A obra pioneira de Benedita Fernandes

A obra pioneira de Benedita Fernandes

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Um fato inédito ocorreu na então novata cidade de Araçatuba (SP), no dia 6 de março de 1932, tendo como protagonista uma lavadeira e descendente de escravos libertos, Benedita Fernandes.

Sem ser detentora de nenhum predicado associado ao chamado “passaporte social”, Benedita Fernandes fundou a Associação das Senhoras Cristãs, iniciando o atendimento a crianças órfãs e abandonadas e a doentes mentais. Àquela época ela já era espírita, pois foi curada de uma terrível obsessão, que chegava às raias da subjugação, por dois espíritas – o carcereiro Padial e João Marcheze -, nos momentos em que ela ficou recolhida à Cadeia Pública da vizinha cidade de Penápolis, pelo fato de causar pânico à população.

Consciente de sua nova situação e grata ao tratamento espiritual que recebeu, Benedita reuniu um grupo de lavadeiras, como ela, e espíritas de Araçatuba e fundou a primeira instituição espírita voltada à assistência social, um marco para toda a região Noroeste do Estado de São Paulo. Naquela época Araçatuba contava com um pequeno centro espírita funcionando na cidade e outra em zona rural próxima.

As ações da Associação das Senhoras Cristãs foram dinamicamente desenvolvidas e no final da década de 1930, Benedita Fernandes já havia conquistado o respeito além do ambiente dos espíritas, de muitos integrantes da Loja Maçônica Tupy, de políticos e da população em geral. A Associação passou a contar com o Asilo Doutor Jaime de Oliveira (para doentes mentais), Casa da Criança, Albergue Noturno e classe municipal para o ensino formal. Por ocasião da elaboração da biografia de Benedita Fernandes, cuja primeira versão foi publicada em 1982, quando a Associação completava seu Jubileu de Ouro, conhecemos e entrevistamos muitos cidadãos da cidade e outras localidades que tiveram contatos com Benedita Fernandes, incluindo parentes nossos.

Nos bate-papos soubemos do respeito que dois párocos locais tinham pela obra de Benedita. Também foi histórica a deferência do governador (interventor federal) Fernando Costa por ocasião de visita a Araçatuba.

Em nossos dias há várias mensagens assinadas pelo espírito Benedita Fernandes e uma marcante alusão à ela em texto psicografado por Chico Xavier em 1963, incluindo-a num relato sobre "uma reunião de damas consagradas à caridade" intitulado “Num domingo de calor”. Aliás, daí tiramos a inspiração para nosso livro intitulando-a de “Dama da Caridade”.

Os exemplos e a dedicação de Benedita Fernandes permanecem em muitos corações. Sua obra material foi se alterando ao longo do tempo e, em função de regulamentações governamentais sobre saúde mental, gerou algumas dependências de CAPS – Centro de Apoio Psicossocial, e um deles com o nome dela e contando com o apoio de voluntários vinculados à Associação das Senhoras Cristãs Benedita Fernandes.

Para o 2o semestre deste ano está previsto o lançamento de filme sobre Benedita Fernandes, elaborado por Sirlei Nogueira, de Araçatuba e com base no livro "Benedita Fernandes. A dama da caridade", de nossa autoria (Ed.Cocriação/USE Regional de Araçatuba).

 

                        O autor foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da Federação Espírita Brasileira e da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo.