E as previsões?
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Toda passagem de ano gera expectativas e muitas ideias vinculadas às tradicionais previsões.
Nos últimos tempos muitos repetem sobre a fase que vivemos e que chamam de transição planetária. Realmente, estamos em momento de transições, mas estas nunca deixaram de existir porque o Universo não é estático. Acontece que há fases em que ocorrem transformações profundas e rápidas. Por isso torna-se importante a análise num largo espaço de tempo para se verificar o ritmo das mudanças.
Por isso torna-se importante a análise num largo espaço de tempo para se verificar o ritmo das mudanças. Em nossos dias, a comunicação instantânea propicia muitas vezes visões mais catastróficas. Em realidade muitos fenômenos materiais e transformações da Humanidade, em geral, sempre existiram, mas não havia a disseminação das informações de maneira globalizada. E como a mídia destaca mais as tragédias, fica-se com uma impressão que o “mundo está em total ebulição”.
O Espiritismo tem sua fundamentação nas obras de Allan Kardec e seu último livro “A Gênese” e que tem como subtítulo “Os milagres e as predições segundo o Espiritismo”, e, no final, dois capítulos: “Os tempos são chegados” e “Sinal dos tempos”. A partir desta obra lançada em 6 de janeiro de 1868 (152 anos anteontem) desenvolvemos a linha de raciocínio que foge das tradicionais interpretações feitas a partir da aceitação da escatologia e da parusia. Evidentemente que são pensamentos desenvolvidos nos dois milênios por alas cristãs.
Assim, considerando o livro citado, “A Gênese”, destacamos o trecho: “O resultado final de um acontecimento pode, pois, ser certo, já que está nos desígnios Deus. Mas, como frequentemente, os detalhes e o modo de execução são subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens; os caminhos e os meios podem ser eventuais”. Portanto, “os Espíritos podem nos alertar sobre o conjunto, se for útil que sejamos prevenidos. Mas para precisar o lugar e a data, eles deveriam conhecer previamente a decisão que tal ou qual indivíduo tomará.” Interessante notar que Kardec dá mais importância às transformações morais e espirituais do que às alterações físicas cíclicas e naturais de nosso orbe.
Uma característica marcante de nossa época é o processo complexo de reajustamento de todos os valores humanos. Daí os intensos e continuados choques de pensamentos e de posições. Embora ocorram momentos mais críticos no processo civilizatório, sempre se dá um passo na senda do progresso.
A propósito, o guia espiritual de Chico Xavier, o espírito Emmanuel, tratou do assunto em várias obras deste médium. Mas há um trecho do livro “Busca e acharás” que nos parece muito apropriado para a época que vivemos: “Reconhecemos todos que o mundo atravessa agitadas crises de transição. Mas podes ser, onde estiveres, a escora de fé, em que outros se apoiem.”
O cultivo da religiosidade, de valores e o cultivo de virtudes podem trazer grandes contribuições para a criação da serenidade e firmeza no enfrentamento dos impasses e dificuldades do mundo atual. Como anotou Allan Kardec em sua obra inicial, “O Livro dos Espíritos”: “O progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro”.
Esses fatores, ou opções do livre-arbítrio do homem, é que podem delinear as previsões para o futuro. Sempre há a opção de se começar um “novo amanhã”.
(O autor residiu em Araçatuba, onde foi professor da FOA e dirigente espírita. Atualmente reside em São Paulo e é ex-presidente da Federação Espírita Brasileira).
Publicado no jornal “Folha da Região”, Araçatuba, 08/01/2020, página A2.