Quo vadis? Na atualidade…

Quo vadis? Na atualidade…

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos últimos anos sente-se alterações bruscas de rumos e impactos em várias partes do mundo. Claramente geram instabilidades, dúvidas e receios.

O contexto mundial e nacional é muito diferente do ambiente geral que era vivido e das expectativas nutridas na passagem para o século XXI.

No cenário do movimento espírita também é notória uma alteração na compreensão e no ritmo de esforço conjunto e até de expansão.

A tão propalada época de transição, realmente está em curso. Muito embora jamais o mundo deixou de estar em transformações.

Na realidade crescem ou se aprofundam entrechoques pelo mundo afora.

Os radicalismos, os confrontos, as polarizações e o privilegiamento de interesses imediatos favorecem o florescimento de reações tipo ódio.

O cristianismo e muitas religiões que essencialmente se fundamentam na prudência, na reflexão e no respeito ao próximo, parecem não identificadas nas ações de parcela significativa da população e de suas lideranças.

Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, anota claramente: “a realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar”.1 Assim, recomenda de forma objetiva: “que é preciso cristianizar a humanidade é afirmação que não padece dúvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação.”1

Em outra obra o mesmo autor espiritual, numa apreciação geral, analisa que “a Civilização Ocidental está em crise; os observadores e os sociólogos trazem, para o amontoado de várias considerações, o resultado dos seus estudos. Alguns proclamam que toda civilização tem a fragilidade de uma vida; outros aventam hipóteses mais ou menos aceitáveis, e alguns apeiam para a cristianização dos espíritos. Estes últimos estão acertados em seus pareceres”.2

Como cidadãos do século XXI, observamos que no mundo dinâmico em que vivemos sucedem-se mudanças e inovações. Especialistas em gestão e transformações recomendam a valorização de novos talentos, nova cultura e novas formas de fazer as coisas, inclusive não se desprezando receios e preocupações.

Todavia ao se analisar a atualidade torna-se interesse se conhecer a trajetória dos primeiros tempos do cristianismo realizando-se algumas analogias com o movimento espírita.3

Evidentemente que o conceito e a prática de religião determinam diferenças de comportamentos e a origem de eventuais problemas de relacionamento em geral.

Nessa relação entre essência de proposta religiosa e institucionalização, entendemos como oportuna a reflexão nesses comentários do autor espiritual Emmanuel:

"As instituições humanas vivem cheias de códigos e escrituras. Os templos permanecem repletos de pregações. Os núcleos de natureza religiosa alinham inúmeros compêndios doutrinários. O Evangelho, entretanto, não oculta os propósitos do Senhor. Toda a movimentação de páginas rasgáveis, portadoras de vocabulário restrito, representa fase de preparo espiritual, porque o objetivo de Jesus é inscrever os seus ensinamentos em nossos corações e inteligências. Poderemos aderir de modo intelectual aos mais variados programas religiosos, navegarmos a pleno mar da filosofia e da cultura meramente verbalistas, com certo proveito à nossa posição individual, diante do próximo; mas, diante do Senhor, o problema fundamental de nosso espírito é a transformação para o bem, com a elevação de todos os nossos sentimentos e pensamentos. O Mestre escreverá nas páginas vivas de nossa alma os seus estatutos divinos.”4

A nosso ver é oportuna a lembrança de conhecida frase latina: Quo vadis?, que significa "Para onde vais?" ou "Aonde vais?".

Teria surgido em um relato considerado apócrifo conhecido como "Atos de Pedro", quando o apóstolo estaria tentando fugir de um provável sacrifício em Roma. Jesus teria aparecido a ele e pergunta: Quo vadis? Em seguida Jesus também responde: "Vou a Roma para ser crucificado de novo". Pedro teria desistindo da fuga e retornado a Roma onde foi sacrificado. A frase latina e o episódio citado ficaram imortalizados no filme cinematográfico americano épico “Quo vadis” de 1951.5

A propósito, há uma frase parecida registrada pelo apóstolo João (16, 5): “Agora que vou para aquele que me enviou, nenhum de vocês me pergunta: Para onde vais?“ Portanto é pertinente a questão para reflexões na atualidade: para onde vamos?

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. 28.ed. Cap. 2.5 e 4.1. Brasília: FEB. 2013.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. 12. Brasília: FEB. 2013.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais: aspectos históricos e visão espírita. Cap. 6. Matão: O Clarim. 2018.

4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Vinha de luz. Cap. 81. Brasília: FEB. 2005.

5) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Quo vadis: de Roma à atualidade. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIII. No. 4. Maio de 2018.