VENCEDORES

Emmanuel

Sejam quais forem as tribulações da vida em que te encontres…

Se tens a estrela da confiança sob as nuvens pesadas do sofrimento…

Diante de conflitos que te pareçam calamidades, arrasando-te a vida…

À frente de provas que mais se te figuram conspirações das trevas, aniquilando-te o ser…

Se incompreensões de criaturas queridas te colocaram em labirintos de pranto…

Quando te venha a ideia de eu todo te falta, ainda mesmo os recursos indispensáveis à própria subsistência…

Ante a presença da morte, ao subtrair-te a presença de pessoas queridas…

Nas enfermidades que te segreguem nos tratamentos difíceis e dolorosos…

No centro de problemas que se te revelem insolúveis…

Quando os seres amados se entreguem à descrença, ridicularizando-te a fé…

Ante as lutas da vida, quando o mundo te imponha ao espírito o gosto amargo da solidão e da derrota…

***

Ergue o pensamento a Deus e confia em Deus, porque Deus não te abandona e tomará tuas aflições e tuas lágrimas para alimentar com ela a luz da esperança, porque, quase sempre, é com a luz da esperança dos aparentemente vencidos que Deus ilumina o caminho dos vencedores que estão sempre agindo e servindo na construção do Mundo Melhor.

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel.  Momentos de Ouro. São Bernardo do Campo: GEEM).

Sem desfalecimentos

“E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos,
se não houvermos desfalecido.” – Paulo. (Gálatas, 6:9.)

 

Há pessoas de singulares disposições em matéria de serviço espiritual.

Hoje crêem, amanhã descrêem.

Entregaram-se, ontem, às manifestações da fé; entretanto, porque alguém não se curou de uma enxaqueca, perdem hoje a confiança, penetrando o caminho largo da negação.

Iniciam a prática do bem, mas, se aparece um espinho de ingratidão dos semelhantes, proclamam a falência dos propósitos de bem-fazer.

São crianças que ensaiam aprendizado na escola da vida, distantes ainda da posição de discípulos do Mestre.

O exercício do amor verdadeiro não pode cansar o coração.

Quem ama em Cristo Jesus guarda confiança em Deus, é feliz na renúncia e sabe alimentar-se de esperança.

O mal extenua o espírito, mas o bem revigora sempre.

O aprendiz sincero do Evangelho, portanto, não se irrita nem conhece a derrota nas lutas edificantes, porque compreende o desânimo por perda de oportunidade.

Problemas da alma não se circunscrevem a questões de dias e semanas terrestres, nem podem viver condicionados a deficiências físicas. São problemas de vida, renovação e eternidade.

Não te canses, pois, de fazer o bem, convencido, todavia, de que a colheita, por tuas próprias mãos, depende de prosseguires no sacerdócio do amor, sem desfalecimentos.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Vinha de luz. Cap. 82. FEB)

Mensagem de União

    Filhos, o Senhor nos abençoe.

    Solidários, seremos união.

    Separados uns dos outros, seremos pontos de vista.

    Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.

    Distanciados entre nós, continuaremos à procura do trabalho com que já nos encontramos honrados com a Providência Divina.

    Crede! A humildade e a paciência no mecanismo de nosso relacionamento são as energias de entrosagem de que não podemos prescindir, na execução de nossos compromissos.

    Roguemos, pois, a Deus a força indispensável para nos sustentar fiéis aos nossos compromissos de união em torno do Evangelho de Cristo, a fim de concretizar-lhe os princípios de amor e luz.

    Mantenhamos unidos, em Jesus, para edificar e acender Kardec no caminho de nossas vidas, porque unicamente assim, agindo com a fraternidade e progredindo com o discernimento, é que conseguiremos obter    os valores que nos erguerão na existência em degraus libertadores de paz e ascensão.

    Bezerra de Menezes

 

(No dia 23 de abril de 1976, portanto há mais de quatro anos, os companheiros da União Municipal Espírita de Marília-SP, receberam, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, uma significativa mensagem do dr. Bezerra de Menezes. Considerando a íntima relação do conteúdo dessa mensagem com o movimento de unificação dos espíritas, e, também pelo fato de ter sido pouco divulgada, tomamos a liberdade de publicá-la, nesta edição, para conhecimento dos leitores – Comentários de dirigentes da USE-SP).

Transcrito de:

Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Bezerra de Menezes. Mensagem de união. Unificação. USE. São Paulo. Ano XXVII. No. 309. São Paulo. Novembro-dezembro de 1980.

BRASIL

(I)

Pergunta: Com relação à situação do Brasil, em termos gerais, em que a Espiritualidade Maior pode instruir-nos a respeito?

Resposta: Estamos, hoje, em meio a uma crise moral de grandes proporções, o que de modo geral ampliaria os problemas cotidianos de uma nação qualquer, assim como se faz conosco. A conscientização de nossa condição de co-responsáveis por tudo que se passa ao nosso redor é o que deve prevalecer. Passamos por um momento de revisão de conceitos morais e éticos e, nesse momento, o esforço de cada membro da nossa sociedade deve estar orientado no sentido de melhor cumprir os deveres e obrigações de cidadão, com muita disciplina, vontade de melhora geral, trabalho e muita, mas muita, oração. O pensamento cristão deve prevalecer sempre.

(II)

Pergunta: Se os Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário fossem dirigidos por pessoas espíritas e evoluídas, teríamos um país melhor?

Resposta: Não se trata de somente termos dirigentes espíritas, se tivéssemos dirigentes mais evoluídos certamente já teríamos hoje um país melhor. Entretanto, não se pode esquecer que uma nação não é formada apenas de dirigentes, existe em número maior o povo. E nosso povo, como um todo, precisa realmente buscar sua evolução 11 moral e intelectual a fim de construir uma nação mais fraterna e cristã por excelência.

(III)

Pergunta: O Brasil continua sendo o “Coração do mundo e Pátria do Evangelho?” E atualmente, no Brasil, existe algum espírito superior que possa levar o país ao desenvolvimento global?

Resposta: Essa denominação foi dada ao Brasil por Jesus e não lhe será tirada. Espíritos de escol têm reencarnado em todas as partes, no seio de todos os povos, para o progresso geral. O Brasil não está desprovido dessas almas. Cabe a cada um de nós o aperfeiçoamento íntimo, que é a obrigação primeira de todo espírito encarnado e, juntos, fazendo de nossos corações e lares recantos de paz, terão um país de grandes realizações.

 

(Xavier, Francisco Cândido/ Emmanuel. Plantão de Respostas. Pinga Fogo II. São Paulo: Ed. CEU)

Fé e vida

O sol plasmava cintilâncias na grama, quando Frederico e Sinésio, se puseram a comentar certas passagens do Evangelho de Jesus.

Comentou Sinésio:

— O apóstolo Paulo foi claro, ao escrever que o justo se elevará pela fé.

— Tiago, no entanto, — falou Frederico, afirmou na epístola que lhe traz o nome que a fé sem obras é morta em si mesma.

— O desencontro das interpretações prosseguia aceso, quando Frederico colheu pequeno galho de flores de pessegueiro e acrescentou:

— Ao amigo, perguntaria sem afetação: Sinésio, de que árvore são estas flores? — De pessegueiro, respondeu o amigo.

— Quando o dono do pomar o plantou e por muito tempo cuidou dele, fez isso com que fim? — Decerto para que a árvore produzisse frutos deliciosos.

— Pois, está aí a lição da natureza — enfatizou o companheiro —, Deus colocou as flores nas árvores a fim de que elas produzam frutos que sustentem a vida.  Assim são nossos testemunhos de fé, flores dos nossos ideais. Todas são chamadas a produzir frutos que sustentem as criaturas e as que são arrebatadas pelo homem ou pelo vento se transformam apenas em promessas inúteis. Compreendeu?

Sinésio nada respondeu e passou a pensar.

EMMANUEL

UBERABA (MG), 26 DE JANEIRO DE 1989.

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Fé e Vida. Cap. 1. CEU/FEB)

GOLPES DUPLOS

Ostensivamente, não teremos prejudicado a qualquer pessoa.

Do ponto de vista do acatamento à segurança geral carregamos a alma tranquila.

Quantos de nós, porém, estaremos livres de remorso pelos danos indiretos que tenhamos causado?

Não subtraímos dinheiro à bolsa do próximo; entretanto, se caímos inadvertidamente em pessimismo, comunicando desânimo aos companheiros, afastamo-los de oportunidades preciosas, no terreno de vantagens corretas, com as quais talvez minorassem muitas das grandes necessidades que nos rodeiam.

Não preterimos o direito de nossos irmãos nas atividades profissionais a que se afeiçoam, mas se nos prendemos com apego indébito e enfermiço a algum ou a alguns deles, desencorajando-lhes qualquer impulso à renovação, acabamos por impedir-lhes o acesso a encargos superiores, nos quais teriam efetuado maior prestação de serviço em apoio da Humanidade.

Não roubamos a alegria dos semelhantes; todavia, se entramos em desespero, sempre injustificável, instilamos desalento e amargura naqueles que mais amamos, aniquilando-lhes a coragem.

Não traímos a ordem, mas toda vez que desertamos, sem claro motivo, do dever que nos cabe, estragamos a confiança naqueles que nos procuram ação ou cooperação, frustrando, de algum modo, a harmonia de que carecem na sustentação da própria tranquilidade.

Ninguém é trazido a viver, sentir, imaginar e raciocinar para ocultar-se.

Cada um de nós permanece no lugar exato, a fim de realizar o melhor que pode.

Efetivamente, somos responsáveis pelo mal que praticamos e pelo bem que deixamos de fazer, sempre que dispomos de recursos para fazê-lo. E ao lado as culpas que trazemos por ofensas declaradas ou por omissões em serviço, temos ainda as que nascem dos golpes duplos que desferimos, sobre os quais raramente meditamos: — aqueles do mal que causamos aos outros, depois de causá-lo a nós.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Estude e Viva. Cap. 18. FEB)

 

EM HORAS DE CRISE

Asserena o coração inquieto e segue para frente.

Se errares, há recursos de retificação.

Se outros estão enganados, voltarão à verdade, algum dia.

Se companheiros determinados não te puderam entender, a vida, em nome de Deus, trarão outros que te compreenderão.

Abençoa os que te deixaram em caminho, porque nem todos conseguem cumprir várias tarefas ao mesmo tempo.

Agradece aos que te amparam e auxilia aos que possuam menores recursos que os teus.

Trabalha para o bem, onde estiveres e como estiveres.

Não esperes santificar-te para servir porque ainda somos criaturas humanas, com os defeitos inerentes à nossa condição e, por isso mesmo, Deus não nos confia trabalho somente compreensível no clima dos anjos.

Não acredites que possas evoluir sem problemas ou que consigas aperfeiçoar-te sem sacrifícios.

Nunca descreias do poder de progredir e melhorar, à custa do próprio esforço.

Alegra-te, constantemente.

Capacita-te de que o desânimo não presta auxílio a ninguém.

Se alguém te ofendeu, esquece.

Reflete em quantas vezes teremos ferido a alguém, sem a mínima intenção, e cobre o mal com o bem.

Se ouvires referências infelizes, a cerca de alguma pessoa, medita nas boas ações que essa criatura terá praticado ou nas boas obras que terá desejado fazer sem que isso lhe fosse possível.

Em qualquer dificuldade, aconselha-te com a esperança, porque Deus tudo está modificando para melhor.

Persevera no trabalho que a vida te deu a executar. Pensa no bem e fala no bem.

Abençoa sempre.

E se alguma provação te acolhe com tanta força que não consigas evitar as próprias lágrimas, mesmo chorando, confia em Deus, na certeza de que Deus, amanhã nos concederá outro dia.

Emmanuel

(XAVIER, FRANCISCO CÂNDIDO. COMPANHEIRO. Araras: IDE)

Peregrinação cristã

Se aceitaste o evangelho por abençoado roteiro de aperfeiçoamento, não te esqueças da representação que nos cabe em toda parte.

A fé nos confere consolação, mas nos reveste de responsabilidade a que não podemos fugir.

Somos embaixadores de Jesus onde estivermos, se a luz d'ele é o clarão que nos descortina o futuro.

Não te esqueças de semelhante realidade para que a tua experiência religiosa não se reduza a simples adoração improdutiva.

A estrada permanece descerrada a nós todos. Cada dia é uma revelação para que exerçamos a sublime investidura.

Se o senhor desceu até nós, partilhando-nos a senda obscura e viciosa a fim de que nos levantássemos, aprendamos também a representá-lo nas regiões inferiores à nossa posição do conhecimento.

Onde fores defrontado pela calúnia, sê a palavra amiga do esclarecimento benéfico.

Se o mal te avista, improvisa o bem com tua capacidade de ajuizar as situações de planos mais altos.

Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da coragem e resiste ao sopro frio do desalento, prosseguindo no trabalho que a vida te confiou.

Se a infantibilidade te busca, não a abandones, porque o cristão sincero é o bom semeador que tudo aperfeiçoa para a glória do infinito bem.

Se a leviandade vem ao teu encontro, ajuda o companheiro de jornada, orientando-lhe o pensamento para o justo equilíbrio em que a nossa fé se inspira e vive sempre.

Se a treva tenta envolvê-lo, faze a claridade do otimismo, com as bênçãos do amor que auxiliam em todos os instantes.

Mas se o embaixador humano é obrigado a longo curso de compreensão e tolerância na ciência do tato e da gentileza para não falharem seus compromissos, não creias que o emissário do Cristo deva agir sem os princípios de serenidade e do bom ânimo.

Colaboremos e ajudemos sem alardear notas de superioridade perturbadora. Quanto mais clara a nossa luz, mais alta a nossa dívida para com as sombras.

Quanto mais sublimes nossas noções do bem, mais imperiosos os nossos deveres de socorro às vítimas do mal.

O mensageiro de Cristo é o braço do evangelho.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Paz e libertação. Cap. 1. São Paulo: CEU)

As Sentinelas da Luz do Santuário

A tempestade avizinha-se nos horizontes políticos e sociais do mundo inteiro. Todas as vozes falam de um perigo iminente e todos os corações sentem algo de estranho no ar que respiram.

Fala-se no coletivismo, recolhendo-se cada qual no exclusivismo feroz, e fala-se de nacionalismo e de pátria, dentro do mesmo conceito de egoísmo e de isolamento. Esses extremismos caracterizam um período de profunda decadência nos costumes sociais e políticos desta época de transições.

Apesar, porém, de sua complexidade, esse fenômeno pode ser definido como a angústia generalizada do homem, nas vésperas de abandonar a sua crisálida de cidadão.

Todos os acontecimentos que abalam o planeta, espalhando nos seus recantos mais remotos uma onda revolucionária e regeneradora, significam o trabalho intenso e difícil da laboriosa gestação do novo organismo de leis pelo qual se regerão, mais tarde, os institutos terrenos.

Ditadores e extremismos são expressões transitórias dessa fase de experiências dolorosas porque a verdade é que o cidadão da pátria será substituído pelo homem fraterno, irmão dos seus semelhantes e compenetrado dos seus deveres de amor. Muitas dores implicam, por certo, nessa transformação das fórmulas patrióticas da atualidade, mas as democracias avançadas guardam, na sua estrutura, as sementes desse luminoso porvir.

Todavia, se falamos com respeito a esse assunto, é para dizermos aos nossos irmãos espiritualistas que eles são as sentinelas da Luz do Santuário, à maneira dos antigos heróis que guardavam as primícias do fogo sagrado.

Na hora das sombras, quando a subversão ameaçar o planeta, compete-lhes fornecer o testemunho de sua fé, como um penhor de segurança para as gerações do futuro.

A tarefa do espiritismo está, portanto, adstrita à realização do Homem Interior, dentro de um novo conceito de fraternidade.

Fora desses princípios, as atividades de cada qual serão como folhas volantes, dentro do seu caráter dispersivo, porque todo o nosso esforço está enquadrado no “amarmo-nos uns aos outros” e é essa fórmula que deverá representar a bússola das atividades dos espiritualistas sinceros, os quais, com os seus abençoados sacrifícios, serão os “engenheiros sociais” dos tempos do porvir.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Esperança e luz. Cap. As Sentinelas da Luz do Santuário. São Paulo: Ed. CEU)

VISÃO DE EURÍPEDES

Começara Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da mediunidade, em Sacramento, no Estado de Minas Gerais, a observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, quando, certa feita, à noite, viu a si próprio em prodigiosa volitação. Embora inquieto, como que arrastado pela vontade de alguém num torvelinho de amor, subia, subia…

Subia sempre.

Queria parar, e descer, reavendo o veículo carnal, mas não conseguia. Braços intangíveis tutelavam-lhe a sublime excursão. Respirava outro ambiente. Envergava forma leve, respirando num oceano de ar mais leve ainda… Viajou, viajou, à maneira de pássaro teleguiado, até que se reconheceu em campina verdejante. Reparava na formosa paisagem, quando não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz.

Como que magnetizado pelo desconhecido, aproximou-se…

Houve, porém, um momento, em que estacou, trêmulo.

Algo lhe dizia no íntimo para que não avançasse mais…

E num deslumbramento de júbilo, reconheceu-se na presença do Cristo.

Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista, e ficou em silêncio, sentindo-se como intruso, incapaz de voltar ou seguir adiante.

Recordou as lições do Cristianismo, os templos do mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na literatura e nas artes, e a mensagem d’Ele a ecoar entre os homens, no curso de quase vinte séculos…

Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar…

Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quando adquiriu coragem e ergueu os olhos, humilde. Viu, porém, que Jesus também chorava…

Traspassado de súbito sofrimento, por ver-lhe o pranto, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime… Afagar-lhe as mãos ou estirar-se à maneira de um cão leal aos seus pés…

Mas estava como que chumbado ao solo estranho…

Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, lhe atiram incompreensão e sarcasmo…

Nessa linha de pensamento, não se conteve. Abriu a boca e falou suplicante:

– Senhor, por que choras?

O interpelado não respondeu.

Mas desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes reiterou:

– Choras pelos descrentes do mundo?

Enlevado, o missionário de Sacramento notou que o Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima:

– Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam…

Eurípedes não saberia descrever o que se passou então.

Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu…

E acordou no corpo de carne.

Era madrugada.

Levantou-se e não mais dormiu. E desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até a morte.

Hilário Silva (FCX)

(Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Pelo espírito de Hilário Silva. A vida escreve. 2ª parte. Cap. 27. FEB)