Chicomedissismo: o problema continua
Marco Milani
(diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP e presidente da USE Regional de Campinas)
Em 2021, o Departamento de Doutrina da USE promoveu uma interessante roda de conversa virtual denominada “O problema do Chicomedissismo”1, no qual foram apresentadas situações em que uma ou outra pessoa afirmava ter convivido com Francisco Cândido Xavier e ouvido diretamente dele, em tom de confidência, informações sigilosas, quase proféticas, sobre diferentes assuntos.
Passados três anos desse evento, e mais de duas décadas da desencarnação do popular médium mineiro, o número de confidentes de Chico parece ter aumentado…
Hoje em dia, novos “amigos íntimos” surgem repentinamente nas redes sociais com retumbantes e questionáveis revelações sobre o destino da humanidade e sobre a realidade espiritual, amparando-se na conhecida justificativa do “Chico me disse”.
Sob a perspectiva espírita, qualquer informação, seja ela proveniente de encarnado ou desencarnado, deve ser analisada com ponderação e razão, nunca baseada em argumento de autoridade, ou seja, não importa quem disse, mas qual é a comprovação existente do conteúdo.
No caso de Chico, sua inegável idoneidade moral e capacidade mediúnica o transformou num ícone do movimento espírita não somente brasileiro, mas mundial. Nesse sentido, muitos dos milhões de adeptos, pelo natural respeito e admiração a ele, tendem a aceitar com muito carinho tudo o que lhe esteja relacionado, mesmo que isso não dispense a necessidade de análise crítica. O desafio metodológico enfrentado pelos adeptos, entretanto, recai na separação entre ideias e pessoas, bem como entre fatos e fantasias.
Ao utilizar o argumento chicomidissista, muitos têm atraído os holofotes midiáticos e locupletam-se com a visibilidade pessoal e a oportunidade de disseminar causos e contos mirabolantes que colidem com o bom senso e a lógica doutrinária. Tais caronistas da popularidade alheia encontram no permissivo ambiente tecnológico atual o espaço para dar vazão às suas imaginativas estórias, iludindo e confundindo os mais incautos e contribuindo para a disseminação da fé cega.
Sob a perspectiva espírita, qualquer informação deve ser analisada com ponderação e razão, nunca baseada em argumento de autoridade.
Certamente, por não estar fisicamente entre nós, Chico não pode se defender das bizarrices atribuídas a ele por aqueles que declaram ter sido “seus amigos muito próximos” que, se realmente o fossem, não tentariam usurpar sua imagem social desse jeito.
Seja como for, compete ao espírita estudar as obras de Allan Kardec para ter referências comparativas seguras sobre a natureza, origem e destino dos Espíritos e suas relações om o mundo corporal2 e, dessa maneira, conseguir analisar criticamente qualquer informação sob o ângulo doutrinário.
Referências:
1) Ver (copie e cole): https://youtu.be/kSCHo7fqUy8?si=BxPYuOWCAuTAD9Ks
2) KARDEC, A. O que é o espiritismo. Araras: IDE.
Transcrito de:
Dirigente Espírita. USE-SP. Março-Junho/2024. P. 15-16.