Antonio Cesar Perri de Carvalho
A 2a. Epístola aos Coríntios contém versículos marcantes, que nos remetem à questão das relações entre os mundos corpóreo e incorpóreo e que representam significativo depoimento do missivista:
"12.1 Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor. 12.2 Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu. 12.3 E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe). 12.4 Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar."
O pesquisador bíblico Champlin admite que Paulo se referia a ele mesmo: "[…] estava defendendo o seu apostolado, mediante a demonstração de suas muitas experiências místicas, como visões e revelações." E indica que "A visão teria ocorrido uns três anos depois de sua conversão ocorrida no ano 34 d.C., provavelmente em Jerusalém."
Interessante como questões sobre a vida espiritual são tratadas pelo já citado estudioso, considerando que a “multiplicidade de céus” foi eliminada pela teologia dogmática. E deixa muito claro que com a expressão “se no corpo…”, o apóstolo “dá a entender que a alma é uma entidade separada do corpo, dotada de inteligência, mesmo quando está totalmente desvinculada da matéria”.
Na literatura espírita se destaca a monumental obra Paulo e Estêvão, e, nesta, Emmanuel aprofunda e complementa com a ótica espiritual os versículos relacionados com o desdobramento do apóstolo. Eis alguns trechos:
“Suavíssima sensação de repouso proporcionava -lhe grande alívio. Estaria dormindo? Tinha a impressão de haver penetrado uma região de sonhos deliciosos. Sentia-se ágil e feliz. Tinha a impressão de que fora arrebatado a uma campina tocada de luz primaveril, isenta e longe deste mundo. […] Mais alguns instantes, viu Estevão e Abigail à sua frente, jovens e formosos, envergando vestes tão brilhantes e tão alvas que mais se assemelhavam a peplos de neve translúcida." O autor espiritual ressalta em nota sobre o fato: "Mais tarde na 2ª Epístola aos Coríntios (capítulo 12º, versículos de 2 a 4), Saulo afirmava…"
Emmanuel comenta a profunda significação desse encontro espiritual:
“Dessa gloriosa experiência o Apóstolo dos gentios extraiu novas conclusões sobre suas idéias notáveis, referentemente ao corpo espiritual.”
Da longa conversação que marcou profundamente o ex-doutor da Lei, resumimos alguns trechos:
“ — Levanta-te, Saulo! — disse Estevão com profunda bondade. — Que é isso? Choras? — perguntou Abigail em tom blandicioso. — Estarias desalentado quando a tarefa apenas começa?”
Estabeleceu-se carinhoso diálogo:
“ — Saulo, não te detenhas no passado! Quem haverá, no mundo, isento de erros? Só Jesus foi puro! […] Ansioso de aproveitar as mínimas parcelas daquele glorioso, fugaz minuto, Saulo alinhava mental mente grande número de perguntas. Que fazer para adquirir a compreensão perfeita dos desígnios do Cristo? “
A partir daí surge a conhecida recomendação, muitas vezes lembrada em nossos dias como o “lema de Abigail”. Ela responde à pergunta de Saulo, e sintetizamos em quatro palavras-chaves :
“ — Ama! Trabalha! Espera! Perdoa!…”
Emmanuel destaca que Saulo ficou “empolgado pela maravilhosa revelação.”
Sua trajetória de divulgador da mensagem do Cristo e pioneiro na formação e orientação aos grupos cristãos nascentes se intensificou depois desse episódio espiritual.
A visão sobre imortalidade da alma, fundamentada nos ensinos e exemplos do Mestre fortaleceram e impulsionaram a tarefa missionária de Paulo e dos cristãos primitivos.
Bibliografia:
1. Almeida, João Ferreira. A Bíblia Sagrada contendo o Velho e o Novo Testamento. Trad. Edição Corrigida e Revisa Fiel ao Texto Original. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. 2007.
2. Champlin, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 4. Cap. Segunda Epístola aos Coríntios. São Paulo: Hagnos. 2014.
3. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. 2ª. parte, cap. III. Brasília: Ed. FEB. 2013.
(Síntese de artigo do mesmo autor, publicado em Revista Internacional de Espiritismo, janeiro de 2016)