Problemas sociais e violências
Antonio Cesar Perri de Carvalho
As teorias e propostas de solidariedade e fraternidade sugerem equacionamentos adequados, mas a prática permanece complicada dentro de contexto tão sério e impactantes para as pessoas em todos os seus ambientes de convivência.
Parcela considerável da população tem dificuldades de sobrevivência física, de alimentação e de acesso à saúde. Muitas famílias entraram em dificuldades em função de desempregos, diminuição e alguns quase ausência de rendas. Concomitantemente cresce o ritmo de todas as formas de violências, gerando quadros fortes de agressividade e de inseguranças.
Em função desse cenário preocupante e às vezes desolador, há problemas vividos pelos espíritas como cidadãos, no contexto de suas famílias, e inclusive à vista das necessidades de subsistência das instituições a que são vinculados. Se numa grande cidade, alguém fizer uma caminhada à guisa de exercício, se defrontará com presença de moradores em situações de rua e de seguidas abordagens de pedintes solicitando auxílios. Pelo whatsapp e pelas redes sociais em geral, há campanhas de instituições de várias regiões.
Na realidade, instituições dos vários Estados certamente enfrentam dificuldades financeiras. E, sem dúvida, alguns frequentadores e colaboradores de centros podem estar passando por momentos delicados.
Por outro lado, as novas alternativas para os vários tipos de comunicação – reuniões e estudos – on line, multiplicam-se, em geral não respeitam valores morais e espirituais e acentuam o alarmismo e até estimulam posições radicais. As novidades levam a exageros. A nosso ver, as “lives” de caráter pessoal merecem uma análise especial. Isso porque surgem aquelas com recursos de “impulsos” e “turbinamentos” pagos para se ampliar a disseminação de mensagens nas redes sociais, e, observamos com muitas reservas e dúvidas os objetivos desses procedimentos que visam o crescimento numérico de “seguidores” e o emprego de plataformas do chamado marketing digital, muito empregado em meios empresariais.
Frente a questões tão delicadas, cabem muitas reflexões e avaliações.
Para isso o Espiritismo dispõe de subsídios infindáveis, mas é necessária uma atenção no conteúdo prevalente em “O Evangelho segundo o Espiritismo” a propósito da prática do ensino moral do Cristo. Há orientações e recomendações gerais para as premissas da fraternidade e da solidariedade, mas os saberes sobre o sentir, ouvir, adequar e agir serão muito importantes para se analisar caso a caso as problemáticas das pessoas e das instituições espíritas.
Dentro dos parâmetros espíritas e cristãos há meios para se rever posturas e ações, do âmbito pessoal até o social, mas as doses e o “timing” são variáveis e não se pode generalizar ou se padronizar. Não há soluções mágicas, “salvacionistas” ou revolucionárias, pois se que se trata da necessidade de educação de base e da difícil e complexa consciência da cidadania.
Em realidade, um longo processo para se atingir um nível de conscientização e de autonomia isento das comuns contaminações das manipulações político-ideológicas.
Tempos difíceis: momentos para análises, avaliações e reflexões! Allan Kardec desenvolve tema correlato no capítulo “sinais dos tempos” no livro A gênese. Emmanuel na análise do processo civilizatório em A caminho da luz (Introdução e Cap. 25), comenta sobre os tempos de “aferição de valores” e que a Humanidade ainda não se cristianizou.
Como reflexão sugestiva para as superações em tempos conturbados: “As dificuldades de qualquer natureza são sempre pedras simbólicas, asfixiando-nos as melhores esperanças do dia, do ideal, do trabalho ou do destino, que recebemos na glória do tempo. É necessário saber tratá-las com prudência, serenidade e sabedoria” – Emmanuel (Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Vida em vida. Cap. Pedras. São Paulo: IDEAL).
Claro alerta de Emmanuel: “Acautelemo-nos, porém, contra o perigo da simples rotulagem. […] não nos esqueçamos de que, se não possuímos o espírito do Cristo, dele nos achamos ainda consideravelmente distantes” (Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte Viva. Cap. 170. FEB).