As origens revisitadas com intensidade

As origens revisitadas com intensidade

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em função da pré-estréia do filme “Benedita. Uma Heroína Invisível – O Legado da Superação", em Araçatuba, visitamos nossa terra natal com intensos compromissos, juntamente com a esposa Célia, o filho Flávio e a amiga Carol.

A pré-estréia do filme sobre Benedita Fernandes contou com exibições no Teatro Paulo Alcides Jorge, entre os dias 9 e 14 de outubro. No hall havia uma exposição com telas artísticas sobre a homenageada e a reprodução da entrada de uma casinha de madeira, semelhante às elaboradas por Benedita nos anos 1920. O diretor do filme Sirlei Nogueira, atores, dirigentes espíritas, representantes dos produtores e da Prefeitura, prestigiaram o evento. Como autor do livro adotado como roteiro “Benedita Fernandes. A dama da caridade” (Ed.Cocriação, Araçatuba) também fizemos uma saudação no início das exibições.

Divaldo Pereira Franco, que participa como um dos depoentes no filme, anotou em mensagem sobre a pré-estréia: "Cesar, exulto de alegria com o filme da gloriosa irmã amada. Meus parabéns a você e todos. Estou acompanhando. Abraços a todos. Divaldo".

Comparecemos na TV Cidade – coligada da TV Gazeta de São Paulo para entrevista sobre o filme e nosso livro sobre Benedita em programa de Reggis Antonio.

A União Espírita Paz e Caridade e Abrigo Ismael que, respectivamente, completam 100 e 80 anos de fundação, contou com palestra nossa e o lançamento do livro “Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões” (Ed.Cocriação). Nessa instituição, nossa esposa Célia participou da fundação de Mocidade Espírita em 1965, também local de atuação de sua genitora Joana e do nosso tio Pedro Perri.

Era indispensável a visita à Instituição Nosso Lar, fundada por Emília Santos e os irmãos Bebé e Rolandinho Perri Cefaly (nossa genitora e o tio). Naquele local iniciamos nossas atividades e em 1964 fundamos uma Mocidade Espírita.

Visita significativa ocorreu ao Projeto Chico Xavier, implantado em bairro da periferia de Araçatuba, com atendimentos material e espiritual, coordenado por Ricardo dos Anjos, com apoio de Osvaldo Magro Filho e Maria Luzia Almeida Rosa. Juntamente com nossa esposa proferimos rápidas exposições evangélicas.

Em função da nossa obra “Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões” e acompanhado pelo editor Sirlei Nogueira, visitamos dois espaços de cultura da cidade: para uma entrevista na Academia Araçatubense de Letras, da qual fomos membro fundador; e, oferta desse livro sendo recepcionado pelo acadêmico presidente Arnon Gomes. Também ofertamos essa obra à Biblioteca Municipal Rubens do Amaral. Interessante foi a foto com a Bibliotecária defronte à tela de Benedita Fernandes, na galeria de vultos de Araçatuba.

A visita à terra natal, com reencontros familiares e primeira viagem doutrinária desde o início da pandemia, foi intensa e plenamente justificável.

(Foi dirigente espírita e docente de Faculdade em Araçatuba; ex-presidente da USE-SP e da FEB).

Filme sobre Benedita em pré-estréia 74 anos após sua partida

Filme sobre Benedita em pré-estréia 74 anos após sua partida

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A pioneira da assistencial social espírita na região de Araçatuba, Benedita Fernandes, completou sua existência física no dia 09 de outubro de 1947.

Considerada “louca”, foi curada por espíritas, pois seu desequilíbrio era obsessão espiritual. Em seguida, empreendeu um vasto trabalho assistencial em Araçatuba a partir da fundação da Associação das Senhoras Cristãs, em 1932.

Na elaboração de nosso livro Benedita Fernandes. A dama da caridade reunimos pesquisas e entrevistas. Foi lançado nas comemorações do Cinquentenário (1982) da instituição por ela fundada e atualmente é editado pela Cocriação. O espírito pode evidenciar sua sobrevivência e sua identidade. Em viagens para palestras, no Brasil e no exterior, recebemos informações sobre Benedita, sempre de forma espontânea e através de diferentes médiuns. As mensagens iniciais, psicografadas por Divaldo Pereira Franco, foram incluídas em nosso livro e em obras desse médium.

Benedita Fernandes é um espírito ativo, lúcido e benfazejo, agora conhecida nacionalmente!

Coincidindo com os 74 anos da desencarnação de Benedita Fernandes, entra na etapa de pré-estréia em Araçatuba, com o apoio da Secretaria da Educação da Prefeitura Municipal, o filme “Benedita: uma heroína invisível. O legado da superação”. Esse filme foi elaborado durante alguns anos, baseado principalmente no livro Benedita Fernandes. A dama da caridade, de nossa autoria (Ed.Cocriação/USE Regional de Araçatuba). O roteiro e direção é de Sirlei Nogueira (de Araçatuba); co-produção: Lalucci Filme e Cocriação Editora; direção de produção Samuel Lalucci. O filme conta com um clipe com música tema de Paula Zampp e maestro Mário Henrique, intérpretes Paula Zampp e Gabriel Rocha. No componente de documentário, há entrevistas e depoimentos de várias pessoas, como Divaldo Pereira Franco, Wagner Gomes da Paixão, Ana Jaicy Guimarães, Luiz Carlos Barros Costa e conosco. Na dramatização de diversos episódios da vida de Benedita atua como atriz principal Sílvia Teodoro.

A atriz Sílvia Teodoro, desencarnou com 54 anos de idade em Araçatuba no dia 19 de março deste ano; era dedicada ao teatro na cidade e região, formada em psicologia e espírita atuante.

O novo filme é um marco histórico para Araçatuba e para o movimento espírita em geral.

(Extraído do jornal Folha da Região, Araçatuba, 06/10/2021, p.2)

Atualidades sobre Kardec

Atualidades sobre Kardec

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O movimento espírita tradicionalmente evoca o Codificador Allan Kardec na passagem da data de seu nascimento – 3 de outubro de 1804 -, ocorrido em Lyon.

Atualmente sabe-se que Hippolyte Léon Denizard Rivail apenas nasceu na histórica cidade francesa e nunca lá residiu. Foi criado com a família de sua genitora em Bourg en Bresse e Saint Denis les Bourg, duas cidades do Departamento de Ain, próximas a Lyon. Já se esclareceu que seu genitor, Jean-Baptiste Antoine Rivail, não desapareceu em guerras napoleônicas, mas, após estas, constituiu outra família no oeste da França e desencarnou aos 75 anos em 1834. Rivail estudou em Yverdon com Pestalozzi e depois atuou como professor em Paris, casou-se com Amélie Boudet, destacada companheira como professora e depois nas lides espíritas. Ambos criaram e educaram uma menina chamada Jeanne Louise, provavelmente adotiva e que desencarnou bem jovem.

Após viver a experiência de professor, tradutor, interessado em temas emergentes na época como o magnetismo, entrou em contato com os fenômenos das chamadas “mesas girantes”. Em seguida, o ilustre professor onde veio a executar seu papel como Codificador do Espiritismo. Como intelectual, portador de uma dose de ceticismo, e visão de arguto observador, rapidamente superou a etapa inicial de envolvimento com os fenômenos e passou a centralizar sua atenção na análise do conteúdo das informações que emanavam dos chamativos fatos ou efeitos pois, necessariamente “haveriam de ter uma causa”…

A partir da publicação de O livro dos espíritos, rapidamente se sucedem outras obras, naturalmente, um desdobramento aprofundado e com sentido prático, a partir das quatro grandes partes da obra pioneira. Do conjunto se destacam aquelas que são consideradas as obras básicas do Espiritismo: O livro dos espíritos, O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese. Simultaneamente, o lúcido Kardec, dá início à Revista espírita, funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e empreende viagens para intercâmbio com grupos espíritas nascentes pelo interior da França e da Bélgica.

Num prazo curto de tempo, com atividades múltiplas e muito intensas, Allan Kardec deu início à Doutrina, à imprensa, a uma instituição e a uma movimentação de intercâmbio e compartilhamento de ideias e de experiências. Todas essas ações fazendo juz à adjetivação “espírita”, no conceito por ele caracterizado.

Kardec realmente foi o começo!

A propósito da palavra e do enunciado acima citados, lembramos que neste ano completa-se 50 anos da aprovação inicial da “Campanha Comece pelo Começo”. Esta foi idealizada pelo publicitário muito dedicado ao Espiritismo Merhy Seba e tem por foco a valorização das obras da Codificação Espírita, de Allan Kardec. Historicamente, a Campanha “Comece pelo Começo” foi aprovada no final do ano de 1971 pelo Conselho Metropolitano Espírita da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (atual USE Regional de São Paulo). Este tinha como presidente, Ignácio Giovinne; vice-presidente Attílio Campanini; equipe da Divulgação do C.M.E. participavam: Merhy Seba, Agostinho Andreoletti, Aparecido Onofre Belvedere (atualmente em O Clarim, Matão), José Meciano, José Domingos, José do Prado, Lionel Motta e Zulmiro dos Santos. No início de 1972 essa Campanha já foi implementada em nível da Capital. Naquela época assistimos exposição de Merhy Seba sobre o tema na II Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo (COMJESP), em Marília, em abril de 1972. A referida Campanha nos interessou porque à época éramos presidente da União Municipal Espírita de Araçatuba (atual USE Intermunicipal de Araçatuba) e reforçaria nossos esforços de divulgação.

Depois de aprovada pelo Conselho Deliberativo Estadual da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, a marcante Campanha foi lançada em nível estadual no ano de 1975, com a divulgação de cartazes e folderes definindo o objetivo da mesma e apresentando uma síntese sobre as obras de Kardec. Em nível nacional essa Campanha foi aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, durante nossa gestão como presidente, em reunião de novembro de 2014.

À vista da proliferação de livros espíritas – e com a influência de vários modismos -, criando desfocagens sobre a literatura básica e nas ações a ela relacionadas, e também pelo fato de que muitos cursos se basearem em material apostilado, torna-se muito importante que os centros e o Movimento Espírita dêem prioridade para a divulgação e o estímulo à leitura e ao estudo das Obras Básicas do Espiritismo. No mês em que Allan Kardec é rememorado no movimento espírita, é oportuna a valorização ao estímulo pelo estudo de suas obras, ou seja, “comece pelo começo”!

Recentemente foram exibidos os filmes “Kardec”, nos cinemas, e, a série “Em busca de Kardec”, em TVs por assinatura e na TV Cultura. Nos últimos anos com a disponibilização por instituições oficiais da França de documentos digitalizados muitos detalhes estão vindo à tona e outros poderão ser acrescentados aos momentos pós-Kardec em Paris. As biografias clássicas de Kardec estão desatualizadas.

Em nosso país, os documentos que estavam em poder da família do dr. Canuto Abreu, estão sendo trabalhados na Fundação Espírita André Luiz, de São Paulo, e em convênio com pesquisadores do NUPES da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Na atualidade, há várias páginas eletrônicas que disponibilizam informações sobre a vida e obra de Allan Kardec, como: Autores Espíritas Clássicos; CSI Imagens e Registros Históricos do Espiritismo; ECK – Espiritismo com Kardec; GEAE – Grupo de Estudos Avançados Espíritas; Grupo Espírita Amélie Boudet; IPEAK – Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec; Jornal de Estudos Espíritas; Kardecpedia; Liga de Pesquisadores do Espiritismo; NUPES – Núcleo de Pesquisa e Espiritualidade em Saúde da UFJF.

Bibliografia:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro espírita. Prática espírita e cristã. Cap. 6.2. São Paulo: USE. 2016.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Caps. 2.16 e 5.11. Araçatuba: Cocriação. 2021.

3) Página eletrônica: https://www.allankardec.online/

(*) Foi presidente da USE-SP e da FEB.

A vida de Cairbar Schutel

A vida de Cairbar Schutel

Cairbar Schutel nasceu no Rio de Janeiro a 22 de setembro de 1868. Era filho de Antero de Souza Schutel e de D. Rita Tavares Schutel. Frequentou o Colégio D. Pedro II.

No Rio praticou em diversas farmácias e aos 17 anos veio para o Estado de São Paulo, exercendo sua profissão em Piracicaba, Araraquara e depois em Matão, onde residiu 42 anos.

Foi um dos fundadores de Matão e seu primeiro Prefeito, trabalhando incansavelmente pelo progresso desta localidade, onde militou na política por alguns anos. Matão deve-lhe relevantes serviços. Católico romano por tradição, Cairbar Schutel muito fez pelo brilho dessa religião, com a sinceridade que caracterizou Saulo de Tarso. Mas como essa religião não respondia às perguntas íntimas que Cairbar fazia com respeito ao seu falecido pai, procurou outras fontes de informação fora da Igreja.

Nesse tempo residiam em Matão seus amigos Calixto Prado e Quintiliano José Alves, que convidados por Cairbar Schutel, fizeram com ele sessões de tiptologia com a trípode pequena mesa com três pés). Foi então que, conhecendo que a vida continuava além do túmulo, estudou e abraçou o Espiritismo e dele se tornou um dos maiores propagandistas.

Seu trabalho logo começou a aparecer: Fundou em 15 de julho de1905, o Centro Espírita Amantes da Pobreza. Logo a seguir, a 15 de agosto desse ano, lançou à luz da publicidade O Clarim, em formato pequeno, que logo se ampliou, atingindo sua tiragem a 10.000 exemplares nos últimos anos. Além disso fazia propaganda da doutrina por meio de boletins e panfletos, fazendo ainda palestras doutrinárias nas cidades circunvizinhas, inclusive programas radiofônicos na antiga PRD-4 de Araraquara. Sua atividade não parou. Assim foi que, a 15 de fevereiro de 1925, fundou a Revista Internacional de Espiritismo dedicada aos estudos dos fenômenos anímicos e espíritas. Este mensário conta com a colaboração de eminentes mentalidades mundiais, circulando não só entre as suas congêneres.

Seu trabalho não se resumiu nessas duas publicações. Apareceram de sua brilhante pena, os seguintes livros: Espiritismo e Protestantismo, setembro de 1911; Histeria e Fenômenos Psíquicos, dezembro de 1911; O Diabo e a Igreja , dezembro de 1914; Médiuns e Mediunidades, agosto de 1923; Gênese da Alma, setembro de 1924; Materialismo e Espiritismo, dezembro de 1925; Fatos Espíritas e as Forças X…, maio de 1926; Parábolas e Ensinos de Jesus. janeiro de 1928; O Espírito do Cristianismo, fevereiro de 1930; A Vida no Outro Mundo , outubro de 1932; Vida e Atos dos Apóstolos, fevereiro de1933; Conferências Radiofônicas, setembro de 1937.

Cairbar não dava só a sua inteligência em proveito do seu próximo. Oferecia o seu coração socorrendo os pobres e os enfermos com grande dedicação. Após curta enfermidade faleceu em Matão, dia 30 de janeiro de 1938, às 16:15 horas, o "Bandeirante do Espiritismo"- Cairbar Schutel.

Extraído de: www.oclarim.com.br

Madalena havia sido prostituta?

Madalena havia sido mesmo prostituta, qual o problema?

André Ricardo de Souza (*)

Maria Madalena ou Maria de Mandala, esta uma antiga vila próxima de Cafarnaum, tem a trajetória mais enigmática e controversa da história do cristianismo.Não por acaso, foi abordada em vários livros e filmes, além de uma popular série televisiva.

Sua peculiaridade se deve ao fato de o Papa Gregório I (Gregório Magno, 540-604) ter feito determinada confusão. Afirmou ele, em 591, que Madalena seria tanto a mulher anônima que, dentro da casa do fariseu Simão, na cidade de Naim, lavou em lágrimas, ungiu com perfume e secou com os seus cabelos os pés de Jesus (Lucas 7, 33-50), quanto Maria, a irmã de Marta e Lázaro, que fez algo semelhante na cidade de Betânia, porém sem prantos e com um perfume mais caro,conforme:Mateus 26, 6-13; Marcos 14,3-9 e João 12,1-8 (Tomaso, 2020).

A partir da pregação daquele pontífice em prol do valor do arrependimento, Madalena, passou a ser reconhecida como prostituta convertida ou “pecadora arrependida”, deixando de ter o título de “apóstola dos apóstolos”, algo que seria retomado somente em 2016 pelo Papa Francisco. É bastante veemente e frequente a negação de que Madalena foi prostituta.

No meio espírita, é comum a acusação à Igreja Católica pela deturpação ocorrida da imagem daquela que acompanhou Jesus na crucificação e foi a primeira a avistá-lo, já ressuscitado, sofrendo desconfiança dos apóstolos, também pelo baixo valor então atribuído à palavra das mulheres em geral.

Mas no livro Boa Nova, o espírito Humberto de Campos (2013, p. 127-128) explicita que a apóstola havia sido efetivamente não só prostituta, mas também a mulher sofredora retratada apenas no Evangelho de Lucas:

"Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino, não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres, em companhia de patrícios romanos, e tomara-se de admiração pelo Messias. (…) Decorrida uma noite de grandes meditações e antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungira publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias, após muitas hesitações. Como a receberia o Senhor, na residência de Simão? Seus conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o abandono do lar e a vida de aventuras. Para todos, ela era a mulher perdida, que teria de encontrar a lapidação na praça pública."

Ali na casa de Simão Pedro – que lançou sobre ela um “olhar glacial, quase denotando desprezo” – Madalena ouviu de Jesus algo profundamente marcante que o apóstolo reproduziria, mais tarde, em sua primeira epístola: “o amor cobre a multidão de pecados” (1 Pedro, 4:8).

E Humberto de Campos (2013, p. 132-133), complementa sobre ela:

"Humilde e sozinha, resistiu a todas as propostas condenáveis que a solicitavam para uma nova queda de sentimento. Sem recursos para viver, trabalhou pela própria manutenção, em Magdala e Dalmanuta (…) Certo dia, um grupo de leprosos veio a Dalmanuta. Procediam da Idumeia aqueles infelizes, cansados e tristes, em supremo abandono. Perguntavam por Jesus Nazareno, mas todas as portas se lhes fechavam. Maria foi ter com eles e, sentindo-se isolada, com amplo direito de empregar a sua liberdade, reuniu-os sob as árvores da praia e lhes transmitiu as palavras de Jesus, enchendo-lhes os corações das claridades do Evangelho."

E foi em Dalmanuta que Paulo de Tarso a conheceu enquanto ele voltava a Jerusalém, após converter-se, reunindo relatos sobre a vida de Jesus, conforme o livro Paulo e Estêvão (2013, p.466). Como sabemos, o ex-rabino – que havia sido responsável pela execução de Estêvão e outros cristãos deixou de ser grande pecador para se tornar um dos maiores servidores do Cristo na história. E tanto ele quanto Madalena foram desacreditados inicialmente pelos apóstolos quando anunciaram seus respectivos encontros espirituais com o mestre divino.Importante ainda lembrar que na referida obra de Emmanuel (2013, p. 466) e de modo coerente com Jesus, o convertido de Damasco se contrapõe à hipocrisia frequente na avaliação da conduta feminina: “Irmãos, é indispensável compreender que a derrocada moral da mulher, quase sempre, vem da prostituição do homem”.

Verifica-se, portanto, que Gregório I não estava de todo enganado. E quanto às prostitutas, que, hoje, recebem, em alguns lugares, auxílio da católica Pastoral da Mulher Marginalizada, nós observamos uma arraigada discriminação, algo que é manifestado na indignação quando se refere ao caso de Maria Madalena. Por que ela não poderia ter sido uma meretriz? Qual o problema disso? Por que ainda depreciar, indiretamente, tanto as prostitutas? Precisamos reconhecer honestamente todos os nossos preconceitos.Cabe, por fim, lembrar que o mais importante, de fato, não é o que fomos, mas sim o que nos tornamos. Ao olhar para ela, assim como para Paulo de Tarso e para Públio Lêntulo, o senador romano retratado no livro Há dois mil anos,de Emmanuel – tendo sido uma reencarnação dele – Jesus não viu a meretriz obsediada, o assassino perseguidor e o patrício orgulhoso, mas sim seres humanos, além demissionários da luz que eles viriam se tornar. Tanto quanto pudermos sem ingenuidade, mas com a firme humildade, procuremos sempre ver nossos irmãos marginalizados com os olhos verdadeiramente cristãos.

Referências bibliográficas:

TOMMASO, Wilma Steagall. Maria Madalena: história, tradição e lendas. São Paulo, Paulus, 2020.

XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo espírito Emmanuel. 45ª edição. Brasília, FEB, 2013.

_______. Há dois mil anos. Pelo espírito Emmanuel. 46ª edição. Rio de Janeiro. FEB, 2009.

_______. Boa nova. Pelo espírito Humberto de Campos. 37ª edição. Brasília, FEB, 2013.

 

(*) Professor de sociologia da UFSCar, colaborador do paulistano Núcleo Espírita Coração de Jesus e autor do e-book: A veracidade e conexões da obra Paulo e Estêvão; gratuitamente disponível em (copie e cole): http://www.oconsolador.com.br/editora/evoc.htm

Chico Xavier e os ensinos de Jesus no cinquentenário “Pinga-Fogo”

Mensagem de Jesus: do monte e às antenas

Chico Xavier e os ensinos de Jesus no cinquentenário “Pinga-Fogo”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos dias 27 e 28 de julho de 1971, era transmitido ao vivo o histórico programa “Pínga-Fogo”, tendo Chico Xavier como entrevistado, na antiga TV Tupi de São Paulo.

O evento televisivo alcançou altíssimos índices de audiência e se transformou em um marco da difusão do pensamento espírita. Coroou os esforços do repórter investigativo Saulo Gomes e além dele atuaram como entrevistadores: João de Scantimburgo, Helle Alves, Reali Júnior, José Herculano Pires contando com o jornalista Almyr Guimarães como coordenador.1

Com simplicidade, desenvoltura e sempre se referindo ao apoio espiritual de Emmanuel, Chico Xavier atendeu a questões dos mais variados matizes do conhecimento e, várias delas, sendo foco de polêmicas na época. As respostas inspiradas e prudentes de Chico Xavier foram preditivas quando as analisamos após 50 anos do histórico programa, o que já tivemos oportunidade de comentar em outras matérias.2,3

À vista da época conturbada que vivemos, são oportunos alguns realces das manifestações de Chico Xavier, fazendo-se um cotejo com fundamentos ético-morais dos ensinos de Jesus. E aí, sem dúvida, o Sermão da Montanha contém a síntese das propostas de Jesus, sendo considerado o “coração do Evangelho”. O interessante é que o citado “Sermão” foi proferido sobre um lugar de destaque, registrado como um monte, para que o Mestre fosse visto e a mensagem fosse mais audível. Dezenove séculos depois, a imagem e a voz do médium Chico Xavier foram amplamente propagadas pelas antenas transmissoras de TV. Isso posto, estabelecemos uma rápida relação entre as palavras de Chico Xavier e a fundamentação notadamente no Sermão da Montanha4. Eis uns trechos significativos1:

FCX: “Nós, os espíritas evangélicos, nos detemos no Novo Testamento para compreender a essência dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo e daqueles que o sucederam, os apóstolos da causa evangélica.” Jesus: “Não penseis que vim destruir a lei os profetas; não vim destruir, mas cumprir. […] tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.”

FCX: “[…] estamos subordinados ao critério de Nosso Senhor Jesus Cristo que estabelece aquele princípio ‘dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de César’, isto é, aquilo que pertence ao mundo superior da nossa mente, as realizações com Deus, que constituem o progresso e o aprimoramento de nossa alma e aquilo que nós devemos aos poderes constituídos do mundo que nos orientam e que administram os nossos interesses.” Jesus: “[…] quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita. […] Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; […] Seja o vosso falar; Sim, sim; não, não.”

FCX: “[…] a vinculação do amor não terminará nunca porque o amor é a presença de Deus. O amor continuará a nos unir, uns aos outros, para sempre e nós nos amaremos cada vez mais. Agora, vamos educar o amor porque não temos sabido amar uns aos outros conforme Jesus nos amou.” Jesus: “Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, […] Vós sois a luz do mundo…” Tema palpitante na época, pouco depois de astronautas terem descido na Lua, surgem perguntas sobre vida extraterrestre.

FCX: “[…] vamos compreender que fazemos parte de uma só família universal, que não somos o único mundo criado por Deus. O próprio Jesus a quem reverenciamos como Nosso Senhor e mestre, disse: ”Há muitas moradas na casa de meu pai.” A essa questão torna-se explícito o registro do evangelista João sobre afirmações de Jesus: “Não se turbe o vosso coração. — Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.”4

Há vários trechos das respostas de Chico Xavier que merecem nossa reflexão na atualidade. Todavia, em momentos que muito se fala em “época de transição” e são nítidas as expectativas entre os espíritas a propósito da transformação de nosso habitat planetário em mundo de regeneração, há uma manifestação extremamente ponderada do notável médium quando instado a responder sobre os progressos da Civilização.

FCX: “[…] Será o preço da paz. Se pudermos nos suportar uns aos outros, amar uns aos outros, seguindo os preceitos de Jesus, até que essa era prevaleça, provavelmente no próximo milênio, não sabemos se no princípio, se nos meados ou se no fim. O terceiro milênio nos promete maravilhas, mas se o homem, filho e herdeiro de Deus, também se mostrar digno dessas concessões. Senão vamos aguentar nós todos, talvez com as estacas zero ou quase zero para recomeçar tudo de novo.” Jesus: “[…] buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, […] Eu, porém vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; […] Sede vós, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.”

Além do valor histórico de ter exposto amplamente o pensamento espírita junto à mídia, o cinquentenário programa “Pinga-Fogo” reúne comentários e análises judiciosas do médium Chico Xavier.

Os textos e gravações que registram essa entrevista devem merecer atenção por parte da seara espírita.

Bibliografia:

1. Gomes, Saulo (Org.). Pinga-fogo com Chico Xavier. Catanduva: Intervidas. 2010. 269p.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. 50 anos depois dos “Pinga-Fogos”. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.6. Julho de 2021. P.300-302.

3. Carvalho, Antonio Cesar Perri. 50 anos do “Pinga-Fogo”: a superação de temas polêmicos na atualidade. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.7. Agosto de 2021. P. 348-349.

4. Versículos sobre o Sermão da Montanha (Mateus, 5-7) e de João (14, 1 a 3).

Extraído de:

Revista internacional de espiritismo. Ano XCVI. N.7. Setembro de 2021.

Setembro amarelo e a valorização da vida

Setembro amarelo e a valorização da vida

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O chamado “Setembro Amarelo” é uma campanha de prevenção ao suicídio que visa à conscientização da população sobre esse grave problema e formas de evitá-lo.

Na literatura espírita há muitas informações sobre as conseqüências da prática do suicídio, desde os registros pioneiros sobre estados de alma incluídos por Allan Kardec no livro O céu e o inferno, lançado no ano de 1865.

Todavia, os conceitos alicerçados na certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de educação surgem desde a obra pioneira de Kardec O livro dos espíritos. Já se definia: “Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? – O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal” (questão 880). Assim, oferece condições para se compreender a oportunidade da vida corpórea e a razão para o cultivo dos valores espirituais.

Nos livros psicografados há inúmeros comentários sobre o tema assinados por milhares de espíritos, como André Luiz, sobre o valor da vida corpórea: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne” (Vieira, W. Conduta espírita, cap. 34. FEB); e também “A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim” (Xavier, F.C. Missionários da luz, cap. 12. FEB). A partir dessas fundamentações espirituais, torna-se interessante considerarmos o que representa o Espírito nos contextos íntimo e social; o equilíbrio entre corpo/espírito e melhores condições de vida.  Essa última também inclui, evidentemente, o respeito e a valorização da vida corpórea.

No livro Em louvor à vida (Ed. LEAL), que elaboramos em parceria com o médium Divaldo Pereira Franco, com base em textos espirituais de nosso tio Lourival Perri Chefaly, destacamos um trecho: “Saúde e doença – binômio do corpo e da mente – são conquistas do ser, que deve aprender e optar por aquela que melhor condiz com as aspirações evolutivas, desde que a harmonia ideal será alcançada, através do respeito à primeira ou mediante a vigência da segunda.” Evidentemente que aí se incluem as causas e a profilaxia dos vários problemas que caracterizam desrespeito à vida. Ou seja, as medidas preventivas para se evitar quaisquer formas de interrupção da vida, incluindo o suicídio, o aborto, a eutanásia, e, sendo sempre importante o diagnóstico médico precoce de doenças, evitando-se que elas sejam reconhecidas em situações tardias e danosas.

No contexto da literatura espírita, sobre a questão do suicídio, ocupa lugar de destaque o livro Memórias de um suicida, da médium Yvonne do Amaral Pereira. Na Introdução dessa obra, a notável médium comenta: “Daí em diante, ora em sessões normalmente organizadas, […] dava-me apontamentos, noticiário periódico, escrito ou verbal, ensaios literários, verdadeira reportagem relativa a casos de suicídio e suas tristes consequências no Além-Túmulo, na época verdadeiramente atordoadores para mim.” E assim se desenrolam as narrativas sobre o atendimento de espíritos suicidas atendimento pela colônia espiritual Instituto Maria de Nazaré.

Por oportuno, no mês de Setembro, que é chamado de amarelo, a cor que lembra o Sol, verão, prosperidade, felicidade e desperta a criatividade, é interessante a utilização da temática no meio espírita.

Daí a importância dos estudos, palestras e seminários que possam chamar atenção para a defesa da vida, no sentido de se valorizar a existência corpórea e o processo de educação espiritual.

(Foi dirigente espírita em Araçatuba; presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira).

Bezerra de Menezes – homem de bem

Bezerra de Menezes – homem de bem

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O dia 29 de agosto assinala 190 anos do nascimento do dr. Adolfo Bezerra de Menezes, notável vulto espírita, nascido no Ceará, e que se destacou no Rio de Janeiro. Na então Capital foi médico reconhecido, vereador, deputado, dirigente de empresas públicas e líder espírita.

Durante dois mandatos curtos foi presidente da Federação Espírita Brasileira. Autor de artigos publicados na imprensa da Capital, também em periódicos espíritas, e, de vários livros.

Destacamos um livro significativo de Bezerra de Menezes: A loucura sob novo prisma, tendo como subtítulo: “Estudo psíquico-fisiológico”. Surgiu em forma de livro editado pela FEB, 20 anos após sua desencarnação. No final dos anos 1880, como médico e membro da Academia Imperial de Medicina, consta que Bezerra escreveu esse trabalho, em forma de tese, direcionado à instituição. Aborda tema complexo, a 'loucura por obsessão', isto é, por ação fluídica de agentes inteligentes e extraterrenos sobre a criatura encarnada. Em pleno século XIX, contemporâneo de notáveis colegas de profissão, voltados à procura de respostas extraorgânicas nas chamadas 'pesquisas psíquicas, Bezerra escreveu o trabalho inédito para os contextos médico e espírita.

Nessa obra, comenta sobre a postura tradicional "de que toda perturbação do estado fisiológico do ser humano procede invariavelmente de uma lesão orgânica, os homens da ciência têm até hoje, como verdade incontroversa, que a alienação mental, conhecida pelo nome de loucura, é efeito de um estado patológico do cérebro…” Propõe-se "a preencher essa lacuna, demonstrando, com fatos de rigorosa observação: que o pensamento é pura função da alma ou Espírito, e, portanto, que suas perturbações, em tese, não dependem de lesão do cérebro, embora possam elas concorrer para o caso, pela razão de ser o cérebro instrumento das manifestações, dos produtos da faculdade pensante." Relaciona com obras de Allan Kardec e relata seus estudos de casos, citando testemunhas que se curaram da chamada alienação mental com o tratamento espiritual incluindo o atendimento de espíritos envolvidos pela ideia de perseguição e de vingança.

Aí inclui o caso de um de seus filhos, inteligente e bem formado, subitamente tomado de alienação mental. Relata diálogos durante o atendimento do espírito que atuava como obsessor do filho. A vivência desse caso familiar foi um dos fatores que estimularam Bezerra a escrever o trabalho. A loucura sob novo prisma, revela estudo criterioso do autor.

No seu perfil geral, o “médico dos pobres” e “apóstolo da unificação”, é reconhecido pela benemerência, honestidade e seriedade: um autêntico homem de bem!

(*) Foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da USE-SP, da FEB e membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional.

Extraído de:

Folha da região. Araçatuba, 25/08/2021. P.2

A Mansão do Caminho festeja 69 anos

A Mansão do Caminho festeja nesta data 69 anos de existência

Thiago Bernardes (*)

Obra social do Centro Espírita Caminho da Redenção, situada em Salvador, estado da Bahia, a Mansão do Caminho foi fundada em 15 de agosto de 1952 pelo médium e orador espírita Divaldo Franco e seu amigo Nilson de Souza Pereira.

A instituição está encravada numa área de 78.000 metros quadrados, envolvida pelo verde da mata nativa e o colorido festivo dos seus jardins. O primeiro prédio da Mansão do Caminho, nome dado em homenagem à Casa do Caminho dos primeiros cristãos, situava-se na rua Barão de Cotegipe, n. 124, no bairro da Calçada, em Salvador, pois foi somente no ano de 1955 que se adquiriu o terreno onde seria construída sua sede definitiva, na Rua Jayme Vieira Lima, no bairro de Pau da Lima, em Salvador.

Como é e como funciona a Mansão do Caminho

Após a primeira experiência com atendimento a crianças órfãs, em sistema de orfanato, que foi muito comum durante algo tempo no trabalho de assistência social realizado pelas instituições espíritas, surgiu a ideia dos lares-famílias, em que as crianças eram atendidas em grupos pequenos nas chamadas casas-lares, envolvidas pela ternura fraternal dos tios e tias, sob a orientação de Divaldo Franco e Nilson de Souza Pereira. Sob as luzes e as bênçãos da Mentora Espiritual Joanna de Ângelis, esses lares floresceram contribuindo com o aprimoramento intelectual, moral e espiritual de milhares de crianças que receberam ali a oportunidade ímpar de terem uma existência digna e feliz. Assim, em mais de quarenta anos, cerca de 680 crianças e jovens residiram nesses lares substitutos, até a sua emancipação. Com o tempo, os lares foram sendo substituídos por grupos escolares, oficinas de capacitação profissional e outras atividades sociais de promoção social, apoiando crianças, adolescentes e adultos carentes provenientes de bairros de baixa renda próximos, fornecendo a eles educação integral.

A Mansão do Caminho tornou-se dessa maneira um admirável complexo educacional e assistencial que conta com 50 edificações, fora as construções em andamento, distribuídas em ruas, bosques e lago, onde são atendidas três mil crianças e jovens de famílias de baixa renda. Ali são desenvolvidas diversas atividades escolares e socioeducacionais, como: Enxovais, Pré-Natal, Creche, escolas de ensino Pré-Escolar, Básico e Fundamental, Informática, Cerâmica, Panificação, Bordado, Tapeçaria, Reciclagem de Papel, Centro Médico, Laboratório de Análises Clínicas, Atendimento Fraterno, Caravana Auta de Souza, Casa da Cordialidade e Bibliotecas. Para movimentar toda essa engrenagem, a Diretoria conta com mais de 200 funcionários, além de 400 colaboradores voluntários permanentes. Como se deu a fundação da Mansão Segundo relato disponível no website da instituição, no ano de 1948 Divaldo e seu amigo Nilson viajavam de trem quando, em dado instante, o médium teve uma visão psíquica no momento em que olhando pela janela. Ele teria visto um lugar arborizado, com muitas construções, adultos e crianças e um homem de costas, homem esse que, ao virar-se de frente, para sua surpresa, era ele mesmo, embora mais velho.

A visão causou em Divaldo um forte impacto. Tendo ele contado o ocorrido a Nilson, ambos ficaram sem compreender o fato. Então, ele escutou uma voz que lhe disse: "Isto é o que farás de tua vida. Educarás". Prossegue o relato dizendo que, um ano depois, numa reunião mediúnica, um Espírito ter-se-ia manifestado por Divaldo, dizendo que havia um programa espiritual para que fosse construída, em Salvador, uma obra de educação, baseada em lares substitutos e que eles poderiam ter a honra de realizar essa empreitada. Divaldo e Nilson aceitaram a tarefa e, com ajuda de um grupo de colaboradores, arremataram em 1951 um casarão numa hasta pública, vindo a fundar, em 15 de agosto de 1952, a Mansão do Caminho.

Os fundadores Divaldo Franco e Nilson de Souza Pereira se conheceram em agosto de 1945, quando Divaldo lecionava na Escola de Datilografia N. S. do Carmo, no bairro dos Quinze Mistérios, em Santo Antônio, Salvador, e ali Nilson se matriculou. Nasceu então uma amizade, uma fraternidade espiritual que, alicerçada e fomentada pelo Espiritismo, duraria para toda a vida. Nilson de Souza Pereira, popularmente conhecido como Tio Nilson, nasceu em 26/10/1924, no subúrbio ferroviário de Plataforma, na cidade do Salvador, Bahia. De origem humilde, porém detentor daquela sabedoria peculiar aos homens de bem, foi bancário, telegrafista do Ministério da Marinha e funcionário público dos Correios e Telégrafos. A partir de 1945, vinculou-se ao médium Divaldo Franco. Ambos eram jovens, com 20 anos e 18 anos, respectivamente. Juntos e orientados pela Mentora Joanna de Ângelis, edificaram a admirável obra que é o Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado em 7/9/1947, cujo epicentro é seu braço social, a Mansão do Caminho, fundada em 15/08/1952.

Tio Nilson foi o presidente e administrador da instituição até a sua desencarnação, que ocorreu no dia 21 de novembro de 2013. Ele contava então 89 anos de idade.

Divaldo Franco é um verdadeiro apóstolo do Espiritismo. Dos seus 94 anos de vida, a maioria tem sido devotada à causa espírita e às crianças excluídas, das periferias de Salvador. Nasceu em 5 de maio de 1927, na cidade de Feira de Santana, Bahia, desde a infância se comunica com os Espíritos. Havendo cursado a Escola Normal Rural de Feira de Santana, recebeu em 1943 o diploma de professor primário. Em seguida, ingressou como escriturário no antigo IPASE, na cidade de Salvador, aposentando-se em 1980.

Reconhecido como um dos maiores médiuns e oradores espíritas da atualidade, é considerado o maior divulgador da Doutrina Espírita em todo o Mundo. Orador com mais de treze mil conferências, em mais de duas mil cidades em todo o Brasil e em sessenta e cinco países dos cinco continentes, já concedeu mais de mil e quinhentas entrevistas para rádio e TV, no Brasil e no Exterior. Como médium psicógrafo, já publicou mais de duzentos e cinquenta livros, com mais de dez milhões de exemplares, onde se apresentam duzentos e onze Autores Espirituais, muitos deles ocupando lugar de destaque na literatura, no pensamento e na religiosidade universais. Dessas obras, publicaram-se versões para o Braile e dezessete idiomas (alemão, albanês, catalão, dinamarquês, espanhol, esperanto, francês, holandês, húngaro, inglês, italiano, norueguês, polonês, tcheco, turco, russo e sueco).

(*) Extraído de: Revista digital O Consolador – Ano 15 – N° 734 – 15 de Agosto de 2021.

Acesso (copie e cole): http://www.oconsolador.com.br/ano15/734/especial2.html

O Clarim comemora 116 anos

O Clarim comemora 116 anos

Matão, SP (15-08-1905 / 15-08-2021) – O Clarim: 116 anos!*

Cássio Carrara*

A rapidez com que se propagaram, em todas as partes do mundo, os estranhos fenômenos das manifestações espíritas é uma prova evidente do interesse que despertam. A princípio simples objeto de curiosidade, não tardaram a chamar a atenção de homens sérios que neles vislumbraram, desde o início, a influência inevitável que viriam a ter sobre o estado moral da sociedade.

As novas ideias que surgem desses fenômenos popularizam-se cada dia mais, e nada lhes pode deter o progresso, pela simples razão de que estão ao alcance de todos, ou de quase todos, e nenhum poder humano lhes impedirá que se manifestem. (…) “Insistimos: quando uma força está na Natureza, pode-se detê-la por um instante, porém, jamais aniquilá-la! Seu curso apenas poderá ser desviado. Ora, a força que se revela no fenômeno das manifestações, seja qual for a sua causa, está na Natureza, da mesma forma que o magnetismo, e não poderá ser exterminada, como a força elétrica também não o será. O que importa é que seja observada e estudada em todas as suas fases, a fim de se deduzirem as leis que a regem. Se for um erro, uma ilusão, o tempo fará justiça; se, porém, for verdadeira, a verdade é como o vapor: quanto mais se o comprime, tanto maior será a sua força de expansão.”[1]

Não é exagero dizer que a divulgação espírita foi impulsionada pela sua imprensa especializada. Breves oito meses após o lançamento da obra inaugural – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec publica o primeiro número da Revista Espírita, a fim de explorar e relatar os avanços da recente filosofia por ele codificada. No Brasil, em 1869, antes mesmo de qualquer livro, Luiz Olímpio Teles de Menezes funda o primeiro órgão de imprensa espírita nacional: O Écho d’Além-Túmulo, precursor de uma lista valorosa de periódicos, que inclui a revista O Reformador, criado em 1883 e mantido pela Federação Espírita Brasileira, e o jornal Verdade e Luz, idealizado pelo exímio Batuíra ainda no século XIX.

Cometeríamos enormes injustiças se continuássemos a listar nossos parceiros de divulgação da Doutrina Espírita, que se avolumaram em número e se consolidaram pela qualidade e responsabilidade doutrinária ao longo destes últimos 160 anos. Um deles, porém, merece neste momento nossas diminutas homenagens.

Estas linhas agora impressas em cores e produzidas com auxílio das facilidades tecnológicas do século XXI, presenciaram as enormes e incomparáveis transformações das últimas décadas, mantendo-se firmes no ideal proposto e lutando bravamente contra quaisquer tipo de dificuldades econômicas, sociais, preconceitos e discriminações religiosas, guerras e outras percalços que insistiram e insistem em posicionar-se no caminho até seus leitores.

Estas linhas, nas palavras do historiador e escritor espírita Wilson Garcia, nasceram “para desbravar a selva da ignorância alimentada pelo clero dominante”[2], recebendo 20 anos depois o reforço da Revista Internacional de Espiritismo no esforço incansável de Cairbar Schutel por fazer da sua pequena Matão um centro de excelência da divulgação do Espiritismo. Estas linhas, valentes, foram capazes de enfrentar com razão, bom senso e justiça a ignorância daqueles que imaginavam deter para si o controle da crença e da fé de seus seguidores. Estas linhas, esclarecedoras, não se cansam de consolar corações aflitos em busca de palavras de esperança, renovando o desejo de amar a vida e tudo que ela proporciona aos habitantes desta Terra em constante e lenta evolução.

Estas linhas, conforme a brilhante conclusão de Kardec[1], relatam uma força da Natureza, impossível de ser detida ou ignorada, por meio de palavras de luz que ecoam ininterruptamente por todos os continentes há 116 anos!

Obrigado Cairbar Schutel! Parabéns, jornal O Clarim!

Referências:

1. KARDEC, Allan. Revista Espírita. Janeiro de 1858. Introdução. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB.

2. GARCIA, Wilson. A importância da imprensa espírita. Disponível em: http://www.espiritualidades.com.br/…/GARCIA_Wilson_tit…. Acesso em 27 de junho de 2017. *

(*) Texto originariamente publicado no jornal O Clarim de agosto de 2017 de autoria do jornalista e redator; adaptado para esta edição. Extraído de:

BOLETIM DIÁRIO DE NOTÍCIAS DO MOVIMENTO ESPÍRITA - 12-08-2021; https://www.noticiasespiritas.com.br/…/12-08-2021.htm