“Viver em família” há 30 anos

“Viver em família” há 30 anos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há 30 anos, nos dias 29 e 30 de janeiro de 1994, houve o lançamento nacional da Campanha "Viver em Família" em São Paulo, com realização da USE-SP na sede do Centro Espírita Nosso Lar. O slogan “O melhor é viver em família. Aperte mais esse laço” ficou bem difundido.

Num final de semana foi desenvolvido o Seminário “Formação de equipes para a Campanha”, com atuação de diversos companheiros. Divaldo Pereira Franco proferiu a palestra de abertura e desenvolveu um seminário sobre o tema.

Este evento histórico originou o livro Laços de família, editado pela USE-SP1.

Essa Campanha nasceu por proposta da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, durante nossa gestão como presidente da Entidade. A USE-SP já havia promovido a "Campanha Integração da Família", em 1980. As ideias para a nova Campanha se consolidaram durante nossa gestão como presidente da USE, em função da realização de reuniões de estudo e seminários com coordenação de nossa esposa Célia, que motivaram os lançamentos de livros sobre família2,3. Nesse cenário, no ano de 1992, os diretores Sander Salles Leite e Joaquim Soares informaram que a Organização das Nações Unidas-ONU, preparava-se para promover o "Ano Internacional da Família", em 1994 – com o objetivo de "contribuir para construir a família, a menor democracia no coração da sociedade".

Pela oportunidade temática, a USE-SP definiu a elaboração de uma proposta de Campanha sobre Família e apresentou-a na reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em novembro de 1992. Foi formada uma Comissão, incumbida de elaborar uma proposta para a reunião do CFN da FEB do ano seguinte, integrada por representantes de São Paulo: Antonio Cesar Perri de Carvalho e Célia Maria Rey de Carvalho; Rio de Janeiro: Gerson Simões Monteiro e Lydiênio Barreto de Menezes: FEB: Nestor João Masotti e Paulo Roberto Pereira da Costa; havendo assessoria de Merhy Seba (SP). O feliz slogan da Campanha foi de autoria de Merhy Seba.

O projeto completo da Campanha "Viver em Família", foi aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB em suas reuniões de novembro de 1993. Naquela oportunidade a Campanha foi apresentada em evento público no Auditório do Senado Federal.

Dois meses depois houve o marcante lançamento nacional da Campanha "Viver em Família" em São Paulo. A propósito, recordamos de questões de O livro dos espíritos que inspiraram o título e o temário da Campanha:

"Os laços sociais são necessários ao progresso e os laços de família estreitam os laços sociais. […] Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família? ̶ Uma recrudescência do egoísmo."4

Entendemos que a família deve contar com um espaço integrado e conjunto nos centros espíritas, superando-se as ações pulverizadas e estanques – com barreiras etárias -, apenas em reuniões específicas para crianças, jovens e adultos.

Atualmente, numa época tão complexa, torna-se importante o incentivo para o cultivo de valores para o fortalecimento da família!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Laços de família. 8.ed. São Paulo: Ed. USE. 150p.

2) Carvalho, Célia Maria Rey (Org.). Família & espiritismo. 6.ed. São Paulo: USE. 231p.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). A família, o espírito e o tempo. 1.ed. São Paulo: USE. 140p.

4) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. Questões 774 e 775. Brasília: FEB.

A cada novo ano…

A cada novo ano…

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nas passagens de anos são naturais as expectativas de melhorias em todos sentidos.

Afinal a esperança é indispensável para alimentar ideais.

A História demonstra e o Espiritismo esclarece que “a natureza não dá saltos” em todas suas nuances. O progresso ocorre passo a passo. Detalhe importante é que o Espiritismo não aceita a ideia de milagre.

Na obra de Allan Kardec há judiciosos comentários a propósito do aperfeiçoamento da Humanidade e até estabelecendo algumas relações entre passado, presente e futuro.

No capítulo “São chegados os tempos”, em A Gênese, o Codificador pondera: “A humanidade tem realizado, até o presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho”.1

Kardec deixa claro: “Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de ideias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante”.1

Com base no raciocínio de Kardec, fundamentado nas informações espirituais presentes em suas obras, parece-nos que são incabíveis os exageros daqueles que fixam datas e até admitem que estaria próximo o chamado “mundo de regeneração”.

Haja vista a situação do povo em geral e das várias nações… O “bem-estar moral” destacado por Kardec dependerá da adoção na prática das leis morais apregoadas por Jesus, fundamentadas no respeito ao próximo como a si mesmo. O cenário geral ainda é sombrio, mas há cintilações de algumas réstias de luz.

Por outro lado, o conjunto se faz do esforço das partes. A sociedade somente estará mais equilibrada e harmônica quando parcela expressiva de seus integrantes estiverem animados por propósitos de aperfeiçoamento moral e social.

Portanto, outra análise de Kardec é pertinente: “Jesus não faz da caridade apenas uma das condições de salvação, mas a única condição. Se houvessem outras a preencher, Ele as mencionaria. Se Ele situa a caridade no primeiro patamar das virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a indulgência, a justiça etc., e porque ela é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”2

A cada ano que se inicia, torna-se interessante a auto-avaliação sobre nossos esforços em superar as expressões do orgulho e do egoísmo, dando condições para substituições por virtudes.

Assim, a cada novo ano, cabem os esforços para a superação de dificuldades e a concretização de uma prática moral assentada na mensagem de Jesus e robustecida pela certeza que somos espíritos imortais.

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“… paz na terra entre os homens de boa vontade” (Lucas 2,14)

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. A gênese. Cap. XVIII. Itens 5 e 6. FEB.

2) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XV. Item 3. FEB.

Benedita cria momento histórico em Araçatuba

Benedita cria momento histórico em Araçatuba

  

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O antigo Cine Pedutti – atual Centro Cultural Thathi – foi palco de um momento histórico na tarde do dia 17 de dezembro.

Numeroso público compareceu para assistir o lançamento do filme "Benedita – uma heroína invisível. O legado da superação".

Previamente à exibição do filme, houve apresentação musical e de vídeo sobre o tema musical “A summer place” que assinalava o início dos filmes nos Cines São Francisco e Pedutti. Hélio Consolaro, da Academia Araçatubense de Letras, fez o registro que ele compareceu à inauguração do Cine Pedutti, em 1968, para assistir ao filme “Noviça Rebelde” e de sua satisfação de estar novamente no local para assistir a um filme sobre vulto local. Maria Teresa Assis Lemos Marques de Oliveira (Tieza), secretária de Cultura de Araçatuba, fez saudação, pois a produção do filme contou com apoio dessa Secretaria Municipal. Antonio Cesar Perri de Carvalho (de São Paulo), autor do livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, enredo base para o filme, relatou as suas motivações que levaram a elaborar essa biografia. Foram apresentados o diretor e produtor do filme, Sirlei Nogueira e Samuel Lalucci, da co-produção Editora Cocriação e Lalucci Filmes, e dois atores. Nelson Custódio atuou como mestre de cerimônias.

Após a exibição do longa metragem o público aplaudiu.

Em seguida, ocorreram os cumprimentos a Sirlei Nogueira e Samuel Lalucci. Ocorreram gravações de entrevistas/depoimentos com vários dos presentes e Perri autografou o livro "Benedita Fernandes. A dama da caridade" (da Editora Cocriação).

Esse evento no Espaço Cultural Thathi assinalou marcante momento histórico: a apresentação de filme no antigo Cine Pedutti, que foi ambiente de lazer de várias gerações, e, especialmente a apresentação de um filme produzido por equipe e com atuação de atores de Araçatuba, focalizando um vulto benemérito que atuou na cidade. Benedita Fernandes fundou em Araçatuba, em 1932, a Associação das Senhoras Cristãs, entidade assistencial espírita pioneira na cidade e região. Até seu falecimento em 1947, houve desdobramento para atendimentos de doentes mentais, crianças órfãs ou abandonadas, escola municipal, albergue noturno. Tornou-se mais conhecido o Hospital Psiquiátrico Benedita Fernandes que funcionou até poucos anos atrás, desativado em função de políticas de saúde mental e transformado em CAPS.

Esse filme está sendo exibido em circuito alternativo mediante agendamentos. O percentual da venda de ingressos fica para os promotores locais. Inclusive o lançamento em Araçatuba tem a renda revertida para várias instituições parceiras. Várias cidades do país e algumas dos Estados Unidos já fizeram exibições desse filme nos últimos dias.

O vulto Benedita Fernandes tem levado Araçatuba para diferentes rincões.

(O autor foi dirigente espírita em Araçatuba; exerceu a presidência da USE-SP e da FEB).

Publicado em:

Folha da Região, Araçatuba, 20/12/2023. P.2.

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Os finais de ano são assinalados, notadamente nos países ocidentais, com as evocações sobre o nascimento de Jesus.

Num recorte às variadas formas de lembranças e comemorações sobre essa efeméride de nossa Civilização, realçamos a visão oferecida pelo espiritismo.

Allan Kardec, dedica a substanciosa 3a Parte de O livro dos espíritos às leis morais; em O evangelho segundo o espiritismo define o ensino moral como o objetivo dessa obra:

“Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas”.1

No livro A caminho da luz, Emmanuel analisa sob a ótica espiritual a época do nascimento de Jesus:

“[…] eis que ia cumprir-se a missão do Cristo, depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano. A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande tranquilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. […] que assinalam, junto de outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do chamado século de Augusto, com as suas obras numerosas.”2

Realça esse momento da evolução terrestre: “Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa maturação do pensamento terrestre.”2

O “século de Augusto” e a “maioridade terrestre” representam momentos marcantes na história da Humanidade e como uma preparação para a atuação do Cristo. Passados séculos, em mensagem pouco divulgada, Emmanuel considera: “O homem cresceu e evoluiu fisicamente, sem que progredisse, em identidade de circunstâncias, à sua posição espiritual. Algumas almas nobilíssimas trouxeram-lhe num esforço generoso as grandes ideias dos seus tratados de filosofia social e política”. […] A prova disso é que os homens, como os Estados que são os aparelhos físicos da coletividade terrestre e humana, regressam atualmente a todos os processos da força”.3

Mesmo após os discursos e providências em prol da paz, vivemos terrível contexto com diversas formas e intensidades de belicosidades em curso. Após dois mil anos, muitos impérios políticos e religiosos, consolidaram aspectos negativos. Em meio às disputas de poder político, econômico e de extremismos religiosos, há o intenso sofrimento de populações.

Apesar de várias deturpações, a mensagem de Cristo sobreviveu.

Em nossos dias há o esforço do “Consolador Prometido” pelo Mestre. O Espiritismo vive no seu terceiro século de disseminação em vários Continentes, em época de variadas conturbações mundiais. A força da mensagem-proposta do Cristo, expressa nos Evangelhos, representa um potencial de transformação substancial para o homem e para a sociedade em geral.

No geral, num mundo caracteristicamente de “provas e expiações”, que parece distante da “regeneração”, é cabível a proposta de Emmanuel, dos momentos prévios à Grande Guerra, em psicografia de Chico Xavier, aos 17/03/1938, em Pedro Leopoldo3:

“[…] não falamos de recristianização, por quanto o afinamento da mentalidade do mundo terrestre no ideal de perfeição e de amor de Jesus Cristo não chegou a se verificar em tempo algum. Apelamos para a cristianização de todos os espíritos e é dentro desse sentido que se guarda o mais alto objetivo de todas as nossas mensagens extraterrestres”.3

Ao ensejo das evocações sobre o nascimento de Jesus parece-nos claro que a sua mensagem ainda não tem ampla penetração em considerável parcela de nossa Civilização. De nossa parte, compete-nos os esforços para assumirmos como cidadãos conscientes e coerentes com os princípios espíritas.

Nos registros de Paulo de Tarso, há oportunas recomendações para ações: “vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Coríntios 3,3) na condição de “[…] herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hebreus 1,2) e animados pela orientação: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados” (2 Coríntios 4,8).

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Introdução e Cap.6, ítem 5. Brasília: FEB. 2014.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap.11 e 13. Brasília: FEB. 2013.

3) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Ação, vida e luz. P. 25-26. São Paulo: CEU. 1991.

Transcrição parcial de artigo do autor publicado em: Revista internacional de espiritismo. Ano XCVIII. N. 11. Dezembro de 2023.

Benedita favorece obras do bem – filme em lançamento

Benedita favorece obras do bem – filme em lançamento

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O filme “Benedita: uma heroína invisível. O legado da superação” encontra-se em etapa de lançamento em várias localidades.

É um filme, no estilo docudrama (encenações e documentário), que focaliza a saga de Benedita Fernandes, que se notabilizou em Araçatuba com a fundação da Associação das Senhoras Cristãs, em 1932.

Essa obra foi pioneira na assistência social espírita em toda a região e no seu desenvolvimento desdobrou-se em várias formas de atendimento a doentes mentais e crianças. O Hospital Psiquiátrico Benedita Fernandes foi um marco na cidade até poucos anos atrás, agora, em atendimento a normas governamentais da área da saúde, transformou-se em CAPS, em funcionamento no bairro Santana.

A vida de Benedita Fernandes é um exemplo de superação desde a transformação que aconteceu com ela, curando-se de autêntica “loucura”, uma forma de obsessão no entendimento espírita, para a atuação dinâmica no atendimento ao próximo. Esse exemplo de vida tornou-se conhecido e valorizado em várias regiões do país.

Em nosso livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade” (Ed.Cocriação) registramos a trajetória de vida do nobre vulto, acrescentamos mensagens espirituais dela através do médium Divaldo Pereira Franco e comentamos as repercussões de seu trabalho. O citado livro foi utilizado como base para o enredo do filme em fase lançamento.

O filme é dirigido por Sirlei Nogueira, co-produção Lalucci Filmes e Editora Cocriação. A atriz que fez o papel de Benedita foi Silvia Teodoro, de Araçatuba, desencarnada há poucos anos.

Como participante do filme, Divaldo Pereira Franco comentou sobre o lançamento do filme: “Com imensa alegria recebi sua mensagem e exulto com o êxito do trabalho sobre a amada Missionária. Faço votos que ele toque muitos corações que buscam a felicidade” (out./23).

Entre vários participantes, destacamos o ator Renato Prieto e o psiquiatra paulistano Sérgio Felipe de Oliveira.

O filme está disponibilizado para exibições em circuito alternativo mediante agendamentos, como: sala de cinema, espaço cultural, teatro e instituições em geral. A ideia é exibir a obra do bem e gerar bilheteria às obras do bem.

As apresentações pioneiras ocorreram nos dias 25 e 26 de novembro em Conchal (SP) e Angra dos Reis (RJ).

Para dezembro estão programadas exibições em: Boca Raton (Flórida, EUA), Stratford (Connecticut, EUA), Porto Velho (Rondônia), Jales (SP). Em Araçatuba o lançamento acontecerá no antigo Cine Pedutti, atual Centro Cultural Thathi, na tarde do dia 17 de dezembro (domingo).

Há agendamentos e contatos vários para os meses iniciais de 2024.

Informações: Whatsapp: 18-99709-4684

O filme “Napoleão” – repercussões e visão espiritual

O filme “Napoleão” – repercussões e visão espiritual

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O filme “Napoleão” exibido nos cinemas brasileiros desde 23 de novembro, tem provocado continuados comentários nas redes sociais sobre a história do vulto. Dirigido por Ridley Scott, o filme é um olhar original sobre Napoleão Bonaparte, com foco na sua vida pessoal e relações com a esposa Josephine, mas desfilando lances da trajetória militar e política de glórias até a derrota e exílio na ilha de Santa Helena.

Há muitas nuances importantes e destacadas de Napoleão, em geral lembrado apenas como conquistador da Europa.

Esse contexto nos reavivou as leituras sobre alguns momentos da vida do grande vulto europeu do século XIX, relacionados com o Brasil, que não foram objeto do filme, e sobre a pouco divulgada ótica espiritual.

Em seguida à Revolução Francesa, com os desatinos do período do “terror”, emergiu o personagem militar e político Napoleão Bonaparte para reorganizar a nação. Ele se preocupava em restaurar a autoestima e um melhor estado de espírito do cidadão. Foi o responsável por estabelecer uma nova maneira de relacionamento com a Igreja Católica, até então tida como oficial. A Concordata de 1801, celebrada entre Napoleão e o Papa Pio VII, foi um acordo que visava a restauração da Igreja Católica na França pós-revolução. Como Imperador favoreceu um novo Código Civil e preocupou-se com a educação, com estímulo à Escola Normal (formação de professores) e a Escola Politécnica (engenharia, ciências e tecnologia).

Destacamos que o Brasil Império se formou, indiretamente, devido a Napoleão Bonaparte que provocou a fuga da família real portuguesa para o Brasil. Com a sede do Império português fixada no Rio de Janeiro e, na sequência, com a independência proclamada por Dom Pedro, evitou-se a divisão do Brasil em três províncias, conforme um projeto existente na época, o que ocorreu com as colônias espanholas da América do Sul, gerando diversas repúblicas.

Há especulações que teria havido um plano frustrado de correligionários franceses de resgatar o imperador exilado na ilha de Santa Helena, em pleno Oceano Atlântico, e trazê-lo inicialmente para o Brasil.

Interessantes são fatos post mortem gerando outra influência de Napoleão.

Curiosamente, o corpo de Napoleão ficou durante algum tempo a bordo de uma fragata francesa ancorada na Baía da Guanabara, nos idos de 1840.1 O fato é relatado em biografia sobre o príncipe Dom João de Orléans e Bragança (1916-2005), bisneto de Dom Pedro II. O biógrafo comenta que Francisco de Orléans, o príncipe de Joinville, filho do rei da França Luís Felipe de Orléans, atendendo determinação do pai viajou para a ilha de Santa Helena para repatriar os restos mortais do Imperador falecido em 1821. Em função dos ventos, a fragata na vinda e na volta dirigiu-se ao Rio de Janeiro. Nesse retorno de Santa Helena, o príncipe casou-se no Rio de Janeiro com a princesa Francisca de Bragança, irmã do jovem imperador D. Pedro II. Como dote, a princesa recebeu algumas terras que, adotando o nome do marido, depois originou a designação da cidade de Joinville, em Santa Catarina.

Assim, passando pelo porto do Rio de Janeiro, o corpo de Napoleão foi levado para a França e ocorreram as solenes exéquias em Paris e foi erigido o histórico mausoléu em Les Invalides. Aliás, tivemos oportunidade de visitar o local histórico.

Anos depois essa irmã de Pedro II indicava um sobrinho Orléans para se casar com a princesa Isabel, o Conde D’Eu. Desse consórcio desenvolveu-se a família real brasileira.

Outro detalhe, é que a primeira esposa de Napoleão – a Imperatriz Josephine -, resultante de seu primeiro consórcio teve uma neta, Amélia Leuchtenberg, que se casou com o viúvo Dom Pedro I, tornando-se Imperatriz consorte do Brasil (1829-1831). O curioso é que seus restos mortais foram trasladados para o Brasil em 1982 e jazem na Cripta Imperial do Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo, juntamente com os restos de Pedro I e da Imperatriz Leopoldina.

No final do século XIX foram adotadas no Brasil as experiências francesas de Escolas Normal e Politécnica, a tradição militar notadamente na cavalaria, e houve influências do Código Civil francês.

Por outro lado, torna-se interessante uma visão espiritual com os comentários de Emmanuel:

“[…] atribuições de missionário, foi Napoleão Bonaparte, filho de obscura família corsa, chamado às culminâncias do poder. O humilde soldado corso, destinado a uma grande tarefa na organização social do século XIX, não soube compreender as finalidades da sua grandiosa missão. Bastaram as vitórias de Árcole e de Rívoli, com a paz de Campoformio, em 1797, para que a vaidade e a ambição lhe ensombrassem o pensamento. […] Sua história está igualmente cheia de traços brilhantes e escuros, demonstrando que a sua personalidade de general manteve-se oscilante entre as forças do mal e do bem. Com as suas vitórias, garantia a integridade do solo francês, mas espalhava a miséria e a ruína no seio de outros povos. […] Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de tradições gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto, embora traído em suas próprias forças; mas, no Além, seu coração sentiu melhor a amplitude das suas obras, considerando providencial a pouca piedade da Inglaterra que o exilou em Sta. Helena após o seu pedido de amparo e proteção. Santa Helena representou para o seu espírito o prólogo das mais dolorosas e mais tristes meditações, na vida do Infinito.”2

O espírito Humberto de Campos (Irmão X), relata uma reunião no mundo espiritual que teria acontecido em 1799, quando o então 1o Consul Napoleão – “César ontem” -, legiões dos Césares, vultos do Império Romano, guerreiros das Gálias, vários paladinos da cultura, teriam se encontrado no mundo espiritual com o espírito daquele que reencarnaria como Allan Kardec.

Napoleão teria sido advertido:

“Indicado para consolidar a paz e a segurança, necessárias ao êxito do abnegado apóstolo que descortinará a era nova, serás visitado pelas monstruosas tentações do poder. Não te fascines pela vaidade que buscará coroar-te a fronte… Lembra-te de que o sofrimento do povo francês perseguido pelos flagelos da guerra civil…” Nesse encontro espiritual era anunciado: “Dentro do novo século, começaremos a preparação do terceiro milênio do Cristianismo na Terra”.3

Com base na informação de Emmanuel que Napoleão viveu em Santa Helena “as tristes meditações, na vida do Infinito” e “no Além, seu coração sentiu melhor a amplitude das suas obras” torna-se cabível o raciocínio espírita sobre a Justiça Divina e não o antigo, vinculado a condenações.

Sabe-se que a misericórdia Divina, com base no espiritismo, oferece oportunidades de arrependimento e muitos vultos que se equivocaram tiveram reencarnações intermediárias de expiações e provas para prosseguir na trajetória de regeneração espiritual. Muitos vultos da História que cometeram enganos prosseguem em processos de refazimento de rotas no nosso mundo.

Na leitura de vários romances, notadamente os históricos assinados por Emmanuel, pode-se inferir que vários se encontram em processos de ajustes espirituais nas terras do chamado mundo novo.

Por isso, provavelmente, o espírito notabilizado como Napoleão permaneceria bem distante dos cenários das marcantes lutas e, quem sabe, como muitos outros, não estaria em novos testes educativos nas plagas “lá embaixo da linha do Equador” (expressão que já escutei de um francês) onde ele provocou influências a distância e que seus restos mortais ficaram passageiramente atracados?

Em realidade, “cada individualidade, na prova, como na redenção, como na glória divina, tem uma função definida de trabalho e elevação dos seus próprios valores”.2

Referências:

1) Gueiros, José Alberto. História de um príncipe. Cap. VII. Rio de Janeiro: Record. 1997.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. XXII e VIII. Brasília: FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Irmão X. Cartas e crônicas. Cap. 28. Brasília: FEB.

Significado da palavra “consolador”

Significado da palavra “consolador”

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O capítulo VI de O evangelho segundo o espiritismo – O Cristo Consolador – contém transcrição de versículos de João que têm muita significação para a compreensão da missão do Espiritismo em nossos tempos:

“Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito” (João, 14:15 a 17 e 26).1,2

A palavra chave “consolador” merece algumas considerações sobre seu significado. Mas, há substituições deste verbete em diversas versões do Novo Testamento.

Bíblia adotada por Kardec

Ao se referir aos textos do Evangelho, na Introdução de O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec esclarece: “Nas citações, conservamos o que é útil ao desenvolvimento da ideia, pondo de lado unicamente o que se não prende ao assunto. Além disso, respeitamos escrupulosamente a tradução de Sacy, assim como a divisão em versículos.”1

Cabem algumas informações sobre o citado tradutor e seu trabalho. Louis-Isaac Lemaistre de Sacy (1613 – 1684) foi um sacerdote, teólogo e humanista de Port-Royal, mais conhecido por sua tradução da Bíblia, a chamada Bíblia de Port-Royal. O convento de Port Royal, localizado próximo de Paris, tornou-se conhecido pela contribuição ao desenvolvimento cultural, reunindo muitos religiosos intelectuais, como Pascal. Lemaistre de Sacy deu continuidade e completou a tradução iniciada por seu irmão Antoine Le Maistre, falecido em 1658. A tradução foi feita da Vulgata, a Bíblia traduzida para o latim por Jerônimo, na passagem do século IV para o século V. A tradução da Bíblia para o francês era uma necessidade para se garantir a inteligibilidade deste texto ao homem comum. A tradução da Bíblia de Sacy tornou-se a mais difundida na França, desde o século XVIII, com sucessivas reedições inclusive contemporâneas de Kardec, no século XIX. Aí já fica clara a razão da escolha do Codificador pela versão bíblica de Sacy.

Opções à palavra “consolador” e seus significados

A tradução de Sacy foi feita a partir da versão em latim – a Vulgata – e, como esta adota textos do Novo Testamento, originalmente redigidos em grego, torna-se interessante comentar-se o emprego da palavra “consolador” ou de seus substitutos a partir de traduções deste idioma original. O pesquisador bíblico Russell Norman Champlin faz pormenorizado estudo de O Novo Testamento, baseando-se fundamentalmente na literatura bíblica na língua inglesa, mas também cita João Ferreira Almeida. Champlin emprega a palavra “ajudador” e faz uma série de observações: “A tradução para o português João Ferreira Almeida diz Consolador, concorda com outras traduções, como King James, João Ferreira Almeida Revista e Corrigido e Imprensa Bíblica Brasileira; mas há outras traduções, como a inglesa Revised Standard Version que dizem “Conselheiro”; a tradução Charles B. Williams diz “Ajudador”, com o que concorda a tradução inglesa Goodspeed. Já a tradução inglesa New English Bible diz “Advogado”, concordando com a palavra original em muitas traduções”.3

Várias “Bíblias de Estudo” disponíveis em português, como adotam o texto bíblico Almeida Revista e Corrigido, empregam a palavra “consolador”. Já a tradicional “Bíblia de Estudo” da Editora Ave Maria, muito utilizada nos ambientes católicos, utilizada a palavra “parácleto”. Traduções recentes, do grego para o português, trazem alguns esclarecimentos sobre a citada palavra chave empregada pelo evangelista João. Na tradução de O Novo Testamento, Haroldo Dutra Dias emprega a palavra “Parácleto” e em nota de rodapé, esclarece: “alguém chamado ou enviado para prestar auxílio, consolar, confortar; defensor do réu (advogado); intercessor; alguém que exorta, instrui”.4

O especialista em idioma grego e tradutor da Bíblia do grego para o português Frederico Lourenço no citado versículo de João, emprega a palavra “auxiliador” e justifica em nota de rodapé: “[…] ‘outro auxiliador’: o sentido da palavra paráklêtos (“parácleto”) mistura a idéia de auxílio com a de advocacia; o espírito santo é o auxiliador mas também advogado e conselheiro da Humanidade”.5

Papel do Consolador

A mensagem de Cristo sobreviveu ao longo dos séculos e, em nossos dias, há o esforço para a implantação e a difusão da mensagem do “Consolador Prometido” pelo Mestre e de acordo com O evangelho segundo o espiritismo, vivemos a época do “Consolador Prometido”.6 Allan Kardec define claramente seu papel: “[…] realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da Lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.”1

No capítulo já citado de O evangelho segundo o espiritismo, o Codificador inclui quatro mensagens do Espírito da Verdade, como Instruções dos Espíritos. Destas, destacamos alguns trechos1:

“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram.” “[…] os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são bem-amados meus.” “Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem”.

Entendemos que no texto do Codificador ficam claras as significações das várias traduções da palavra grega “paracleto”: auxiliador, ajudador, advogado, conselheiro, confortador, ou seja, no conjunto: um esclarecedor consolador.

Referências:

1. Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Ribeiro, Guillon. Cap. Introdução e VI. Brasília: FEB.

2. Le nouveau testament de Notre-Seigneur Jésus-Christ. Trad.Le Maistre de Sacy. Bruxelles: La Société Biblique Britannique et Éstrangère. 1846.

3. Champlin, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado: versículo por versículo. Vol. 2. São Paulo: Hagnos. 2014. p. 691.

4. O novo testamento. Trad. Dias, Haroldo Dutra. 1.ed. Brasília: FEB, 2013. p. 446-447.

5. Bíblia, Novo Testamento: os quatro Evangelhos. Vol.I. Trad. Lourenço, Frederico. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras. 2017. P. 387.

6. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais: aspectos históricos e visão espírita. Matão: O Clarim. 2018.

(*) Artigo do autor, publicado na Revista Internacional de Espiritismo, em 2018.

Recordando as “As Três Peneiras”

Recordando as “As Três Peneiras”

"As três peneiras" é uma fábula atribuída à Sócrates (filósofo Grego do século V a.C.).

Trata-se de uma reflexão sobre o que falar, como falar e quando falar, conforme segue: Um homem foi ao encontro de Sócrates, levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:

- Mestre, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito de um amigo seu. Disseram que o …

Nem chegou a completar a frase e Sócrates aparteou:

- Espere um pouco.

Disse o mestre.

- O que vai me contar já passou pelo crivo das Três Peneiras?

- Peneiras? Que Peneiras, mestre?

- Explico.

Disse Sócrates.

- A primeira é a peneira da VERDADE: Você tem certeza de que esse fato é absolutamente verdadeiro?

- Não. Não tenho, não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram. Mas eu acho que… E novamente é interrompido.

- Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira que é a da BONDADE: O que você vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?

- Claro que não! Deus me livre! Disse o homem, assustado.

- Então. Continua Sócrates:

- Sua história vazou também a segunda peneira. Vamos ver a terceira peneira, que é a da NECESSIDADE: Convém contar? É realmente importante a divulgação desta informação? Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade?

- Devo confessar que não. Disse o homem, envergonhado.

- Então, disse-lhe o sábio, se o que queres me contar não é VERDADEIRO, nem BOM e nem NECESSÁRIO … … GUARDE APENAS PARA TI!

E ainda arrematou:

- Sempre que passar pelas três peneiras, conte! Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o mundo e fomentar a discórdia.

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OS TRÊS CRIVOS

Essa fábula é citada em uma curta mensagem do espírito Irmão X intitulada “Os três crivos”, referindo-se à “lição de Sócrates, em questões de maledicência”. (Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Aulas da Vida. São Paulo: IDEAL. 1981).

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Se as pessoas usassem desses critérios, seriam mais felizes e usariam seus esforços e talentos em outras atividades, antes de obedecer ao impulso de simplesmente passá-los adiante. “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem” (Mateus 15, 11).

(Síntese ACPC)

Leopoldo Machado e a Caravana da Fraternidade

Leopoldo Machado e a Caravana da Fraternidade

         

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Leopoldo Machado foi um vulto marcante nos anos 1930-50, e entre suas dinâmicas atuações trabalhou pela união dos espíritas, sendo a Caravana da Fraternidade a resultante desses esforços.

Leopoldo atuou no 1o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita (promovido pela USE, São Paulo, 31/10-05/11/1948). Com comparecimento expressivo foi aprovada a criação de uma Confederação, ou de um Conselho Superior do Espiritismo que, levada à consideração do presidente da FEB Wantuil de Freitas, foi recusada.1

Em 1949 a USE-SP apoiou o 2o Congresso da Confederação Espírita Panamericana, realizado pela Liga Espírita do Brasil no Rio de Janeiro. Num diálogo de algumas lideranças relatado por Carlos Jordão da Silva, agendou-se uma reunião com o presidente da FEB, que culminou com o chamado Pacto Áureo, aceito pelos presentes, mas sem atender aos anseios do Congresso de Unificação e de lideranças do País. O episódio foi registrado como a Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro, Acordo de Cavalheiros; depois cognominado por Lins de Vasconcellos como Pacto Áureo. Leopoldo participou da reunião mas não assinou a Ata do Acordo.1

Decidiu-se a instalação do Conselho Federativo Nacional da FEB, que ocorreu em 1o/01/1950, integrado por algumas Entidades Estaduais, com o objetivo de promover a união dos espíritas e das instituições, para fortalecer a difusão do Espiritismo. Esse Conselho tinha, em sua maioria, procuradores como representantes de outros Estados.1

Em reunião desse Conselho, aos 06/05/1950, “o representante de São Paulo comunica que estão organizando caravanas para visitas aos Estados onde ainda não se acha em bom funcionamento o serviço de unificação nos termos do Acordo de 05/10/1949. A finalidade dessas caravanas será uma aproximação mais íntima entre os espíritas do País, no sentido da unificação planejada.”2

Organizou-se a Caravana da Fraternidade, com recursos dos participantes, e apoio financeiro de Lins de Vasconcellos e Carlos Jordão da Silva. Integraram a Caravana: Ari Casadio (SP), Carlos Jordão da Silva (SP), Francisco Spinelli (RS), Leopoldo Machado (RJ); e, Lins de Vasconcellos (Pr) e Luiz Burgos (Pe), que não acompanharam todo o roteiro.3.4

A viagem foi longa – 31/10 a 13/12/1950-, com atividades em: Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, Natal, Fortaleza, Parnaíba, Teresina, São Luís, Belém e Manaus; passagem por Belo Horizonte e visita a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, onde receberam duas mensagens psicográficas. 3.4

Implementado o programa: conferências para o grande público; mesa redonda para ajustamento de pontos de vista sobre o ideal da unificação; visitas a instituições de assistência social; programas sociais organizados pelos anfitriões. 3.4

Como resultados: a União Espírita Bahiana, deveria funcionar nos moldes da USE-SP; adequações de instituições e solidarização com o Acordo: Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará e Amazonas; fundação de federativas: Sergipe, Piauí, Maranhão. Há reproduções de jornais das cidades visitadas; manifestações de lideranças a favor e contrárias ao Pacto Áureo. 3.4

Leopoldo foi o orador oficial, articulador e o secretário, registrando o “diário”, que originou o livro histórico: A Caravana da Fraternidade, que publicou de forma independente, em 1954.3

Em 2009, como secretário geral do CFN da FEB e diretor da instituição, estivemos em Nova Iguaçu (RJ), para obter autorização do sobrinho de Leopoldo, Paulo de Tarso Machado de Barros (o Paulinho Leopoldo), planejando o relançamento de A caravana da fraternidade. Assim surgiu a edição dessa obra, pela FEB, e contando com nossa apresentação.

O lançamento ocorreu em Nova Iguaçu (RJ), aos 19/06/2010, com eventos do CFN, e nossa atuação e de Roberto Versiani, presença do diretor do CEERJ Humberto Portugal e parentes de Leopoldo.1

Diversos aspectos de gestão e participação poderiam ter sido revistos para aperfeiçoamento do CFN da FEB; empreendemos esforços como secretário geral do CFN, durante a presidência de Nestor Masotti, e depois como presidente da FEB, com propostas, dinamização e revisão regimental.1

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. União dos espíritas. Para onde vamos? Capivari: EME. 2018.

2) Conselho Federativo Nacional. Reformador. Ano LXVIII. N.6. Junho de 1950, p.141.

3) Machado, Leopoldo. A caravana da fraternidade. Nova Iguassú: Lar de Jesus. 1954. 315p.

4) Machado, Leopoldo. A caravana da fraternidade. Rio de Janeiro: FEB. 2010. 371p.

 

(Ex-presidente da USE-SP e da FEB; foi membro da Comissão Executiva do CEI).

 

Extraído de:

Candeia Espírita, USE Intermunicipal de São José dos Campos, edição de novembro de 2023.

Ideal de união e divulgação com Kardec

Ideal de união e divulgação com Kardec
75 anos depois do Congresso Brasileiro de Unificação

     

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)


Por iniciativa da então recém fundada USE-SP, com apoio dos Estados do Sul, foi realizado em São Paulo de 31 de outubro a 05 de novembro de 1948, o 1o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, tendo foco na unificação nos Estados e em nível nacional, e problemas doutrinários.
Houve comparecimento expressivo: além da USE, várias instituições paulistas; Federações Espíritas do Rio Grande do Sul, do Paraná, Catarinense; União Espírita Mineira; Liga Espírita do Brasil; Conselho Consultivo das Mocidades Espíritas do Brasil; Lar de Jesus de Nova Iguaçú (RJ); Centro Espírita de Cuiabá, e representantes com procurações de instituições de Sergipe, Bahia, Pará, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte.1,2
O encontro foi participativo, aprovando entre outras propostas: “que o espírito dominante em todos os trabalhos é o da unificação direcional do Espiritismo; que o Congresso lance aos espíritas do Brasil um manifesto sucinto e objetivo, divulgando os itens nele aprovados; promover entendimentos com as entidades máximas e federativas dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, ao sentido de consertar a forma de unificação direcional do Espiritismo; os entendimentos deverão ser feitos em torno da organização federativa de âmbito nacional; a entidade existente adaptada ao item anterior conserve sua autonomia social e patrimonial; o poder legislativo nacional será exercido por um Conselho Confederativo, sediado na Capital da República, e composto de um representante de cada Estado, do Distrito Federal e dos Territórios, eleitos pelas uniões ou federações dessas circunscrições, com mandato de cinco anos e presidido pelo presidente da entidade referida.”1,2
Entre os marcos históricos desse Congresso, há a primeira psicografia de Chico Xavier sobre união, assinada por Emmanuel: “Em nome do Evangelho” (Pedro Leopoldo, 14/09/1948). Chico Xavier encaminhou aos organizadores com a justificativa de que ele, como convidado, não poderia comparecer.1,2,3

Eis uns trechos:

“O mundo conturbado pede, efetivamente, ação transformadora. […] unamo-nos no mesmo roteiro de amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, valor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo em comunhão com os homens, servindo e esperando o futuro, em seu exemplo de abnegação, para que todos sejamos um…” 1,2,3
Espíritas de diferentes regiões consideravam inconveniente o divisionismo e propugnavam a concórdia, o respeito e a união fraterna.
Esse Congresso propôs a criação de uma Confederação, ou de um Conselho Superior do Espiritismo que, levada à consideração do presidente da FEB Wantuil de Freitas, foi recusada.
No ano seguinte a USE-SP apoiou o 2o Congresso da Confederação Espírita Panamericana, realizado pela Liga Espírita do Brasil no Rio de Janeiro. Durante esse evento, com a atuação de lideranças do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, surgiu o encontro com a direção da FEB. Nessa inesperada reunião o presidente da FEB Wantuil de Freitas apresentou uma proposta que foi aprovada pelos presentes aos 05/10/1949, “ad referendum” das Sociedades que representavam. A reunião depois foi intitulada Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro e “Pacto Áureo” e gerou a criação do Conselho Federativo Nacional da FEB e a “Caravana da Fraternidade”.2,3

Foi um desdobramento parcial do Congresso de 1948 e, no contexto das dificuldades para a união, um documento possível para o momento, de inquestionável valor histórico, com repercussões, mas gerou também reações e decepções na época.2,3
Eis o depoimento de Carlos Jordão da Silva, participante desse Congresso Brasileiro e também ex-presidente da USE-SP:
“Tivemos aqui em São Paulo, em 1948, o Primeiro Congresso Brasileiro do Unificação, com a presença de delegações do todos os Estados Sulinos e alguns do Norte, não tendo a Federação Espírita Brasileira na ocasião aceito participar. Estabeleceu-se que a Federação Espírita do Rio Grande do Sul, através de sua delegação mantivesse os entendimentos com a FEB para que se efetivasse a Unificação das Sociedades Espíritas e Espíritas no campo nacional. […] Após as reuniões do Congresso Panamericano e recolhidos lodos os participantes das delegações em seus respectivos hotéis, cerca de uma hora da manhã, resolvemos sair para tomar um pouco de ar e dirigimo-nos para determinada praça próxima ao nosso hotel e para a nossa surpresa todas as delegações foram chegando ao mesmo local, como que convocadas por forças invisíveis. Achamos graça por ter o Plano Espiritual nos reunido daquela forma e aquela hora da madrugada e ali mesmo marcamos uma reunido para as 8 horas da manhã, no Hotel Serrador, onde estávamos hospedados, eu e minha Senhora, e, realizada tal reunido, incumbiu-se Artur Lins de Vasconcellos Lopes a tarefa de aproximar-se da FEB para promover o encontro.”3,4
Em função desse momento relatado por Carlos Jordão da Silva, repentinamente, e num único dia foi assinado o “Pacto Áureo”, aceito pelos presentes à reunião no Rio de Janeiro, mas que não atendia aos anseios do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita e de muitas lideranças espíritas do Brasil.3,4
Em uma análise acadêmica da primeira metade do Século XX, em tese de doutorado, Pedro Paulo Amorim efetivou “minuciosa pesquisa em fontes institucionais na busca da tentativa de construção da identidade espírita: Reformador, Mundo Espírita, O Clarim, Revista Internacional de Espiritismo, Revista Espírita do Brasil e o Almenara. […] pudemos destacar a atuação de quatro entre os principais intelectuais espíritas: Carlos Imbassahy, Leopoldo Machado, Deolindo Amorim e Herculano Pires”; enfatiza o “Pacto Áureo” e conclui que houve um “projeto homogeneizante da FEB em busca da pretendida hegemonia no interior do Campo Espírita Brasileiro”.5
Nesses 75 anos subsequentes ocorreram transformações no contexto do país, novas Constituições Federais, e o movimento espírita viveu grande desenvolvimento, amadurecimento e diversificação de atuação.
Em análise sobre o “Pacto Áureo”, comentamos no livro União dos espíritas. Para onde vamos? sobre a inadequação de seus itens: “Em nosso entendimento e experiência, com os apontamentos acima expressos, o texto do ‘Pacto Áureo’ está superado. Imaginemos um dirigente que, ao ler o citado documento, resolva colocar em prática ‘ao pé da letra’ o que está definido em seus artigos. O ‘Pacto Áureo’ é um importante referencial histórico, mas não é mais aplicável na atualidade.”3
Em nossa ótica, muitos aspectos de gestão e participação já poderiam ter sido revistos no sentido de aperfeiçoar o funcionamento do CFN da FEB, e, de nossa parte, empreendemos alguns esforços como secretário geral do CFN, durante a gestão do presidente Nestor Masotti, e depois como presidente da FEB, com propostas, dinamização e revisão regimental.3,6
Em 2018, a USE-SP promoveu uma comemoração dos 70 anos do Congresso Brasileiro de Unificação.2,6
Referências:
1) Anais do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita. São Paulo: USE. Versão digital: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/02/anais_1_congresso.pdf
2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Palestra das Comemorações dos 70 anos do 1o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, São Paulo 20 e 21/10/2018. Acesso: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/02/palestra_70_anos.pdf
3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. União dos espíritas. Para onde vamos? Capivari: EME. 2018.
4) Monteiro, Eduardo Carvalho; D’Olivo, Natalino. USE – 50 anos de unificação. São Paulo: USE. 1997. 335p.
5) Amorim, Pedro Paulo. As tensões no campo espírita brasileiro em tempos de afirmação (primeira metade do Século XX). Tese (Doutorado em História Cultural). Universidade Federal de Santa Catarina. 2017.
6) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

 

(*) Foi presidente da USE-SP e da FEB.