A CALÚNIA

Calúnia

“Paulo, contudo, não somente cometeu a ingratidão, como envenenou o espírito doutras senhoras, traiu outros amigos e destruiu a alegria e a paz doutros santuários domésticos. Observando Ismália aflita e Alfredo desesperado, nas recordações dele, vemos as imagens criadas pelo caluniador, para seus próprios olhos. Nossos amigos deste Posto evoluíram, transpuseram a fronteira da mágoa, escaparam aos monstros do ódio, vestem-se hoje de luz; no entanto, Paulo os vê como imagina, para escarmento de suas culpas. O criminoso nunca consegue fugir da verdadeira justiça universal, porque carrega o crime cometido, em qualquer parte. Tanto nos círculos carnais, como aqui, a paisagem real do Espírito é a do campo interior. Viveremos, de fato, com as criações mais intimas de nossa alma.

[…] Lembra-se de Paulo, o caluniador? Não os viu carregando pesados fardos mentais? Cada um de nós traz, nos caminhos da vida, os arquivos de si mesmo. Enquanto os maus exibem o inferno que criaram.

[…] A calúnia é uma serpente que ameaça o coração.

[…] A calúnia é um monstro invisível, que ataca o homem através dos ouvidos invigilantes e dos olhos desprevenidos.

[…] a calúnia, quando fere uma consciência tranquila não passa de serpente mentirosa, a transformar-se em flor de virtude nova, quando enfrentada com o valor duma coragem serena e cristã.

André Luiz

(Trechos de: Xavier, Francisco Cândido Xavier. Pelo espírito André Luiz. Os mensageiros. Cap. 17, 27, 38. FEB)

Que ovelha somos?

“Eu sou o bom pastor e
conheço as minhas ovelhas
e das minhas sou conhecido.”
– Jesus (João, 10: 14) 

 

O pastor atento se identifica com o rebanho de tal maneira, que define de pronto qualquer das ovelhas mantidas a seu cuidado.

 

Conhece as mais ativas.

Descobre as indiferentes.

Nomeia as retardatárias.

Registra as que lideram.

Classifica a lã que venha a produzir.

Tudo faz, em favor de todas.

 

Por sua vez, as ovelhas, pouco a pouco, percebem, dentro da limitação que as caracteriza, o modo de ser do pastor que as dirige.

 

Habituam-se aos lugares que lhe são prediletos.

Respeitam-lhe os sinais.

Acatam-lhe as ordens.

Reconhecem-lhe o poder diretivo, sem confundir-lhe a presença.

Na imagem, temos a divina missão do Cristo para conosco.

 

O Pastor Compassivo conhece cada uma das ovelhas do redil humano, tudo fazendo para guiá-las ao campo da Luz Celeste.

 

Incentiva as indiferentes.

Acalma as impetuosas.

Fortalece as mais fracas.

Apoia as mais responsáveis.

 

Sopesa o valor de todas, segundo as peculiaridades e tendências de cada uma.

 

E, de igual modo, as ovelhas do rebanho terrestre, gradativamente, vêm a conhecer e a sentir a existência abençoada do Bom Pastor.

 

Entendem-lhe os ensinamentos e admoestações.

Reverenciam a excelência do seu Amor.

Confiam serenamente em sua Misericórdia.

 

Esposam-lhe os ideais e buscam corresponder-lhe à vontade, destacando-o, nos quadros da vida, por intermediário do Pai Excelso.

 

Desse modo, cabe-nos atender ao chamamento do Mestre, melhorando as condições da vida, no mundo, com base em nossa própria renovação.

 

Nesse programa de luta, vale indagar de nós mesmos:

 

– Que ovelha somos?

 

E com semelhante pergunta, busquemos na disciplina, ante o Cristo de Deus, a nossa posição de servidores do bem, na certeza de que a humildade conferir-nos-á sintonia com o Divino Pastor, para que, sublimando e servindo, atinjamos com ele o Aprisco Celeste na imortalidade vitoriosa.

 

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. O Espírito da Verdade. Cap. 74. FEB)

DIANTE DO BEM

Diante de cada dia que surge, reflitamos na edificação do bem a que somos chamados.

Para isso, comecemos abençoando pessoas e acontecimentos, circunstâncias e coisas, para que o melhor se realize.

De princípio costumam repontar no cotidiano os problemas triviais do instituto doméstico.

Habitualmente aparece o assunto palpitante da hora, solicitando-nos atenção. Saibamos subtrair-lhe a sombra provável projetando nele a réstea de luz que sejamos capazes de improvisar.

Logo após, de imediato, estamos quase sempre defrontados pelos contratempos de ordem familiar. Renteando com eles, usemos o verbo calmante e conciliador para que as engrenagens do lar funcionem lubrificadas em bálsamo de harmonia.

Mais adiante é o grupo de trabalho com os pontos fracos à mostra. Abracemos com paciência e alegria as tarefas excedentes que se nos imponha, esquecendo essa ou aquela falha dos companheiros e trazendo à nós sem queixa ou censura a obrigação que ficou por fazer.

Em seguida é o campo vasto das relações, com as surpresas menos felizes que sobrevenham: o amigo modificado, a trama da incompreensão, a atitude mal interpretada, o irmão que se vai para longe de nós…

A cada ocorrência menos agradável procuremos responder com os nossos mais altos recursos de entendimento, justificando o amigo que se transforma, desfazendo sem mágoa o emaranhado das trevas, removendo equívocos em pauta e apoiando o colega que se afasta, oferecendo-lhe a íntima certeza com referência à continuidade de nossa estima.

Tudo o que existe é peça da vida e se aqui ou além, a deficiência aparece, isso significa que a obra do Bem, nessa ou naquela peça da vida está pedindo a nossa colaboração a fim de que lhe doemos o pedaço de Bem, que porventura ainda lhe falte. 

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Mãos Unidas. Cap.3. Araras: IDE)

O povo e o Evangelho

"E não achavam meio de lhe fazerem mal, porque todo o povo pendia para ele, escutando-o.”
(Lucas, 19:48)

A perseguição aos postulados do Cristianismo é de todos os tempos.

Nos próprios dias do Mestre Divino, nos círculos carnais, já se exteriorizavam hostilidades de todos os matizes contra os movimentos da iluminação cristã.

Em todas as ocasiões, no entanto, tem sido possível observar a gravitação do povo para Jesus. Entre Ele e a multidão, nunca se extinguiu o poderoso magnetismo da virtude e do amor.

Debalde surgem medidas draconianas da ignorância e da crueldade, em vão aparecem os prejuízos eclesiásticos do sacerdócio, quando sem luz na missão sublime de orientar; cientistas presunçosos, demagogos subornados por interesses mesquinhos, clamam nas praças pela consagração de fantasias brilhantes.

O povo, porém, inclina-se para o Cristo, com a mesma fascinação do primeiro dia. Indiscutivelmente, considerados num todo, achamo-nos ainda longe da união com Jesus, em sentido integral.

De quando em quando, a turba experimenta pavorosos desastres. Tormentas de sangue e lágrimas varrem-lhe os caminhos.

A claridade do Mestre, contudo, acena-lhe à distância. Velhos e crianças identificam-lhe o brilho santificado.

Os políticos do mundo formulam mil promessas ao espírito das massas; raras pessoas, entretanto, se interessam por semelhantes plataformas.

Os enunciados do Senhor, todavia, em cada século se renovam, sempre mais altos para a mente popular, traduzindo consolações e apelos imortais.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Vinha de luz. Cap. 47. FEB)

SUPER-CULTURA

“Graças te rendo, ó Pai, senhor dos Céus e da Terra, que por haveres ocultado estas cousas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e pequeninos!”. – Jesus.

(Mateus, 11:25.)

“Homens, por que vos queixais dos calamidades que vós mesmas amontoastes sobre as vossas cabeças? Desprezastes a santa e divina moral do Cristo; não vos espanteis, pois, de que a taça da iniquidade haja transbordado de todos os lados”.

(ESE, Cap. 7, 12.)

 

Alfabetizar e instruir sempre.

Sem escola, a Humanidade se embaraçaria na selva, no entanto, é imperioso lembrar que as maiores calamidades da guerra procedem dos louros da inteligência sem educação espiritual.

A intelectualidade requintada entretece lauréis à civilização, mas, por si só, não conseguiu, até hoje, frear o poder das trevas.

A supercultura, monumentalizou cidades imponentes e estabeleceu os engenhos que as arrasam.

Levantou embarcações que se alteiam como sendo palácios flutuantes e criou o torpedo que as põe a pique.

Estruturou asas metálicas poderosas que, em tempo breve, transportam o homem, através de todos os continentes e aprumou o bombardeiro que lhe destrói a casa.

Articulou máquinas que patrocinam o bem-estar no reduto doméstico e não impede a obsessão que, comumente, decorre do ócio demasiado.

Organizou hospitais eficientes e, de quando a quando, lhes superlota, as mínimas dependências com os mutilados e feridos, enfileirados por ela própria, nas lutas de extermínio.

Alçou a cirurgia às inesperadas culminâncias e aprimorou as técnicas do aborto.

E, ainda agora, realiza incursões a pleno espaço, nos alvores da Astronáutica, e examina do alto os processos mais seguros de efetuar aniquilamentos em massa pelo foguete balístico.

Iluminemos o raciocínio sem descurar o sentimento. Burilemos o sentimento sem desprezar o raciocínio.

O Espiritismo, restaurando o Cristianismo, é universidade da alma.

Nesse sentido, vale recordar que Jesus, o Mestre por excelência, nos ensinou, acima de tudo, a viver construindo para o bem e para a verdade, como a dizer-nos que a chama da cabeça não derrama, a luz da felicidade sem o óleo do coração.

Emmanuel

 

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Livro da Esperança. Capítulo 17.Uberaba: Comunidade Espírita Cristã)

 

 

TENSÃO EMOCIONAL

Não raro, encontramos, aqui e ali, os irmãos doentes por desajustes emocionais.
Quase sempre, não caminham. Arrastam-se. Não dialogam. Cultuam a queixa e a lamentação.
E provado está que, na Terra, a tensão emocional da criatura encarnada se dilata com o tempo.
Insegurança, conflito íntimo, frustração, tristeza, desânimo, cólera, inconformidade e apreensão, com outros estados negativos da alma, espancam sutilmente o corpo físico, abrindo campo a moléstias de etiologia obscura, à força de se repetirem constantemente, dilapidando o cosmo orgânico.
Se consegues aceitar a existência de Deus e a prática salutar dessa ou daquela religião em que mais te reconfortes, preserva-te contra semelhante desequilíbrio…

  •   Começa, aceitando a própria vida, tal qual é, procurando melhorá-la com paciência.
  •  Aprende a estimar os outros, como se te apresentem, sem exigir-lhes mudanças imediatas. 
  •  Dedica-te ao trabalho em que te sustentes, sem desprezar a pausa de repouso ou o entretenimento que se te restaurem as energias. 
  •  Serve ao próximo, tanto quanto puderes. 
  • Detém-te no lado melhor das situações e das pessoas, esquecendo o que te pareça inconveniente ou desagradável. 
  •  Não carregues ressentimentos.  
  •  Cultiva a simplicidade, evitando a carga de complicações e de assuntos improdutivos que te furtem a paz. 
  •  Admita o fracasso por lição proveitosa, quando o fracasso possa surgir. 
  •  Tempera a conversação com o fermento da esperança e da esperança e da alegria. 
  •  Tanto quanto possível, não te faças problema para ninguém, empenhando-te a zelar por ti mesmo. 
  •  Se amigos te abandonam, busca outros que consigam compreender com mais segurança. 
  •  Quando a lembrança do passado não contenha valores reais, olvida o que já se foi, usando o presente na edificação do futuro melhor. 
  •  Se o inevitável acontece, aceita corajosamente as provas em vista, na certeza de que todas as criaturas atravessam ocasiões de amarguras e lágrimas. 
  •  Oferece um sorriso de simpatia e bondade, seja a quem for. 
  •  Quanto à morte do corpo, não penses nisso, guardando a convicção de que ninguém existiu no mundo, sem a necessidade de enfrentá-la.

E, trabalhando e servindo sempre, sem esperar outra recompensa que não seja a bênção da paz na consciência própria, nenhuma tensão emocional te criará desencanto ou doença, de vez que se cumpres o teu dever com sinceridade, quando te falte força, Deus te sustentará e onde não possas fazer todo o bem que desejas realizar Deus fará sempre a parte mais importante!…

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Companheiro. Araras: IDE)

CARTA DE ANO NOVO

 

Ano Novo é também a renovação de nossa oportunidade de aprender, trabalhar e servir.

O tempo, como paternal amigo, como que se reencarna no corpo do calendário, descerrando-nos horizontes mais claros para a necessária ascensão.

Lembra-te de que o ano em retorno é novo dia a convocar-te para execução de velhas promessas, que ainda não tiveste a coragem de cumprir.

Se tens algum inimigo, faze das horas renascer-te o caminho da reconciliação.

Se foste ofendido, perdoa, a fim de que o amor te clareie a estrada para frente. Se descansaste em demasia, volve ao arado de tuas obrigações e planta o bem com destemor para a colheita do porvir.

Se a tristeza te requisita, esquece-a e procura a alegria serena da consciência feliz no dever bem cumprido.

Novo Ano! Novo Dia! Sorri para os que te feriram e busca harmonia com aqueles que te não entenderam até agora.

Recorda que há mais ignorância que maldade, em torno de teu destino.

Não maldigas, nem condenes.

Auxilia a acender alguma luz para quem passa ao teu lado, na inquietude da escuridão.

Não te desanimes, nem te desconsoles.

Cultiva o bom ânimo com os que te visitam, dominados pelo frio do desencanto ou da indiferença.

Não te esqueças de que Jesus jamais se desespera conosco e, como que oculto ao nosso lado, paciente e bondoso, repete-nos de hora a hora: Ama e auxilia sempre. Ajuda aos outros, amparando a ti mesmo, porque se o dia volta amanhã, eu estou contigo, esperando pela doce alegria da porta aberta de teu coração.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Vida e caminho. São Bernardo do Campo: GEEM)

 

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REINO DE DEUS

Se aspiramos conquistar o Reino de Deus, recordemos Jesus que no-lo revelou, conjugando “dizer” e “fazer”.

Ensinou o Divino Mestre:

“Faze aos outros o que desejas que os outros te façam”. E viveu para os outros, sem nada exigir.

“Dá a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E, respeitando as autoridades constituídas no mundo, dedicou-se integralmente aos interesses do espírito.

“Quem se humilhar será exaltado”. E ninguém se apagou até hoje quanto Ele para que a infinita bondade se destacasse.

“Quem procura ser o maior seja o servo de todos”. E, nas mínimas circunstâncias, colocou-se invariavelmente no lugar de quem serve.

“Não saiba a tua mão esquerda o que dá a direita”. E ouvido algum jamais lhe escutou qualquer expressão de elogio a si mesmo.

“Não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que lhe sai do coração”. E banqueteou-se com criaturas consideradas desprezíveis, acordando-lhes o sentimento para a realidade superior.

“Ao que te peça mil passos, caminha com ele dois mil”. E fez-se entre os homens inimitável modelo de tolerância.

“A quem te rogue a capa, cede também a túnica”. E deu-se constantemente ao próximo, consagrando-lhe a própria existência.

“Ama aos teus inimigos”. E suportou, em silêncio, as forças das trevas que o situaram em aparente derrota.

“Ora pelos que te perseguem e caluniam”. E aceitou a flagelação injusta, exorando perdão em favor dos próprios carrascos, no suplício da cruz.

Não precisas aguardar revelações estranhas e nem fenômenos espetaculares para surpreender as maravilhas do Reino de Deus.

Nem catástrofes cósmicas.

Nem convulsões da natureza.

Nem terra fulminada.

Nem céus abertos.

Tudo pode alterar-se, a teus olhos, se tens a luz por dentro de ti.

E, além disso, a qualquer momento, a verdadeira vida pode trazer-te a grande mudança.

Nosso problema será sempre construir na própria alma a perfeição que reclamamos nos outros.

Não nos esqueçamos de que o Evangelho vem preparar no mundo o reino do bem que Jesus anunciou e o próprio Jesus foi suficientemente claro, asseverando que o Reino de Deus está dentro de nós.

 

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Neste Instante. Cap.9. São Bernardo do Campo: GEEM)

POR CINCO DIAS

Mais de seis lustros passaram.

Francisco Teodoro, o industrial suicida, experimentava pavorosos suplícios nas trevas…

Defrontado por crise financeira esmagadora, havia aniquilado a existência.

Tivera vida próspera.

À custa de ingente esforço, construíra uma fábrica.

Importando fios, conseguira tecer casimiras notáveis.

E o trabalho se desdobrava, promissor.

Operários e máquinas eficientes, armazéns e lucros firmes.

Surgira, porém, a retração dos negócios.

Humilhavam-no cobranças e advertências, a lhe invadirem a casa.

Frases vexatórias espancavam-lhe os ouvidos.

– Coronel Francisco, trago-lhe as promissórias vencidas.

– Sr. Francisco, nossa firma não pode esperar.

O capitão do serviço pedia mais tempo; apresentava desculpas; falava de novas esperanças e comentava as dificuldades de todos.

Meses passaram pesadamente.

Cartas vinagrosas chegavam-lhe à caixa postal.

Devia aos credores diversos o montante de oitocentos contos de réis.

A produção, abundante, descansava no depósito, sem compradores.

Procurava consolo na fé religiosa.

Por toda parte, lia e ouvia referências à Divina Bondade.

Deus não desampara as criaturas – pensava.

Ainda assim, tentava a oração, sem abandonar a tensão.

E porque alguém o ameaçava de escândalos na imprensa, com protestos públicos, em que seria indicado por negociante desonesto, escreveu pequena carta, anunciando-se insolvável, e disparou um tiro no crânio.

Com imenso pesar, descobriu que a vida continuava, carregando, em zonas sombrias de purgação, a cabeça em frangalhos…

Palavra alguma na Terra conseguiria descrever-lhe o martírio.

Sentia-se um louco encarcerado na gaiola do sofrimento.

Depois de trinta anos, pode recuperar-se, internando-se em casa de reajuste, reavendo afeições e reconhecendo amigos…

E agora que retornava à cidade que lhe fora ribalta ao desespero, notava, surpreendido, o progresso enorme da fábrica que lhe saíra das mãos.

Embora invisível aos olhos físicos dos velhos companheiros de luta, abraçou, chorando de alegria, os filhos e os netos reunidos no trabalho vitorioso.

E após reconhecer o seu próprio retrato, reverenciado pelos descendentes no grande escritório, veio a saber que acontecimento importante sucedera cinco dias depois dos funerais em que a família lhe pranteara o gesto terrível.

À face da alteração na balança comercial do País, ante a grande guerra de 1914, o estoque de casimiras, que acumulara zelosamente, produziu importância que superou de muito a quatro mil contos de reis.

Mostrando melancólico sorriso, o visitante espiritual compreendeu, então, que a Bondade de Deus não falhara.

Ele apenas não soubera esperar…

 

Hilário Silva

(Xavier, Francisco Cândido. Idéias e Ilustrações. Lição nº 12. FEB)