Paulo se dirige aos romanos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Paulo se encontrava em Corinto (entre 55 e 57 d.C.) quando  escreveu a Epístola aos Romanos, na qual registra seu grande desejo de viajar a Roma. Fica claro pela leitura de Atos (28:15) e da Epístola aos Romanos de que já existiam agrupamentos cristãos em Roma, antes das viagens de Paulo e de Pedro. Portanto, estes dois missionários não foram os fundadores do primeiro grupo cristão na capital do Império.1

Em Paulo e Estêvão, Emmanuel comenta episódios precedendo a redação da carta e sobre o grandioso projeto da visita a Roma.2 A epístola foi encaminhada aos destinatários, mas a viagem de Paulo foi adiada, vindo a ser realizada tempos depois, quase no final de suas atividades. Após sua prisão em Jerusalém e apelar a Cesar perante o governador romano Festo e o rei da Judéia, Agripa, em Cesaréia (Atos, 26:32), foi levado como um cidadão romano prisioneiro, chegando à capital imperial provavelmente no ano 60 d.C.

No início da carta aos romanos, Paulo externa seu propósito de um trabalho de natureza espiritual e enfatiza a proposta de anunciar a mensagem de Cristo. Dirige-se aos cristãos de Roma com críticas às tradições judaicas e deixando clara a divergência entre os judeus e os gentios convertidos ao nascente movimento.  Redige um documento de não concordância à idolatria e à vida dissoluta dos gentios, e de apologia à fé, apresentando subsídios para a compreensão da Justiça de Deus. O estudioso bíblico Champlin sintetiza o conteúdo da epístola, como “delineamento da doutrina cristã: justificação pela fé, transformação dos remidos segundo a imagem do Cristo. Problemas em uma igreja local mundana. Defesa paulina contra os judaizantes.” 2

Paulo defende a diretriz de divulgação dos ensinos de Jesus para todos, sem distinção de nacionalidades, e ao analisar a tradição judaica manifesta sua tristeza por causa da incredulidade dos judeus e pelo fato destes rejeitarem o Cristo:

“[…] que tenho grande tristeza e incessante dor no meu coração” (9:2).3

Em diversos pontos da carta firma sua ideia, como apóstolo dos gentios, lembrando que os destinatários da Epístola residiam na capital do Império, ou seja do “mundo gentílico”:

“[…] glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego” […] “pois para com Deus não há acepção de pessoas” (1:10-11); “É porventura Deus somente dos judeus? Não é também dos gentios? Também dos gentios, certamente…” (1:29)   

Essa posição do ex-doutor da lei judaica é importante pois que os grupos cristãos iniciais de Roma adotavam posturas judaizantes. Ele tinha por objetivo atender a todas as nacionalidades e, por razões óbvias, na capital do Império, sem desrespeitar compromissos valorizados pelo Estado Romano e sem comprometer os integrantes dos grupos cristãos. Inclusive fez uma recomendação na mesma linha do Cristo com sua oportuna resposta sobre o “Daí a Cesar…”, Paulo escreveu: “Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra” (13:7). 

No contexto de um império com muitos cultos, adorações e sincretismos, Paulo defende claramente o monoteísmo, mas sem prendê-lo ao povo de Israel. Robustece a crença em Deus com os ensinos do Cristo. E, encerra a epístola com votos:

“Ao único Deus sábio seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre.” (16:27) 

            Referências:

  1. Champlin, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 3. Cap.Romanos. São Paulo: Hagnos, 2014.

  2. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Cap. VII e IX, Brasília: FEB. 2012.

  3. Citações da Epístola aos Romanos. In: A Bíblia Sagrada. Tradução Almeida, João Ferreira. Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. 2007.

Síntese e trechos de artigo do mesmo autor – "Paulo e a Epístola aos Romanos", Revista Internacional de Espiritismo, outubro de 2015.