Leopoldo Cirne venceu
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Alertado pelo amigo Luciano Klein, acessamos comentários de periódico de Belém do Pará de 1915(1) que se refere a uma querela do jornal Tribuna Espírita, com relação a três vultos marcantes do movimento espírita brasileiro da primeira metade do século XX.
O historiador Klein é pesquisador da vida de Vianna de Carvalho e é o prefaciador de nossa obra biográfica sobre Leopoldo Cirne(2).
Eis o trecho do periódico paraense Alma e Coração:
“Não nos quiseram entender os irmãos da Tribuna... […] Leopoldo Cirne venceu. Se o silêncio do Reformador foi, como acreditamos, seguido também por ele por suas palavras, e em seu coração contra essa onda de ódios e malquerenças. Leopoldo Cirne venceu em toda a linha, porque suportou com valor a prova dolorosa, servindo-se das armas brancas da calma e da humildade, da tolerância e do perdão. Agora é Vianna de Carvalho e Ignácio Bittencourt que vêm seus nomes envoltos no trapo da injúria bimbalhados aos ventos da publicidade. É um órgão da doutrina espírita que assim procede? Não. Não pode ser.” (1)
Torna-se oportuna uma breve informação a respeito dos citados, interativos contemporâneos, e que comentamos na biografia sobre Cirne(2).
Em virtude de disputas internas, Leopoldo Cirne (1870-1941), dinâmico e inovador gestor, não foi reeleito presidente da Federação Espírita Brasileira em 1914 e foi afastado da instituição. A vida e obra de Leopoldo Cirne, representa uma valiosa experiência vivencial e se constitui em formidável repositório para se analisar e se refletir sobre a trajetória, o estado atual e as perspectivas do Espiritismo no Brasil.
Manuel Vianna de Carvalho (1874-1926) foi militar e grande divulgador do Espiritismo, notabilizando-se como orador. À medida que era transferido de cidades em funções no Exército, passava a apoiar movimentos espíritas locais. Foi amigo e colaborador de Cirne na sua gestão como presidente da FEB.
Inácio Bittencourt (1862-1943) fundou e dirigiu durante 30 anos o semanário Aurora, no Rio de Janeiro. Exerceu a Vice- Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o Centro Humildade e Fé, onde nasceu a Tribuna Espírita, por ele dirigida durante alguns anos. Foi amigo de Vianna de Carvalho e de Leopoldo Cirne. Sob sua presidência foi fundado em 1919 o Abrigo Tereza de Jesus, no Rio de Janeiro, e Cirne proferiu a palestra na inauguração dessa instituição.
Realmente as “armas brancas” citadas no periódico Alma e Coração alimentaram a resiliência e a superação pelo trabalho dos três seareiros envoltos em “ondas de malquerenças”. Marcante a expressão “Leopoldo Cirne venceu em toda a linha”.
Há registros notáveis sobre as contribuições ao movimento espírita dos três vultos e esses espíritos assinam mensagens em obras psicográficas de Chico Xavier.
Fontes:
1) Alma e coração. Outubro de 1915. P. 5 (copie e cole): https://obrasraras.fcp.pa.gov.br/publication/file/colecaoexterna/alma-e-coracao/1915/10/
2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor. São Paulo: CCDPE/Araçatuba: Cocriação. 2023. 194p.