Dirigente Espírita alcança 35 anos de proposta inovadora

Dirigente Espírita alcança 35 anos de proposta inovadora

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Ao se chegar ao 35o ano de circulação de Dirigente Espírita, numa retrospectiva sobre seu lançamento, há necessidade de situarmos o contexto em que surgiu como uma proposta inédita.

No segundo semestre de 1990, ocorriam as intersecções de tendências que vivíamos como recém-empossado presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP) e com a experiência concomitante de gestor universitário. Em nossa gestão na presidência da USE-SP coordenávamos uma equipe que propunha novos rumos à Instituição.

Como linha mestra propunha-se a modernização da USE-SP adequando-a às necessidades do movimento e em apoio aos dirigentes espíritas.

Concomitantemente na área acadêmica, estávamos incumbidos de implantar na Universidade Estadual Paulista um fato novo na época: os conselhos de cursos que, diferente da estrutura departamental já viciada em corporativismos e ações “cartoriais”, apresentava-se como uma ação integrada para melhor se gerir os cursos de graduação.

De certa forma havia similitude de ideias básicas entre as duas vivências simultâneas.

Entre os companheiros de direção da USE-SP alguns nos traziam as experiências inovadoras dos meios empresarial e de comunicação e comentava-se muito em se superar a tradição de ações que no conjunto é chamada de “cartorial”, com uma organização tipo “caixas” e “gavetas”, que caracterizavam os departamentos e setores estanques nas instituições espíritas.

Nas reuniões iniciais daquela diretoria executiva da USE-SP, no 2o semestre de 1990, discutiu-se sobre a necessidade de reanálise sobre o órgão oficial da Instituição, o tradicional jornal Unificação. Esse órgão há alguns anos padecia de dificuldades de indefinições editoriais e, alguns momentos, com lapsos de circulação. Em avaliação e decisão rápida a nova diretoria da USE-SP definiu que seria o momento de se enfrentar um enorme desafio, de transformar o antigo periódico em um veículo moderno e direcionado aos dirigentes espíritas. Entre as ideias que surgiam é que não seria um órgão, comum na época, efetivando meras transcrições de trechos de livros psicográficos ou de divulgação de mensagens espirituais. Haveria ênfase em matérias de companheiros com colocações objetivas, com base em vivências e tendo como público-alvo a equipe de dirigentes e colaboradores dos centros.

Nessas condições, foi aceito o título para o novo jornal e a proposta apresentada por Wilson Garcia, um dos colaboradores daquela diretoria. Dois meses após a posse da nova diretoria circulou o novo veículo, o Dirigente espírita, mantendo como sub-título “Unificação”, mas renumerando-o: Ano I, No 1, Setembro/Outubro de 1990. Integraram a equipe do jornal: Editor – Wilson Garcia; Secretário – Ivan René Franzolim; Redação – Luiz Antonio Fuchs, Éder Fávaro e Antonio Cesar Perri de Carvalho; Assinaturas – Carlos Teixeira Ramos.

Da edição inaugural, destacamos trechos do editorial da presidência da USE: “Em que pese toda a tradição e valor do jornal ´Unificação´, entendemos ser necessária uma urgente e oportuna alteração de rota. É momento da USE inovar e imprimir ´novos rumos’ no campo da comunicação. Como entidade unificadora e coordenadora do movimento espírita estadual, não seria ideal utilizar um veículo de informação igual a muitos outros ou até competidor com periódicos de inúmeras sociedades unificadas. Nada mais natural, pois, que disponha de um veículo voltado ao dirigente espírita. Surge ‘Dirigente Espírita’, inicialmente, de circulação bimestral. Que sua mensagem dirigida enseje orientação, intercâmbio e fortalecimento do Centro e do movimento espírita, estabelecendo uma constante via de mão dupla entre o jornal e seus leitores”. O editor Wilson Garcia anota na apresentação: “Dirigente espírita é fruto do desejo de preencher uma lacuna existente na imprensa espírita brasileira, qual seja de produzir um veículo exclusivo para dirigentes espíritas. […] A proposta editorial de Dirigente espírita é bastante clara: será um jornal destinado ao centro espírita. Não pretende ensinar ou corrigir situações doutrinárias, mas falar aos responsáveis pelos trabalhos de igual para igual, ouvindo suas opiniões, levantando seus interesses, nos mesmos moldes de qualquer veículo da imprensa que sabe que o importante é o leitor”.

No exemplar inaugural há matérias sobre: organização dos passes, de nossa autoria; entrevista com Hermínio Miranda: a ciência espírita é uma realidade que está aí; imprensa e centro espírita, e, as casas espíritas não se envolvem em política partidária, ambos artigos de autoria de Wilson Garcia; a ciência e o centro espírita (Luiz Fuchs); o centro espírita e seus colaboradores (Ivan René Franzolim); muitas notícias das várias regiões do movimento espírita paulista, inclusive sobre os preparativos para o VIII Congresso Espírita Estadual com proposta inovadora voltada ao centro espírita, e, a seção da USE Editora, também vinculada à mesma orientação.

O objetivo do novo órgão: “o centro é nossa meta”, se inseria na coluna mestra das ações daquela diretoria executiva da USE-SP. A inovação não foi exclusivamente na linha editorial, mas também na forma: tipo de papel, tamanho e composição.

A circulação inicial provocou impactos. As reações favoráveis foram imediatas, em correspondências e até referências em outros periódicos. Outras, contrárias, vinculadas à manutenção do jornal tradicional e até eloquentes, foram expressas em reuniões do Conselho Deliberativo Estadual. Com esclarecimentos, paciência e persistência a proposta inovadora foi mantida e com o tempo o Dirigente espírita consolidou-se, sendo muito bem aceito pelo seu público-alvo.

Fica claro que o surgimento de Dirigente espírita estava inserido num projeto global de alterações no modus operandi da USE-SP, que se efetivou ao longo dos anos 1990.

Depois dessas décadas, reconhecemos que o jornal Dirigente espírita nasceu em um momento de ousadia para a época, como uma proposta inédita, inovadora e para melhor atender as necessidades do movimento espírita. Esse periódico, agora transformado em revista digital, em nossa ótica mantém seu diferencial na imprensa espírita e tem atendido aos seus objetivos.

Extraído de: Dirigente Espírita, setembro-outubro 2024. Ano 35:

Acesso (copie e cole): reDE-200-abril-a-junho-2024.pdf