Humberto de Campos
“[…] podemos observar, de perto, as agonias silenciosas dos lares abandonados e desprotegidos, que balançam na árvore da vida, arrancados pelas mãos impiedosas dos nossos bárbaros que ameaçam as bases cristãs, de que a nossa civilização fugiu, um dia, levada pelo egoísmo dos mais fortes.
Ante as sombras dolorosas que invadem o mundo velho, sinto contigo o frio do crepúsculo, preludiando a noite de tempestade, cheia de amarguras e de assombros.
Dentro, porém, de nossa angústia, somos obrigados a recordar que a nossa geração de perversidade e descrença está condenada, por si mesma, aos mais dolorosos movimentos de destruição.
O mundo cogitou de ciência, mas esqueceu a consciência, ilustrou o cérebro e olvidou o coração, organizou tratados de teologia e de política, fazendo tábua rasa de todos os valores da sinceridade e da confiança.
É por isso que vemos o polvo da guerra envolver os corações desesperados, em seus tentáculos monstruosos, enquanto há gigantes da nova barbaria, preferindo discursos bélicos, em nome de Deus, e sacerdotes abençoando, em nome do Céu, as armas da carnificina.
Os sociólogos mais atilados não conseguem estabelecer a extensão dos fenômenos dolorosos que invadem os departamentos do mundo.
A embriaguez de ruína mobiliza os furacões destruidores das novas tiranias sobre a fronte dos homens, e nós acompanharemos a torrente das dores com as nossas lágrimas, porque fizemos jus a essas agonias amarguradas e sinistra, em virtude do nosso esquecimento da lei do amor, no passado espiritual.
A hora que passa é um rosário de soluços apocalípticos, porque merecemos as mais tristes provações coletivas, dentro das nossas características de espíritos ingratos, pois as angústias humanas não ocorrem à revelia d'Aquele que acendeu a luz da manjedoura e do calvário, clarificando os séculos terrestres.
Das culminâncias espirituais, Jesus contempla o seu rebanho de ovelhas tresmalhadas e segue o curso dos acontecimentos dos mundos, com a mesma divina melancolia que assinalou a sua passagem sobre as urzes da Terra.
Enevoados de lágrimas sublimes, seus olhos contemplam os canhões e os prostíbulos da guerra, os gabinetes de despotismo e da ambição, os hospitais de sangue, no centro dos cadáveres insepultos, e, observando a extensão de nossas misérias, exclama como Jeremias: – Oh! Jerusalém!… Jerusalém!…"
E nós, operários obscuros do plano espiritual, buscamos disseminar a nossa consolação, junto aos que sucumbem ou fraquejam.
O Evangelho é a nossa bússola, e não nos detemos para a lamentação, porque, hoje, meu amigo, eu sei orar, de novo, juntando as mãos em rogativa, como no tempo da infância em Parnaíba, quando a simplicidade infantil me enfeitava o coração.
Aqui, oramos, trabalhamos e esperamos, porque sabemos que Jesus é o fundamento eterno da Verdade e que um dia, como Príncipe da Paz, instalará sobre a Terra dos lobos o redil de suas ovelhas abençoadas, e mansas.
Nessa era nova, vê-Lo-emos outra vez, nos seus ensinos redivivos, espalhando a esperança e a fé, confundindo quantos mentiram à Humanidade em seu nome.
Antes, porém, que o novo sol resplenda nos horizontes do orbe, seremos reunidos no plano espiritual para sentir as vibrações suaves do seu amor infinito.
Nesse dia, meu irmão, certamente o Senhor fará descer as suas bênçãos compassivas sobre o teu coração generoso e fraterno. […]”
(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 6 de outubro de 1939).”
Trechos de: Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Humberto de Campos. Novas Mensagens. Cap. Carta a Gastão Penalva. Rio de Janeiro: Ed. FEB. 2009.