sob esse ponto de vista”.3

A nosso ver, são oportunas as transcrições de alguns trechos do Codificador relacionadas com o centro e o movimento. Kardec orienta as reuniões e pequenos grupos, o que é válido para grandes centros, ou, para se criar centros menores nos bairros de uma cidade: “Sendo o recolhimento e a comunhão dos pensamentos as condições essenciais a toda reunião séria…” […] “Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, este feixe tanto mais força terá, quanto mais homogêneo for. Toda reunião espírita deve, pois, tender para a maior homogeneidade possível.” […] “Quanto mais numerosa é a reunião, tanto mais difícil é conterem-se todos os presentes. Ora, vinte grupos, de quinze a vinte pessoas, obterão mais e muito mais farão pela propaganda, do que uma assembleia de trezentos ou de quatrocentos indivíduos.”4

Sobre a mediunidade Kardec define: “Esse dom de Deus não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual e para dar a conhecer aos homens a verdade”6; e sobre o chamado “desenvolvimento”: “Ela se manifesta nas crianças e nos velhos, em homens e mulheres, quaisquer que sejam o temperamento, o estado de saúde, o grau de desenvolvimento intelectual e moral. Só existe um meio de se lhe comprovar a existência. É experimentar.”4

Importante proposta do Codificador: “A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário, em torno da qual já temos a ventura de ver, em todas as partes do globo, congregados tantos homens, por compreenderem que aí é que está a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de uma era nova para a humanidade.”4

O Codificador destaca que o Espiritismo é uma religião diferente das tradicionais: "Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário…"3

A nosso ver é necessário assumir-se mais os papeis como espíritos encarnados com base em Kardec: "[…] o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem".5

Há um convite que deve ser sempre renovado: o estudo, a prática e a difusão dos conteúdos das cinco obras básicas de Allan Kardec e também de seus registros e depoimentos mensais contidos na Revista Espírita (janeiro de 1858-abril de 1869).

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Sem Kardec não há Espiritismo. A senda (FEEES). Ano 98. N. 205. Setembro-Outubro de 2020. Página eletrônica: http://www.feees.org.br/adm/arquivos/revistasetout_96.pdf

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Busca de Kardec ou de mim mesmo? Revista internacional de espiritismo. Ano XCV. N. 9. Outubro de 2020.

3) Kardec, Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Ano IX, V.4. Abril de 1866; Ano XI. V.12. Dezembro de 1868. São Paulo: Edicel.

4) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos médiuns. 80.ed. 1a parte, cap.III, Item 28; Parte 2: Cap. XVII, item 200; Cap. XXIX, itens 220, 331, 332, 348, 350; Cap. XXX. Brasília: FEB.

5) Kardec, Allan. Trad. Imbassahy, Carlos de Brito. A gênese. 1.ed. Cap. I, item 13. São Paulo: FEAL.

 

(*) Foi presidente da USE-SP e da FEB.