Os homens de boa vontade no novo ano

Os homens de boa vontade no novo ano

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A passagem para um novo ano sempre motivaram o homem e ensejam esperanças de melhorias e expectativas de num mundo melhor.

Na realidade, um novo ano é uma mudança formal no calendário e naturalmente, na prática, é uma sequência de fatos e compromissos que vêm se desenrolando.

Os dois últimos anos foram assinalados pela terrível pandemia do COVID-19, gerando distanciamento social e vários tipos de crises. Em nível global há expectativas para que seja assegurado o controle da pandemia pelas vacinas.

No contexto social há busca de soluções nas áreas políticas, econômicas, sociais, educacionais, de saúde, e, sem dúvida, com repercussões no próprio movimento espírita, que faz parte da sociedade.

Em todos os cenários, são homens encarnados os responsáveis pelas decisões e ações e vale a pena se recordar da obra A Gênese, de Allan Kardec, que no Cap. I encontra-se o registro: “Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem”.

Nessa mesma obra de Kardec, no Cap. XVIII, há considerações sobre a longa etapa que vivemos, os “Sinais dos tempos”. Em A Gênese, o Codificador destaca: “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das relações entre os seres.”

Para o Espiritismo fica claro que o livre-arbítrio e o real compromisso de aprimoramento moral e espiritual dos homens estão na base das esperadas transformações que poderão se fortalecer num novo e melhor ano. A propósito, recordamos da pioneira psicografia de Chico Xavier sobre união: “Em nome do Evangelho” (Emmanuel, 1948), de onde destacamos os trechos: “O mundo conturbado pede, efetivamente, ação transformadora. […] unamo-nos no mesmo roteiro de amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, valor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo em comunhão com os homens, servindo e esperando o futuro, em seu exemplo de abnegação, para que todos sejamos um…” (Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. O Clarim).

Nesse “mundo conturbado”, deve haver esforço para a disseminação do roteiro preconizado pelo Cristo, inclusive com o empenho dos espíritas. É o apelo para os “homens de boa vontade” com que os espíritos anunciaram as “novas de grande alegria” por ocasião do nascimento de Jesus (Lucas 2: 10, 14).

Que o ano novo seja melhor para todos nós!

Alegria do Natal e ensinos de Jesus

Alegria do Natal e ensinos de Jesus

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O nascimento de Jesus foi anunciado por espíritos, identificados como “anjos”: “[…] eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo” (Lucas 2, 10) e em seguida “vozes” entoavam: “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens” (Lucas 2, 14).

Essas características prenunciadas espiritualmente se concretizaram com os ensinos e exemplos de Jesus. A época da comemoração do nascimento de Jesus, que é o real significado do Natal, deve merecer recordações e reflexões em torno do que representa a proposta de Jesus para a Humanidade.

Alguns episódios de ações e diálogos registrados pelos evangelistas, entendemos como sugestivos para se balisar estudos e reflexões sobre temas vinculados aos ensinos de Jesus. A questão fundamental e que transparece em todos os ensinos de Jesus tem a ver com a chamada “regra áurea”: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12, 31).

A nosso ver, o Sermão da Montanha resume a essência das propostas de Jesus para uma nova Civilização. Nesse marco histórico há o registro que assinala uma das suas características, de demonstrar conhecimento de algumas tradições da época que seriam aceitáveis. De início, de acordo com Mateus (5, 1): “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos”. Ensinar sentado era naquela época uma tradição dos mestres judaicos. Todavia, não foi a postura de estar sentado que lhe conferiu autoridade, mas os conceitos exarados naquele momento e compatíveis com seus exemplos: “E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas” (Mateus 7, 28-29).

Daquela expressiva conclamação, destacam-se as Bem-aventuranças e que devem ser balizadoras para os processos de educação espiritual, a partir da compreensão espírita: os pobres de espírito; os que choram, porque eles serão consolados; os mansos; os que têm fome e sede de justiça; os misericordiosos; os limpos de coração; os pacificadores; os que sofrem perseguição por causa da justiça; e sobre a conduta quando vos injuriarem e perseguirem (Mateus 5, 3-11). Desde O evangelho segundo o espiritismo há um grande repositório de obras espíritas com grande diversidade de subsídios fundamentais a serem trabalhados para a compreensão das Bem-aventuranças à luz do Espiritismo.

O Sermão da Montanha contém inúmeras recomendações e alertas sobre a divulgação da mensagem, principalmente pelos exemplos norteadores: “Vós sois o sal da terra”; “a luz do mundo”; “resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5, 13-16). Há recomendações para a efetiva utilização do livre-arbítrio como espírito imortal: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não” (Mateus 5, 37). Jesus, em vários momentos criticou as orações espalhafatosas e pomposas, apresentou orientações sobre a prece sincera e espontânea: “quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto” (Mateus 6, 6). E, objetivamente profere uma prece: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso…” (Mateus 6, 9).

Posições renovadoras e até inéditas na época surgiram, por exemplo, ao ensejo de situações que surgiam: o perdão, o respeito ao próximo e a misericórdia frente à mulher adúltera (João 8, 1-11); e posições enérgicas, como ante os vendilhões do templo (Mateus 21, 12-17). Nos caminhos entre cidades surgem ilustrações em torno de cenários e situações, como a Parábola da figueira (Mateus 24, 32-35), destacando-se o conceito de “fruto”, ou seja, de ações e obras concretas; e os esclarecimentos sobre o cego de nascença (João 9, 1-10), de onde emerge a ideia de reencarnação. Nos diálogos com seus discípulos, já nos seus últimos dias, propõe o trabalho em grupo, a ser o menor para ser o maior, a ser humilde: “Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve” (Lucas 22, 27). Também define a missão deles: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça daí” (Mateus 10, 8), perfeitamente adequável aos espíritas de nossos dias.

O delineamento de rumos também fica fortalecido num diapasão espiritual, como nas colocações sobre “o caminho, a verdade e a vida” (João 14, 4-6).

Coroando os roteiros a serem seguidos surge o anúncio do “Consolador” (João 14, 15-17), tão bem analisado por Kardec em O evangelho segundo o espiritismo, com desdobramentos e aplicações para as ações na seara espírita.

Nesses registros sintetizados encontramos subsídios fundamentais que podem colaborar com aqueles que estão envolvidos em atividades de ensino espírita em nossos dias, com o objetivo de atender os que adentram os centros espíritas e encontrem o farol e o porto seguro que se traduza por acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação. Razões para se fortalecer a fé, a esperança e que criam ambientação íntima para manifestações de alegria aos que se esforçam para a prática da boa vontade.

O ensino moral de Jesus à luz das obras de Kardec e dos livros que sejam coerentes com os mesmos, a nosso ver, deve merecer destaque nos estudos e nas reuniões públicas dos centros espíritas. E, obviamente, trazendo esses parâmetros morais para o contexto da atualidade.

(Texto adaptado de artigo do autor publicado na Revista Internacional de Espiritismo: Jesus – modelo de educador, na edição de dezembro de 2021)

O Antigo Testamento foi revogado por Jesus?

O Antigo Testamento foi revogado por Jesus? 
(Parte 2 e final)*


Paulo da Silva Neto Sobrinho

Objetivamente, quanto à questão da revogação do Antigo Testamento, vejamos o que encontramos de apoio a essa tese no Novo Testamento:


1 Coríntios 15,2: “É pelo evangelho que vocês serão salvos, contanto que o guardem de modo como eu lhes anunciei; do contrário, vocês terão acreditado em vão.” (grifo nosso)
Efésios 1,13: “Em Cristo, também vocês ouviram a palavra da verdade, o Evangelho que os salva.” (grifo nosso)
Paulo deixa claro que é pelo Evangelho que seremos salvos; em outras palavras, ele não aceita o Antigo Testamento como algo com que possamos nos salvar.
Hebreus 7,18-19: “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou cousa alguma) e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nós chegamos a Deus. E, visto que não é sem prestar juramento (porque aqueles, sem juramento, são feitos sacerdotes, mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: O Senhor jurou e não se arrependerá; Tu és sacerdote para sempre); por isso mesmo Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.” (grifo nosso)
Hebreus 8,6-8.13: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para segunda. E, de fato, repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido, está prestes a desaparecer.” (grifo nosso)
Hebreus 10,9: “[…] Desse modo, Cristo suprime o primeiro culto para estabelecer o segundo”. (grifo nosso)


Se até aqui ainda poderia existir alguma pequena sombra de dúvida, agora foi definitivamente dissipada por estas narrativas da carta aos Hebreus. Poderíamos até dizer: “quem tem ouvidos que ouça”, mas diremos quem tem olhos veja: a aliança anterior é fraca, inútil e com defeito, enquanto que a nova é superior a ela. Quanto ao “está prestes a desaparecer”, só não desapareceu ainda por causa da insistência de alguns que querem, a todo custo, manter viva a legislação de Moisés contida no Antigo Testamento. Repetindo: Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para segunda.
Corroboramos nossa ideia com Ehrman: Já mencionei que esta é a visão apresentada na epístola dos Hebreus, do Novo Testamento, livro que tenta mostrar que a religião baseada em Jesus é superior à religião do judaísmo, em todos os sentidos. Para o autor de Hebreus, Jesus é superior a Moisés, que deu a Lei aos judeus (Hb 3); ele é superior a Josué, que conquistou a terra prometida (Hb 3); ele é superior aos sacerdotes que oferecem sacrifícios no templo (Hb 4-5); e, o mais marcante, ele é superior aos próprios sacrifícios (Hb 9-10). […]. (ERMAN, 2008, p. 78, grifo nosso)
Clara, então, fica a questão de Jesus ser superior a Moisés.


Marcos 2,18-22: “Como os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando, foram lhe perguntar: 'Por que é que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus não?' Jesus lhes respondeu: 'Por acaso ficaria bem que os convidados para um casamento fizessem jejum, enquanto o esposo está com eles? Enquanto está, não convém. Mas virá um tempo em que o esposo lhes será tirado. Então sim, eles vão jejuar. Ninguém costura um remendo de pano novo em roupa velha. Do contrário o remendo novo, pelo fato de encolher, estraga a roupa velha e o rasgão fica pior. Ninguém põe vinho novo em velhos recipientes de couro. Caso contrário, o vinho arrebentaria os recipientes. Ficariam perdidos os recipientes e também o vinho. Para vinho novo, recipientes novos!'.” (grifo nosso)


Seria o mesmo que Jesus dizer: Se vocês ficarem apegados aos ensinamentos de Moisés, não conseguirão suportar nem compreender o que agora vos trago. Onde se falava sobre os jejuns? Não é no Velho Testamento, que, tanto os fariseus e quanto os discípulos de João Batista, tiravam o que seguiam? Lembremo-nos de que “a Lei e os Profetas vigoraram até João” (Lucas 16,16). Assim, não fica claro sua revogação por Jesus? Só não o é para os que ainda insistem em seguir Moisés. Mais claro fica quando tomamos da nota de rodapé constante do Novo Testamento, Edições Loyola, o seguinte: “Tanto o pano novo como o vinho novo são símbolos duma nova era (cf. At 10,11; Hbr 1,11; Gên 49,11-12); os cristãos devem estar animados dum espírito novo, incompatível com antigas prescrições do judaísmo já ultrapassadas” (p. 57, grifo nosso)
Há um episódio na vida de Jesus que nos levou a formar uma forte convicção que seus ensinamentos eram superiores aos de Moisés. É a passagem em que João narra, o que se supõe como sendo, o primeiro milagre de Jesus. Apesar de termos refletido muito sobre ela, ainda não tínhamos nenhuma explicação que justificasse a atitude de Jesus em transformar água em vinho, para embebedar os convidados da festa de que participava.
Vejamos o episódio:


João 2,1-11: “No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos. Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não têm mais vinho!' Jesus respondeu: 'Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou'. A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: 'Façam o que ele mandar'. Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus. Jesus disse aos que serviam: 'Encham de água esses potes'. Eles encheram os potes até a boca. Depois Jesus disse: 'Agora tirem e levem ao mestre-sala'. Então levaram ao mestre-sala. Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo e disse: 'Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora'. Foi assim, em Caná da Galileia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele.”
 

Mas qual é o verdadeiro sentido dessa passagem? Nós o encontraremos naquilo que a pessoa encarregada da festa disse para o noivo: “Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora”. Considerando que, com esse primeiro ato público, Jesus inicia a sua missão, podemos dizer que o “vinho bom guardado até agora” são os ensinamentos de Jesus, superiores aos recebidos anteriormente, por meio de Moisés que seria simbolicamente o vinho de pior qualidade, até mesmo porque, e sem querer desmerecê-los, a humanidade daquela época não estava preparada para receber vinho (ensinamento) de melhor qualidade, se assim podemos nos expressar.
Tudo o que já dissemos anteriormente sobre os ensinos de Jesus, vale para corroborar essa nossa opinião. Mas podemos ainda trazer como apoio a isso: “Em comparação com esta imensa glória, o esplendor do ministério da antiga aliança já não é mais nada” (2 Coríntios 3,10) (grifo nosso), e “Dessa maneira é que se dá a ab-rogação do regulamento anterior em virtude de sua fraqueza e inutilidade – a Lei, na verdade, nada levou à perfeição – e foi introduzida uma esperança melhor pela qual nos aproximamos de Deus” (Hebreus 7,18-19).
Concluímos que Jesus não se restringiu a só revogar os rituais e sacrifícios como alguns pensam, para nós, foi muito mais além disso. Comprovamos também que não distorcemos as narrativas da Bíblia à nossa conveniência, de que tanto nos acusam. São elas, exatamente, que nos dão uma base sólida para afirmar com absoluta certeza que:
1 – O cumprimento da lei e dos profetas a que Jesus se refere no Evangelho é apenas com relação às profecias contidas nas Escrituras sobre Ele mesmo;
2 – Que somente tem que ser cumprido da Lei: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.
3 – Que nunca disse para seguirmos toda a Lei, aqui entendida como todo o Pentateuco.
É muito comum recorrerem aos apologistas do cristianismo primitivo para justificar esse ou aquele ponto, entretanto, quando é algo contrário à crença vigente passam por cima, como se não tivessem visto. Vejamos, por exemplo, o que encontramos em Justino de Roma.
A opinião de Justino de Roma (c. 100-165 d.C.), tido como o melhor apologista do século II, é bem clara no debate que manteve com um sábio judeu, Trifão, que alguns estudiosos identificam como sendo o célebre rabino Tarfão, morto em 155, uma vez que Trifão seria a forma grega do hebraico Tarfão. (JUSTINO, 1995, p. 107). Desse debate, intitulado Diálogo com Trifão, que durou dois dias, transcrevemos:
[…] Contudo, nós não a [confiança] depositamos por meio de Moisés ou da Lei, pois nesse caso estaríamos fazendo o mesmo que vós. Com efeito, ó Trifão, eu li que deveria vir uma lei perfeita e uma aliança soberana em relação às outras, que agora devem ser guardadas por todos os homens que desejam a herança de Deus. A Lei dada sobre o monte Horeb já está velha e pertence apenas a vós. A outra, porém, pertence a todos. Uma lei colocada contra outra lei anula a primeira; uma aliança feita posteriormente também deixa sem efeito a primeira. Cristo nos foi dado como lei eterna e definitiva e como aliança fiel, depois da qual não há mais nem lei, nem ordem, nem mandamento. […]. (JUSTINO, 1995, p. 127, grifo nosso)
Mais claro que isso é querer muito; não é mesmo?
Agora, podemos responder ao questionamento inicial: O Antigo Testamento foi revogado por Jesus? Sim; sem nenhuma sombra de dúvida. E é por isso que não nos sentimos na obrigação de cumprir nada do que consta nele, até mesmo para sermos coerentes com o que pensamos e por acreditar nessa fala de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (João 14,6). Por que Ele se colocou como sendo o caminho que conduz ao Pai e não a Moisés? É porque somente os seus ensinos é que devem ser seguidos.
Esse é o entendimento a que chegamos. Entretanto, não há como obrigar ninguém a pensar como nós. A única coisa que pedimos é para que as pessoas deixem de se apegar em demasia aos velhos ensinamentos, como se eles fossem verdadeiros. A Terra já não é mais o centro do Universo, visto que o homem, percebendo a ignorância de tal afirmativa, finalmente, aceitou a voz da Ciência. Além de que, muitas coisas não foram mudadas pelas cúpulas religiosas, justamente para que elas conservassem, a todo custo, o domínio que têm sobre o povo e, também, para que pudessem mantê-lo a todo custo. Ainda hoje encontramos as que buscam incutir a validade dos ensinamentos do Antigo Testamento não se dando conta de que “rompestes com Cristo, vós que buscais a justiça na Lei; caístes fora da graça” (Gálatas 5,4). Sabemos que não fazem isso por ignorância, mas por esperteza visando dominar seus “fiéis”, a fim de conseguir e manter o “poder” e o “dinheiro” na base do que podemos chamar de terrorismo religioso.
Referências bibliográficas:
Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
Bíblia Sagrada, 68ª ed. São Paulo: Ave-Maria, 1989.
Bíblia Sagrada, 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1989.
Novo Testamento, LEB. São Paulo: Loyola, 1984.
EHRMAN, B. D. O problema com Deus. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
EHRMAN, B. D. O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Quem mudou a Bíblia e por quê. São Paulo: Prestígio, 2006.
JUSTINO, Mártir, Santo Justino de Roma: I e II apologias: diálogo com Trifão. São Paulo: Paulus, 1995.

(*) Extraído de:
O consolador, revista semanal digital, Ano 15, N° 750, 5 de Dezembro de 2021: http://www.oconsolador.com.br/ano15/750/especial.html

Precauções no retorno presencial

Precauções no retorno presencial

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Entre setembro e outubro de 2021 houve um “suspiro” com expectativas otimistas no país com a queda das taxas de propagação e de mortes provocadas pela COVID-19.

Isso graças a providências clássicas adotadas pela área da saúde, como a vacinação em massa e distanciamento social, evidentemente que contrariando alguns interesses políticos, comerciais e até radicalismos negacionistas.

Enquanto havia expectativa de reaberturas em países com altos índices de vacinação, em novembro de 2021 começaram a surgir focos de uma chamada quarta onda e da variante “ômicron” do coronavírus.

Em geral essa ocorrência apareceu em países que tiveram problemas mais sérios com a vacinação: grande falta de vacinas no continente africano e reações contra a vacina em algumas regiões da Europa e alguns Estados norte-americanos. Neste último caso, alegando-se o direito individual de escolha, logicamente que ignorando o dever social de contribuição com o bem estar da sociedade.

A falta de vacinas em algumas regiões do mundo assinala claramente a resultante de prevalência de interesses comerciais e a ausência do compromisso de solidariedade. Mesmo numa época seríssima de pandemia alguns não entenderam que não adianta privilegiar-se um grupo ou uma região, mas há necessidade de se pensar no todo coletivo. Isto é, havendo regiões com focos da doença, esta será sempre alimentada com novas variantes e que, num mundo de rápida mobilidade, facilmente atingirão outros países e continentes.

Por outro lado, ainda não houve tempo suficiente para se garantir qual o tempo adequado de imunização que seria assegurado pelas diversas vacinas. Sabe-se que as vacinas não evitam o contágio, mas colaboraram com a minimização de sintomas, internações hospitalares e mortes.

Nesse cenário e face às notícias de novas variantes do vírus, já chegando ao Brasil, entendemos que há necessidade de cautelas com relação a aglomerações.

Na prática, o retorno às atividades presenciais nos centros espíritas deve ser feito mantendo-se atenção às orientações das autoridades sanitárias do Município e do Estado onde as instituições se localizam.

Parece-nos que serão válidos por tempo indeterminado os cuidados, entre outros e genericamente, de uso de máscaras, controle de temperatura corpórea à entrada, distanciamento entre os assentos, passes coletivos e não diretos, boa ventilação natural nas salas, e, sem dúvida a oferta de reuniões híbridas, ou seja, presenciais e virtuais, com transmissões simultâneas.

As transmissões por internet foram uma marcante conquista experimentada pelo meio espírita!

Há centros que estão retornando, por exemplo, com reuniões públicas híbridas, com os cuidados que anotamos acima, mas ofertando os cursos e estudos na forma virtual.

Eventos maiores que levem a aglomerações públicas, no atual quadro que ainda é de pandemia, deveriam permanecer suspensos até uma melhor clareza sobre o cenário epidemiológico de nosso planeta.

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“Onde, então, a ciência de viver? Em parte alguma; e o grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendo-lhes que, por se acharem em dependência mútua, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela” – Georges (Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XVII, item 11).

(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB; colaborador do Grupo Espírita Casa do Caminho e do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, em São Paulo.

Cuidados com os animais

Cuidados com os animais

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No espaço de pouquíssimos dias assistimos a cenas inesperadas envolvendo o homem e os cuidados com animais.

Cenas inusitadas ocorreram na cercania de nosso apartamento na grande cidade. Logo cedo escutamos uma voz feminina chamando alguém. Era uma menina na sacada de pequeno prédio que chamava uma ave por um nome humano. Daí foi-se desdobrando… Ela começou a estender cabos de vassoura em direção a uma árvore contígua. Na calçada começaram a aparecer pedestres curiosos em verificar o que ocorria. Um veículo policial ao passar pelo local, atraído pela aglomeração de pessoas olhando uma menina numa sacada gritando por alguém, parou e os policiais foram se informar. Tratava-se de uma menina desesperada pela fuga de uma maritaca que ela criava. Meia hora depois chega um grande veículo do Corpo de Bombeiros. Preparam-se com escadas e redes e sobem no interior da árvore. A essa altura a maritaca faz um segundo vôo e se aloja em outra árvore. A menina com seus familiares chora e os bombeiros posicionam-se junto à nova árvore, ligam a mangueira num duto de água da calçada e começam a molhar intensamente a árvore até a maritaca cair e ser recolhida imediatamente com panos pela meninas e familiares. Todo o episódio de recuperação da maritaca durou mais de duas horas. No final, com vários espectadores, a menina abraçou os bombeiros, seguindo-se fotos, e o veículo saiu emitindo os sons típicos da buzina do veículo da corporação. No conjunto pareceu um epopéia cinematográfica!

Defecho feliz para o drama da menina e seus familiares. Sabe-se que o Corpo de Bombeiros atua em algumas situações de recuperação de animais. Evidente que seria melhor se não existissem maritacas em cativeiro doméstico.

Na sequência, em viagem familiar ficamos hospedados em residência localizada em condomínio contíguo a região rural. Na manhã do primeiro dia, ao nos dirigirmos ao carro, fomos surpreendidos por três coelhos que estavam alojados embaixo do veículo. Saíram, ficaram quietos nos observando e verificamos que havia um outro embaixo de uma tosseira no jardim da residência. Nem nós, nem eles, se assustaram, movimentamos o carro e vimos pelo retrovisor que permaneciam impassíveis. Coelhos nativos e tranquilos, desde que não haja reação violenta dos humanos. Na mesma hora lembramo-nos que há alguns estávamos em país europeu logo após a liberação do período de caça. Numa rodovia cruzamos com uma caminhonete de caçador que tinha na traseira um autêntico varal com lebres ou coelhos mortos dependurados… Triste prática, essa de caçadas a animais.

Ainda na residência citada, ao retornarmos à tarde, um cão doméstico latia insistentemente. Quando um outro começou a latir também, nossa esposa achou suspeito e resolveu verificar o que acontecia no quintal. De repente, num corredor verificou que o cão havia encurralado um enorme lagarto (Teiu), com mais de um metro de comprimento; este reagia agressivamente e o cão latia e tentava avançar no animal invasor. Combinamos a esposa, ela imobilizaria e protegeria o cão e nós tentaríamos abrir um portão próximo para afugentar o lagarto que também nos ameaçava. Deu certo, o animal invasor e de aspecto horrível se foi e o cão ainda demorou um pouco para se acalmar, pois até tremia. Os dois animais, eu e a esposa ficamos incólumes.

Na mesma casa hospedeira, uma parente nossa se dedica a criar cães e gatos abandonados. Um deles, de pequeno porte e com 15 anos, está cego e paraplégico. Recebe cuidados especiais ao longo do dia e, obviamente, a parente se recusa à opção da eutanásia que muitos recomendam. O outro, já idoso também, tem artroses e, muito manso, quer sempre ficar ao lado de alguém da casa, sendo um grande companheiro.

Muitas emoções sequenciais na relação homens-animais. Como tudo se resolveu sem vitimar nenhum animal veio-nos à mente a visão espírita sobre esse reino. E sem dúvida o respeito e naturais cuidados que eles merecem.

Há pouco tempo, ficamos surpresos ao assistir a um documentário recente, em TV por assinatura, o ”Professor polvo”, verificando-se que o polvo aprende a reconhecer nadadores frequentes.

Nosso planeta é um enorme zoológico com uma incalculável variedade de espécies animais.

Na literatura espírita há muitos subsídios esclarecedores, notadamente as obras e palestras da dra. Irvênia Prada focalizando a questão espiritual dos animais.

Mas, cremos que se torna interessante a transcrição de um trecho de O livro dos espíritos:

“Questão 593. Poder-se-á dizer que os animais só obram por instinto?” Resposta: “Ainda aí há um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto, mas não vês que muitos obram denotando acentuada vontade? É que têm inteligência, porém limitada.”

Nesse mundo com tantas diversidades de culturas e tradições, apenas essa transcrição da obra inaugural de Allan Kardec já nos instiga muitas dúvidas; sugere estudos e reflexões e, sem dúvida, a busca pela aprendizagem do respeito aos animais.

Reflexões sobre união

Reflexões sobre união

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Nos últimos meses houve evocação dos 73 anos da realização 1o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, em São Paulo, e 72 anos da assinatura do “Pacto Áureo”, na sede da FEB, no Rio de Janeiro.

No 1o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, por iniciativa da então novel USE, com apoio dos Estados do Sul, foi realizado em São Paulo de 31 de outubro a 05 de novembro de 1948, tendo foco na unificação nos Estados e em nível nacional, e problemas doutrinários.

O comparecimento foi expressivo e bastante participativo, aprovando entre outras propostas: “que o espírito dominante em todos os trabalhos é o da unificação direcional do Espiritismo; que o Congresso lance aos espíritas do Brasil um manifesto sucinto e objetivo, divulgando os itens nele aprovados; promover entendimentos com as entidades máximas e federativas dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, ao sentido de consertar a forma de unificação direcional do Espiritismo; os entendimentos deverão ser feitos em torno da organização federativa de âmbito nacional; a entidade existente adaptada ao item anterior conserve sua autonomia social e patrimonial; o poder legislativo nacional será exercido por um Conselho Confederativo, sediado na Capital da República, e composto de um representante de cada Estado, do Distrito Federal e dos Territórios, eleitos pelas uniões ou federações dessas circunscrições, com mandato de cinco anos e presidido pelo presidente da entidade referida.”1,2

Entre os marcos históricos desse Congresso que completa 73 anos, há a primeira psicografia de Chico Xavier sobre união, assinada por Emmanuel: “Em nome do Evangelho” (Pedro Leopoldo, 14/09/1948). Chico Xavier encaminhou aos organizadores com a justificativa de que ele, como convidado, não poderia comparecer.1,2,3

Eis uns trechos: “O mundo conturbado pede, efetivamente, ação transformadora. […] unamo-nos no mesmo roteiro de amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, valor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo em comunhão com os homens, servindo e esperando o futuro, em seu exemplo de abnegação, para que todos sejamos um…” 1,2,3

A proposta da criação de um Conselho Superior do Espiritismo foi levada à consideração do presidente da FEB Wantuil de Freitas, que a recusou. No ano seguinte a USE apoiou o 2o Congresso da Confederação Espírita Panamericana, realizado pela Liga Espírita do Brasil no Rio de Janeiro. Durante esse evento, com a atuação de lideranças do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, surgiu o encontro com a direção da FEB. Nessa inesperada reunião o presidente da FEB Wantuil de Freitas apresentou uma proposta que foi aprovada pelos presentes aos 05/10/1949, “ad referendum” das Sociedades que representavam. A reunião depois foi intitulada Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro e “Pacto Áureo” e gerou a criação do Conselho Federativo Nacional da FEB e a “Caravana da Fraternidade”.2,3 Foi um desdobramento parcial do Congresso de 1948 e, no contexto das dificuldades para a união, um documento possível para o momento, de inquestionável valor histórico, com repercussões, mas gerou também reações e decepções na época.2,3

Em uma análise acadêmica da primeira metade do Século XX, em tese de doutorado, Pedro Paulo Amorim efetivou “minuciosa pesquisa em fontes institucionais na busca da tentativa de construção da identidade espírita: Reformador, Mundo Espírita, O Clarim, Revista Internacional de Espiritismo, Revista Espírita do Brasil e o Almenara. […] pudemos destacar a atuação de quatro entre os principais intelectuais espíritas: Carlos Imbassahy, Leopoldo Machado, Deolindo Amorim e Herculano Pires”; enfatiza o “Pacto Áureo” e conclui que houve um “projeto homogeneizante da FEB em busca da pretendida hegemonia no interior do Campo Espírita Brasileiro”.4

Nessas sete décadas subsequentes ocorreram transformações no contexto do país, novas Constituições Federais, e o movimento espírita viveu grande desenvolvimento, amadurecimento e diversificação de atuação. Em análise sobre o “Pacto Áureo”, comentamos no livro União dos espíritas. Para onde vamos? sobre a inadequação de seus itens: “Em nosso entendimento e experiência, com os apontamentos acima expressos, o texto do ‘Pacto Áureo’ está superado. Imaginemos um dirigente que, ao ler o citado documento, resolva colocar em prática ‘ao pé da letra’ o que está definido em seus artigos. O ‘Pacto Áureo’ é um importante referencial histórico, mas não é mais aplicável na atualidade.”3

Em uma necessária adequação do “Pacto Áureo” é imprescindível a valorização das cinco obras básicas de Kardec, à vista de grande incoerência: as Federativas Estaduais são vinculadas ao CFN da FEB, com base no “Pacto Áureo” – que não se fundamenta nas cinco obras básicas -, por outro lado, orientam as instituições adesas a inserirem nos seus Estatutos artigo alusivo à fundamentação nas obras de Kardec. O lógico seria que o documento fundante e norteador do CFN da FEB faça alusão à base doutrinária do Espiritismo. Há detalhamentos adequados apenas à época da assinatura do “Pacto Áureo” e que deveriam ser coerentes com a realidade e necessidades atuais do movimento espírita.2,3

O entendimento de Kardec de que “o efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas"5, é reiterado em mensagens posteriores ao “Pacto Áureo”, de Emmanuel e Bezerra de Menezes.

Os conceitos de Allan Kardec, a mensagem pioneira de Emmanuel, como o todo os Anais do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita2, e as mensagens de Bezerra de Menezes, devem ser refletidos pelos dirigentes espíritas.

Referências:

1) Anais do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita. São Paulo: USE. Versão digital: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/02/anais_1_congresso.pdf

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Palestra das Comemorações dos 70 anos do 1o Congresso Brasileiro de Unificação Espírita, São Paulo 20 e 21/10/2018. Acesso: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/02/palestra_70_anos.pdf

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. União dos espíritas. Para onde vamos? Capivari: EME. 2018.

4) Amorim, Pedro Paulo. As tensões no campo espírita brasileiro em tempos de afirmação (primeira metade do Século XX). Tese (Doutorado em História Cultural). Universidade Federal de Santa Catarina. 2017.

5) Kardec, Allan. Trad. Noleto, Evandro Bezerra. O Espiritismo é uma religião? Revista Espírita. Dezembro de 1868. Ano XII. FEB.

(*) Foi presidente da USE-SP e da FEB.

(Síntese de artigo transcrito do jornal Dirigente Espírita, órgão da USE-SP, Novembro-Dezembro de 2021; versão digital disponível na página eletrônica da USE-SP).

O sonho do Museu de São Paulo

O sonho do Museu de São Paulo

                                           

Jornal Dirigente Espírita, USE-SP, Nov.-Dez. 1997 | Casal Elza/Paulo Toledo Machado, Perri e Nestor – Museu de São Paulo – Abril de 2013

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Como representante de órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, da cidade de Araçatuba, frequentamos durante muitos anos o Conselho Deliberativo Estadual dessa Entidade Federativa. Depois integramos a Comissão Executiva, inclusive como presidente.

Nessas reuniões de caráter estadual conhecemos dr. Paulo Toledo Machado, sempre atuante e entusiasmado com seu projeto para criar um Museu Espírita para São Paulo. Esclarecendo que sempre houve doação monetária e de imóveis dele próprio e também com contribuições do movimento espírita paulista. A origem de tudo foi o Lar da Família Universal. Este editou várias obras inclusive a edição histórica da 1ª edição de O Livro dos Espíritos, bi-língue, traduzida pelo dr. Canuto Abreu. Também criou o Museu do Livro Espírita e o Instituto de Cultura Espírita de São Paulo.

Finalmente, Paulo Toledo Machado concretizou seu sonho e foi inaugurado o Museu Espírita de São Paulo, com uma série de eventos entre 18 e 25 de abril de 1997. Como um dos dirigentes da USE-SP estivemos presentes ao evento, em bela e ampla sede pertencente à mantenedora Instituto de Cultura Espírita de São Paulo, sito à rua Guaricanga, 357, no bairro da Lapa da capital paulista. O acervo incluía obras raras de primeiras edições de Kardec, um grande acervo bibliográfico com mais de 3.000 títulos, incluindo anais, boletins, anuários, jornais e revistas; também obras de arte (1).

Depois da virada do século, Nestor João Masotti, paulista de origem e ex-presidente da USE-SP iniciou conversações com Paulo Toledo Machado, com o objetivo de iniciar estudos para o Conselho Espírita Internacional (CEI) assumir o Museu Espírita de São Paulo. Nesses diálogos atuaram vários espíritas de São Paulo, inclusive Oceano Vieira de Melo, e foi estabelecido contato com familiares do dr. Silvino Canuto Abreu, detentores de documentos e manuscritos originais de Allan Kardec. Nestor chegou a informar sobre esse projeto em reunião do CEI.

Algum tempo depois, Nestor Masotti, presidente da FEB, mudou o rumo do projeto e caminhou no sentido da Federação Espírita Brasileira assumir o citado Museu. Foram prolongados diálogos, com encaminhamentos objetivos nos primeiros meses de 2012, inclusive com Assembleias das duas instituições envolvidas.

Em maio de 2012 assumimos a presidência interina da FEB, face o afastamento por enfermidade do presidente Nestor, concluímos as providências entre FEB e o Instituto de Cultura Espírita de São Paulo, mantenedor do Museu. Assinamos a escritura como presidente interino da FEB, em Cartório localizado na região do espigão da Avenida Paulista, recebendo em doação para a FEB quatro imóveis e ainda um numerário de posse do Instituto.

De imediato, constituímos uma Comissão com integrantes da diretoria da FEB, a presidente da USE-SP Júlia Nezu e membros do Instituto de Cultura Espírita, definindo-se Oceano Vieira de Melo como coordenador das providências para as reformas físicas, adequações legais e do acervo.

No dia 18 de abril de 2013, na sede do Museu Espírita de São Paulo, ocorreu a cerimônia para se assinalar publicamente a sua transferência à FEB. Houve a presença de muitos convidados de São Paulo, a presidente Júlia Nezu e dirigentes da USE-SP, Lian Abreu Duarte, Oceano Vieira de Melo, e, nós na condição de presidente da FEB comparecemos com três diretores da mesma. Na oportunidade foram homenageados os fundadores e ex-dirigentes, o casal Elza Mazonnetto Machado e Paulo Toledo Machado. Como homenageado especial convidamos o ex-presidente Nestor, que se encontrava em tratamento domiciliar em São Paulo e que apesar de debilitado, encontrava-se em melhores condições e compareceu junto com sua esposa. A cerimônia foi gravada e transformada em DVD pela Versátil Vídeo Spirite. (2,3)

No mesmo ano foi iniciada a reforma das dependências físicas do Museu e um trabalho de conservação e organização do acervo, com coordenação de Oceano Vieira de Melo, com recursos advindos do antigo Instituto de Cultura Espírita de São Paulo. (3)

No ano seguinte foi destinada uma sala para albergar o Instituto Canuto Abreu e para lá foram deslocados mobiliários históricos e a biblioteca do mesmo. Seu neto Lian Duarte tomou as providências com base em convênio que assinamos com Lian de Abreu Duarte durante o Conselho Federativo Nacional da FEB, em Brasília, em novembro de 2013, para a FEB receber os documentos de Kardec, trazidos há décadas por Silvino Canuto de Abreu (4) e que seriam localizados no futuro Instituto Canuto de Abreu a ser instalado junto ao Museu Espírita de São Paulo.

De nossa parte e da equipe constituída em São Paulo havia grande entusiasmo pelas providências em andamento. Todavia, em março de 2015 fomos desincumbidos da gestão da FEB. A partir daí não recebemos mais notícias.

A impactante informação recebemos em evento público no dia 26 de maio de 2018, como um dos convidados da Fundação Espírita André Luiz-FEAL, em evento no Centro Espírita Nosso Lar, em São Paulo, pois, naquela oportunidade apresentaram o recém criado Centro de Documentação e Obras Raras da FEAL e o “Projeto Cartas de Kardec”, inaugurando o Instituto Canuto Abreu junto à FEAL. Aí soubemos que face a descompassos Lian Abreu Duarte passou oficialmente a guarda do acervo do Instituto Canuto Abreu para a FEAL, retirando-os das dependências da sala do Museu onde estavam depositados. (3, 5)

Nosso relato sobre uma etapa da história do Museu Espírita de São Paulo, encerra-se por aqui, enaltecendo o ideal dos fundadores; com homenagens ao casal Elza e Paulo Toledo Machado, Nestor João Masotti, Júlia Nezu, Oceano Vieira de Melo e Lian de Abreu Duarte.

Fontes:

1) Museu inédito. Dirigente espírita. Órgão da USE. Ano VIII. N.43. Novembro-Dezembro de 1997. P.16.

2) FEB assume Museu Espírita de São Paulo. Reformador. Ano 131. N.2211. Junho de 2013. P.234.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 5.12. Araçatuba: Cocriação. 2021.

4) Inaugurações de Espaços iniciam as comemorações dos 130 anos da FEB. Reformador. Ano 132. N.2218. Janeiro de 2014. P. 47-51.

5) FEAL recebe acervo do Instituto Canuto Abreu. Consulta em: http://grupochicoxavier.com.br/feal-recebe-acervo-do-instituto-canuto-abreu/

(*) Foi presidente da USE-SP e da FEB, e, membro da Comissão Executiva do CEI.

O mal e a obediência à autoridade

O mal e a obediência à autoridade

Almir Del Prette (*)

“E disse Deus: Toma o seu filho, o seu único Isaac, a quem você ama, vá à terra de Moriá e oferece-o aí em holocausto sobre uma montanha que eu vou lhe mostrar (…). E chegando ao local, Abraão amarrou Isaac e tomando o cutelo para imolar seu filho, quando um Anjo do Senhor o deteve” (Gênesis 22:1-24) (1)

“Eu percebo o significado trágico da bomba atômica (…). É uma responsabilidade terrível que chegou até nós (…). Agradecemos a Deus que veio a nós, em vez de ir para os nossos inimigos; e oramos para que Ele nos guie para usá-la em Seus caminhos e para Seus propósitos”. (2).

“Acione o choque, pois ele errou a resposta… outra vez… agora aumente a voltagem do choque… Isso, continue… A instrução do pesquisador foi dada de forma tranquila ao colaborador da pesquisa que, então, girava o botão aumentando a voltagem”. Registro resumido baseado nas publicações sobre a pesquisa conduzida por Stanley Milgran(3), sobre obediência a autoridade, dezesseis anos após o término da 2ª. guerra mundial. (3)

O primeiro registro acima consta da Bíblia (Gênesis), livro de várias religiões cristãs. A narrativa fornece indicações sobre a atribuição de uma tarefa a Abraão, por Deus. Abraão foi instruído a oferecer o filho em holocausto. A ordem não dava margem a dúvida, pois mencionava o nome Isaac (“único filho, Isaac a quem amas”), especificava também o local onde deveria ocorrer a execução (Moriá). Uma imensa parcela de religiosos defende que os relatos bíblicos se referem a acontecimentos reais e que, nesse trecho da Bíblia, Deus teria aparecido para Abraão e ordenado que este executasse seu filho.

O segundo registro é um recorte do discurso proferido por Harry S. Truman, presidente dos Estados Unidos, dirigido à nação poucos dias após as explosões das bombas atômica e de plutônio (9/8/1945), lançadas, respectivamente, sobre Hiroshima e Nagasaki. Os termos da ordem usada pelo presidente, transmitida ao alto comando, não foram divulgados na íntegra. Sabe-se que houve uma ordem dada pelo presidente, pois cabia a este, como autoridade suprema da nação, a tarefa de autorizar o uso dessas armas de grande poder destrutivo. Portanto, como se tratava de artefatos ainda não utilizados em uma guerra, cabia ao presidente a decisão de endereçar ao alto comando a ordem de voo para o lançamento das bombas. O alto comando, incontinenti, retransmite a ordem para a força-tarefa na pessoa do líder da missão (4). As informações repassadas à sociedade e o discurso de Truman tinham como objetivo principal justificar o emprego dessas armas de grande poder destrutivo em um país que estava próximo da rendição, considerando que as demais nações do eixo já haviam assinado a capitulação. A nação americana e o mundo precisavam de uma justificativa para esses ataques devastadores e, então, assessores convenceram o presidente que a melhor justificativa seria a de agradecer a Deus que havia guiado os passos dos americanos nessa direção. Dito de outra maneira, tomar Deus como parceiro, o que foi prontamente aceito por Truman.

O terceiro registro selecionado sobre o tema obediência-autoridade, curiosamente ocorreu 16 anos após o término da segunda guerra mundial e trata-se de uma investigação de laboratório conduzida por um pesquisador judeu, Stanley Milgran. Resumidamente, Milgran, perplexo com o que observou durante a guerra, pretendia investigar se cidadãos comuns, cumpridores de seus deveres na sociedade, obedeceriam a ordens de produzir dor em outros por meio de choques elétricos em voltagem crescente. A pesquisa foi conduzida na Universidade de Yale, mas também em ambientes não universitários. Os interessados em maiores detalhes poderão ter acesso à descrição do experimento em um estilo menos acadêmico no YouTube. Convém antecipar ao leitor que os participantes da pesquisa de Milgran julgavam aplicar choques em pessoas que participavam de um “experimento sobre aprendizagem”. Entretanto, os que “sofriam” choques eram membros da equipe de pesquisa e simulavam reações de desconforto, contudo nada sofriam. Os que “aplicavam os choques”, seguindo instruções poderiam se recusar a fazê-lo, porém, em sua maioria, continuaram “obedecendo”, como na passagem bíblica Abraão aceitara sacrificar o filho e os oficiais americanos a arrasarem as duas cidades japonesas quando o presidente Truman autorizou o uso das bombas.

O relato completo da pesquisa de Milgran mostra que os participantes assinaram o TCLA (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), que assegurava o direito a cada participante de abandonar a pesquisa a qualquer momento que desejasse, sem nenhuma consequência para si (3).

O primeiro registro foi retirado de um livro religioso e os outros dois de fontes laicas e permitem algumas digressões sobre obediência e autoridade. Poder-se-ia questionar a inclusão do primeiro registro, dada a sua fonte. De fato, uma vez que não se pode garantir como real o ocorrido com Abraão, o que justificaria sua inclusão aqui? Entretanto, ainda que isso possa nos surpreender produzir sofrimento a “mando de Deus” ainda tem sua atualidade e ao longo do tempo vem sendo usado como estratégia militar para obter adesões a missões suicidas pelos fiéis.

O leitor atento pode também refletir que esses relatos não são os únicos que ilustram o tema da obediência. Muitos outros casos poderiam ser incluídos para estudo como, por exemplo, o de Adolf Eichmann (4), carrasco nazista, capturado na Argentina sob a acusação de ter conduzido à morte centenas de milhares de judeus, obedecendo ordens de deportá-los em comboios para os campos de concentração, onde eram assassinados. Não obstante outros casos, os três registros selecionados exemplificam condições genéricas presentes nos que ordenam e nos que obedecem. Mesmo estando separados por períodos temporais e geográficos distintos e, portanto, não redutíveis culturalmente entre si, eles se assemelham nas características dos comportamentos de ordenar-obedecer e nos resultados previsíveis contidos no comportamento de obediência.

1. Obediência e autoridade

Ao longo da história a obediência desempenhou um papel importante na sobrevivência dos humanos e, também, de organismos não humanos, por exemplo de antropoides, como os gorilas. Pode-se dizer que é quase impossível viver em grupo sem mandantes e obedientes. Essa dualidade, quando produtiva ao grupo, resulta em normas, que podem gerar comportamentos desejáveis. Estudos antropológicos(5) mostram que as habilidades sociais foram fundamentais para a sobrevivência e expansão do homo sapiens no planeta. Entre essas habilidades sociais as subclasses ouvir, concordar e atender a pedido ou ordem estão presentes em grande parte das interações diádicas ou grupais.

2. Resultados do mando e da obediência

O mandar e o obedecer nem sempre produzem benéficos para a comunidade. Com muita frequência podem chegar a resultados negativos devastadores, subdividindo grupos (nós e eles) que atingem inocentes criando rivalidades. Podem também favorecer intrigas e conflitos, que por vezes se prolongam por gerações. Daí a importância das investigações de diferentes ciências sobre essa questão, como Antropologia, Psicologia, Sociologia, Educação etc. Hanna Arendt (6), que acompanhou o julgamento de Adolf Eichmann, ficou surpresa ao se deparar com um indivíduo comum e de aparência inofensiva. Após muita observação, propôs a categoria “banalidade do mal” para auxiliar na explicação desse fenômeno. Em outras palavras, quando muitas das ordens são aceitas acriticamente por certo contingente de pessoas é porque a banalização do mal está se generalizando. Na atualidade, o mando exercido por alguém de autoridade e a obediência por colaboradores e principalmente por indivíduos anônimos, vem ganhando uma dimensão preocupante. A difusão de ordens (mais ou menos disfarçadas) em vários canais da internet pode, em apenas algumas horas, produzir reações coletivas delirantes.

3. A quem e a que ordem obedecer?

Primeiramente podemos refletir sobre os efeitos prováveis das ordens que nos são endereçadas, com ajuda de algumas perguntas: O resultado de aceitar essa ordem traz benefícios ou malefícios para outrem? Os possíveis benefícios advindos são justos e não prejudicam a terceiros? Posterior ou simultaneamente a essas questões, outras podem ser úteis para a decisão: Quem é o mandante? Quem são os beneficiados pelo cumprimento da ordem? Quais as razões para executar a ordem? Quais os problemas advindos pela aceitação da ordem? Quais são as consequências pela recusa no cumprimento da ordem?

Esses itens, em nosso entender, deveriam fazer parte da educação familiar e escolar, adaptados na linguagem e dosados conforme a idade das crianças. Na família, desde cedo a criança pode aprender a quem ela deve se aproximar ou evitar, quais convites recusar, que empreendimentos e assuntos participar. O principal recurso educativo disponível, tanto na família como na escola, é o modelo. As crianças imitam pais, irmãos mais velhos, primos, amigos, tios, avós, professores, heróis fictícios, sem precisarem de instrução. Kardec (8) perguntou aos espíritos sobre o modelo dado por Deus aos homens, visando evidentemente o progresso espiritual. A resposta foi: Jesus.

Todos nós sabemos que quanto mais evolutivamente distante no progresso espiritual se encontra alguém, mais difícil é imitá-lo; contudo Jesus, jamais propôs tarefas impossíveis de serem realizadas. Um exemplo é o da parábola do bom samaritano(9), que certamente cada um de nós já observou alguém agindo de maneira semelhante ainda que em situação diferente.

4. Banalidade do bem

Na atual crise social que estamos vivendo, observa-se um fenômeno que tem chamado a atenção de alguns analistas da comunicação. Trata-se de uma feliz generalização de comportamentos solidários em diferentes comunidades, em sua maioria desassistidas pelo poder público. Pessoas que compram, organizam, preparam, transportam e entregam as “quentinhas” para aqueles que muitas vezes não têm mais alimento algum para enfrentar a fome. São muitos os “samaritanos” que se engajam nessa meritória tarefa. Nesses casos, a rapidez da comunicação via internet é uma ferramenta imprescindível e ao invés de grupos que trocam ordens, intrigas, maledicências, verificam-se intercâmbios no WhatsApp sobre horário de recolhimento do pão, do feijão, da inclusão de mais um pequeno comércio de carne, cujo proprietário também quer contribuir… E o movimento solidário crescente permite-nos a ousadia de sonhar com a banalização do bem, o oposto do que observou Arendt em seu estudo.

5. À guisa de conclusão:

conhece-te a ti mesmo Essa frase escrita no templo de Delfos em Atenas parece muito oportuna para o tema aqui abordado. Precisamos nos conhecer para verificar se: (

a) aceitamos ordens com conteúdo que nos instigam ao mal?;

(b) identificamos fakes e objetivos subjacentes à sua divulgação;

(c) atendemos ao convite de participar de grupos que se dedicam a dar roupagem nova a acontecimentos já ultrapassados?;

(d) nossa prática cultural, disfarçada ou explicita, permanece no código de Hamurabi, “olho por olho, dente por dente” ou já ensaiamos a prática da Regra Áurea, defendida por Jesus, “fazer ao outro o que gostaria que este nos fizesse”? Convém recordar ainda que Jesus esteve às voltas com questões semelhantes. O mestre desobedeceu a todas as normas culturais que se opunham às leis maiores (defesa da vida). Por exemplo, a prática de curar no sábado. Também, recusou atender pedidos abusivos quando um grupo de fariseus e saduceus pediram que exibisse algum sinal extraordinário (8).

Para finalizar convido o leitor para uma reflexão sobre o trecho do item CARACTERES DO HOMEM DE BEM:

“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza…” (9)

Referências:

(1) Bíblia Sagrada (Gênesis). Edições Paulinas, 1990.

(2 e 4) Wikipédia (Consultas, 11/8 e 23/08/21). 

(3 e 5) Milgran, S. Behavioral study of obedience. Journal of abnormal and social Psychology (Vol. 67, 1963, Pág. 371-378).

(6) Harari, Y.N. Homo Deus. São Paulo. Amazon, 2018.

(7) Arendit, A. Eichmann em Jerusalém. Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo. Companhia das Letras, 1999.

(8) Mt,16, 1-4.

(9) Kardec, A. O Livro dos Espíritos. Instituto de Difusão Espírita. Araras (SP), 1998.

Nota do Autor:

Meus agradecimentos a Zilda A. P. Del Prette pela leitura deste texto e por suas sugestões.

(*) Professor da UFsCar – São Carlos (SP).

Transcrito de: O Consolador – Revista Semanal de Divulgação Espírita. Ano 15 – N° 744 – 24 de Outubro de 2021: http://www.oconsolador.com.br/ano15/744/principal.html

 

ELES TODOS TE OUVEM

ELES TODOS TE OUVEM

Irmão Saulo (*)

O item 21 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma mensagem mediúnica do Sr. Sanson, dada em Paris em 1863, e tem por título “Perda de pessoas amadas e mortes prematuras”.

Como vemos nas reuniões com Chico Xavier as lições desse livro (**), que é sempre aberto ao acaso por um dos presentes, caem num tema referente à maior preocupação dos participantes. Sanson, ex-materialista que se converteu ao Espiritismo lendo O Livro dos Espíritos, foi companheiro constante de Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Na sua mensagem, como nesta de Emmanuel (**), Sanson adverte que os nossos mortos amados necessitam de nossos bons pensamentos, de nossas preces, mas não do nosso desespero que só serve para faze-los sofrer, e acentua:

“Mães, sabei que vossos filhos bem amados estão perto de vós”.

Emmanuel exclama: “Eles todos te ouvem o coração na Vida Superior”.

Ao longo de mais de um século os princípios espíritas se confirmaram e continuam a se confirmar através das mensagens dos Espíritos que sempre nos assistem.

Hoje a Parapsicologia, no capítulo das investigações sobre telepatia e ultimamente sobre as comunicações mediúnicas (fenômenos theta), comprovou cientificamente a relação mental entre vivos e mortos, referendando a comprovação já feita anteriormente pela Metapsíquica e pela Ciência Psíquica Inglesa.

Estamos todos na Terra para uma breve experiência de vida material, mas a nossa vida verdadeira é a espiritual. Os que partem antes de nós concluíram a sua tarefa e estão livres dos tormentos da vida terrena. Mas como nos amam, continuam ligados a nós pelo pensamento, pelo sentimento, pelo amor que nos dedicam.

Já não se trata mais de uma questão de crença, mas de uma certeza milhões de vezes comprovada. Precisamos compreender isso para não os perturbarmos na vida espiritual com o desespero do nosso amor egoísta. Eles vivem e nos esperam para o reencontro.

Texto transcrito de: Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano; Autores diversos. Na era do espírito. Cap. 13. São Bernardo do Campo: GEEM

(*) Pseudônimo de José Herculano Pires.

(**) Vide o texto de Emmanuel “Mortos amados”, desse mesmo capítulo de livro citado, em “Mensagens” dessa página eletrônica.

Manifestações de gratidão

Manifestações de gratidão

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Como primeira viagem doutrinária após o início da pandemia e em função da pré-estréia do filme “Benedita. Uma Heroína Invisível – O Legado da Superação" estivemos em nossa terra natal Araçatuba, com intensos compromissos doutrinários.

Esse filme tem vinculações conosco; seu enredo foi adaptação de nosso livro Benedita Fernandes. A dama da caridade, atualmente editado pela Cocriação, de Araçatuba; e, há alguns anos acompanhamos o idealismo de seu diretor, Sirlei Nogueira, no planejamento e na execução do filme com recente pré-estreia e lançamento comercial previsto para 2022.

Vários programas especiais sobre esse vulto histórico foram transmitidos pela “Estação Dama da Caridade Benedita Fernandes”, com canais no You Tube e no Facebook, coordenada por Sirlei Nogueira.

Benedita Fernandes, curada de uma obsessão, transformou-se em dedicada seareira, fundadora da primeira obra assistencial espírita na cidade e região nos idos de 1932. Desencarnou envolvida em ambiente de respeito e admiração da população de Araçatuba aos 09 de outubro de 1947. Daí a razão da pré-estreia do filme nessa data.

A primeira manifestação de gratidão é ao espírito homenageado, Benedita Fernandes. Ao longo de nossa existência sempre sentimos e recebemos informações sobre a atuação continuada e muito próxima dessa benfeitora espiritual e relatamos alguns episódios em nosso recente livro Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões, também editado pela Cocriação (2021).

Mas durante nossa recente visita a Araçatuba estivemos em atividades espíritas em algumas instituições. De lá mudamos há 32 anos, residindo em São Paulo, Brasília e retornando a São Paulo.

Na União Espírita Paz e Caridade e Abrigo Ismael que, respectivamente, completam 100 e 80 anos de fundação, onde nossa esposa Célia participou da fundação de Mocidade Espírita em 1965, também local de atuação de sua genitora Joana e do nosso tio Pedro Perri.

Em visita à Instituição Nosso Lar, fundada por Emília Santos e os irmãos Bebé e Rolandinho Perri Cefaly (nossa genitora e o tio), rememoramos o local onde iniciamos nossas atividades e em 1964 fundamos uma Mocidade Espírita. Atualmente, nosso irmão Paulo Sérgio Perri de Carvalho é o presidente da Instituição.

Também visitamos um trabalho novo na cidade, o Projeto Chico Xavier, implantado em bairro da periferia de Araçatuba, com atendimentos material e espiritual.

Nos encontros com pessoas na apresentação do filme e nas visitas às instituições citadas, reencontramos antigos companheiros de atuação espírita, e, em outros ambientes com ex-alunos, funcionários e ex-orientados nossos na Faculdade de Odontologia da UNESP.

A visita à terra natal, com reencontros familiares e amigos, chamou-nos atenção pelos sentimentos externados de amizade, fraternidade e também de gratidão.

Se cultivamos gratidão a Benedita Fernandes e a várias outras entidades espirituais vinculadas à cidade, por outro lado, depois de muito tempo fora da cidade natal, sem que imaginássemos percebemos manifestações de boas recordações e de afeto evocando os tempos e ações lá vivenciados.

Isso nos remete a alguns pensamentos motivadores:

“Dando sempre graças a Deus por tudo, em nome de Nosso Senhor Jesus-Cristo…” – Paulo ( Efésios, 5,20); “Senhor Jesus! Nós te agradecemos: […] por todos os demais tesouros de esperança e amor, alegria e paz de que nos enriqueces a existência, sê bendito, Senhor, ao mesmo tempo que te louvamos a Infinita Misericórdia, hoje e para sempre” – Emmanuel (Coragem, FCX, Ed.CEC)

(Foi dirigente espírita e docente de Faculdade em Araçatuba; ex-presidente da USE-SP e da FEB).