“Padroeiros” do Brasil

“Padroeiros” do Brasil

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No mês de outubro, a tradição católica do Brasil, destaca no dia 12 de outubro a “padroeira Nossa Senhora da Aparecida”.

Há outro vulto reverenciado pelo catolicismo no dia 19 de outubro: São Pedro de Alcântara. Na realidade um dia após a data de sua morte pois já havia uma comemoração oficializada no calendário da Igreja.

Há uma relação entre ambos, pois poucos sabem que antes da atual consagrada “padroeira do Brasil”, o “padroeiro” era São Pedro de Alcântara. São Pedro de Alcântara – nome real Juan de Garabito y Vilela de Sanabria, (Alcântara, 1499 – Arenas de San Pedro, 18/10/1562), foi um frade franciscano espanhol que fez grandes reformas na sua ordem religiosa, a Ordem dos Frades Menores, no Reino de Portugal. Era notável pregador e místico, amigo e confessor de Santa Teresa de Jesus e do rei dom João III, de Portugal. Foi beatificado Papa Gregório XV (1622) e canonizado pelo papa Clemente IX (1669). 

Tornou-se, mais tarde, o santo de devoção da Família Real de Portugal. Seu nome, Pedro de Alcântara, foi escolhido para dois imperadores do Brasil, Pedro I e Pedro II.

Dom Pedro I foi quem solicitou ao papa que proclamasse Pedro de Alcântara o padroeiro do Brasil, o que aconteceu em 1826, pelo papa Leão XII. Em Petrópolis há a Catedral de São Pedro de Alcântara, onde está a cripta imperial, com os corpos dos casais Pedro II e Tereza Cristina, princesa Isabel e conde D’Eu.

Interessante destacarmos que o chamado santo do catolicismo, Pedro de Alcântara, conforme informações antigas de Chico Xavier, seria as personagens do romance Ave Cristo!: Quinto Varro e Quinto Celso. Em diálogos muitas vezes Chico Xavier citava o espírito Pedro de Alcântara. Em obras psicográficas de Chico Xavier, desde Parnaso de além túmulo, há poemas assinados pelo espírito Pedro de Alcântara.

Acontece que em 1930 houve a proclamação oficial de Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil, a partir de decreto assinado no Vaticano em 16 de julho, durante o pontificado do Papa Pio XI. A cerimônia que confirmou o título e a proclamou padroeira do Brasil foi realizada quase um ano depois no Rio de Janeiro, pelo cardeal dom Sebastião Leme.

Essa veneração tornou-se extremamente popular e, a rigor, apenas essa imagem é reverenciada. Desapareceu o vulto Pedro de Alcântara, muito embora, haja citações católicas, não sei se eufemísticas, de que ela é “a padroeira” e ele “o padroeiro”… Mas o povo não sabe disso!

O fato é que além das chamadas “Nossas Senhoras” – com aparições espirituais em várias partes do mundo e que identificaram como sendo a mãe de Jesus ou até a caracterizada com uma pequena imagem encontrada por pescadores no rio Paraíba, no interior de São Paulo -, sabe-se que há uma plêiade de espíritos que apoiam e colaboram com o país.

Fica claro que são de ordem humana as designações de “padroeiro” e de “santo”. Como também a adoção de rituais e manifestações exteriores, geralmente relacionados com extrapolações comerciais.

De nossa parte, vêm à mente as informações históricas sobre os cultos de divindades adotados em momentos de antigas civilizações, como os presentes nas culturas: suméria, persa, hindu, egípcia, hebraica, grega e romana. Essas reminiscências em cultos populares podem ser esclarecidas pelo conhecimento do mecanismo das reencarnações.

Por outro lado, sem serem considerados “padroeiros”, na história do Brasil, há vultos marcantes relacionados com a religião e consolidação de propostas voltadas à educação e ao atendimento do próximo.

Entre esses, o pioneiro Manuel da Nóbrega (Sanfins do Douro, Portugal, 18/10/1517 – Rio de Janeiro, 18/10/1570), jurista e jesuíta português, chefe da primeira missão jesuítica à América. As cartas enviadas a seus superiores são documentos históricos sobre o Brasil colonial e a ação jesuítica no século XVI. Nóbrega foi autor do primeiro livro redigido na Colônia: Cartas do Brasil, registrando suas experiências educacionais, principalmente de catequese entre 1549 e 1560. Teve um papel fundamental na fundação de três das maiores cidades do Brasil: Salvador (1549), São Paulo (1554) e Rio de Janeiro (1565). Nóbrega é personagem em romances psicografados por Chico Xavier, em vivências do espírito Emmanuel, depois se caracterizando como orientador e autêntico pai espiritual do médium.

O conhecido filósofo e jornalista espírita paulista Herculano Pires: “Dura foi a luta pela conversão do gentio. […] Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro.”

Nóbrega contou com a atuação do jovem José de Anchieta, nascido em 19/03/1534, nas Ilhas Canárias, e falecido em 09/06/1597, em Reritiba (atual Anchieta, no Espírito Santo). Foi uma das figuras mais influentes e multifacetadas do período colonial brasileiro. Missionário jesuíta, poeta, dramaturgo, gramático e historiador; desempenhou um papel crucial na catequização dos indígenas, na fundação de cidades e na consolidação da presença portuguesa na Colônia. Anchieta deixou um legado indelével na história, na cultura e na religião do país, conhecido como o “Apóstolo do Brasil”.

Outro vulto marcante é o frei Fabiano de Cristo, nome real João Barbosa (Soengas, Portugal, 08/02/1676 – Rio de Janeiro, 17/10/1747), integrante da Ordem dos Frades Menores. Ainda jovem emigrou para o Brasil e deixou registros de chamamentos espirituais do Cristo, alertando-o para sua verdadeira missão. Ao adormecer teve um sonho estranho, reconhecendo a figura de Francisco de Assis, chamando-o para amparar os aflitos. Em seguida, despoja-se de seus bens terrenos. No dia 12/10/1705, mudou o nome para "Frei Fabiano de Cristo" e transfere-se de Angra dos Reis, onde residia, para o Rio de Janeiro onde veio a desempenhar a função de porteiro do Convento de Santo Antônio. Depois assumiu o cargo de enfermeiro, e com seu amor seria exemplo de dedicação, tendo servido neste posto por quase trinta e oito anos. Há o Hospital Espírita Fabiano de Cristo (Caieiras, região metropolitana de São Paulo), e outras instituições fundadas com o seu nome e são muitos os casos considerados de curas atribuídas ao espírito frei Fabiano de Cristo.

O livro – Fabiano de Cristo, o peregrino da caridade, contém registros notáveis sobre sua atuação e anota-se que é considerado por muitos a reencarnação de José de Anchieta, o secretário espiritual de Manuel da Nóbrega, o nosso conhecido Emmanuel.

Desde momentos do século XIX, há informações e depois em livros espíritas, como os de autoria de Irmão X, sobre o espírito chamado Ismael, como o orientador espiritual do Brasil.

Desde obras de Kardec, há registros na literatura espírita de que há equipes de espíritos vinculados a apoios espirituais a países e ao processo civilizatório em geral.

O importante é que sem divinizações, haja a valorização dos exemplos de vida de vultos destacados na construção da religiosidade e com efetiva atuação na edificação de um mundo de respeito ao próximo, com base na “lei áurea” de Jesus.

Fontes:

- Wikipedia, acesso pela internet;

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação espiritual com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020. 208p.

- Costa, Carlos Alberto Braga. Chico, diálogos e recordações. Matão: O Clarim. 2017. 366p.