Denizard Rivail: a educação é uma arte

Denizard Rivail: a educação é uma arte

Redação (*)

O educador deve velar com a maior atenção por tudo o que possa fazer qualquer impressão sobre as crianças; por sua experiência e por sua perspicácia, deve poder calcular seus efeitos; deve dirigir as circunstâncias.

O pensamento educacional de Denizard Rivail (1804-1869), aqui considerado antes do seu contato com o fenômeno espírita, quando passou a utilizar o nome Allan Kardec, pode ser compreendido em duas palavras: educação moral. Ele muito escreveu, principalmente gramáticas francesas e livros de aritmética, mas não apenas livros didáticos, igualmente obras de relevância pedagógica. Para compreendermos a visão educacional do professor Denizard Rivail, trazemos alguns trechos do seu livro Plano Proposto para Melhoria da Educação Pública, de 1828, obra que mereceu o primeiro prêmio de concurso com o mesmo tema realizado pelo governo francês. É uma proposta avançada para os padrões da época, revelando um jovem autor – ele tinha apenas 24 anos – com visão profunda e progressista, percebendo que o trabalho que hoje se realiza na educação é a base do futuro social.

REE – Como o senhor define a educação?

Rivail – A educação é a arte de formar os homens; isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de lhe dar força e saúde. Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.

REE – Qual é a influência que a educação exerce na criança?

Rivail – A fonte das qualidades morais se acha nas impressões que a criança recebe desde o seu nascimento, talvez mesmo antes, e que podem agir com mais ou menos energia sobre o seu espírito, para o bem ou para o mal.

REE – É na infância que os hábitos devem ser formados?

Rivail – Os hábitos morais são aqueles que nos levam, malgrado nosso, a fazer qualquer coisa de bom ou de mal. A fonte desses últimos hábitos se acha nas impressões longamente ressentidas ou percebidas na infância.

REE – Qual é o papel que o educador deve exercer?

Rivail – Ele deve velar com a maior atenção por tudo o que possa fazer qualquer impressão sobre as crianças; por sua experiência e por sua perspicácia, deve poder calcular seus efeitos; deve dirigir as circunstâncias.

REE – Qual é a influência do lar na formação da criança?

Rivail – Como a mãe é a primeira educadora de seus filhos, como é ela que recebe os primeiros sinais de sua inteligência, que responde aos seus primeiros pedidos, que satisfaz às suas primeiras necessidades, a ela pertence a condução das primeiras impressões morais.

REE – Podemos afirmar que os pais cumprem uma missão junto aos filhos?

Rivail – Depende dos pais cercar a criança, desde seu nascimento, de impressões salutares para o seu espírito e para o seu coração e evitar todas as que podem lhe ser prejudiciais, como se evita deixá-la numa atmosfera ruim.

REE – Como o senhor entende deva ser a aplicação da educação moral, e quais seriam seus resultados?

Rivail – Pode-se concluir relativamente à educação moral em particular: 1° que os hábitos morais são o resultado das impressões morais, que determinam os vícios ou as boas qualidades, segundo o indivíduo seja mais ou menos suscetível a elas; 2° que importa assim dar uma boa direção a todas essas impressões; 3° que elas dependem inteiramente dos pais e dos educadores; 4° que é quase sempre sua inexperiência e sua ignorância em matéria de pedagogia que é a causa de todos os vícios, dos quais esforça-se para curar mais tarde a juventude; 5° que não se pode esperar obter um bom sistema de educação, e por conseguinte, uma boa educação moral, se não se tiver uma massa de educadores que compreendam verdadeiramente o objetivo de sua missão e que tenham as qualidades necessárias para cumpri-la. Em resumo, a educação é o resultado do conjunto de hábitos adquiridos; esses hábitos são eles próprios o resultado de todas as impressões que os provocaram, e a direção dessas impressões depende unicamente dos pais e dos educadores.

REE – Os pais e os professores precisam estudar sobre educação?

Rivail – A educação é uma arte particular, bem distinta de todas as outras e que, por consequência, exige um estudo especial; exige disposições e uma vocação muito particulares; exige qualidades morais que não são dadas a todos os homens, tais como uma paciência e uma sabedoria a toda prova, uma firmeza misturada à doçura, uma grande penetração para sondar os caracteres, um grande império sobre si mesmo, a vontade e a força de domar as próprias paixões; exige ainda um conhecimento profundo do coração humano e da psicologia moral.

REE – É possível desenvolver a educação moral apenas pelo estudo teórico?

Rivail – A inteligência deve ser desenvolvi da desde cedo, como a moral, e não é sobre carregando a memória de palavras que se alcança isso, mas enriquecendo a imaginação de ideias justas.

REE – Então, como o senhor entende deva ser a prática da educação moral?

Rivail – A criança pede para se ocupar, esta ocupação lhe é necessária; é preciso que seu espírito e, mais frequentemente, seu corpo estejam em atividade. Esta atividade é uma necessidade para ela, querer reprimi-la é fazer uma violência à natureza.

(*) Matéria montada em forma de entrevista, pela Redação da Revista Educação Espírita – REE.

Transcrição de: Revista EDUCAÇÃO ESPÍRITA. Ano 1 – Número 3 – Julho / Agosto de 2024. P. 4 e 5.

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