QUANDO SOFRERES

QUANDO SOFRERES

G – Cap. III – Item 5 (*)

Quando sofreres, pensa no indefinível poder de renovação que flui dos vencidos!…

Os gritos dos déspotas da antiguidade que pompeavam irrisório triunfo desapareceram, encaminhados pela morte à piedade da cinza para se lhes apagasse a memória, mas a justiça tomou as lágrimas de quantos lhes caíram sob os carros sanguinolentos para gravar as leis que enobrecem a Humanidade.

Os sarcasmos dos que traficavam com a vida dos semelhantes foram abafados na estreiteza do túmulo, mas o pranto dos escravos, que cambaleavam aos rebenques do cativeiro, lavou os olhos das nações conscientes, para que contemplassem o clarão inextinguível da liberdade.

Quando sofreres por alguém ou por alguma causa nobre, medita naquele que a Sabedoria Divina enviou à Terra, para o engrandecimento de todos.

A Eterna Bondade fê-lo nascer, sob cânticos angélicos ao fulgor de uma estrela, e consentiu que se lhe negasse um berço entre os homens.

Situou-lhe a divina embaixada, entre aqueles que detinham no mundo as mais elevadas noções religiosas e não impediu lhe ignorassem a presença.

Dotou-o de carismas sublimes com que reerguesse os paralíticos e iluminasse os cegos e deu-lhe a estrada por moradia.

Colocou-lhe a ciência do Universo na palavra simples, mas não lhe deu qualquer cenáculo de pedra aos ensinos, conquanto providenciasse para que os deserdados e os enfermos, os cansados e os infelizes lhe integrassem a assembleia de ouvintes na largueza do campo.

Revestiu-lhe a influência pessoal com todos os atributos do bem e deixou que o mal lhe alcançasse o círculo dos amigos mais íntimos.

E quando lhe tapizaram o caminho com palmas de vitória, no intuito de lhe entregarem o cetro da autoridade, permitiu que a sombra envolvesse aqueles que mais o admiravam e, quase defronte a eminência do Moriah, em cujo tope se erguia o templo de Salomão, como sendo o mais suntuoso dos monumentos levantados na Terra, em louvor do Deus único, não obstou se lhe desse um monte desolado para a morte num lenho entre malfeitores, a fim de que ele formasse entre os milhões de aflitos e incompreendidos de todos os tempos!…

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Quando sofreres para que haja bondade e verdade, felicidade e concórdia, pensa em Cristo e compreenderás que ninguém consegue realmente auxiliar a ninguém sem amor e sem dor.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Pelos espíritos Emmanuel e André Luiz. Opinião Espírita. Cap.50. Uberaba: CEC)

(*) – citação de A Gênese, de Allan Kardec

UM POUCO DE FERMENTO

UM POUCO DE FERMENTO

"Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?" ( I Coríntios, 5:6.)

Ninguém vive só. Nossa alma é sempre núcleo de influência para os demais.

Nossos atos possuem linguagem positiva. Nossas palavras atuam à distância.

Achamo-nos magneticamente associados uns aos outros.

Ações e reações caracterizam-nos a marcha.

É preciso saber, portanto, que espécie de forças projetamos naqueles que nos cercam.

Nossa conduta é um livro aberto.

Quantos de nossos gestos insignificantes alcançam o próximo, gerando inesperadas resoluções!

Quantas frases, aparentemente inexpressivas, arrojadas de nossa boca, estabelecem grandes acontecimentos!

Cada dia, emitimos sugestões para o bem o para o mal…

Dirigentes arrastam dirigidos.

Servos inspiram administradores.

Qual é o caminho que a nossa atitude está indicando?

Um pouco de fermento leveda a massa toda.

Não dispomos de recursos para analisar a extensão de nossa influência, mas podemos examinar-lhe a qualidade essencial.

Acautela-te, pois, com o alimento invisível que forneces às vidas que te rodeiam.

Desdobra-se-nos o destino em correntes de fluxo e refluxo.

As forças que hoje se exteriorizam de nossa atividade voltarão ao centro de nossa atividade, amanhã.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte Viva. Cap. 108. FEB)

FÉ EM DEUS

FÉ EM DEUS

G – Cap. II – Item 7 (*)

 

Antes de Jesus, profetas e guerreiros asseveravam agir em nome da fé em Deus.

Moisés, conquanto venerável pela fidelidade e pela justiça, não hesitava na aplicação da ira, admitindo representá-lo.

Josué presumia proclamar-lhe a grandeza com bandeiras sanguinolentas, ao submeter populações inermes, além do Jordão.

David supunha dignificá-lo, quando conquistou a montanha de Sião, à custa do pranto das viúvas e dos órfãos.

Salomão acreditava reverenciá-lo, ao consumir a existência de numerosos servidores, amontoando madeiras e metais preciosos na construção do templo famoso que lhe guardou a memória.

E todos nós, em várias reencarnações, temos pretendido honorificar a fé em Deus, fomentando guerras e espoliando os semelhantes, através das crises de fanatismo e das orgias de ouro.

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O Espiritismo, porém, nos revela Jesus, abraçando o serviço espontâneo à Humanidade como sendo a tradução da própria fé.

Embora livre, transfigurou-se em servidor da comunidade estendendo mais imediata assistência aos que se colocavam na última plana da escala social.

Sem nenhum juramento que o obrigasse a tratar dos enfermos, amparou os doentes com extremada solicitude.

Não envergava toga de juiz e patrocinou a causa dos deserdados.

Distante de qualquer compromisso na paternidade física, chamou a si as criancinhas.

Fora de todos os vínculos da política, ensinou o acatamento às autoridades constituídas.

Profundamente franco, era humilde em excesso com os ignorantes e com os fracos, e, profundamente humilde, era franco, tanto quanto se pode ser, com todos aqueles que conheciam as próprias responsabilidades, à frente dos preceitos divinos, fugindo de respeitá-los.

Passou no mundo, abençoando e consolando, esclarecendo e servindo, mas preferiu morrer a tisnar o mandato de amor e verdade que o jungia aos desígnios do Eterno Pai.

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Para nós, os cristãos encarnados e desencarnados, seja na luz da Doutrina Espírita ou ainda ausentes dela, é importante o exame periódico dos nossos testemunhos pessoais de religião, na experiência cotidiana, para sabermos o que vem a ser fé em Deus em nós e fé em Deus no Mestre que declaramos honrar.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido; Vieira, Waldo. Pelos espíritos Emmanuel e André Luiz. Opinião espírita. Cap. 58. Uberaba: CEC)

(*) – G: A Gênese, de Allan Kardec

PERANTE A CODIFICAÇÃO KARDEQUIANA

PERANTE A CODIFICAÇÃO KARDEQUIANA

A Codificação Kardequiana orienta o homem para o “construir-se”, de dentro para fora.

Com semelhante afirmativa numerosas legendas repontam do plano individual, ampliando os distritos do mundo interior para a reestruturação da personalidade, ante o continuísmo da vida.

Edificação íntima, em cujo levantamento a criatura pode concluir de maneira instintiva:

Deus é nosso Pai, mas a certeza disso não me exonera da responsabilidade de burilar-me, trabalhar e viver;

moro presentemente na Terra, com a obrigação de compartilhar-lhe o progresso; entretanto, na essência, sou um espírito eterno, evoluindo na direção da Imortalidade;

atravesso atualmente caminhos determinados pela lei da causa e efeito; contudo, já sei que desfruto o privilégio de renovar o próprio destino pelo uso sensato da liberdade de escolha;

travo duras batalhas no campo externo, mas compreendo que a maior de todas elas é a que sustento, dia por dia, no campo íntimo, procurando a vitória sobre mim mesmo;

possuo a família do coração;

todavia em todos os seres da estrada, encontro irmãos verdadeiros, componentes da família maior a que todos pertencemos – a Humanidade;

sofro desafios e obstáculos, nas vias planetárias, porém guardo a certeza de que a alegria imperecível é a meta que me cabe atingir;

desilusões de provas me assaltam comumente a senda diária; no entanto, reconheço que preciso aceitá-las por lições valiosas, necessárias, aliás, à minha própria formação espiritual, na academia da experiência;

o mundo por vezes passa por transições inesperadas e rudes, todavia, tenho a paz imutável, no âmago do ser;

o tempo é a minha herança incorruptível;

a morte ser-me-á simplesmente estreito corredor para o outro lado da vida.

Revela-nos Jesus que o Reino de Deus está dentro de nós, e Allan Kardec complementa-lhe a obra ensinando-nos a desentranhá-lo, através de ação e discernimento, serviço e amor, a fim de que o homem sublimado consiga sublimar a Terra para que a Terra, por fora e por dentro, se incorpore, em espírito e verdade, ao Reino dos Céus.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Doutrina de luz. Cap. Perante a Codificação Kardequiana. São Bernardo do Campo: GEEM)

Carta de Ano Novo

Carta de Ano Novo

 

Ano Novo é também renovação de nossa oportunidade de aprender, trabalhar e servir.

O tempo, como paternal amigo, como que ser e encarna no corpo do calendário, descerrando-nos horizontes mais claros para a necessária ascensão.

Lembra-te de que o ano em retorno é novo dia a convocar-te para execução de velhas promessas, que ainda não tiveste a coragem de cumprir. Se tens inimigo, faze das horas renascer-te o caminho da reconciliação.

Se foste ofendido, perdoa, a fim de que o amor te clareie a estrada para frente.

Se descansaste em demasia, volve ao arado de tuas obrigações e planta o bem com destemor para a colheita do porvir.

Se a tristeza te requisita, esquece-a e procura a alegria serena da consciência feliz no dever bem cumprido.

Novo Ano! Novo Dia!

Sorri para os que te feriram e busca harmonia com aqueles que te não entenderam até agora.

Recorda que há mais ignorância que maldade, em torno de teu destino.

Não maldigas, nem condenes.

Auxilia a acender alguma luz para quem passa ao teu lado, na inquietude da escuridão.

Não te desanimes, nem te desconsoles.

Cultiva o bom ânimo com os que te visitam, dominados pelo frio do desencanto ou da indiferença.

Não te esqueças de que Jesus jamais se desespera conosco e, como que oculto ao nosso lado, paciente e bondoso, repete-nos de hora a hora:

– Ama e auxilia sempre.

Ajuda aos outros, amparando a ti mesmo, porque se o dia volta amanhã, eu estou contigo, esperando pela doce alegria da porta aberta de teu coração.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Vida e Caminho. Ed. GEEM)

JESUS

JESUS

Ele não era um conquistador armado e, de século a século, aumenta a multidão daqueles que o seguem, n´Ele reconhecendo o Modelo Divino, ao qual se oferece a vida; surgiu na palha, ao calor dos animais que o hospedaram na estrebaria e recorda-se lhe o nascimento assinalado pelo fulgor de uma estrela; não dispunha de uma pedra em que repousar a cabeça e fundou o Reino de Deus, entre as nações; conquanto se reportasse aos mundos da imensidade por diversas moradas da Casa universal do Todo-Misericordioso, escolheu uma pátria que procurou conchegar ao coração; referia-se aos homens na condição de filhos do Pai Celestial e devotou-se a um círculo íntimo de companheiros queridos, vinculando-se a uma abnegada mãe, a quem amou enternecidamente; embora revelasse a vida imperecível, encontrou em si mesmo bastante sentimento humano para chorar a ausência de um amigo morto; conversou mais detidamente apenas com alguns sofredores, entre os quais se destacaram pobres mulheres e crianças de lugarejos esquecidos e traçou os mais altos ensinamentos que regem a paz e a felicidade dos povos; viveu em lares singelos e continua inspirando, até agora, na literatura e na arte, as mais belas obras-primas da Humanidade; humilde, fez-se poderoso renovador de consciências; discutido, sobreleva-se, ainda hoje, pela bondade, a todos os sofismas dos incrédulos que o desafiam; perseguido pelo mal, triunfou e triunfa com o bem, esquecendo as afrontas e abençoando os inimigos; crucificado, venceu a morte e ressurgiu entre os homens, junto dos quais permanece, sempre e cada vez mais vivo, em espírito, como sendo de todos os reformadores da Terra o mais digno e o mais querido, o mais contestado e o mais invencível!…

Mensageiro do Pai, erguido à posição de Mestre Divino, consagrado à nossa educação para a vida eterna, amou-nos antes que o amássemos e tudo nos dá de si próprio, sem nada pedir-nos!…

É por isso que todos nós, ano a ano, somos induzidos, sem distinção de credo e raça, a cultivar o poder da fraternidade, uns diante dos outros, pelo menos um dia – O Dia de Natal -, transformando o mundo, por algumas horas, em Reino de Amor, prelibando as alegrias do Bem Eterno que nos governará de futuro, a repetir com as vozes milenárias dos anjos:

- “Glória Deus nas Alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens!…”

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido.Pelo Espírito Emmanuel. Antologia Mediúnica do Natal. Lição nº 80. FEB)

O olhar de Jesus

O olhar de Jesus

Recordemos o Olhar Compreensivo e Amoroso de Jesus, a fim de esquecermos a viciosa preocupação com o argueiro que, por vezes, aparece no campo visual dos nossos irmãos de experiência.

O Mestre Divino jamais se deteve na faixa escura dos companheiros de caminhada humana.

Em Bartimeu, o cego de Jericó, não encontra o homem inutilizado pelas trevas, mas sim o amigo que poderia tornar a ver, restituindo-lhe, desse modo, a visão que passa, de novo, a enriquecer-lhe a existência.

Em Maria de Magdala, não enxerga a mulher possuída pelos gênios da sombra, mas sim a irmã sofredora e, por esse motivo, restaura-lhe a dignidade própria, nela plasmando a beleza espiritual renovada que lhe transmitiria, mais tarde, a mensagem divina da ressurreição.

Em Zaqueu, não identifica o expoente da usura ou da apropriação indébita, e sim o missionário do progresso enganado pelos desvarios da posse e, por essa razão, devolve-lhe o raciocínio à administração sábia e justa.

Em Simão Pedro, no dia da negação, não se refere ao cooperador enfraquecido, mas sim ao aprendiz invigilante, a exigir-lhe compreensão e carinho, e por isso transforma-o, com o tempo, no baluarte seguro do Evangelho nascente, operoso e fiel até o martírio e a crucificação.

Em Judas, não surpreende o discípulo ingrato, mas sim o colaborador traído pela própria ilusão e, embora sabendo-o fascinado pelas honrarias terrestres, sacrifica-se, até o fim, aceitando a flagelação e a morte para doar-lhe o amor e o perdão que se estenderiam pelos séculos, soerguendo os vencidos e amparando a justiça das nações.

Busquemos algo do Olhar de Jesus para nossos olhos e a crítica será definitivamente banida do mundo de nossas consciências, porque, então teremos atingido o grande entendimento que nos fará discernir em cada companheiro do caminho, ainda mesmo quando nos mais inquietantes espinheiros do mal, um irmão nosso, necessitado, antes de tudo, de nosso auxílio e de nossa compaixão.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Viajor. Lição nº 08. Araras: IDE)

Consegues ir?

Consegues ir?

“Vinde a mim – Jesus. (Mateus, 11:28.)

O crente escuta o apelo do Mestre, anotando abençoadas consolações.

O doutrinador repete-o para comunicar vibrações de conforto espiritual aos ouvintes.

Todos ouvem as palavras do Cristo, as quais insistem para que a mente inquieta e o coração atormentado lhe procurem o regaço refrigerante…

Contudo, se é fácil ouvir e repetir o “vinde a mim” do Senhor, quão difícil é “ir para Ele”!

Aqui, as palavras do Mestre se derramam por vitalizante bálsamo, entretanto, os laços da conveniência imediatista são demasiado fortes; além, assinala-se o convite divino, entre promessas de renovação para a jornada redentora, todavia, o cárcere do desânimo isola o espírito, através de grades resistentes; acolá, o chamamento do Alto ameniza as penas da alma desiludida, mas é quase impraticável a libertação dos impedimentos constituídos por pessoas e coisas, situações e interesses individuais, aparentemente inadiáveis.

Jesus, o nosso Salvador, estende-nos os braços amoráveis e compassivos.

Com ele, a vida enriquecer-se-á de valores imperecíveis e à sombra dos seus ensinamentos celestes seguiremos, pelo trabalho santificante, na direção da Pátria Universal…

Todos os crentes registram-lhe o apelo consolador, mas raros se revelam suficientemente valorosos na fé para lhe buscarem a companhia.

Em suma, é muito doce escutar o “vinde a mim…"

Entretanto, para falar com verdade, já consegues ir?

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte viva. Cap. 5. FEB)

INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS SAGRADOS

INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS SAGRADOS

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” (I PEDRO, 1: 20)

Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Sua luz imperecível brilha sobre os milênios terrestres, como o Verbo do princípio, penetrando o mundo, há quase vinte séculos.

Lutas sanguinárias, guerras de extermínio, calamidades sociais não lhe modificaram um til nas palavras que se atualizam, cada vez mais, com a evolução multiforme da Terra. Tempestades de sangue e lágrimas nada mais fizeram que avivar-lhes a grandeza. Entretanto, sempre tardios no aproveitamento das oportunidades preciosas, muitas vezes, no curso das existências renovadas, temos desprezado o Caminho, indiferentes ante os patrimônios da Verdade e da Vida.

O Senhor, contudo, nunca nos deixou desamparados.

Cada dia, reforma os títulos de tolerância para com as nossas dívidas; todavia, é de nosso próprio interesse levantar o padrão da vontade, estabelecer disciplinas para uso pessoal e reeducar a nós mesmos, ao contacto do Mestre Divino. Ele é o Amigo Generoso, mas tantas vezes lhe olvidamos o conselho que somos suscetíveis de atingir obscuras zonas de adiamento indefinível de nossa iluminação interior para a vida eterna.

No propósito de valorizar o ensejo de serviço, organizamos este humilde trabalho interpretativo , sem qualquer pretensão a exegese. Concatenamos apenas modesto conjunto de páginas soltas destinadas a meditações comuns.

Muitos amigos estranhar-nos-ão talvez a atitude, isolando versículos e conferindo-¬lhes cor independente do capítulo evangélico a que pertencem. Em certas passagens, extraímos daí somente frases pequeninas, proporcionando-lhes fisionomia especial e, em determinadas circunstâncias, as nossas considerações desvaliosas parecem contrariar as disposições do capítulo em que se inspiram.

Assim procedemos, porém, ponderando que, num colar de pérolas, cada qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida. A lição do Mestre, além disso, não constitui tão somente um impositivo para os misteres da adoração. O Evangelho não se reduz a breviário para o genuflexório. É roteiro imprescindível para a legislação e administração, para o serviço e para a obediência. O Cristo não estabelece linhas divisórias entre o templo e a oficina. Toda a Terra é seu altar de oração e seu campo de trabalho, ao mesmo tempo. Por louvá-lo nas igrejas e menoscabá-lo nas ruas é que temos naufragado mil vezes, por nossa própria culpa. Todos os lugares, portanto, podem ser consagrados ao serviço divino.

Muitos discípulos, nas várias escolas cristãs, entregaram-se a perquirições teológicas, transformando os ensinos do Senhor em relíquia morta dos altares de pedra; no entanto, espera o Cristo venhamos todos a converter-lhe o evangelho de Amor e Sabedoria em companheiro da prece, em livro escolar no aprendizado de cada dia, em fonte inspiradora de nossas mais humildes ações no trabalho comum e em código de boas maneiras no intercâmbio fraternal.

Embora esclareça nossos singelos objetivos, noto, antecipadamente, ampla perplexidade nesse ou naquele grupo de crentes.

Que fazer? Temos imensas distâncias a vencer no Caminho, para adquirir a Verdade e a Vida na significação integral.

Compreendemos o respeito devido ao Cristo, mas, pela própria exemplificação do Mestre, sabemos que o labor do aprendiz fiel constitui-se de adoração e trabalho, de oração e esforço próprio.

Quanto ao mais, consola-nos reconhecer que os Textos Sagrados são dádivas do Pai a todos os seus filhos e, por isso mesmo, aqui nos reportamos às palavras sábias de Simão Pedro: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.”

Emmanuel

Pedro Leopoldo, 2 de setembro de 1948.

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Caminho, verdade e vida. Cap. Interpretação dos textos sagrados. FEB).

PRÁTICA DO BEM

PRÁTICA DO BEM

 

“Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos.” (I PEDRO, 2: 15)

 

À medida que o espírito avulta em conhecimento, mais compreende o valor do tempo e das oportunidades que a vida maior lhe proporciona, reconhecendo, por fim, a imprudência de gastar recursos preciosos em discussões estéreis e caprichosas.

O apóstolo Pedro recomenda seja lembrado que é da vontade de Deus se faça o bem, impondo silêncio à ignorância e à loucura dos homens.

Uma contenda pode perdurar por muitos anos, com graves desastres para as forças em litígio; todavia, basta uma expressão de renúncia para que a concórdia se estabeleça num dia.

No serviço divino, é aconselhável não disputar, a não ser quando o esclarecimento e a energia traduzem caridade.

Nesse caminho, a prática do bem é a bússola do ensino.

Antecedendo qualquer disputa, convém dar algo de nós mesmos. Isso é útil e convincente.

O bem mais humilde, é semente sagrada.

Convocado a discutir, Jesus imolou-¬se.

Por se haver transformado ele próprio em divina luz, dominou-¬nos a treva da ignorância humana.

Não parlamentou conosco.

Ao invés disso, converteu-¬nos.

Não reclamou compreensão.

Entendeu a nossa loucura, localizou-¬nos a cegueira e amparou-¬nos ainda mais.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Caminho, verdade e vida. Cap. 60. FEB)