O BRASIL NO CONCERTO DAS NAÇÕES

            Meus Amigos, que o Senhor dos Mundos vos encha o coração de muita paz. De novo regresso a esta Casa, a fim de confabular convosco. Isso é-me grato ao coração, de modo a examinarmos a complexidade de nossos deveres nos setores das atividades que nos foram conferidas dentro da vida.

            Se falamos, da última vez, na dolorosa situação dos tempos modernos, ante as tenebrosas perspectivas e os sinistros vaticínios que pesam sobre a Civilização Ocidental, falaremos hoje da missão do Brasil, no concerto dos povos, como detentor de grandioso trabalho espiritual, no quadro das nações. Como a individualidade humana, os países têm, igualmente, a sua missão definida. A História da Civilização no-lo comprova.

            Em cada período de tempo, determinadas nações do mundo são convocadas pelo Alto a essa ou àquela missão especializada, na estrada intérmina dos destinos humanos.

            Antigamente, era a Grécia organizando os símbolos democráticos com a sabedoria de Atenas, depois a família romana desempenhando um papel relevante na formação do Estado, com as profundas realizações políticas do Império. Em seguida, bastará uma digressão através de todos os caminhos históricos da Humanidade a fim de examinarmos as missões coletivas dentro da comunidade internacional. Ainda há alguns séculos, víamos a Península Ibérica com a tarefa singular dos descobrimentos, a França com o trabalho superior de definir os direitos do homem, a Grã-Bretanha com a missão educativa de colonizar, levantando as almas pela cultura. Sim, cada povo tem a sua hora gloriosa marcada no relógio do tempo.

            Dentro do colosso americano, onde há quase cinco séculos formava o Plano Espiritual o imenso organismo da liberdade, erguia-se o Brasil como o coração do mundo, pulsando pelo mais sublime idealismo dentro da comunidade continental. Bastará um exame superficial na sua história, a fim de que verifiquemos, em todas as circunstâncias, a excelência da missão do Brasil, no quadro dos valores políticos e econômicos do mundo. Desde o descobrimento, a sua existência vem sendo assinalada por fatos providenciais. É que, aqui dentro, na vastidão da terra generosa, forma-se uma nova mentalidade para o mundo. Mentalidade dos bens fraternos que sabem felicitar o coração de todas as criaturas. À sombra de seus vastos potenciais econômicos, o homem do Brasil dilata as suas concepções da vida, no estuário da liberdade bem compreendida e bem aplicada. Seus fatos históricos revestem-se de característicos quase sobrenaturais. Enquanto o minúsculo Portugal se distraía com as suas fabulosas conquistas da Índia, o Brasil, quase milagrosamente, conservou a sua integridade territorial, apesar das forças poderosas de outras nações do Velho Continente. Os princípios da força jamais conseguiram desagregar os seus patrimônios extraordinários e, em cada acontecimento de sua vida nacional, há um traço de luz fulgurante, a luz do Evangelho, compelindo-nos a refletir no que se refere aos seus deveres profundos. Seus próprios políticos são sempre grandes missionários da ordem social, que, através de todas as tormentas dos eventos humanos, sabem conservar as mãos no leme da tranqüilidade coletiva, organizando núcleos de paz e formando a confiança geral, no melhor senso de administração e de ordem, imprescindível a todas as realizações.

            Semelhantes conceitos chegam-nos à mente de desencarnado, satisfeito por cooperar, de algum modo, convosco, em virtude das derradeiras arremetidas das organizações dogmáticas e clericalistas, que, na atualidade, pretendem mobilizar os sindicatos médicos contra as florações luminosas do Espiritismo no Brasil, desconhecendo o extraordinário fator de segurança e iluminação interior, provindos de nossos postulados de consolação e de paz.

            O Brasil, antes de tudo, antes de qualquer campanha em favor da coletividade, nesse ou naquele setor, necessita de organizar, não as lutas religiosas com pretensões ao Santo Ofício, mas detonar as armas do alfabeto, criando em toda parte a base da cultura indispensável, a fim de que seja cumprida, em toda a sua intensidade emocional, a grandiosa missão das almas que vivem sob a luz do Cruzeiro. Basta o livro, a fim de que o país chegue a realizar a precisa consciência real indispensável ao desdobramento de seus esforços, nos valores do mundo.

            Acusa-se o Espiritismo quanto a todas as manifestações místicas das multidões delinqüentes, quando essas expressões doentias do organismo social são filhas de modalidades afro-católicas, que perseveram nas massas humildes, sequiosas por compreenderem o sentido de seus trabalhos, na solução dos problemas profundos do destino e do ser.

            Espiritismo é paz e instrução, amor e luz moral, conduzindo a criatura humana ao conhecimento dos enigmas de sua própria personalidade. As agremiações econômicas dos credos organizados temem-lhe a influência salutar, no sentido de extirpar todas as úlceras da ignorância do coração dos mais desfavorecidos da sorte. A necessidade do momento que passa não é de lutardes com armas destruidoras de nossos esforços espirituais, mas sim a de evangelizarmos o ambiente do país, em que se desdobram as atividades do profissionalismo especializado, de modo a não perdermos as mais belas conquistas do coração na atualidade da tecnocracia.

            Que os aparelhos judiciários da nação operem no assunto, com o descortino espiritual de quem vê mais claro e mais longe. O problema do mundo inteiro não é mais de ciência, mas de consciência; e, para atingirmos esse elevado desiderato, necessitamos colocar, como nas leis naturais, o coração generoso entre o estômago e o cérebro.

            A missão do Brasil, repetimos, é das mais vastas na organização dos valores espirituais da civilização do futuro. Para esse fim, os exércitos do Invisível se desdobram, em todas as direções, a fim de se consolidarem os melhores conceitos morais em nossa evolução política, para as realizações mais avançadas.

            Em nosso esforço, não guardamos outro propósito além daquele de reviver o Evangelho do Divino Mestre, na sua pureza primitiva, porquanto deste coração ciclópico da América e do mundo há de partir para o ambiente internacional um cântico de hosanas! Unamo-nos para ao advento desse dia novo. Esqueçamos os conciliábulos políticos que se lembram das conferências de paz sobre os despojos sangrentos. Dentro de sua posição elevada, no capítulo das edificações espirituais, o Brasil prestará ao mundo os mais altos serviços, buscando ensinar com fraternidade, implantando a verdadeira concórdia e defendendo os seus nobres patrimônios, morais, guardando, sobre todas as coisas, o princípio inelutável do Direito e da Justiça.

            Vós outros, os que me ouvis, sem jamais haverdes freqüentado os núcleos do Espiritismo, não vos impressioneis com as minhas assertivas. No Espaço, uma das modernas tradições é a de que, ultimamente, chegam às portas do céu somente os ateus e materialistas generosos que fazem o bem pelo bem, alheios às convenções e ao sentido das compensas. Com essa lembrança não desejo menosprezar os esforços da fé, mas quero lembrar a necessidade do trabalho sincero, perseverante, decidido e leal nas mais belas expressões de solidariedade real e de simplicidade na vida!

            Se puderdes, ajudai-nos! Unamos os esforços para o mesmo fim, estendendo as mãos uns aos outros para a mesma grandiosa tarefa. O homem vale pela sua expressão de sentimento e de consciência e é dentro desses valores profundos que precisamos viver para a consecução das finalidades mais elevadas e mais puras.

            Que o Divino Mestre vos conceda muita paz ao íntimo é a rogativa sincera do irmão e amigo de sempre,

EMMANUEL

 

Folheto impresso na Tipografia Aliança, em Belo Horizonte-MG, em 1939, encimado pelo nome do médium Francisco Cândido Xavier e a epígrafe genérica – “Do outro Mundo”! Divulgado por Cícero Pereira. Transcrito de: Reformador, junho, 1979, p. 208-211; Reformador, setembro, 2013, p.353-4.

MENSAGEM DO DR. BEZERRA DE MENEZES

…Quando nós conseguimos introjetar o Cristo em nosso coração, a vida muda de significado, nós mudamos de trajetória e surge,… em nosso mundo interior, uma emoção completamente nova em que a criatura humana agora se identifica com o Criador e pode manter o intercâmbio de Pai a filho e filho a Pai.
Não lamenteis as dificuldades que ora assolam na Terra. A crise de qualquer natureza é uma experiência evolutiva para o desenvolvimento intelecto-moral da criatura humana.

Examinai a vida do Mundo espiritual para a Terra e não dos efeitos para a causa.

Somente nos acontece aquilo de que temos necessidade para evoluir.
Enriqueçamos, filhos amados, a nossa alma, com a dúlcida paz que vem de Jesus e deixemos que Ele norteie os nossos passos que nos levem pelas estradas difíceis que devemos vencer até alcançar o calvário sublime da nossa cruz de redenção.
Não sofreis sem um motivo justo.

A dor é um divino buril que lapida as imperfeições da alma.
É claro que a benção da saúde, o equilíbrio orgânico, emocional, psíquico, fazem parte também do esquema da vida espiritual, mas é necessário compreender que saímos do instinto para a razão e ainda não conseguimos imprimir a razão no bom tom, no ádito dos corações nem das atividades.

E como consequência, erramos, enganamo-nos, equivocamo-nos a cada passo, com o direito sublime da reparação.

Arrependamo-nos do mal que nos fizemos, expiemos como recomenda o egrégio codificador e reparemos através do amor e da misericórdia.

Jesus, meus filhos, espera por nós.

Que cada um de nós cumpra com o seu dever.

Que cada um de nós realize o mínimo ao seu alcance, esse mínimo que seja, possivelmente, uma grande parte para quem recebe, nada tendo.

A nossa jornada na Terra é uma experiência de libertação.

Não mais tergiversemos, não nos permitamos mais tombar nos desfiladeiros da agonia pela presunção, pelo egotismo.

É ampla a estrada do amor embora a porta redentora seja estreita.

Entremos por ela, atentando para encontrarmos na casa do Pai o lugar de misericórdia que nos está reservado.

Servir é a honra que nos cabe.

Amai, é a oportunidade de autorredenção e confiai infinitamente no amor do Amado em nome do Pai Celestial para que as Suas bênçãos penetrem-nos a alma e libertem-nos das aflições.

Que o Senhor de bênçãos vos abençoe, são os votos do humilde servidor paternal em nome dos amigos espirituais deste templo para todos vós.
Muita paz…

Bezerra (*)

(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo P. Franco, no final da conferência realizada no Grupo Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro, na noite de 27 de agosto de 2015).

(*) Revista pelo Autor espiritual.

PEDRO, O APÓSTOLO

Enquanto a Capital dos mineiros, dirigida pelos seus elementos eclesiásticos, se prepara, esperando as grandes manifestações de fé do segundo Congresso Eucarístico Nacional, chegam os turistas elegantes e os peregrinos invisíveis.

[…] Foi nesse ambiente que a figura de um homem trajado à israelita, lembrando alguns tipos que em Jerusalém se dirigem, freqüentemente, para o lugar sagrado das lamentações, aguçou a minha curiosidade incorrigível de jornalista.

 – Um judeu?! – exclamei, aguardando as novidades de uma entrevista.

– Sim, fui judeu, há algumas centenas de anos – respondeu laconicamente o interpelado.

Sua réplica exaltou a minha bisbilhotice e procurei atrair a atenção da singular personagem.

– Vosso nome? – continuei.

– Simão Pedro.

– O Apóstolo?

E a veneranda figura respondeu afirmativamente, colando ao peito os cabelos respeitáveis da barba encanecida.

Surpreso e sedento da sua palavra, contemplei aquela figura hebraica, cheia de simplicidade e simpatia. Ao meu cérebro afluíam centenas de perguntas, sem que pudesse coordená-las devidamente.

– Mestre – disse-lhe, por fim -, Vossa palavra tem para o mundo um valor inestimável. A cristandade nunca vos julgou acessível na face da Terra, acreditando que vos conserváveis no Céu, de cujas portas resplandecentes guardáveis a chave maravilhosa. Não teríeis algumas mensagens do Senhor para transmitir à Humanidade, neste momento angustioso que as criaturas estão vivendo?

E o Apóstolo venerável, dentro da sua expressão resignada e humilde, começou a falar:

– Ignoro a razão por que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias. Como homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galiléia e, como discípulo do Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não poderia, portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus apóstolos com igual amor.

– É conhecida, na história das origens do Cristianismo, a vossa desinteligência com Paulo de Tarso. Tudo isso é verdadeiro?

 – De alguma forma, tudo isso é verdade – declarou bondosamente o Apóstolo. – Mas, Paulo tinha razão. Sua palavra enérgica evitou que se criasse uma aristocracia injustificável, que, sem ele, teria que desenvolver-se fatalmente entre os amigos de Jesus, que se haviam retirado de Jerusalém para as regiões da Batanéia.

– Nada desejais dizer ao mundo sobre a autenticidade dos Evangelhos?

– Expressão autêntica da biografia e dos atos do Divino Mestre, não seria possível acrescentar qualquer coisa a esse livro sagrado. Muita iniqüidade se tem verificado no mundo em nome do estatuto divino, quando todas as hipocrisias e injustiças estão nele sumariamente condenadas.

 – E no capítulo dos milagres?

– Não é propriamente milagre o que caracterizou as ações práticas do Senhor. Todos os seus atos foram resultantes do seu imenso poder espiritual. Todas as obras a que se referem os Evangelistas são profundamente verdadeiras.

E, como quem retrocede no tempo, o Apóstolo monologou:

– Em Carfanaum, perto de Genesaré, e em Betsaida, muitas vezes acompanhei o Senhor nas suas abençoadas peregrinações. Na Samaria, ao lado de Cesaréia de Felipe, vi suas mãos carinhosas dar vistas aos cegos e consolação aos desesperados. Aquele sol claro e ardente da Galiléia ainda hoje ilumina toda a minha alma e, tantos séculos depois de minhas lutas no mundo, ao lado de alguns companheiros procuro reivindicar para os homens a vida perfeita do Cristianismo, com o advento do Reino de Deus, que Jesus desejou fundar, com o seu exemplo, em cada coração…

[…] E, quando a figura venerada de Simão parecia prestes a prosseguir na sua jornada, inquiri, abruptamente:

– Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil?

– Venho visitar a obra do Evangelho aqui instituída por Ismael, filho de Abraão e de Agar, e dirigida dos espaços por abnegados apóstolos da fraternidade cristã.

– E estais igualmente associado às festas do segundo Congresso Eucarístico Nacional? – perguntei.

Mas, o bondoso Apóstolo expressou uma atitude de profunda incompreensão, ao ouvir as minhas derradeiras palavras.

Foi quando, então, lhe mostrei o rico monumento festivo, as igrejas enfeitadas de ouro, os movimentos de recepção aos prelados, exclamando ele, afinal: – Não, meu filho!… Esperam-me longe destas ostentações mentirosas os humildes e os desconsolados. O Reino de Deus ainda é a promessa para todos os pobres e para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo chefe se diz possuidor de um trono que me pertence, está condenada no próprio Evangelho, com todas as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira de São Pedro é para mim uma ironia muito amarga… Nestes templos faustosos não há lugares para Jesus, nem para os seus continuadores…”

Humberto de Campos

Mensagem recebida no dia 25 de agosto de 1936.

(Transcrição parcial de: Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Humberto de Campos. Crônicas de além-túmulo. Cap.20. Rio de Janeiro: FEB, 2008)

Ave Maria

Música de J. S. Bach/ C. Gounod, com a Orquestra Paulistana de Viola Caipira; prece psicografada por Chico Xavier (Espírito Amaral Ornelas):

Link:

https://www.youtube.com/watch?v=uLwjQ36SrhE

 

Texto:

AVE, MARIA! 

Ave Maria! Senhora
Do Amor que ampara e redime,
Ai do mundo se não fora
a vossa missão sublime !

Cheia de graça e bondade,
É por vós que conhecemos
A eterna revelação
Da vida em seus dons supremos.

O Senhor sempre é convosco,
Mensageira da ternura,
Providência dos que choram
Nas sombras da desventura.

Bendita sois vós, Rainha!
Estrela da Humanidade,
Rosa Mística da fé,
Lírio puro da humildade!

Entre as mulheres sois vós
A Mãe das mães desvalidas,
Nossa porta de esperança,
E Anjo de nossas vidas !

Bendito o fruto imortal
Da vossa missão de luz,
Desde a paz da Manjedoura,
Às dores, além da Cruz.

Assim seja para sempre,
Oh! Divina Soberana,
Refúgio dos que padecem
Nas dores da luta humana.

Ave Maria! Senhora
Do Amor que ampara e redime,
Ai do mundo se não fora
A vossa missão sublime!

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Parnaso de além-túmulo. FEB: Rio de Janeiro. 2010., p. 99-100)

DEFENDA-SE

Não converta seus ouvidos num paiol de boatos.

A intriga é uma víbora que se aninhará em sua alma.


*

Não transforme seus olhos em óculos da maledicência.

As imagens que você corromper viverão corruptas na tela de sua mente.


*

Não faça de suas mãos lanças para lutar sem proveito.

Use-as na sementeira do bem.


*

Não menospreze suas faculdades criadoras, centralizando-as nos prazeres fáceis.

Você responderá pelo que fizer delas.


*

Não condene sua imaginação às excitações permanentes.

Suas criações inferiores atormentarão seu mundo íntimo.


*

Não conduza seus sentimentos à volúpia de sofrer.

Ensine-os a gozar o prazer de servir.


*

Não procure o caminho do paraíso, indicando aos outros a estrada para o inferno.

A senda para o Céu será construída dentro de você mesmo.

 


André Luiz



(XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito André Luiz. Agenda Cristã. FEB. Capítulo 41)

FALSOS PROFETAS

Emmanuel

Falso profeta não é somente aquele que perturba o serviço da fé religiosa.

Sempre que negamos a execução fiel dos nossos deveres, somos mistificadores, diante da Lei Divina, que nos emprestou os dons da Terra, em favor do aprimoramento de nós mesmos.

Na maledicência, somos falsos profetas da fraternidade.

Na discórdia, somos mistificadores da paz.

Na preguiça, somos charlatões do trabalho.

Na indiferença, somos inimigos do dever.

Toda vez que olvidamos as nossas obrigações de solidariedade para com os nossos semelhantes, que prejudicamos o serviço que nos cabe atender, que fugimos aos nossos testemunhos de humildade, que oprimimos as criaturas inferiores, somos Falsos Profetas do Ideal Superior que abraçamos com o Cristo.

A terra é a nossa escola.

O lar é o nosso templo.

O próximo é o nosso irmão.

A humanidade é a nossa família.

A luta é o nosso aprendizado.

A natureza é o livro sublime da vida.

Não nos esqueçamos, assim, de que, um dia, seremos chamados à prestação de contas dos talentos e dos favores que hoje desfrutamos, para resgatar o dia de ontem e santificar o dia de amanhã.

 

Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Levantar e Seguir. S. Bernardo do Campo: Ed GEEM.

Na luz da justiça

Reunião pública de 8-12-61

1ª Parte, cap. VII, § 21

A justiça humana, conquanto respeitável, frequentemente julga os fatos que considera puníveis pelos derradeiros lances de superfície, mas a Justiça Divina observa todas as ocorrências, desde os menores impulsos que lhes deram começo.

*

Identificaste os culpados pelas tragédias, minuciosamente descritas na imprensa; no entanto, muitas vezes tudo ignoras acerca das inteligências que as urdiram na sombra.

Viste pais e mães, aparentemente felizes e vigorosos, tombarem na desencarnação prematura, minados por sofrimentos indefiníveis, mas não enxergaste os filhos inconsequentes que lhes exauriram as forças.

Anotaste os companheiros que desertaram da construção espiritual, censurando-lhes o esmorecimento e o recuo; todavia, não te apercebeste dos amigos levianos que lhes exterminaram a tenra sementeira de luz, no apontamento escarnecedor.

Reprovaste os que se renderam à perturbação e à loucura, estranhando-lhes a suposta fraqueza; entretanto, não chegaste a conhecer os verdugos risonhos, do campo social e doméstico, que os ficharam no cadastro do manicômio.

Acusaste os irmãos que caíram em desdita e falência, classificando-os na lista dos celerados; contudo, nem de leve assinalaste a presença daqueles que os sitiaram no beco da aflição sem remédio.

*

Não queremos, com isso, consagrar o regime da irresponsabilidade.

Todos respiramos, no Universo, ante a luz da Justiça.

O autor de uma falta, naturalmente responderá por ela. Nos tribunais da imortalidade, cada espírito devedor resgata as suas próprias contas.

No entanto, em todas as circunstâncias, saibamos semear o bem, esparzir o bem, sustentar o bem e cooperar para o bem, de vez que as nossas ações provocam nos outros ações semelhantes, e, se aquele que faz o mal é passível de pena, aquele que organiza o mal conscientemente sofrerá pena maior.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Justiça divina. 13.ed.Rio de Janeiro: FEB. 2008)

Céu e inferno

Reunião pública de 22-9-61

 1ª Parte, cap. VII, § 5

Em matéria de prêmio e castigo, a se definirem por céu e inferno, suponhamo-nos à frente de um pai amoroso, mas justo, dividindo a sua propriedade entre os filhos, aos quais se associa, abnegado, para que todos eles prestigiem e cresçam, de maneira a lhe desfrutarem os bens totais.

O genitor compassivo e reto concede aos filhos, em regime de gratuidade, todos os recursos da fazenda Divina:

a vestimenta do corpo;

a energia vital;

a terra fecunda;

o ar nutriente;

a defesa do monte;

o refúgio do vale;

as águas circulantes;

as fontes suspensas;

a submissão dos vários reinos da natureza;

a organização da família;

os fundamentos do lar;

a proteção das leis;

os tesouros da escola;

a luz do raciocínio;

as riquezas do sentimento;

os prodígios da afeição;

os valores da experiência;

a possibilidade de servir…

Os filhos recebem tudo isso, mecanicamente, sem que se lhes reclame esforço algum, e o pai apenas lhes pede para que se aprimorem, pelo dever nobremente cumprido, e se consagrem ao bem de todos, através do trabalho que lhes valorizará o tempo e a vida.

*

Nessa imagem, simples embora, encontramos alguma notícia da magnanimidade do Criador para nós outros, as criaturas.

Fácil, assim, perceber que, com tantos favores, concessões e doações, facilidades e vantagens, entremeados de bênçãos, suprimentos, auxílios, empréstimos e moratórias, o céu começará sempre em nós mesmos e o inferno tem o tamanho da rebeldia de cada um.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Justiça divina. 13.ed.Rio de Janeiro: FEB. 2008)

O Evangelho é a nossa bússola

Humberto de Campos

“[…] podemos observar, de perto, as agonias silenciosas dos lares abandonados e desprotegidos, que balançam na árvore da vida, arrancados pelas mãos impiedosas dos nossos bárbaros que ameaçam as bases cristãs, de que a nossa civilização fugiu, um dia, levada pelo egoísmo dos mais fortes.

Ante as sombras dolorosas que invadem o mundo velho, sinto contigo o frio do crepúsculo, preludiando a noite de tempestade, cheia de amarguras e de assombros.

Dentro, porém, de nossa angústia, somos obrigados a recordar que a nossa geração de perversidade e descrença está condenada, por si mesma, aos mais dolorosos movimentos de destruição.

O mundo cogitou de ciência, mas esqueceu a consciência, ilustrou o cérebro e olvidou o coração, organizou tratados de teologia e de política, fazendo tábua rasa de todos os valores da sinceridade e da confiança.

É por isso que vemos o polvo da guerra envolver os corações desesperados, em seus tentáculos monstruosos, enquanto há gigantes da nova barbaria, preferindo discursos bélicos, em nome de Deus, e sacerdotes abençoando, em nome do Céu, as armas da carnificina.

Os sociólogos mais atilados não conseguem estabelecer a extensão dos fenômenos dolorosos que invadem os departamentos do mundo.

A embriaguez de ruína mobiliza os furacões destruidores das novas tiranias sobre a fronte dos homens, e nós acompanharemos a torrente das dores com as nossas lágrimas, porque fizemos jus a essas agonias amarguradas e sinistra, em virtude do nosso esquecimento da lei do amor, no passado espiritual.

A hora que passa é um rosário de soluços apocalípticos, porque merecemos as mais tristes provações coletivas, dentro das nossas características de espíritos ingratos, pois as angústias humanas não ocorrem à revelia d'Aquele que acendeu a luz da manjedoura e do calvário, clarificando os séculos terrestres.

Das culminâncias espirituais, Jesus contempla o seu rebanho de ovelhas tresmalhadas e segue o curso dos acontecimentos dos mundos, com a mesma divina melancolia que assinalou a sua passagem sobre as urzes da Terra.

Enevoados de lágrimas sublimes, seus olhos contemplam os canhões e os prostíbulos da guerra, os gabinetes de despotismo e da ambição, os hospitais de sangue, no centro dos cadáveres insepultos, e, observando a extensão de nossas misérias, exclama como Jeremias: – Oh! Jerusalém!… Jerusalém!…"

E nós, operários obscuros do plano espiritual, buscamos disseminar a nossa consolação, junto aos que sucumbem ou fraquejam.

O Evangelho é a nossa bússola, e não nos detemos para a lamentação, porque, hoje, meu amigo, eu sei orar, de novo, juntando as mãos em rogativa, como no tempo da infância em Parnaíba, quando a simplicidade infantil me enfeitava o coração.

Aqui, oramos, trabalhamos e esperamos, porque sabemos que Jesus é o fundamento eterno da Verdade e que um dia, como Príncipe da Paz, instalará sobre a Terra dos lobos o redil de suas ovelhas abençoadas, e mansas.

Nessa era nova, vê-Lo-emos outra vez, nos seus ensinos redivivos, espalhando a esperança e a fé, confundindo quantos mentiram à Humanidade em seu nome.

Antes, porém, que o novo sol resplenda nos horizontes do orbe, seremos reunidos no plano espiritual para sentir as vibrações suaves do seu amor infinito.

Nesse dia, meu irmão, certamente o Senhor fará descer as suas bênçãos compassivas sobre o teu coração generoso e fraterno. […]”

 

(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 6 de outubro de 1939).”

Trechos de: Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Humberto de Campos. Novas Mensagens. Cap. Carta a Gastão Penalva. Rio de Janeiro: Ed. FEB. 2009.

 

AS SENTINELAS DA LUZ DO SANTUÁRIO

A tempestade avizinha-se nos horizontes políticos e sociais do mundo inteiro. Todas as vozes falam de um perigo iminente e todos os corações sentem algo de estranho no ar que respiram.

Fala-se no coletivismo, recolhendo-se cada qual no exclusivismo feroz, e fala-se de nacionalismo e de pátria, dentro do mesmo conceito de egoísmo e de isolamento. Esses extremismos caracterizam um período de profunda decadência nos costumes sociais e políticos desta época de transições.

Apesar, porém, de sua complexidade, esse fenômeno pode ser definido como a angústia generalizada do homem, nas vésperas de abandonar a sua crisálida de cidadão.

Todos os acontecimentos que abalam o planeta, espalhando nos seus recantos mais remotos uma onda revolucionária e regeneradora, significam o trabalho intenso e difícil da laboriosa gestação do novo organismo de leis pelo qual se regerão, mais tarde, os institutos terrenos.

Ditadores e extremismos são expressões transitórias dessa fase de experiências dolorosas porque a verdade é que o cidadão da pátria será substituído pelo homem fraterno, irmão dos seus semelhantes e compenetrado dos seus deveres de amor. Muitas dores implicam, por certo, nessa transformação das fórmulas patrióticas da atualidade, mas as democracias avançadas guardam, na sua estrutura, as sementes desse luminoso porvir.

Todavia, se falamos com respeito a esse assunto, é para dizermos aos nossos Irmãos Espiritualistas que eles são as sentinelas da Luz do Santuário, à maneira dos antigos heróis que guardavam as primícias do fogo sagrado.

Na hora das sombras, quando a subversão ameaçar o planeta, compete-lhes fornecer o testemunho de sua fé, como um penhor de segurança para as gerações do futuro.

A tarefa do Espiritismo está, portanto, adstrita à realização do homem interior, dentro de um novo conceito de fraternidade.

Fora desses princípios, as atividades de cada qual serão como folhas volantes, dentro do seu caráter dispersivo, porque todo o nosso esforço está enquadrado no “amarmo-nos uns aos outros” e é essa fórmula que deverá representar a bússola das atividades dos espiritualistas sinceros, os quais, com os seus abençoados sacrifícios, serão os “engenheiros sociais” dos tempos do porvir.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Esperança e Luz. Lição nº 03. São Paulo: Ed. CEU)