Educação com valores e sentimentos
Antonio Cesar Perri de Carvalho
O assunto educação à luz do espiritismo, ao longo do século XX, contou com variados momentos: de implantação de programas para crianças e jovens, depois para adultos; a criação de instituições de ensino espíritas e as propostas para as orientações básicas nos ambientes familiares.
Por razões legais, surgiu um novo cenário para as instituições de ensino, com a promulgação da Constituição Brasileira, em 1988 e a vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394, de 20/12/1996). Além da premissa da laicidade, cabem aos Conselhos de Educação Municipais, Estaduais e o Nacional, a definição de requisitos para a autorização e para a avaliação de instituições de ensino e para oferta de seus cursos.
Nesse contexto, e por cenários mercadológicos, a maioria das instituições de educação espíritas não subsistiram. Todavia, além da vertente formal há imenso campo de atuação. Aí ressalta-se a necessidade de se priorizar as atenções e apoios às instituições espíritas que, sem preocupação do ensino formal e profissional, têm um amplo espectro de atuação no conceito de “escola de espíritos”, de orientação de encarnados, nas várias faixas etárias, e de desencarnados.1
Evidentemente que tudo tem seu momento e dosagem. Os cursos no ambiente espírita foram e são necessários, mas é notório um excesso de “escolarização”: programas padronizados, visão infantilizada da adolescência e juventude, exigências de requisitos e de pré-requisitos para cursos e atividades. O potencial trabalhador tem dificuldade de se integrar com espontaneidade nos centros espíritas. A própria mediunidade está “engessada” e há espíritas e centros que nem contam com a atuação de médiuns porque estes se tornaram “especializados” ou raros. O evidente decréscimo da atuação de adolescentes e jovens. A soma da quantidade de anos desde os momentos iniciais dos ciclos de infância e juventude, até os demais cursos, ultrapassa-se o tempo de formação de um profissional de nível superior. É hora de se fazer um reestudo sensato e sério de todo o processo.1
Na ótica espiritual, a educação é um processo abrangente e continuado e, que Emmanuel, aponta desde a base: “a melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem”.2 Também Emmanuel – em livro homônimo –, desde 1938 oferece diretrizes para um “plano pedagógico que implica esse grandioso problema tem de partir ainda do simples para o complexo. Ele abrange atividades multiformes e imensas”.3
Esses parâmetros devem nortear as ações espíritas.
[…] De nossa parte, valorizamos as propostas vivenciadas por Mário da Costa Barbosa (1936-1990), um bom e prudente visionário, com desdobramentos de sua ação bem-marcados principalmente nos Estados do Pará e de São Paulo. Trata-se da Metodologia do Espaço de Convivência, Criatividade e Educação pelo Trabalho (ECCET).4 Em síntese, Mário da Costa Barbosa insistia: “[…] a metodologia não deveria ser apreendida com um receituário ou modelo para ser aplicado e, sim, uma maneira de viabilizar o trabalho Assistencial Espírita, a Evangelização (de crianças, jovens e adultos), e a própria convivência no dia a dia da casa espírita. A compreensão e prática das categorias favorece a relação entre os ideais cristãos e as possibilidades reais de viver a mensagem no contexto em que se está inserido.”4
No livro Conviver para amar e servir que registra essa proposta, os organizadores concluem: “Essa proposta metodológica para os espíritas é uma forma de lembrar que em nossas práticas a caridade verdadeira deve presidir o agir e o pensar, logo convidando evangelizadores/trabalhadores/assistentes a buscar a vivência da mensagem, do que ideias de catequizar mentes. Dando sentido prático e essencial ao “amar ao próximo como a si mesmo”1,4. Tudo dentro de uma ação tangenciadora e integradora, sem delimitações em departamentos e hierarquias.1
[…] Numa série de quatro seminários intitulados “Educação & Atividades Espíritas” realizados na sede da Federação Espírita Brasileira, durante nossa gestão, entre 2014 e início de 2015, atuaram expositores espíritas convidados, com efetiva ação na docência em vários níveis de ensino. Temas centrais: Mudança para transformação? Mudar equivale a transformar? Como ensinar a Doutrina Espírita com sentido e prazer, de forma a contribuir com a felicidade, a realização pessoal e profissional de cada participante de estudo e para a construção de uma sociedade mais justa, humana e socialmente viável? Ao final, concluiu-se que há necessidade de algumas mudanças que possam levar a transformações, como: “criar espaços interativos e dialógicos nos encontros de aprendizagem (mais conversa, menos exposição; os participantes têm muito com que contribuir); organizar espaços de aprendizagem atrativos e diversificados (jardins, excursões, visitas culturais e assistenciais); promover mais momentos informais de confraternização; conhecer o perfil do grupo e considerá-lo na escolha de abordagens didático-pedagógicas, as quais devem ser criativas e diversas; desenvolver acolhimento e zelo nas relações interpessoais; abordar o conhecimento doutrinário como apoio à transformação moral e social e não como um fim em si mesmo; considerar os saberes anteriores e atuais dos participantes no desenvolvimento do conteúdo; desenvolver acolhimento e zelo nas relações interpessoais; abordar o conhecimento doutrinário como apoio à transformação moral e social e não como um fim em si mesmo; considerar os saberes anteriores e atuais dos participantes no desenvolvimento do conteúdo; trabalhar com problemas e não somente com temas”.1,5
[…] Em síntese, entendemos que há necessidade de se trabalhar não apenas em nível cognitivo, mas com os valores e sentimentos.
Referências:
1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro espírita. Prática espírita e cristã. Cap. 1.1 e 5.2.4. São Paulo: USE. 2016.
2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O consolador. Perg. 110. Brasília: FEB. 2013.
3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. Cap. XXXV. Brasília: FEB. 2013.
4) Sarmento, Helder Boska de Moraes; Pontes, Reinaldo Nobre; Parolin, Sonia Regina Hierro (Org). Conviver para amar e servir. Baseado em Mário da Costa Barbosa. Brasília: FEB. 2013. 166p.
5) FEB discute educação e atividades espíritas. Brasil Espírita. In: Reformador. Ano 133. No 2.232. Março de 2015. p.187.
Síntese de artigo do autor publicado em:
Revista Educação Espírita. Ano 1. Número 5. Novembro /Dezembro de 2024. P.14-17. Acesso (copie e cole): Educação Espírita – 5 | Juventude Espírita