Defesa e valorização da vida

Defesa e valorização da vida

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O cenário mundial e especificamente de nosso país assinala a ocorrência de uma tragédia em andamento de grande vulto.

Um vírus tem solapado milhões de vidas em todo o planeta e compromete de forma extremamente alarmante o Brasil, que se avizinha de um caos sanitário. Esse momento exige alto grau de conscientização e de responsabilidade não apenas em nível de autoridades, mas de toda a população.

Os temas de esclarecimento sobre o valor da vida corpórea precisam ser abordados no meio espírita e procurando espraiar essas informações para as comunidades onde as instituições espíritas estão inseridas e mantém contatos, inclusive pelas redes sociais. A certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de aprimoramento é de fundamental importância para a melhor compreensão dos valores e da oportunidade da vida corpórea. Para suas experiências de crescimento e evolução espiritual o espírito precisa do corpo material.

Num ambiente tão complexo provocado pela prolongada pandemia, há que se pensar na saúde do corpo e na interação com a mente, lembrando que somos espíritos imortais. Em realidade saúde demanda o bem estar corpóreo, mental, social e espiritual.

É cabível o velho conceito romano “mente sã em corpo são” (“mens sana in corpore sano”), que prossegue atual. Contemporâneo do auge do império romano, o apóstolo Paulo anotou em sua 1ª Epístola aos Coríntios (6,20): “Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.”1

Em O livro dos espíritos já se definia: “Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? – O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal” (questão 880).

A certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de educação favorece a compreensão da oportunidade da vida corpórea e do cultivo dos valores espirituais. A vasta literatura advinda com a psicografia de Chico Xavier é extremamente rica de esclarecimentos. O espírito André Luiz define com clareza o valor da vida corpórea e que podem ser sintetizados em dois comentários: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne” (livro Conduta Espírita, Cap. 34.); “[…] temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim” (livro Missionários da Luz, cap. 12).1

A partir dessas fundamentações cristãs e espíritas, torna-se interessante considerarmos o que representa o Espírito nos contextos íntimo e social; o equilíbrio entre corpo/espírito e melhores condições de vida. Esta última também inclui, evidentemente, o respeito com o corpo físico e a valorização da vida corpórea. Aí se inserem as medidas preventivas para se evitar quaisquer formas de interrupção da vida, incluindo o suicídio (direto e indireto), as enfermidades e também aquelas que favoreçam o diagnóstico precoce de doenças, evitando-se que elas sejam reconhecidas apenas em situações tardias e danosas.

Há poucos anos foi relançado o livro Em louvor à vida, que elaboramos em parceria com Divaldo Pereira Franco, com base em textos espirituais de autoria de nosso tio Lourival Perri Chefaly.2 Eis um trecho genérico desse livro: “Saúde e doença – binômio do corpo e da mente – são conquistas do ser, que deve aprender e optar por aquela que melhor condiz com as aspirações evolutivas, desde que a harmonia ideal será alcançada, através do respeito à primeira ou mediante a vigência da segunda.” 2

Essa citação serve de reflexão para os esforços e desafios que devemos enfrentar no contexto psíquico e espiritual que se vive atualmente com a pandemia. É sabido que distúrbios de comportamento e até propensão ao suicídio podem encontrar campo fértil em situações prolongadas de distanciamento social, de medos e da proliferação de mortes. Torna-se oportuno um comentário do citado livro, mais específico e aplicável ao contexto atual: “… a estruturação do comportamento nas seguras condutas do amor, do otimismo, da prece e da meditação salutar, da ação do bem, desenvolvendo anticorpos mentais que defenderão o organismo da ação dissolvente e destruidora dos raios mortíferos do desequilíbrio…” 2

Isso posto, é necessário enfatizar-se que com base em décadas de pesquisas, observações científicas e experiências vividas em muitos países, torna-se indispensável colocar-se em prática as orientações emanadas da saúde pública. Em casos de epidemias e de pandemias, são indispensáveis a aplicação de vacinas (grande conquista científica), o distanciamento social e os cuidados preventivos de higiene, incluindo-se aí o emprego de máscaras.1

E, sem dúvida, o cultivo das vibrações positivas e o cultivo da oração se interage com o esforço para o equilíbrio do corpo e do espírito.

O mundo espiritual sempre deixou claro que os encarnados devem zelar pelo organismo físico, valorizando-se a vida corpórea e a espiritual, pois somos espíritos imortais.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Riscos à vida e ambiente de luto. Acesso em: http://grupochicoxavier.com.br/riscos-a-vida-e-ambiente-de-luto/

2) Franco, Divaldo Pereira; Chefaly, Lourival Perri; Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Em louvor à vida. 2.ed. Cap. Câncer e conduta moral. Salvador: LEAL. 2017. p.52.

(*) Professor Titular de Odontologia, aposentado; ex-presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.

Riscos à vida e ambiente de luto

Riscos à vida e ambiente de luto

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A pandemia provocada pelo Covid-19 está afetando profundamente todo o mundo. Como o tempo de disseminação poderá se prolongar por um tempo não muito definido, não se pode prever a completa extensão de suas repercussões. Acontecem grandes crises sanitárias, econômicas, sociais e familiares.

Em nosso país, dirigentes dos Estados apontam para a extensão do cenário que as autoridades da saúde chamam de tragédia sanitária. Para se ter uma ideia de volume, o número de mortes diárias pelo coronavírus no país (em meados de março de 2021) é comparável à queda de 10 a 12 jatos, por dia, dos modelos Boeing 737 ou Airbus 320 lotados de passageiros!

Apesar da gravidade, parte da população e algumas autoridades permanecem falando e agindo com indiferença, num flagrante desrespeito às pessoas, ao coletivo e à dor alheia.

Os temores de contágio, os riscos e a ocorrência de mortes próximas às pessoas, criam um ambiente extremamente complexo e somado ao fato do longo distanciamento social, pode-se dizer que se vive um ambiente de luto em larga escala. Sim, de luto, porque há privações, temores inúmeros e várias expressões de dor.

Falta um ambiente geral que estimule apoio, solidariedade e confiança. Esse cenário cria reações de desencanto porque quadros de realidades complexas estão sendo descortinados, sem rodeios e máscaras; há uma certa desilusão, que conspira com a situação da tão almejada tranquilidade e felicidade.

Nesse contexto, buscamos rápidos subsídios na literatura espírita. Historicamente, há marcante registro feito por Allan Kardec, na Revista espírita, edição de novembro de 1865, quando analisa a epidemia do cólera em países da Europa. Transcreve mensagem médico desencarnado dr. Demeure:

“O melhor preservativo consiste nas precauções de higiene sabiamente recomendadas em todas as instruções dadas a respeito; estão acima de toda limpeza, o afastamento de toda causa de insalubridade e focos de infecção, a abstenção de todo excesso. […] o medo é pior que o mal. […] A confiança em si e em Deus é, em tais circunstâncias, o primeiro elemento da saúde.” 1

Em palavreado da época o antigo médico Demeure utiliza pressupostos que são válidos até nossos dias, desde os cuidados materiais de precaução, ou seja, obediência às orientações da Saúde Pública, com base na Ciência, e a manutenção de espírito confiante e pró-ativo no sentido de cooperação com a preservação da saúde. Há muitas décadas, a saúde pública tem experiência em nível mundial e recomenda nos casos de epidemia e de pandemia, a vacinação, o distanciamento social e a utilização de máscaras.

Desde alertas de Paulo de Tarso: “Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (Paulo, I Cor. 6, 20), às judiciosas análises nas Obras Básicas da Codificação Espírita, entendemos como claríssimos os compromissos que temos com a vida em geral e, especificamente, com nosso organismo. André Luiz reforça de maneira explícita: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne”.2

Afinal de contas, deve-se evitar eventuais situações de “suicida indireto” e de favorecimento à morte do próximo… A leitura da série de obras do espírito André Luiz, a partir de Nosso lar, suscita inúmeras reflexões. As considerações espíritas devem ser lembradas e ficarem bem marcadas nas ações nessa época de pandemia: de valorização da vida corpórea e de respeito ao próximo como a si mesmo.

Por mais que sejam penosas as restrições impostas para o contexto atual de tragédia, a preservação da saúde e da vida corpórea é condição prioritária e indispensável, antes da economia. Essa não sobrevive num mundo de baixas coletivas, de mortes, e de danos sérios à saúde.

Em nossos dias torna-se indispensável o reforço do pensamento cristão e espírita, fortemente humanitário. Nessas reflexões encontramos consolo, esclarecimento e orientação para os impasses e os novos caminhos.

Entre muitos registros espirituais, destacamos oportunas considerações de Emmanuel:

“Nos dias que consideres amargos pela dor que te apresentem, aceita o remédio invisível dos contratempos que a vida te impõe. E seguindo adiante, trabalhando e servindo, auxiliando e aprendendo, a breve trecho de espaço e tempo, reconhecerás que desapontamento em nós é cuidado de Deus.”3

Em palestras virtuais temos abordado esses temas destacando a visão espírita sobre a vida.Há necessidade de uma ampla conscientização da população.

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. O espiritismo e o cólera. Novembro de 1865. São Paulo: EDICEL. p.330.

2) Vieira, Waldo. Pelo espírito André Luiz. Conduta espírita. Capítulo 34. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano. Na hora do testemunho. Cap. Desapontamento. São Paulo: Paideia.

4) Palestras virtuais para: Instituto Vida (DF), copie e cole: https://www.facebook.com/photo?fbid=3905244642844381&set=a.210630825639133;

REMA (DF), copie e cole: https://www.youtube.com/watch?v=n9otVZ-nxrI&list=PLVHegu-hKJEnKL3pYTSdlpVmPOyGGFkUV;

(*) Professor Titular de Odontologia, aposentado; foi presidente da USE-SP e da FEB.

Benedita Fernandes: superações e empreendimento no bem

Benedita Fernandes: superações e empreendimento no bem

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*) 

Há 89 anos, 6 de março de 1932, era fundada em Araçatuba a Associação das Senhoras Cristãs por uma lavadeira e descendente de escravos libertos, Benedita Fernandes, iniciando o atendimento a crianças órfãs e abandonadas e a doentes mentais.

Anos antes, Benedita foi curada de uma terrível obsessão, por dois espíritas da vizinha cidade de Penápolis.

A Associação das Senhoras Cristãs desenvolveu-se dinamicamente no final da década de 1930 e passou a contar com o Asilo Doutor Jaime de Oliveira (para doentes mentais), Casa da Criança, Albergue Noturno e classe municipal para o ensino formal.

Quando elaborávamos a biografia de Benedita Fernandes, origem de nosso livro Benedita Fernandes. A dama da caridade, entrevistamos cidadãos da cidade e de outras localidades que tiveram contatos com ela, incluindo parentes nossos.

A inspiração para nosso livro intitulando-a de “Dama da Caridade” surgiu ao lermos na nossa juventude alusão à ela no texto “Num domingo de calor”, psicografado por Chico Xavier em 1963, incluindo-a num relato sobre "uma reunião de damas consagradas à caridade".

As informações sobre Benedita e a Associação, nos chegavam desde nossa infância e juventude, mas nossa relação com a Associação iniciou-se em 1972, estabelecendo com a então dirigente Cordélia Thiers uma reaproximação e atividades conjuntas com o movimento espírita. Os episódios culminaram em março de 1982 no Jubileu de Ouro da Associação com a realização da “Semana Benedita Fernandes”, pela União Municipal Espírita de Araçatuba com palestras, bolo comemorativo, entrega de painel sobre a homenageada para o Museu Histórico da cidade e o lançamento da primeira edição de nosso livro. O prefeito dr. Cotrim prestigiou o evento com sua presença e saudação.

Os exemplos de Benedita Fernandes permanecem em muitos corações.

Sua obra material alterou-se em função de regulamentações governamentais sobre saúde mental, e gerou os CAPS – Centro de Apoio Psicossocial, e um deles com o nome dela e com o apoio de voluntários da Associação das Senhoras Cristãs Benedita Fernandes.

Benedita é um marco de superação de fatores complicados para a época dela: gênero, cor e faixa social.

Nos mesmos dias que se comemora o “dia internacional da mulher” (8 de março), consideramos Benedita Fernandes, sem dúvida, é um exemplo de mulher corajosa e empreendedora no campo do bem!

(*) O autor foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da Federação Espírita Brasileira e da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo.

Extraído de: Folha da Região, Araçatuba, 03/03/2021, p.2

Temas da RIE sugerem novos desafios para o presente e futuro

Temas da RIE sugerem novos desafios para o presente e futuro

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Com artigos de cunho doutrinário, contando com diversidade de autores, sempre mantendo a tradição iniciada pelo pioneiro Cairbar Schutel há 96 anos, a Revista Internacional de Espiritismo é uma referência marcante.

Sem prejuízo ao valor das várias matérias, no exemplar de fevereiro de 2021 há alguns enfoques sobre questões do momento que merecem atenção.

No Editorial alusivo aos 96 nos da RIE comenta-se sobre a facilidade e celeridade da comunicação em nossos dias, mas alerta sobre o “fenômeno perigoso das fake news”, e destaca que “as notícias falsas, distorcidas, perigosamente exageradas, sempre existiram. Mas nunca se difundiram de forma tão célere”. É feito um apelo para a valorização de fontes confiáveis e tradicionais de informação, “valorizando-se os esforços sinceros e comprometidos verdadeiramente com o Espiritismo”, “a divulgação correta dos princípios espíritas”.

No artigo do jornalista Cássio Leonardo Carrara “O perigo da fascinação”, destacamos a preocupação para se “estar atento para não se submeter às ilusões efêmeras do momento, digamos, de glória que por ora experimenta”. Após essa consideração geral, focaliza mais especificamente o cuidado com a prática da mediunidade: “é muito fácil ser alçado ao patamar de mestre influente ou mentor respeitado por ‘seguidores’ imprudentes e inocentes…” E surge importante recomendação: “Jamais o médium deve permitir que o vangloriem, nem sequer exigir da instituição e dos companheiros de trabalho uma posição destacada”. Essas questões ligadas à proliferação de fake news e uma certa idolatria e a criação de “seguidores imprudentes e inocentes” se interrelacionam e encontram campo propício para proliferação nos complexos momentos que se vive, de distanciamento social na fase da pandemia, e, naturalmente, favorecendo carências, dúvidas, e incessantes buscas de informações e de apoios nas redes de internet.

No mesmo número da RIE há entrevista com Alberto Almeida com foco no “caos de hoje”: “As ocorrências naturais, ensejando períodos de crise, são recursos da Providência Divina para que o homem possa rever-se, buscando novos princípios e valores”. O entrevistado analisa que “o estado de confinamento naturalmente excita o ser humano que não estava habituado a estabelecer relações mais íntimas duradouramente…”; “É habitual que os seres humanos busquem o inusitado, o maravilhoso, o sobrenatural quando estão mobilizados de forma intensamente emocional, […] é natural nessas ocorrências as pessoas busquem não explicações convincentes, mas também soluções mágicas”. Ao final, Alberto Almeida valoriza o esforço “de celebrar a vitória do bem sobre o mal dentro de nós mesmos” e considera “o Espiritismo é uma das alavancas nesse progresso universal inevitável pelo qual a Terra passa”.

Ao se folhear a RIE podem ser acessadas outras matérias relacionadas com esses enfoques.

O artigo “Os falsos profetas do mundo espiritual”, de João Paulo Coelho Neto, se respalda nas obras de Kardec para identificação do “aparente perigo” dos pseudossábios, e, sem dúvida, tem relação com os assuntos das matérias já citadas.

A lembrança sobre os 160 anos de O livro dos médiuns valoriza a obra que Kardec considerou como o “guia dos médiuns”; há textos sobre angústia existencial e sobre a relação da criança com a internet. Aliás, o ensino virtual, ferramenta incrementada em tempos de pandemia, amplia sobremaneira a vinculação de crianças e jovens com os meios digitais.

No contexto social e midiático especula-se sobre o chamado “novo normal”, o mundo pós-pandemia, mas, cremos que no movimento espírita deve-se discutir e pensar as repercussões sobre as atividades espíritas.

Deverão ocorrer transformações e é imperioso se pensar nos eventuais novos cenários e suas necessidades; são novos desafios para o presente e para o futuro!

Fonte:

Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.1. Fevereiro de 2021.

Acesso digital (copie e cole): https://assinaturas.oclarim.com.br/revistas/rie-fevereiro-2021/

(*) Colaborador da RIE há 50 anos; ex-presidente da FEB e da USE-SP.

Há 160 anos, as informações iniciais sobre O Livro dos Médiuns

Há 160 anos, as informações iniciais sobre O Livro dos Médiuns (*)

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Com a propagação da obra pioneira – O livro dos espíritos -, da circulação da Revista espírita e das repercussões do funcionamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, surgiam muitas dúvidas e indagações sobre a prática da mediunidade.

Como consequência natural Allan Kardec passa a se dedicar ao assunto com base em seus estudos, observações práticas e as orientações advindas da Espiritualidade. Fruto desse trabalho teórico e prático surge a segunda grande obra de Allan Kardec – O livro dos médiuns – que completa 160 anos de publicação.

De início, destacamos o subtítulo: “guia dos médiuns e dos evocadores”.

Torna-se interessante observarmos as anotações sobre o novo livro, publicadas em Revista espírita, periódico mensal administrado pelo Codificador, durante o primeiro ano de edição de O livro dos médiuns. O episódio histórico surge desde a edição inicial daquele ano (Revista espírita, jan./1861) com a informação sobre o lançamento:

“Há muito tempo anunciada, mas com a publicação foi retardada por força de sua própria importância, esta obra aparecerá de 5 a 10 de janeiro, na cada dos Srs. Didier & Cia., livreiros editores […]. Ela constitui o complemento de O Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este último contém a parte filosófica. Nesse trabalho, fruto de longa experiência e de estudos laboriosos, procuramos esclarecer todas as questões que se ligam à prática das manifestações. De acordo com os Espíritos, contém a explicação teórica dos diversos fenômenos e das condições que os mesmos se podem reproduzir. Mas a seção concernente ao desenvolvimento e ao exercício da mediunidade foi de nossa parte objeto de particular atenção.“

Na edição do mês de novembro 1861, essa Revista informa sobre o “Auto de fé das obras espíritas em Barcelona”, ocorrido no dia 9 de outubro. Estampa notícia sobre a segunda edição de O livro dos médiuns:

“A primeira edição de O Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses, o que não é um dos traços menos característicos do progresso das idéias espíritas. Nós mesmos constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que esta obra exerceu sobre a direção dos estudos Espíritas práticos: assim, as decepções e as mistificações são muito menos numerosas do que outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda edição é muito mais completa que a precedente: encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, as contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, a formação das reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo, recebeu desenvolvimento muito notáveis. No capítulo das dissertações espíritas, adicionamos várias comunicações apócrifas, acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores, que se apresentam com falsos nomes. Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa. Recomendamos com instância esta nova edição, como guia o mais completo, que para os médiuns, quer para os simples observadores. E podemos afirmar que, seguindo-a pontualmente, evitar-se-ão os escolhos tão numerosos, contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes.”

Em dezembro de 1861, a Revista espírita traz o comentário do Codificador:

“É, pois, chegado o momento de nos ocuparmos do que se pode chamar a organização do Espiritismo. Sobre a formação das sociedades espíritas, O Livro dos Médiuns (2ª edição) contém, observações importantes, às quais remetemos os interessados, pedindo-lhes meditem com cuidado.”

Em nossos tempos, 160 anos após o lançamento de O livro dos médiuns, é imprescindível o estímulo à leitura e ao estudo dessa obra nas instituições espíritas. Estão válidas as recomendações de Kardec nesse “guia” para os médiuns!

Fonte: Kardec. Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Ano 4. 1861. São Paulo: EDICEL.

(*) Texto resumido de artigo do autor, publicado em: Revista internacional de espiritismo. Fevereiro de 2021. Ano XCVI. N. 1. p. 14-15.

Herculano Pires interpreta Kardec e Emmanuel

Herculano Pires interpreta Kardec e Emmanuel

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O intelectual José Herculano Pires (1914-1979) marcou época no movimento espírita. Era filósofo pela USP; articulista do Diário de São Paulo com o pseudônimo de Irmão Saulo. Em São Paulo, fundou com a esposa Virgínia fundou o Grupo Espírita Cairbar Schutel.

Vigoroso estudioso e propagador das obras do Codificador, palestrante, debatedor sobre Parapsicologia em programas de TV e um dos entrevistadores de Chico Xavier no programa “Pinga Fogo” na antiga TV Tupi de São Paulo. Autor de dezenas de livros, atualmente publicados pela Editoria Paidéia: Lázaro, Madalena, O espírito e o tempo, O reino, O ser e a serenidade, Revisão do cristianismo, Agonia das religiões, Parapsicologia – hoje e amanhã, Na hora do testemunho, Ciência espírita e suas implicações terapêuticas e outros; publicação póstuma recente: O evangelho de Jesus em espírito e verdade. Editados pelo GEEM, há obras em parceria com Chico Xavier, com comentários sobre psicografias do médium: Chico Xavier pede licença, Diálogos dos vivos, Na era do espírito e Astronautas do além.

Para o autor, "O espiritismo se confirma, ao contrário do que dizem os seus adversários, nas próprias palavras e nos próprios ensinos dos evangelhos". Sobre algumas posturas no movimento espírita, pondera: "O que nos deve interessar não é nosso opinião nisso ou naquilo, mas sim a firmeza com que pudermos seguir os princípios da doutrina espírita. E esses princípios estão firmados, como nós sabemos na codificação de Allan Kardec. E estes princípios, por sua vez, têm a sua base mais profunda, as suas raízes mais penetrantes nos próprios evangelhos de Jesus."1,2

Na obra O ser e a serenidade, oriunda da conclusão do curso de filosofia na USP, Herculano analisa as filosofias da existência, traz o Existencialismo às suas perspectivas espirituais e trabalha a problemática ontológica-existencial e abre uma frente de batalha, a do Existencialismo Interexistencial. Considera que “a manifestação da consciência por meio de um arcabouço fenomênico, o corpo, só configura um dos momentos existenciais da consciência, pois ela existe antes, durante e depois do corpo”. Propõe o termo interexistencial, por representar de forma mais efetiva a realidade do ser.3

Na obra marcante O espírito e o tempo analisa a fase pré-histórica e histórica da criação, aborda o tríplice aspecto da Doutrina Espírita e a prática mediúnica. Considera que o Espiritismo é uma doutrina do futuro: “À maneira do Cristianismo, abre caminho no mundo, enfrentando a incompreensão de adeptos e não-adeptos”. Alerta que muitos “não compreenderão a aparente contradição existente no fato de ser o Espiritismo, ao mesmo tempo, uma doutrina moderna e um processo histórico provindo das eras mais remotas da humanidade. Existe ainda o problema religioso e, particularmente, o das ligações do Espiritismo com o Cristianismo.[…] Nesse livro comenta: “O horizonte tribal caracteriza-se pelo mediunismo primitivo. Adotamos a palavra ‘mediunismo’, criada por Emmanuel para designar a mediunidade em sua expressão natural, pois é evidente que ela corresponde com precisão ao nosso objetivo. Mediunismo são as práticas empíricas da mediunidade. […] Quando tratamos da libertação das forças vitais do Cristianismo, através do Espiritismo, não estamos inventando nenhuma novidade. Nem foi por outro motivo que Emmanuel classificou o Espiritismo de Renascença Cristã”.4

Herculano destaca: “Somente no Espiritismo, — no sentido que Kardec deu ao termo, por ele criado e posto em circulação — encontramos essa unidade tríplice do saber, em que ciência, filosofia e religião, embora mantendo cada qual a sua autonomia, se fundem num todo dinâmico, em que livremente se processa a simbiose, necessária à produção da síntese. […] Nenhuma explicação nos parece mais feliz, mais precisa e mais didática, do que a formulada pelo espírito de Emmanuel, no livro O consolador, recebido mediunicamente por Francisco Cândido Xavier. Interpelado a respeito do aspecto tríplice da doutrina, o espírito respondeu nestes termos: ‘Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado desse modo, como um triângulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam à terra essa figura simbólica, porém, a religião é o ângulo divino, que a liga ao céu. No seu aspecto científico e filosófico, a doutrina será sempre um campo de investigações humanas, como outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que visam ao aperfeiçoamento da humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual’."4

Herculano enfatiza que “Espiritismo é Kardec porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade.” A propósito das obras subsidiárias, opina: “[…] autores respeitáveis dão sua contribuição para a nossa maior compreensão de Kardec. Não podem substituí-lo.”4

Em obras em parceria com Chico Xavier editadas pelo GEEM, acima citadas, trabalha o sentido da mensagem mediúnica.5

Temas sobre o Evangelho aparecem em várias obras, e, na edição póstuma O evangelho de Jesus em espírito e verdade, originado de degravações de cem programas radiofônicos sobre o Evangelho – "No Limiar do Amanhã" (Rádio Mulher, São Paulo, anos 1970). Herculano trabalha a essência da mensagem de Jesus com simplicidade, pois eram programas destinados ao público em geral.1,2

A obra Na hora do testemunho registra um fato histórico na literatura espírita, quando Herculano Pires em parceria com Chico Xavier, focalizam o episódio da adulteração de O Evangelho segundo o Espiritismo e documentam suas posições de defesa da obra de Kardec e contrários às tentativas de adulteração.6

Herculano realça a base do cristianismo e destaca o papel atual do Espiritismo: “[…] desenvolvimento natural do Cristianismo, sequência inevitável do processo histórico, enfrentando o problema da salvação em termos de evolução, e procurando explicar as alegorias do passado à luz da compreensão racional.”2,4

Bibliografia:

1) Pires, José Herculano. Org. Arribas, Célia. O evangelho de Jesus em espírito e verdade. 1.ed. São Paulo: Paidéia. 2016.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais. Análise histórica e visão espírita. 1.ed. Matão: O Clarim, 2018.

3) Pires, José Herculano. O ser e a serenidade. Ensaio de ontologia interexistencial. 4.ed. São Paulo; Paidéia.

4) Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1.ed. São Paulo: Ed. Pensamento. 1964.

5) Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano; Espíritos diversos. Diálogo dos vivos. 1.ed. São Bernardo do Campo: GEEM. 1974.

6) Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano. Na hora do testemunho. 1.ed. São Paulo: Paidéia. 1974.

(*) Síntese de artigo do autor publicado em: Revista internacional de espiritismo. Ano XCV. N.11. Dezembro de 2020. P.561-563.

Reminiscências do centro de São Paulo

Reminiscências do centro de São Paulo

         

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O centro antigo da cidade de São Paulo sempre está presente em nossas reminiscências. Na realidade, são referentes a três momentos distintos de residência na capital paulista.

Na primeira etapa, durante a infância, recordamo-nos das tradicionais lojas de departamentos e das lanchonetes, estas então de chineses, que preparavam pasteis e pequenas pizzas; do café de máquina e do sorvete italianos que estavam surgindo na cidade. Lembramo-nos também que naquela época os homens que trabalhavam no centro da cidade utilizavam ternos e, muitas vezes, chapéu e alguns a gravata tipo "borboleta".

Numa segunda etapa de residência em São Paulo, vindo interior paulista, exercemos ações de gestão acadêmica junto à Reitoria da UNESP, na época situada na Praça da Sé, em tradicional prédio em estilo francês. As badaladas do carrilhão da Catedral da Sé ficaram marcados em nossa memória. 

Ao mesmo tempo lembrávamos sempre que a poucos metros dali situa-se o histórico Pátio do Colégio, onde Manuel da Nóbrega (o nosso Emmanuel), fundou a cidade).1

No trajeto para aquele trabalho, muitas vezes deixávamos a esposa Célia no histórico prédio Caetano de Campos, onde ela exercia função administrativa junto ao Conselho Estadual de Educação, defronte à Praça da República. Naturalmente, muitas vezes lembrávamos que naquela praça foi morto, durante o início da Revolução Constitucionalista, o estudante Euclides Miragaia, que era cunhado de um tio-avô nosso.

Nos encargos de Pró-Reitor contamos com alguns assessores que também eram espíritas: Mário da Costa Barbosa, nos últimos meses de sua existência, e, dos colegas Miguel Carlos Madeira (de Araçatuba) e Arif Cais (de São José do Rio Preto).

Concomitantemente ocupávamos cargos de direção na USE-SP. Na sede da Reitoria da UNESP, muitas vezes recebíamos a visita de lideranças espíritas e em função dos diálogos, vinham à tona também informações sobre momentos do passado ligados à região.

No século XIX, naquele tradicional centro paulistano, atuou o então estudante de Direito da Faculdade do Largo de São Francisco (atual USP), Bittencourt Sampaio, época em que escreveu letras que foram musicadas pelo seu amigo Carlos Gomes.2 Logo depois, por ali trabalhou o pioneiro espírita Batuíra, como profissional e instalou a poucos metros o seu teatro popular.3 As obras espíritas pioneiras de Batuíra ficavam num bairro vizinho e próximo ao centro da cidade.

Nas cercanias da Praça da Sé havia trabalhado o médico e ex-presidente da USE-SP Luiz Monteiro de Barros; do outro lado da Praça, Nestor João Masotti se aposentava da Secretaria da Fazenda, e, nossa companheira da USE, Marília de Castro, tinha escritório de advocacia. Certa feita recebemos a visita honrosa do deputado federal e militante espírita Freitas Nobre, com quem tínhamos amizade, e que mantinha escritório na vizinhança.

No período em que residimos em Brasília, retornamos inúmeras vezes a São Paulo em tarefas profissionais e espíritas.

Essa mescla de ações, evocações e lembranças, veio à tona na nossa saudação de agradecimento na solenidade em que recebemos a “Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo”, na Câmara de Vereadores de São Paulo, no ano de 2004.4

Na condição de diretor da FEB a representamos em três oportunidades em eventos públicos em defesa da vida (2007 a 2009), efetivados em grande mobilização na Praça da Sé, com a liderança de Marília de Castro. Também comparecemos na sede da OAB.

Como presidente da FEB, comparecemos na Livraria do Centro Espírita União, localizada ao lado da Praça da Sé, para o lançamento com a esposa Célia, de livro por nós organizado. Estava presente o casal de dirigentes Nena e Francisco Galves, antigos anfitriões de Chico Xavier, e amigos nossos.

Surge a terceira e atual etapa de vivência na capital paulista, com afazeres espíritas deslocados para outros bairros.

E retornamos ao auditório da Câmara de Vereadores de São Paulo, vizinha ao centro antigo, para recebermos um Diploma na Solenidade “Espíritas por um Mundo Melhor”. Na oportunidade, em 2018, fizemos uso da palavra enaltecendo o trabalho dos seareiros espíritas paulistas de todos os tempos.5

As lembranças dos momentos agradáveis e frutíferos vividos no centro antigo de São Paulo estão sempre vivas. Agora, em realidade, há várias regiões da cidade que se caracterizam como centros. A Metrópole ficou multicêntrica.

Fontes:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020. 208p.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Prefácio. In: Aragão, Silvan (Org.) Bittencourt Sampaio. Nebulosa radiante. Aracaju: FEES. 2016. 70p.

3) Monteiro, Eduardo Carvalho. Batuíra. Verdade e luz. São Paulo: CCDPE. 2021. 160p.

4) Gobbi, Ismael. Cesar Perri é homenageado pela Câmara de São Paulo. Revista internacional de espiritismo. Ano LXXIX. N.5. Junho de 2004. P.269.

5) Página eletrônica: http://www.camara.sp.gov.br/blog/entidades-espiritas-ganham-homenagens-por-boas-iniciativas/#.WuKImOk9Nsk.facebook

 

Araçatubenses criaram Grupo em homenagem a Chico Xavier

Araçatubenses criaram Grupo em homenagem a Chico Xavier

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier (GEECX) surgiu em função de ações de araçatubenses, fundado aos 29/03/2015, em Brasília (DF), na residência do casal Célia e Cesar Perri, na época naquela cidade, com participação dos filhos Flávio e Daniel, e de convidados que foram colaboradores dos anfitriões durante as atividades que eram empreendidas na Federação Espírita Brasileira.

Integrado por companheiros egressos do antigo Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho (NEPE da FEB), que foi extinto; e por outros que se agregaram, tendo como ponto em comum o interesse no estudo do Evangelho à luz do Espiritismo.

Esse Grupo objetiva promover o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo, com base nas obras de Allan Kardec, e priorizar o estudo do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita, com ênfase às obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier; não visa manter as atividades típicas de um centro espírita e os participantes manterão vínculos com suas instituições de origem; fomentar atividades de compartilhamento de estudos e informações, com a consequente criação de uma rede (virtual e física) de interessados no estudo e compreensão de textos relacionados ao Evangelho de Jesus à luz do Espiritismo; estimular a publicação de material decorrente desses estudos e pesquisas, utilizando-se dos mais diversos veículos de comunicação e divulgação (livros, CD’s, DVD’s, internet, webTV, webRádio, e outros).

Inicialmente o GEECX manteve durante três anos reunião de estudos semanais na sede do Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Estêvão, com apoio da Sociedade Divulgadora do Espiritismo Cristão – SODEC, em Brasília. Desde o início empregou as redes sociais.

No ano de 2018 passou a ter atuação presencial em São Paulo junto ao Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Espírita Eduardo Carvalho Monteiro. Com a pandemia, transformou-se em reuniões virtuais. Mantém página eletrônica, com farto subsídio para o estudo do Evangelho; página no Facebook e informativo digital semanal; integrantes do GEECX mantiveram programas semanais de estudo sobre O evangelho segundo o espiritismo pela web rádio Fraternidade (de Uberlândia), pela TV Mundo Maior, de Guarulhos, e, pela web TV Rádio Brasil Espírita, de Maceió.

Na fase da pandemia, integrantes do Grupo têm desenvolvido palestras virtuais para instituições do país e para o exterior. O boletim semanal é publicado pelo informativo digital “Notícias Espíritas”, coordenado pelo araçatubense Ismael Gobbo. O GEECX mantém várias parcerias, inclusive com a Estação Dama da Caridade Benedita Fernandes. Relacionados com estudos do GEECX surgiram livros de autoria de Cesar Perri, com análises do Novo Testamento na ótica espírita, estímulo ao estudo e prática nos centros e no movimento espírita: Epístolas de Paulo à luz do espiritismo (O Clarim, 2016); Centro espírita. Prática espírita e cristã (USE-SP, 2016); Cristianismo nos séculos iniciais. Aspectos históricos e visão espírita (O Clarim, 2018); Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões (EME/USE-SP, 2019); Emmanuel. Trajetória espiritual e ação com Chico Xavier (O Clarim, 2020).

O GEECX atua voltado a estudos e difusão relacionados com o Evangelho à luz do Espiritismo.

Informações – Página eletrônica: www.grupochicoxavier.com.br

(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB.

(Transcrito do jornal Folha da Região, Araçatuba, 12/01/2021, Caderno A6)

Pedro e Paulo

Pedro e Paulo

André Ricardo de Souza (1)

Simão Pedro, como bem sabemos, foi o líder dos apóstolos – assim designado pelo Nosso Senhor Jesus Cristo – tendo ele se redimido da negação do mestre divino após a crucificação e conduzido a primeira comunidade cristã, retratada no livro bíblico Atos dos Apóstolos e na obra do espírito Emmanuel Paulo e Estêvão, psicografada por Francisco Cândido Xavier.

Nesse livro, tal comunidade é chamada de Casa do Caminho. Paulo Tarso, notoriamente, foi o convertido de Damasco, conforme as duas obras acima, que, de perseguidor se fez propagador do cristianismo, formando várias comunidades cristãs entre os povos pagãos, mediante suas viagens missionárias e a elaboração das epístolas bíblicas, sob orientação espiritual de Estêvão, de modo a tornar-se conhecido como o apóstolo dos gentios.

Neste pequeno escrito, queria relacionar esses pilares do cristianismo com dois homens contemporâneos, a meu ver, bastante especiais, cuja amizade tive a felicidade de desfrutar e que merecem reconhecimento.

O primeiro é Pedro Santini (1933-2018), que nasceu em uma família com doze irmãos na cidade paulista de Cafelândia. Foi agricultor, depois mecânico de automóveis e metalúrgico em São Paulo, onde participou muito ativamente, como liderança de fato e também dirigente, de dois centros espíritas na Zona Norte da cidade. Estes são: o Núcleo Espírita Segue a Jesus (NESJ) existente desde 1939 no bairro da Casa Verde, onde ele ingressou em 1965; e o Núcleo de Estudos Espíritas Apóstolo Mateus (NEEAM), fundado em 1953 na Vila Nova Cachoeirinha, que, junto com sua esposa Duzolina, ele conseguiu fazer retomar as atividades em 1989. O casal deu contribuições relevantes também em dois centros espíritas de diferentes municípios, igualmente paulistas: Juquitiba e Iguape.

O outro é Paul Singer (1932-2018), que com oito anos de idade veio de Viena, Áustria, ao Brasil com sua mãe costureira em fuga do nazismo por serem judeus. Tornou-se metalúrgico, depois professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) e gestor de políticas públicas importantes na prefeitura paulistana (1989-1992) e no governo federal (2003-2016). Foi idealizador e dedicado a um conjunto de práticas fraternas de produção, consumo e crédito chamado de economia solidária, experiência que se encontra em alguns outros países também e tem registro no cristianismo nascente conforme Paulo e Estevão, que é a principal obra trazida a público por Chico Xavier, conforme dito por ele próprio (2).

Tal como o pescador de Cafarnaum, “seo” Pedro era também, caridosamente, muito acolhedor, alguém em quem boa parte das pessoas do NEEAM reconhecíamos uma espécie de “paizinho”. Vale dizer que efetivamente deste modo era chamado Simão Pedro pelos “filhos do Calvário” na Casa do Caminho. Certa vez, enquanto eu e minha mulher Margareth estávamos com ele e sua esposa na casa de ambos, em Ilha Comprida, “seo” Pedro e eu fomos pescar num riozinho e rimos bastante por não apanhar um só peixe e também nos lembramos dos irmãos pescadores: Simão Pedro e André.

Semelhantemente ao convertido de Damasco, o professor Singer ou Paulo Singer, como muitos o chamávamos,foi um operário que se tornou intelectual. Se aquele – que dominava as culturas: judaica, grega e romana – deixou de ser rabino para voltar a trabalhar como tecelão, este deixou de ser metalúrgico para se tornar um grande docente e pesquisador, porém sem perder a simplicidade operária. Tal como o jovem Timóteo foi para Paulo de Tarso, eu também, felizmente, pude ser para o professor quanto à economia solidária, tema sobre o qual organizamos um livro e atuamos juntos. Enfermo, pude visitá-lo várias vezes, até duas semanas antes do seu falecimento.

“Seo” Pedro e Paul Singer só estiveram juntos, no mesmo ambiente e com suas respectivas esposas, quando me casei com Margareth, mas nós não tivemos oportunidade de apresentar um ao outro.

Com um ano de diferença, ambos nasceram no mês de março: “seo” Pedro no dia 24 e Paul Singer em 28, tendo eu, felizmente, podido falar por telefone com aquele e presencialmente com este nessas datas em 2018, quando desencarnaram. Tenho dito e já escrevi que Singer, que se dizia ateu, foi muito generoso e a pessoa mais espiritualizada conhecida por mim nesta existência. Pouco depois da desencarnação de “seo” Pedro, conversei outra vez com sua esposa dizendo que ele foi a pessoa mais amorosa que conheci.

Aquele, com semelhanças a Simão Pedro e este a Paulo de Tarso, são para mim, realmente, grandes referências e amigos espirituais.

Notas:

1) Professor de sociologia da UFSCar, colaborador do paulistano Núcleo Espírita Coração de Jesus (NECJ), com origem e formação no Núcleo de Estudos Espíritas Apóstolo Mateus (NEEAM).

2) Página eletrônica do GEECX: http://grupochicoxavier.com.br/a-economia-solidaria-no-livro-paulo-e-estevao/

 

O Livro dos Médiuns completa 160 anos

O Livro dos Médiuns completa 160 anos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

As informações sobre o lançamento de O livro dos médiuns foram publicadas em Revista espírita1, periódico mensal administrado por Allan Kardcec.

Na edição de janeiro de 1861 o Codificador informa sobre o lançamento, e, no mesmo ano, na edição de do mês de novembro, a Revista espírita traz duas notícias sobre O livro dos médiuns. A queima desse livro no “Auto de Fé de Barcelona” e o lançamento da 2ª edição da obra. Kardec considera a segunda edição “muito mais completa que a precedente: encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, as contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, a formação das reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo, recebeu desenvolvimento muito notáveis. No capítulo das dissertações espíritas, adicionamos várias comunicações apócrifas, acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores, que se apresentam com falsos nomes. Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa. Recomendamos com instância esta nova edição, como guia o mais completo, que para os médiuns, quer para os simples observadores.”1

Para o Codificador O livro dos médiuns é “o complemento de O Livro dos Espíritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este último contém a parte filosófica.” Inclusive, ele colocou como subtítulo: “Guia dos médiuns e dos evocadores”.2

Nessa obra aniversariante, na 1a Parte, Kardec desenvolve “noções preliminares”, estabelecendo uma relação com temas tratados nas conclusões de O livro dos espíritos. Na 2a Parte desenvolve as informações, estudos e recomendações sobre as manifestações espíritas. Incluiu muitas instruções espirituais, inclusive marcantes mensagens de orientação assinadas por Erasto e por Timóteo. No capítulo que trata da “Formação dos médiuns”,

Kardec apresenta uma clara e incisiva conceituação sobre a finalidade da prática da mediunidade de acordo com o Espiritismo: “Este dom de Deus não é concedido ao médium para seu deleite e, ainda menos, para satisfação de suas ambições, mas para o fim da sua melhora espiritual e para dar a conhecer aos homens a verdade.”2

Ao completarmos 160 anos do lançamento de O livro dos médiuns, estão válidas as recomendações de Kardec expressas na obra que ele considerou “guia” para os médiuns e evocadores”.

No movimento espírita de nossos dias, é necessária a manutenção da Campanha “Comece pelo Começo”, que enfatiza o papel do estudo e da divulgação das Obras Básicas do Espiritismo: as cinco obras principais de autoria de Allan Kardec.

Fonte:

Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos médiuns. 2a Parte, Cap. XVII, item 220. FEB.

Kardec. Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Ano 4. 1861. São Paulo: EDICEL.