Rumos novos na religiosidade
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Há evidentes sinais de mudanças na relação entre as pessoas e as religiões.
O mundo acompanha as transformações em andamento no seio da Igreja Católica.
O papa Francisco foi um concretizador de premissas do histórico Concílio Vaticano II (1962-1965), um continuador do papa reformista João XXIII. Este Concílio definiu novos rumos, com ênfase pastoral, sem imposição de normas rígidas e sanções disciplinares; reavivou o retorno às fontes primeiras do Cristianismo. A palavra “aggiornamento”, um termo italiano que significa atualização, renovação, foi a orientação chave para este Concílio. Iniciou-se um processo complexo e lento de adequação da Igreja Católica aos tempos atuais. O pontificado de Francisco enfatizou uma nova forma de vida na sociedade, a defesa das várias formas de vida, um horizonte da esperança e a opção de amplo diálogo com a sociedade, incluindo os “não-crentes”. Em suma, respaldado na mensagem de Jesus. Nesses 12 anos de pontificado de Francisco, avulta a figura nobre, simples, fraterna, de grande coragem e desafiadora por reformas desse valoroso vulto do século XXI.
O papa Leão XIV, eleito em maio de 2025, aparece como um continuador de propostas básicas de Francisco. Tem ampla vivência como bispo no interior do Peru e vinculado à ordem agostiniana. Esta valoriza o exemplo e o envolvimento em especial com atividades de educação e de assistência social, sendo mantenedora de diversas instituições educacionais, especialmente na América Latina. Essa ordem se inspira em Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), conhecido como Santo Agostinho, um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros séculos do cristianismo, cujas obras influenciaram o desenvolvimento do cristianismo e filosofia. Interessante que há várias mensagens desse espírito incluídas nas obras de Allan Kardec. Outro detalhe é que o novo Papa homenageia Leão XIII, autor da encíclica Rerum Novarum, a primeira voltada às questões sociais.
Nessas rápidas anotações transparecem processos de mudanças e indícios de repercussões num cenário geral. Simultaneamente há expansão das religiões vinculadas às igrejas reformadas e as chamadas pentecostais.
O contexto atual nos remete a uma pesquisa do Datafolha1 do ano de 2022 mostra que no Rio de Janeiro e São Paulo, cresce a quantidade de brasileiros que se dizem "sem religião" é ainda mais marcante, particularmente entre os jovens. Alguns especialistas sobre esse tema comentaram: "Então esse sujeito é sem religião porque não está vinculado a uma igreja, porque não frequenta, mas pode ter crenças relacionadas a alguma religião que já teve ou ter uma dimensão mais pluralista da religiosidade".1 Há o aumento de famílias plurirreligiosas e a ampla rede de múltiplas fontes de informação, completamente diferente das faixas etárias, por exemplo, dos idosos, “cuja sociabilidade muitas vezes é restrita à família e à igreja”. Há a hipótese de que "A maior parcela dos sem religião tem a ver com uma desinstitucionalização, o que quer dizer que o sujeito está afastado das instituições religiosas, mas ele pode ter uma visão de mundo e até mesmo práticas pessoais informadas por crenças religiosas".1
Nas análises de especialistas sobre a pesquisa do Datafolha parece-nos claro que "há uma trajetória de busca e experimentação que foi colocada para as novas gerações que não era colocada para as antigas"; o afastamento de instituições religiosas, e que há “outros modos de ter fé".
Esses dados da atualidade devem representar um estímulo para oportunas e rápidas análises e avaliações no contexto do movimento espírita, com destaque para as formas de atuação dentro dos centros espíritas; o nítido afastamento da faixa etária jovem que foi um dos principais objetos da pesquisa do Datafolha que, especificamente, sobre a faixa jovem no segmento espírita, já vínhamos apontando resultados preocupantes do censo do IBGE de 2010.2
Há necessidade de preparo e adequações necessárias para se lidar com as famílias dos frequentadores, notadamente das faixas etárias jovens, que parecem não estar muito presentes ou ativas no seio do movimento espírita.2 E, sem dúvida, para o estímulo ao enlaçamento fraterno e à movimentação dentro da seara espírita com interatividade, dinamismo e meios atualizados para viabilizar a difusão do estudo e prática do Espiritismo. Os princípios espíritas, revigorados na vivência dentro da seara espírita, podem contribuir para a melhoria do bem-estar moral e espiritual dos homens.
Recordamos de uma das frases inseridas em obra básica de Kardec: “[…] este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a Lei de Deus (Santo Agostinho, Paris, 1862).”3
Referências:
1) Jovens sem religião superam católicos e evangélicos: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/05/09/jovens-sem-religiao-superam-catolicos-e-evangelicos-em-sp-e-rio.ghtml; consulta em 12/05/2025.
2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.
3) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. 3. Brasília: FEB.