Chico Xavier – Há 23 anos…

Chico Xavier – Há 23 anos…

     

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Há 23 anos, no dia 30 de junho de 2002 desencarnava Chico Xavier.

Nesse período ocorreram várias repercussões relacionadas com a vida e obra do médium.

Há cinco palavras-chave que o caracterizam e que foram utilizadas durante as comemorações de seu Centenário de nascimento, em 2010: espírito, saber, fé, caridade e amor.

Durante estes anos, vários eventos e homenagens foram feitas ao médium , como: o nome na rodovia federal entre a divisão com o Estado de São Paulo e Uberlândia; tributo a Chico Xavier na ONU; comemorações em todo o país por ocasião do Centenário de seu nascimento no ano de 2010; filmes com seu nome e sobre suas obras com enorme frequência; homenagens no Congresso Espírita Mundial em Valencia (Espanha); homenagens no Congresso Nacional; registro no Panteão da Pátria, da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves; o título de “maior brasileiro de todos os tempos” pela TV SBT; designação de centros espíritas, praças e ruas, e, inúmeros eventos presenciais e virtuais focalizando sua vida e obra.

A marcante película “Chico Xavier – O Filme”, lançada aos 02 de abril de 2010, data em que Chico Xavier completaria 100 anos, estreou, baseado na biografia As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior. Dirigido e produzido pelo cineasta Daniel Filho, com roteiro de Marcos Bernstein, Chico Xavier é retratado pelos atores Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier, respectivamente, em três fases de sua vida. Na época, o filme alcançou a marca de mais de 3,5 milhões de espectadores nos cinemas.

Seguiram-se filmes sobre obras do espírito André Luiz e sobre cartas familiares.

No dia 14 de outubro de 2022, cinemas de várias capitais e cidades do país começaram a exibir o documentário “Chico Para Sempre”. Um longa-metragem, com 2h20 de duração, dirigido por Wagner de Assis, da Cinética e com marcante participação do jornalista e colaborador no roteiro Marcel Souto Maior, autor de biografia do médium.

Atualmente, todos os filmes sobre Chico Xavier e suas obras encontram-se disponíveis na internet, nos provedores dos chamados streamings.

Há muitas homenagens e reconhecimentos significativos, mas é cabível a análise sobre como a experiência de vida e a profícua obra psicográfica de Chico Xavier vem sendo valorizados no ambiente do movimento espírita.

Parece-nos pertinente recordarmos alguns aspectos sobre as linhas de pensamento desenvolvidas nas centenas de livros do médium. O conteúdo dos livros, que se concretizaram em ações, exemplos de vida de Chico Xavier, são fontes de inspiração e de roteiro para nossas trajetórias de vida.

Desde o ano de 2005, por iniciativa do Conselho Espírita Internacional e durante os dez anos consecutivos, foram traduzidos dezenas de obras do médium para diversos idiomas.

Interessante que a Revue spirite, a Revista espírita fundada por Kardec (http://www.revue-spirite.org), trimestralmente editada na França, comenta o livro Pão nosso (de Emmanuel), e durante muito tempo, analisou as cartas familiares estudadas no livro A vida triunfa (pesquisa original de Paulo Rossi Severino).

Também a revista The spiritist magazine (https://www.spiritistmagazine.org/), trimestralmente editada nos Estados Unidos, em todos os números traz artigos sobre obras do médium ou psicografias vertidas para o inglês.

Independentemente de se apreciar, participar ou não das festas carnavalescas, nelas surgem manifestações que são interpretadas como reconhecimentos populares. No desfile em 2023, a escola de samba Gaviões da Fiel, de São Paulo, apresentou enredo com componentes religiosos das mais diversas crenças, destacando as mais populares. Uma delas foi o espiritismo, contando com um carro alegórico homenageando Chico Xavier.

Recentemente, Vladimir Alexei ao analisar dados do Censo do IBGE de 2022, questiona se “seria coincidência a redução de espíritas no censo após o desencarne de Chico Xavier”. Considera que “Chico Xavier não apenas era um médium missionário, como também um aglutinador capaz de agregar pessoas de diversas crenças em torno dos ensinamentos do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita. […] Chico exalava um amor maduro. O perfume do carisma toca a face, o amor maduro do Chico penetra corações.” Assim, admite que “é preciso amadurecer o movimento de divulgação do Espiritismo de forma a conseguirmos colocar o archote para o alto e unir os pontos de luz para que haja harmonia na diversidade; respeito nas diferenças; e amor. Muito amor, que é o que o Evangelho de Jesus nos convida a sentir: o amor genuíno” (https://salakardec.blogspot.com/2025/06/seria-coincidencia-reducao-de-espiritas.html).

A nosso ver, em que pese o valor das homenagens e reconhecimentos públicos, a maior e continuada homenagem que devemos propugnar será o aproveitamento dos exemplos da experiência de vida, o profícuo e profundo conteúdo das obras psicográficas de Chico Xavier e sua fidelidade a Jesus e a Kardec.

Aos 23 anos após a partida espiritual de Chico Xavier, a nossa sugestão é que seja divulgada e valorizada a literatura psicográfica do notável médium, que foi um autêntico “divisor de águas” na trajetória do Espiritismo no Brasil.

(*) Autor do livro: Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões. São Paulo: USE-SP e Capivari: EME. 2019. 223p.

ALGO MAIS

ALGO MAIS

Um crente sincero na Bondade do Céu, desejando aprender como colaborar na construção do Reino de Deus, pediu, certo dia, ao Senhor a graça de compreender os Propósitos Divinos e saiu para o campo.

De início, encontrou-se com o Vento que cantava e o Vento lhe disse:

— Deus mandou que eu ajudasse as sementeiras e varresse os caminhos, mas eu gosto também de cantar, embalando os doentes e as criancinhas.

Em seguida, o devoto surpreendeu uma Flor que inundava o ar de perfume, e a Flor lhe contou:

— Minha missão é preparar o fruto; entretanto, produzo também o aroma que perfuma até mesmo os lugares mais impuros.

Logo após, o homem estacou ao pé de grande Árvore, que protegia um poço d’água, cheio de rãs, e a Árvore lhe falou:

- Confiou-me o Senhor a tarefa de auxiliar o homem; contudo, creio que devo amparar igualmente as fontes, os pássaros e os animais.

O visitante fixou os feios batráquios e fez um gesto de repulsa, mas a Árvore continuou:

— Estas rãs são boas amigas. Hoje posso ajudá-las, mas depois serei ajudada por elas, na defesa de minhas próprias raízes, contra os vermes da destruição e da morte.

O devoto compreendeu o ensinamento e seguiu adiante, atingindo uma grande cerâmica. Acariciou o barro que estava sobre a mesa e o Barro lhe disse:

- Meu trabalho é o de garantir o solo firme, mas obedeço ao oleiro e procuro ajudar na residência do homem, dando forma a tijolos, telhas e vasos. Então, o devoto regressou ao lar e compreendeu que para servir na edificação do Reino de Deus é preciso ajudar aos outros, sempre mais, e realizar, cada dia, algo mais do que seja justo fazer.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Pão nosso. Cap.13. FEB)

Benedita era o seu nome

Benedita era o seu nome

Bendita era a sua vida,

abençoada por nome e afortunada por viver.

Era negra, era pobre, era alma em aflição, mas levava brilho nos olhos.

Enfrentava os abismos da vida.

Benedita era como uma andorinha que voava longe, mas pousava com o coração em ninho de amor e caridade.

Seu coração era um grande farol em meio à tempestade, iluminava seu ser mesmo diante da escuridão da obsessão que a cegava.

Aprendeu sobre a caridade e viveu, em seu ser, a verdadeira benevolência ao próximo.

Não nasceu em palácios, mas construiu castelos da indulgência com todos, sem ver o autor de cada página da vida.

Praticava o perdão que as dolorosas almas pedem em súplicas de socorro.

Dedicou sua vida à caridade, distante de ser moeda de troca, longe dos aplausos, sem chegar perto dos palanques.

Bendita era sua vontade de dividir o pão entre mãos sujas e enrugadas pela plenitude da vida.

Era viva sua vontade de dar colo a quem o mundo negou.

Era amorosa em oração sussurrada aos que, no leito, deliravam entre a loucura e o abandono.

Era o seu ser, um o dom: ser médium do amor, profeta em clarear as ruas escuras, levando todos a pontos de reencontro com a luz.

Benevolente sempre. Não pregava sermões — ela era o sermão vivo. Indulgente com as imperfeições, não citava páginas de livros — ela era o livro aberto.

Perdoava todas as ofensas de uma vida de aflição, com amor e carinho ao próximo, plantando dignidade onde havia delírio.

Na caridade silenciosa, na coragem de amar, no abraço antes de perguntar o nome.

Sejamos como ela: além de bons, renascentes na caridade — distantes dos simples gestos e próximos do milagre da virtude.

Cada criança acolhida, cada amor pelo próximo, cada idoso recolhido, cada amigo auxiliado, cada alma tida como louca que foi abraçada — foi a demonstração de que a caridade não veste luxo.

Aplicava passes de amor que eram brisas de carinho, em silêncios que eram ninhos.

Em silêncio, ela ensinava a ser bendita com todos, sem deixar ninguém sem amparo, dando colo a todos Dama do coração caloroso e amoroso, dama da caridade, rainha da compaixão.

Ensinava que a caridade é a poesia da alma, tornando-se verso eterno no livro da vida…

Ivan de Albuquerque

Mensagem psicografada por Paulo Henrique dos Anjos, durante o seminário "Benedita Fernandes – a dama da caridade", desenvolvido por Cesar Perri na Sociedade Espírita Allan Kardec, em Mirassol do Oeste (MT), no dia 01/06/2025.

“Não vim destruir a Lei” e o Espiritismo

“Não vim destruir a Lei” e o Espiritismo

O tema foi desenvolvido por Cesar Perri, ao comentar itens do Cap. I – “Não vim destruir a Lei” de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, na reunião pública matutina do dia 07 de junho no Grupo Espírita Casa do Caminho. A reunião foi coordenada por Lúcia Travençolo, com a participação de Renato Mortara e Rogério Ferraro. Esse Centro localizado na Vila Mariana, na capital paulista, mantém reuniões públicas e transmitidas pela internet, de 2ª a 6ª feira, às 14 e às 19 horas; aos sábados e domingos pela manhã.

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Palestras e livro de Benedita Fernandes em Araçatuba, Fernandópolis e Penápolis

Palestras e livro de Benedita Fernandes em Araçatuba, Fernandópolis e Penápolis

O médium José Francisco Gomes (de Ipatinga, MG) proferiu palestras e autografou livros em lançamento entre os dias 06 e 08 de junho, em Araçatuba: Aliança Espírita Varas da Videira e Centro Espírita Casa do Caminho, Fernandópolis (C.E. Allan Kardec) e Penápolis (C.E. Allan Kardec). Trata-se do livro por ele psicografado “Os desafios da educação em tempos de regeneração”, autoria do espírito Benedita Fernandes, editado pela Cocriação, de Araçatuba (WZ 18- 99709-4684). Em todos os locais esteve acompanhado por Sirlei Nogueira (Ed.Cocriação e webtv Estação Dama da Caridade Benendita Fernandes). Em dois dias anteriores o visitante manteve essa atividade em dois outros centros de Araçatuba, contando a participação do prefaciador Cesar Perri (de São Paulo).

A diversidade das moradas

A diversidade das moradas

 

Tema sobre “a casa do Pai tem muitas moradas” a foi desenvolvido por Cesar Perri, ao comentar itens do Cap. 3 de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, na reunião pública vespertina do dia 10 de junho no Grupo Espírita Casa do Caminho. A reunião foi coordenada por Inês Bareia Peres e houve apresentação musical por Elso, de Peruíbe. Esse Centro localizado na Vila Mariana, na capital paulista, mantém reuniões públicas e transmitidas pela internet, de 2ª a 6ª feira, às 14 e às 19 horas; aos sábados e domingos pela manhã.

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Trajetória do cristianismo com os sucessos e os enganos

Trajetória do cristianismo com os sucessos e os enganos

No estudo virtual dia 10 de junho, os Capítulo 15 e 16 do livro "A Caminho da Luz" – A evolução do cristianismo e A igreja e a invasão dos bárbaros, foram analisados por Cesar Perri, com comentários e apresentação de power point sobre a trajetória do cristianismo com os sucessos e os enganos, fundamentado em diversas bibliografias. Trata-se de programa anual do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo-CCDPE (São Paulo). A reunião foi dirigida por Pedro Nakano, com apoio técnico de Kátia Golinelli.
Esse estudo anual é coordenado por Perri, como reuniões virtuais desenvolvidas às 3as feiras, 20 horas. Trata-se de estudo de livro de autoria do espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.
Ficha de inscrição no link:

http://bit.ly/A-Caminho-da-Luz

TV Mundo Maior focaliza o centro espírita

TV Mundo Maior focaliza o centro espírita

 

O programa Conviver, coordenado por Afonso Moreira Jr., entrevistou Cesar Perri sobre o tema “o centro espírita”. Trata-se de transmissão da TV Mundo Maior e Rádio Boa Nova, efetuada no dia 09 de junho. O entrevistador focalizou assuntos contidos no livro de Perri: “Centro Espírita. Prática espírita e cristã” (Ed. USE-SP), atendendo também a perguntas de espectadores.

Acesse pelo link:

Exposição sobre a diminuição de espíritas no Censo de 2022

Exposição sobre a diminuição de espíritas no Censo de 2022

Em entrevista para a Web Rádio Fraternidade, Jorge Elarrat comenta sobre a diminuição de espíritas no Censo do IBGE 2022. O entrevistado é estaticista de formação, trabalhou em vários órgãos governamentais no Estado da Rondônia, onde residiu durante muitos anos e atuou na Federação Espírita da Rondônia; atualmente reside no Paraná

Acesse pelo link (copie e cole):

https://www.youtube.com/live/7KyWn_E1agM

Duas opiniões sobre os espíritas e os Censos do IBGE: sociológica e espírita

Duas opiniões sobre os espíritas e os Censos do IBGE: sociológica e espírita

a) Sociológica:

Por que tratarmos da nossa permanência espírita nos 2% da população nacional?

André Ricardo de Souza (*)

Não coloco o critério da quantidade acima da qualidade quanto à adesão ao espiritismo, mas é, sim, realmente importante fazê-lo crescer para que se possa evitar o mal a mais pessoas, principalmente o suicídio (Kardec, 2022, p. 79-81), além de propiciar a elas esclarecedora consolação.

Embora o Brasil seja o maior país espírita do mundo, o espiritismo sempre se constituiu aqui como um segmento religioso minoritário. Cabe dizer que só foi possível apontar o tamanho real dele a partir do censo demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1980. Isto porque, nos censos anteriores, os espíritas eram contados junto com os adeptos dos cultos afro-brasileiros: umbanda e candomblé.

Comparativamente, o tamanho pequeno do espiritismo se deve sobremaneira a três fatores:

1) não ser uma religião trazida e propagada pelos colonizadores portugueses, lugar ocupado pelo catolicismo, a maior do país;

2) ser um grupo religioso composto predominantemente por pessoas de classe média e razoável escolaridade (Lewgoy, 2020), algo oposto à condição dos evangélicos, que constituem o segundo maior segmento religioso nacional, abrangendo (com sua vertente pentecostal), predominantemente, os mais pobres e menos escolarizados (Mariz; Gracino Junior 2013; Prandi 2013, p. 211-212);

3) o fato de uma parte (não grande) dos espíritas responderem ao IBGE dizendo que não têm religião, pois rejeitam a identidade religiosa do espiritismo (Arribas 2010; Lewgoy, 2013). Deve-se ponderar ainda que uma parcela das pessoas que se declaram espíritas nas pesquisas são, na verdade, umbandistas (Lewgoy, 2013).

A enorme audiência do programa televisivo Pinga Fogo, da antiga TV Tupi, contendo longas entrevistas com Chico Xavier (exibidas em 28 de julho e 21 de dezembro de 1971), certamente, deu bastante impulso ao crescimento espírita. Infelizmente, isso não pode ser dimensionado devido à limitação censitária então vigente, como apontado acima.

Em 1980, 1991, 2000 e 2010, o IBGE registrou, respectivamente, as seguintes proporções espíritas: 0,7%, 1,1%, 1,3% e 2,0%. Por sua vez, os católicos tiveram: 89%, 83,3%, 73,9% e 64,6%; já os evangélicos marcaram: 6,6%, 9,0%, 15,6% e 22,2%; e, por fim, o contingente dos sem religião obteve: 1,6%, 4,7%, 7,4% e 8,0.

Cabe lembrar que devido à pandemia do Covid-19 e à combinação de irresponsabilidade e incompetência do atual governo federal o recenseamento de 2020 só começou a ser feito em agosto de 2022, não havendo ainda previsão de resultados.

Chegou-se a imaginar que as comemorações pelo centenário do nascimento de Chico Xavier, em 2010 (principalmente os filmes de grandes bilheterias no cinema e audiências televisivas: “Chico Xavier” e “Nosso Lar”) dessem relevante impulso de expansão ao segmento espírita. Ao menos foi isso que a pesquisa amostral do Instituto Datafolha indicou em janeiro de 2017, apontando os espíritas com 4% da pulação nacional[1]. Ocorre que a pesquisa do mesmo Datafolha, feita em janeiro de 2022, mostrou o contingente espírita com 3%[2] e a de junho de 2022 apontou apenas 2%[3].

Mesmo ponderando que o instituto considera em seus levantamentos a margem de erro de dois pontos percentuais para cima e para baixo, o fato objetivo é que, tanto o censo de 2010 quanto a pesquisa amostral de junho de 2022 registraram o espiritismo com apenas 2% da população brasileira. Lembrando-se que, como visto acima, em todos os censos anteriores houve crescimento espírita. Nos levantamentos do Datafolha, feitos entre janeiro e junho de 2022, o instituto mostrou um índice bem maior do grupo dos sem religião, se comparado ao censo de 2010, nada menos que 14%.

Chamou bastante atenção a proporção de jovens em tal segmento: 25%[4]. Talvez a pandemia tenha contribuído para o crescimento desse contingente dos sem religião.

A razão de haver alto índice de jovens que afirmam não ter religião passa pelo caráter inerente a eles de experimentações e pela diversidade de suas redes de sociabilidade, diferentes da religião, algo que abrange: escolas, redes sociais, grupos artísticos e de entretenimento. A grande elevação de jovens sem religião se mostra como principal ingrediente na explicação do fato de todo o segmento espírita, após 12 anos, permanecer com os mesmos 2% da população nacional.

Embora tenham surgido, na última década, grupos de jovens voltados a estudos bíblicos, à luz da literatura espírita (Torres, 2019), isto não foi capaz de mudar tal realidade. Por um lado, as atividades nos centros espíritas, infelizmente, não se mostram efetivamente atraentes ao público juvenil. Por outro, posicionamentos polêmicos de determinadas lideranças espíritas parecem ter repelido jovens, sobremaneira os universitários, que são mais bem informados e críticos também. Isto se deu, ainda em 2018, através de controversos pronunciamentos político-ideológicos, abrangendo inclusive questões de gênero e sexualidade: orientação ou opção sexual (Barbosa 2019, p. 171; Arribas 2020, p. 615-617; Camurça 2021, p. 139-142; Souza; Torres, 2022, p. 229-231).

Diante de tal quadro o desafio maior do segmento espírita brasileiro parece ser o de fazer-se mais atraente e acolhedor aos jovens (Carvalho, 2022). Isto passa, necessariamente, pela priorização nas federações e nos núcleos espíritas do trabalho voltado a crianças e jovens, contemplando mais as causas do que efeitos, em termos de problemas espirituais. Implica em desenvolver atividades educativas, lúdicas, criativas, artísticas, dinâmicas, descontraídas e alegres, algo que não é contraditório com a seriedade cristã, cabe ressaltar.

Os centros espíritas precisam ser bem menos sisudos, ou seja, fazerem-se mais leves e alegremente sóbrios. Talvez a valorização maior da música, contemplando a combinação de estilos juvenis e mensagens edificantes, seja o caminho mais fácil para iniciar tal mudança. Ademais é preciso refletir seriamente sobre o que o Jesus Cristo faria, hoje, na Terra, em relação aos jovens considerados diferentes (socialmente discriminados, ainda). Tal desafio abrange a abertura para o diálogo responsável sobre questões que permeiam a juventude contemporânea, inclusive as relacionadas a gênero e sexualidade.

Embora este seja tema de livros dos espíritos André Luiz e Emmanuel (Xavier; Vieira; Xavier, 2014; Guimarães, 2018), e tenha sido tratado por Chico Xavier no Pinga Fogo[5], é ainda um tabu nos núcleos espíritas. Trata-se de algo complexo que precisa ser valente e caridosamente enfrentado. [1]

(Globo-1 – Acesso em: 14/04/2021. [2] Globo-2 – Acesso em: 20/01/2022. [3] Folha.UOL – Acesso em: 29/06/2022. [4] Globo-3 Acesso em: 25/05/2022. [5] YouTube-1 – Acesso em: 10/04/2022._

Referências bibliográficas:

1)ARRIBAS, Célia da Graça. Afinal, espiritismo é religião? São Paulo: FAPESP; Alameda, 2020. ______ Política, gênero e sexualidade: controvérsias espíritas entre progressistas e conservadores”. Contemporânea. vol. 10, nº 2, 2020, p. 613-638.

2) BARBOSA, Allan Wine Santos. A construção espírita do problema do aborto: ordem espiritual e discurso público. Religião e Sociedade. vol. 39, nº 3, 2019, p. 152-172.

3) CAMURÇA, Marcelo Ayres. Conservadores x progressistas no espiritismo brasileiro: tentativa de interpretação histórico-hermenêutica. Plural, vol. 28, 2021, 136-160.

4) CARVALHO, Antonio Cesar Perri. Juventude: alertas sobre contextos sociais e espirituais. Boletim do GEECX. 27 de julho de 2022. LINK-1

5) GRACINO JUNIOR, Paulo; SOUZA, Carlos Henrique Pereira de. (2020), “Evangélicos e conservadorismo – afinidades eletivas: as novas configurações da democracia no Brasil”. Horizonte. vol. 18, nº 57, p. 1188-1225.

6) KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo (Capítulo 5: “Bem aventurados os aflitos” – “O suicídio e a loucura”). Araras, IDE, 2002.

7) LEWGOY, Bernardo. Os espíritas e as letras: um estudo antropológico sobre cultura escrita e oralidade no espiritismo kardecista. São Paulo, Tese de doutorado em antropologia social, USP, 2000.

8) ________ A contagem do rebanho e a magia dos números: nota sobre o espiritismo no Censo 2010. In: TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis, Vozes, 2013.

9) MARIZ, Cecília Loreto; GRACINO JUNIOR, Paulo. As igrejas pentecostais no censo de 2010. In: TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis, Vozes, 2013.

10) PRANDI, Reginaldo. As religiões afro-brasileiras em ascensão e declínio. In: TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis, Vozes, 2013.

11) SOUZA, André Ricardo de; TORRES, Natália Canizza. As duas faces evangélicas do espiritismo brasileiro. Religião e Sociedade. 2022, v. 42, n1, p. 221-239.

12) TORRES, Natália Cannizza. “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita. São Carlos. Dissertação de mestrado em sociologia, UFSCar, 2019.

13) XAVIER, Francisco Cândido. Vida e sexo. Pelo espírito Emmanuel. 27ª edição. Brasília, FEB, 2007.

14) XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Sexo e Destino. Pelo espírito André Luiz. 64ª edição. Brasília, FEB, 2014.

(*) O autor é doutor em sociologia pela USP, professor de sociologia da UFSCar, organizador de dois livros científicos publicados sobre o espiritismo e integrante do paulistano Núcleo Espírita Coração de Jesus (NECJ).

Transcrito de: http://www.oconsolador.com.br/ano16/789/ca2.html

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b) Espírita:

Seria coincidência a redução de espíritas no censo após o desencarne de Chico Xavier?

Vladimir Alexei (**)

No país em que nasceu o Mineiro do Século XX, o Espírita Chico Xavier, observamos no censo de 2022, um movimento que já era sentido nas Casas Espíritas. Muita coisa mudou após 23 anos do desencarne de Chico Xavier, a começar pela desunião entre Espíritas. Parece que o Chico Xavier não apenas era um médium missionário, como também um aglutinador capaz de agregar pessoas de diversas crenças em torno dos ensinamentos do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita. O poder de arregimentar recursos era, sobretudo, espiritual. Chico Xavier foi e continua sendo a maior referência da divulgação doutrinária no Brasil.

Desculpem-nos os "anti-Chico Xavier". Acho até melhor esses não lerem o texto, que não é "chiquista", mas que reconhece a grandeza do trabalho desse missionário. Não se trata de uma “ode” ao Chico e sim uma reflexão em torno de uma possível “debandada” de simpatizantes das fieiras espíritas. Possível debandada que estamos conectando com o desencarne de Chico Xavier em 2002, ou seja, não é uma “debandada” que se iniciou agora. É um processo que vem acontecendo gradativamente.

Não obstante, é só observar a “rotatividade” de tarefeiros nas Casas Espíritas. Nas Casas Espíritas menores, os tarefeiros são os mesmos há décadas. É possível até interpretar que existe a Casa Espírita apenas para esses trabalhadores porque não agregam novos e o número de frequentadores diminuiu consideravelmente, embora haja alguma reação em alguns dias da semana em que ocorrem reuniões públicas – sobretudo em Casas Espíritas maiores.

A ausência do Chico Xavier no movimento espírita, deflagrou uma percepção que só não enxerga quem se sente confortável com o que está acontecendo: o movimento espírita perdeu sua doçura. O Amor quase não é percebido em meio a linguagens técnicas, exóticas e adaptadas de outras áreas do conhecimento que não permitem que o frequentador aprofunde na essência doutrinária (que é educadora e consoladora) e seja obrigado a manter-se por mais de uma hora ouvindo a acidez daqueles que assumem a tribuna fazendo do Espiritismo “profissão de fé”.

Palestrantes arrogantes (travestidos de "humildes"), ilustrando conteúdos doutrinários de forma personalista, tentando impor o Evangelho da maneira dele, com tons imperativos quando, na realidade, o convite do Evangelho à luz da Doutrina Espírita é para esclarecer, fazer luz para iluminar os caminhos daqueles que, assim como nós outros, tateia na escuridão da ignorância. Não se trata apenas de carisma. Existem pessoas conhecidas e desconhecidas, tão carismáticas quanto o Chico.

Mas o Chico exalava um amor maduro. O perfume do carisma toca a face, o amor maduro do Chico penetra corações.

Em meio a pandemia de Covid-19 e uma campanha eleitoral desastrosa no Brasil (para ficar apenas aqui), a desunião dos Espíritas talvez tenha atingido o ápice, ou, como dizemos aqui em Minas, “a coisa escancarou de vez" foi nessa época. (Mineiro tem um vocabulário próprio. Quando faltam adjetivos e outros recursos, palavras como “trem”, “coisa”, “negócio” e “uai” ocupam espaço de forma a que quase todos compreendam do que se trata…!)

Diversos trabalhadores espíritas assumiram posturas separatistas, extremistas (independente do viés político) e isso foi notado pelos frequentadores, seja por meio dos buchichos, pelos corredores, ou até mesmo por meio de campanhas urdidas por palestrantes famosos.

Para toda ação há uma reação. Para todo efeito há uma causa.

O resultado está aí: o “coração do mundo e a pátria do Evangelho” perdeu o coração há 23 anos e não conseguiu se recuperar. A máxima que se divulgou durante muito tempo no movimento espírita organizado, é tão atual quanto necessária, contudo, parece que era movida pelo dinheiro porque, uma vez sem o “vil metal”, as campanhas perderam poder: a justiça foi personalizada em Moisés; o Amor foi personalizado em Jesus; a Doutrina Espírita é resultado de um trabalho em conjunto, onde as lideranças são servidoras, ou seja, elas não existem para serem capas de revistas e jornais e sim para estarem na base promovendo a assistência e o desenvolvimento da equipe e daqueles que buscam a Casa Espírita.

Todavia, o que se vê é o contrário, salvo honrosas e queridas exceções em que nem se conhece o presidente, diretores e essas pessoas se misturam conosco nas atividades cotidianas da Casa Espírita sem que se perceba um visgo de vaidade e prepotência.

Quer dizer então que o Movimento Espírita nunca mais será o mesmo? “Nunca” é muito forte, entretanto, se houver algo tão sublime quanto conviver no mesmo orbe com um Espírito como o Chico Xavier, penso que deve demorar a acontecer novamente.

O que precisa ser feito? Bom, se tivéssemos a resposta, como alguns ousados espíritas, seria provável que não estivéssemos “amassando barro” na atualidade, contudo, ousamos dizer que é preciso amadurecer o movimento de divulgação do Espiritismo de forma a conseguirmos colocar o archote para o alto e unir os pontos de luz para que haja harmonia na diversidade; respeito nas diferenças; e amor.

Muito amor, que é o que o Evangelho de Jesus nos convida a sentir: o amor genuíno.

Transcrito de Sala de Estudos Allan Kardec, 10 de junho de 2025: https://salakardec.blogspot.com/2025/06/seria-coincidencia-reducao-de-espiritas.html

(**) De Belo Horizonte (MG).