NAS AÇÕES DO BEM, O PASSADO É SEMPRE PRESENTE

Célia Maria Rey de Carvalho (*)

Como espíritos imortais, nosso destino é o bem, o amor, com esforços individuais. Jesus orientou que ele se faria presente no socorro aos necessitados. Pela lei da cooperação entre os homens que ele estaria conosco. Ninguém cruza o nosso caminho em vão, aproveitando-se ou não a oportunidade.

Esse raciocínio se aplica à história de uma senhora desequilibrada que perambulava por Penápolis. Pelo sentimento de cooperação, foi acolhida e tratada espiritualmente de uma obsessão contumaz que sofria há anos. Curada, se lembrou de seu nome: Benedita Fernandes. Praticou em Araçatuba a ajuda aos semelhantes, como haviam feito com ela.

Não a conheci e chegavam aos meus ouvidos de jovem os seus feitos. Conheci um jovem que mais tarde tornou-se meu marido – Cesar Perri. Pesquisador nato, estudioso, escritor de “fácil letras” como se dizia, que desde cedo interessou-se pela figura de Benedita. Quase não havia registros sobre a vida dela. O desejo incansável em conhecer aquela personagem não lhe deu tréguas. Reuniu dados e fatos e os publicou em singelo opúsculo. Isso não o satisfez. Mensagens espirituais de Benedita revelaram que sua preocupação continuava sendo as crianças e os obsediados. Quem era esse Espírito, que de forma inteligente, amorosa e sábia enviava essas mensagens do além?

Para Cesar, novos desafios e pesquisas prosseguiram durante anos. Após a publicação do opúsculo, ele fez palestras sobre a vida daquela personagem que passou a ser conhecida como a “Dama da Caridade”. Núcleos de assistência e Centros Espíritas passaram a homenageá-la dando-lhe seu nome. Era vista por médiuns do Brasil e do exterior.

Passados mais de 50 anos nesse afã do Cesar em compreender Benedita Fernandes, sem conhecê-la pessoalmente, perguntamos o que está por trás disso?

A espiritualidade esclarece sobre a parentela material e a espiritual e que esta, remonta milênios e é sustentada pela afinidade, pelo bem querer, e se solidifica ao longo dos tempos. Também há um revezamento nos processos reencarnatórios: alguns espíritos afins retornam ao corpo físico e os demais ficam na espiritualidade velando por eles, ora a situação se inverte. Presumo ser essa a história espiritual entre Benedita Fernandes e Antonio Cesar Perri de Carvalho, são espíritos da mesma família espiritual, mas com evoluções espirituais distintas.

Agora é acessível a história dessa mulher ímpar. Para Cesar, a gratidão continua norteando suas ações em prol da divulgação do vulto Benedita, que por “coincidência” desenvolveu sua obra em Araçatuba. União de dois trabalhadores de Jesus, com os mesmos ideais de ajuda aos semelhantes e divulgação da sua Doutrina. Se não fosse o esquecimento das reencarnações passadas, saberíamos que são milenares caminheiros, com ajudas mútuas pelos caminhos de Jesus. São as afinidades da família espiritual cultivadas aqui e no além, solidificando mais e mais os caminhos do amor e do bem comum.

 

(*) Mestre em Educação e professora aposentada; foi atuante no movimento espírita de Araçatuba; ex-diretora da USE-SP e da FEB.

(Artigo publicado no jornal “Folha da Região”, Araçatuba (SP), 3/5/2017. Lido na cerimônia de lançamento do livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, no dia 6 de maio, em Araçatuba.)