Guerras na atualidade e a paz

Guerras na atualidade e a paz

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há um ano atrás, no dia seguinte à invasão da Ucrânia, publicamos o artigo “Guerra, paz e não-violência”.(1)

Naquele texto evocamos a memória de Léon Tolstoi (1828-1910), um dos maiores escritores da Rússia. Um de seus clássicos é o romance Guerra e paz, onde descreve a campanha de Napoleão Bonaparte na invasão da Rússia ao mesmo tempo em que monta o enredo dos amores e aventuras de alguns personagens. Tolstoi registrou a histórica invasão de Napoleão à Rússia, mas no final de sua existência tornou-se um defensor do respeito ao próximo e da paz.

Sua vida foi marcada por muitos protagonismos políticos e religiosos. Tolstói passou as últimos tempos de sua vida pregando o amor e a não-violência. Em seu último romance Ressurreição, defende idéias ligadas à justiça social.

Em seguida, citamos textos espirituais do autor russo, quando ele escreveu “do lado de lá”, utilizando a mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira e acrescentou uma nova visão: Ressurreição e vida. O autor espiritual desenvolve seis contos e dois mini-romances ambientados na Rússia do tempo dos czares.(2)

O espírito Tolstoi relata o encontro com um luminar do cristianismo e a aceitação de seus ensinos: “Foi esse um dos mestres que encontrei aquém do túmulo. Seus ensinamentos, os exemplos de ternura em favor do próximo, que me deu, revigoraram minhas forças. Sob seus conselhos amorosos orientei-me, dispondo-me a realizações conciliadoras da consciência. E se tu, meu amigo, desejas encontrar aquele reino de Deus de que Jesus dá notícias, ama os desgraçados! Cada lágrima que enxugares em seus olhos, cada conselho bom que dispensares ao pobre desarvorado da vida é mais um passo que darás em direção a esse reino que, finalmente, encontrarás dentro do teu próprio coração, que assim aprendeu o cumprimento da suprema Lei: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo…” Trata-se de uma referência a versículos de Mateus (22, 37-39).

Consideramos que a obra clássica de Tolstoi e os episódios lamentáveis que assistimos na atualidade nos remetem a O livro dos espíritos, onde Allan Kardec apresenta a visão da Espiritualidade sobre as guerras:

“P – Que é o que impele o homem à guerra? R – Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem — o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas, fazendo-a com humanidade, quando a sente necessária.”(3)

Um ano depois prosseguem as barbáries geradas pela guerra no Leste da Europa. Esse lamentável e preocupante cenário mostra quão distante estamos do desejado “mundo de regeneração”.

Claramente há o predomínio do egoísmo e suas derivações e repercussões fomentando ações de desrespeito e de ódio. A regra áurea de Jesus “amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, está distante de parcelas significativas da Humanidade.

Recomendações de Paulo tornam-se oportunas para o momento: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”.(4)

Em O Evangelho segundo o Espiritismo Kardec comenta que destruição do egoísmo somente ocorrerá quando houver “melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento” entre os homens: “quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua”.(5)

Referências:

1) Artigo publicado na página eletrônica do GEECX em 25/02/2022: http://grupochicoxavier.com.br/guerra-paz-e-nao-violencia/

2) Pereira, Yvonne Amaral. Pelo espírito Léon Tolstoi. Ressurreição e vida. Cap. Conclusão. Brasília: FEB. 1963.

3) Kardec, Allan. O livro dos espíritos. Questão 742.

4) 2a. Epístola aos Coríntios (4, 8-9).

5) Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Capítulo 11.

Violências e tragédias

Violências e tragédias

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O início do ano de 2023 está sendo assinalado por algumas situações de violências e de tragédias.

Evidentemente que se constituem em processos, consequências de várias condições que já evoluíam.

Entre essas, as repercussões da prolongada pandemia do COVID-19, a guerra da invasão da Ucrânia, diversas agudizações de paixões e radicalizações político-partidárias e também consequências de políticas de não valorização das condições de vida, desde o respeito à existência corpórea até ao meio ambiente.

Simultaneamente, o globo terrestre tem movimentações e adequações naturais e cíclicas. Em consequência, diferentes focos geológicos e atmosféricos provocam cataclismos.

O conjunto pode gerar reações que variam do susto à perplexidade e até a revoltas.

Torna-se oportuna a releitura e a reflexão de textos marcantes da literatura espírita. Os conceitos de imortalidade da alma e o mecanismo das vidas sucessivas dentro do parâmetro da evolução espiritual, coerentes com a essência dos ensinos de Jesus são fundamentais.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo há registro sobre as causas anteriores das aflições: “[…] se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo”.(1)

Na sua última obra, A Gênese, Kardec analisa a frase bíblica “são chegados os tempos” e pondera: “São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, nenhuma importância têm; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento. Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações: a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da natureza, mas o cumprimento dessas leis”.(2)

E sem misticismo ou messianismo comenta: “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros”.(2)

A propósito, Emmanuel à questão em O Consolador: “– Deve o homem terrestre enxergar nas comoções geológicas do globo elementos de provação para a sua vida?”

Responde: “- Os abalos sísmicos não são simples acidentes da Natureza. O mundo não está sob a direção de forças cegas. As comoções do globo são instrumentos de provações coletivas, ríspidas e penosas. Nesses cataclismos, a multidão resgata igualmente os seus crimes de outrora e cada elemento integrante da mesma quita-se do pretérito na pauta dos débitos individuais”.(3)

Mas, mesmo com esclarecimentos e conformação, não deve existir a indiferença.

A partir da regra “amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, Kardec aponta que “é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo”. E destaca: “Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua”.(1)

Referências:

1) Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Capítulos 5, 11.

2) Kardec, Allan. A gênese. Cap.18.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O Consolador. Questão 88.

A resignação e a resistência

A resignação e a resistência

Aylton Paiva

“Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados” Jesus (Mateus, cap. V, v. 5).

No sentido em que Jesus ofereceu o consolo aos que choram depreende-se que esse choro é causado pela aflição do sofrimento; por algum tipo de dor, seja ela física ou moral.

Dificilmente haverá uma pessoa que ao atingir a maioridade não tenha sofrido algum tipo de dor.

Que, de alguma maneira, não tenha vertido o pranto dolorido. Diante da dor poderemos adotar dois tipos de comportamento: a resignação e a resistência.

No dicionário Aurélio encontramos a seguinte definição para resignação: “ 3. Submissão paciente aos sofrimento da vida” .

Nele encontramos, também, com a definição para resistência: “3. Força que defende um organismo do desgaste de doença, cansaço, fome, etc.”

No decorrer da vida, o ser humano depara-se com dores como: doenças, fracasso financeiro, fracasso amoroso, morte, entre outros tantos.

Como reagir, então, ante os sofrimentos?

Poderemos ter dois tipos de comportamento: resignação – comportamento passivo e resistência e o comportamento ativo que busca a solução para acabar ou diminuir o sofrimento.

No enfrentamento ao sofrimento deveremos ter as seguintes atitudes:

1. Ter uma percepção clara da fonte do sofrimento. Separar aquilo que é real da imaginação.

2. Analisar os possíveis recursos para superar a dor. Como deveremos agir com entendimento, bom senso e o que fazer para sobrepujar a dor.

3. Aceitar o que pode e o que não pode ser modificado, mudando a forma de enfrentamento para uma ação ou vivência mais adequada e que diminua o sofrimento. Compreensão realista para agir adequadamente.

4. Os fatos são importantes ( causas da dor ), porém o mais importante é a maneira como se enfrenta os fatos ( estado emocional), de modo realista ou fantasioso.

Ter, dessa forma, a visão clara do foco da dor e da melhor forma de se comportar diante dele, procurando sentir a realidade e fugir da ilusão e da imaginação exacerbada.

Seguindo esses passos poderemos enfrentar a dor melhor preparados para agir pelo caminho da resignação ou pela senda do enfrentamento.

Estaremos, deste modo, aparelhados, com equilíbrio emocional, para calmamente atuarmos a fim de eliminar ou diminuir a dor que nos aflige.

É atribuída ao teólogo Reinhold Niebuhr a "Oração da Serenidade", que assim propõem:

“Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras”.

Consideremos, ainda, o Espiritismo nos ensina que a dor, seja ela qual for, não é um castigo divino, pois Deus não castiga, Ele educa e aprimora seus filhos, suas criaturas, pelos caminhos da evolução no sentido da felicidade.

Portanto, a dor tem um caráter educativo e precisamos, pois, retirar dela as experiências pedagógicas que nos oferece.

Resignação e resistência são dois instrumentos importantes na construção da nossa felicidade. Vamos treinar para usá-las sempre e, cada vez, de forma mais apropriada e eficiente e, assim, encontraremos o adequado consolo.

(Do Boletim: Notícias do Movimento Espírita, São Paulo, SP, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018)

União e unificação no mundo digital

União e unificação no mundo digital

Orson Peter Carrara

Introdução

Ninguém desconhece os benefícios oriundos da união de pessoas, ideias e grupos ou instituições, para expansão dos ideais enobrecedores que dignificam a vida e seus tão variados desdobramentos. Inclusive no movimento espírita, óbvio.

E são muito conhecidos os esforços nessa direção, com prodígios em favor da causa, especialmente pela condução de Bezerra de Menezes, ainda em seu primeiro mandato como presidente da Federação Espírita Brasileira e pelas ações que se seguiram mesmo após sua desencarnação. Inclusive com a conhecida mensagem Unificação, psicografada por Chico Xavier em 1963 e largamente utilizada e divulgada. Aliás, diga-se, o conhecido Benfeitor não se cansa nas recomendações nessa direção, considerando, claro, sua magna importância. A propósito, nunca é demais recomendar a leitura, conhecimento e divulgação da citada mensagem.

Aos novatos – de idade ou aos que agora chegam – e também aos veteranos (até para que nos recordemos das preciosas orientações e não as percamos de vista), será fácil a qualquer leitor encontrá-la com as facilidades das buscas virtuais. Basta digitar no navegador de pesquisa: Unificação – Bezerra de Menezes. Nessa ordem de raciocínio, sugerimos também ao leitor pesquisar igualmente o valioso documento Orientação aos Órgãos de Unificação, da Federação Espírita Brasileira, facilmente encontrável digitando-se o próprio título em texto integral, fruto de elaboração, análise e aprovação do Conselho Federativo Nacional, em 2009.

A expressão União e Unificação deve ser entendida na direção de ações conciliatórias, solidárias, sem qualquer imposição, constrangimento ou desrespeito à liberdade. Ela representa, isto sim, disposição e boa vontade na direção do objetivo maior: a causa espírita, que valoriza iniciativas, respeita a liberdade e a independência e age sempre no sentido do auxílio, da orientação, prevalecendo a decisão coletiva, no intercâmbio das experiências. Note-se que quando se afirma decisão coletiva, busca-se o consenso dos pontos comuns a bem do objetivo maior, levando-se em conta as propostas apresentadas em plenários constituídos e eleitos pelos próprios integrantes, que, por sua vez, representam outros órgãos e instituições, o que faz alcançar resultados benéficos, práticos e coletivos. Na referida mensagem Unificação, encontramos a diretriz básica: “(…) mantenhamos o propósito de irmanar, aproximar, confraternizar e compreender (…)”.

A frase usada pelo Benfeitor traduz como fazer… Esse manter o propósito é o grande segredo, ao invés de nos fecharmos nos propósitos exclusivistas. E no mundo digital? Com a explosão da virtualidade, como entender o processo todo da União e Unificação? São possíveis?

Uma análise superficial da realidade que vivemos intensamente nos dias atuais já mostrou que sim. Facilitou-se a aproximação, derrubaram-se barreiras e paradigmas, nivelaram-se pessoas, grupos e instituições, extinguiu-se o problema das distâncias, inclusive internacionais.

Vários aspectos para que as duas ações aconteçam podem ser citados e refletidos por todos nós, até para que os aperfeiçoemos para melhor utilização:

a) Fortalecimento do ideal (nos estudos e variadas ações) nos grupos de uma mesma instituição ou cidade, extinguindo-se totalmente as fronteiras geográficas;

b) Flexibilidade de horários (nos estudos, na divulgação e ações administrativas), igualmente como acima anotado, com grande facilidade de agendamentos;

c) Redução drástica de custos nos deslocamentos, refeições e hospedagens, facilitando muito a expansão e divulgação doutrinária espírita;

d) Aproximação natural e multiplicação dos contatos – muitos intercâmbios se estabeleceram entre pessoas, instituições, grupos, cidades, estados e países, aproximando e unindo esforços, estabelecendo sintonias extraordinárias;

e) Preenchimento de espaços vazios – a virtualidade preencheu espaços de pessoas solitárias, acamadas, com restrições de deslocamentos e impedimentos variados;

f) Derrubou o equivocado conceito de “minha casa” – A suposta e limitante proposição de “minha casa” cedeu lugar à “nossa causa”, ampliando a noção do trabalho coletivo;

g) Valores descobertos – Notáveis trabalhadores espíritas, ocultos pelo anonimato, surgiram agora oferecendo agora sua contribuição na expansão da ideia espírita, com legados importantes na história do movimento, ainda que localizados numa instituição ou cidade;

h) Burocracia perdeu lugar – Decisões antes lentas e complexas ganharam ações mais práticas, facilitando ações variadas.

i) E talvez o mais importante: a fraternidade – Amigos se fizeram, se reencontraram, estabelecendo laços de fraternidade legítima que se desdobraram em ações concretas em favor da expansão da ideia espírita, em suas ações.

Talvez se pergunte o leitor sobre isolamento social, ausência de convivência presencial ou distanciamento sob vários aspectos. É verdade, mas note-se que, apesar das limitações todas, conseguimos conviver e tais etapas estão sendo vencidas gradativamente.

Podemos, pois, afirmar sem receio que as vantagens foram admiráveis e muito maiores que os reais aspectos negativos também existentes, na saúde e na economia. Vistos, todavia, com o olhar da experiência adquirida e de nossa condição imortal, os benefícios foram e estão sendo maiores. Os prejuízos e limitações são passageiros, por mais que perdurem, e as lições ficam para sempre.

Por outro lado, aprendemos – ainda que em muitos casos precariamente – a utilizar as plataformas, que estão sendo gradativamente também aperfeiçoadas. Tornaram-se instrumentos muito hábeis e úteis de divulgação e vivência espírita. A alegação de que ocorrem lives ou gravações distorcidas da realidade doutrinária, por sua vez, desaparecem no universo de bons conteúdos disponíveis e diariamente produzidos.

Conclusão

A meu ver – e ninguém precisa concordar com isso – penso que o maior dos benefícios foi a oportunidade oferecida para que todos apareçam, cresçam e, claro, aprendam. Tanto a estudar, a divulgar, a refletir, como a se aproximar de vultos antes inacessíveis por razões variadas e que agora dialogam como iguais – o que realmente somos, apesar de todas as nossas diferenças pessoais. Com tudo isso, paramos de falar apenas para nós mesmos. Apesar do acréscimo de responsabilidade, saímos da instituição para colocar o conhecimento à disposição do planeta (não tenhamos dúvida que está muito próximo de terem as plataformas tradutores simultâneos para os diferentes idiomas), o que significa levar o conhecimento espírita, com sua grandeza, para o imenso público planetário, traduzindo-se, pois, isso como bênção para a Humanidade. Ouso pedir que reflita comigo, leitor, relendo os itens acima enumerados, para ampliar, com sua visão, os aspectos ali colocados.

De:

Revista digital O Consolador – Ano 16. N. 807. 22 de janeiro de 2023.

Copie e cole: http://www.oconsolador.com.br/ano16/807/especial.html

Os “imortais” na senda literária

Os “imortais” na senda literária

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Pela passagem dos 30 anos da instalação da Academia Araçatubense de Letras, a sua revista Plural, na edição de novembro de 2022, trouxe matérias alusivas à história e o desenvolvimento dessa Academia que surgiu em função do idealismo de um grupo de intelectuais de Araçatuba (SP).

Na época, convidado como autor de livros profissionais e espíritas, participamos dos preparativos e da fundação da Academia.

Os tempos iniciais foram muito agradáveis pois convivemos com ex-professores nossos, jornalistas, profissionais amigos, colegas da Faculdade de Odontologia da UNESP e antigos vultos da cidade. Destacamos os esforços de Célio Pinheiro e Odette Costa Bodstein.

Em novembro de 1992 aconteceu a Assembleia de instalação da Academia e em março de 1993 houve a posse dos acadêmicos, tradicionalmente chamados “imortais”, paramentados com uma beca especial, em sessão solene no Araçatuba Clube. Na condição de acadêmico-fundador, tivemos o privilégio de designar como patrono de nossa “Cadeira”, Almir Rodrigues Bento (1918-1945), vulto jovem da cidade, jornalista, poeta e espírita militante. Atuamos por alguns anos na Academia e mesmo residindo em São Paulo e Brasília, sempre que possível comparecíamos às reuniões da Academia e contribuíamos com assiduidade com artigos na revista oficial Plural, além de outras matérias costumeiramente publicadas pelos jornais da cidade.

Depois ponderamos que seria mais adequado solicitar nosso afastamento e abrir uma vaga para um residente em Araçatuba. Permanecemos na categoria de “acadêmico agregado”.

O acadêmico Hélio Consolaro é o editor da revista Plural. O lema da Academia “VIIS PULCHRITUDINIS” (Pelos caminhos da beleza) emerge nessa edição histórica do órgão da Academia, com matérias sobre o dinamismo da “Casa do Escritor” de Araçatuba, as marcantes ações culturais com nuances “arejadas e inclusivas”, como destaca o editor.

Em 2021, estivemos pessoalmente em visita ao presidente da Academia Araçatubense de Letras para a oferta de nosso livro Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões (Ed.Cocriação). Aliás, essa obra contém registros sobre a origem da Academia no capítulo “Imortal de Araçatuba”.

Sempre tivemos a certeza de sermos espírito imortal. E há 30 anos atrás oficialmente fomos considerados “imortal” em Araçatuba…

Por quê Almir Rodrigues Bento?

Pela dupla condição: Almir Rodrigues Bento ficou imortalizado pelas suas obras de poemas e era convicto da imortalidade do espírito.

Esse contexto sobre o vulto nos motivou a designação da cadeira que inaugurávamos na Academia Araçatubense de Letras. Em Araçatuba, Almir participava das atividades da Aliança Espírita “Varas da Videira”. Funcionário de cartório, estudante da então Faculdade de Comércio D. Pedro II, foi dinamizador da Federação dos Estudantes de Araçatuba. Caracterizava-se pelo seu entusiasmo, pois era um jovem muito ativo e patriota. Viveu um período na capital paulista, onde atuou como jornalista e veio a se relacionar com colegas e literatos. Por necessidade de saúde, mudou-se para São José dos Campos, onde faleceu tuberculoso. Seu livro inicial, o ensaio literário O Estranho Idioma, foi composto e impresso em Araçatuba, na Empresa Tipográfica “A Comarca”, em 1939. Dedica-o a Joaquim Dibo, Fausto Perri, Basílio, Armando Nocera e Álvaro Siqueira. Esta obra reflete o dilema da época em que foi escrita, entre a revolução constitucionalista e os preparativos para a 2a Grande Guerra. É uma mensagem de fé no País, de forte patriotismo.

A obra Sol, editada em São Paulo no ano de 1942, teve apresentação do conhecido poeta paulista Menotti Del Picchia que foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna (São Paulo, 1922) e membro da Academia Brasileira de Letras. Este, destaca que “as estrofes guardam toda essa vibração interior, incitam à crença, conclamam o homem para virtudes de que anda tão esquecido”. A crítica literária dos jornais paulistanos foi elogiosa ao poeta Almir.

Também editado na capital paulista, Canto do Homem Novo veio a lume em 1944, transparecendo o pensamento universalista do autor. O lírico, o revolucionário e o social formam um todo de várias faces. Para Almir Rodrigues Bento, o homem novo nasceu com “sentimentos há muito brotados e espalhados em todas as nações – […] e está tomando parte nas lutas armadas, nas transformações artísticas, nas renovações sociais – […] o Homem Novo não é o indivíduo; é um tipo padrão, ou melhor: um ideal dentro do homem”. A crença na imortalidade viceja em todas suas produções.

No poema “Metempsicose” da obra Sol, deixa clara sua crença religiosa. Eis um trecho: “Tenho saudades, minha amiga,/ dos recantos por onde andei/ em eras remotíssimas, quando ainda vivia no sangue/ de caciques valentes e de negros/ caçadores do país das palmeiras e dos areiais/ É uma saudade milenar, retrospectiva;…” Almir se apresenta como cultor do amor e da natureza, fazendo emergir em prosa e verso uma visão abrangente e altiva da vida. Embora distanciado no tempo,

Almir nunca nos pareceu estranho pois fomos contemporâneos a vários de seus parentes. Nossa genitora Bebé conheceu-o, inclusive porque ele foi aluno e um líder em escola privada de nossos tios Joaquim Dibo e Fausto Perri, que foram homenageados por Almir em seu primeiro livro. Nos tempos de Araçatuba chegamos a manter amizade com suas irmãs, antes de se mudarem de Araçatuba em meados dos anos 1970 e detectamos suas marcas no movimento espírita, quando elaboramos uma pesquisa histórica sobre o Espiritismo em Araçatuba.

Almir foi homenageado pela municipalidade araçatubense, e seu nome designa uma rua no Jardim América, travessa da rua Bolívia. Essas razões fizeram que, como membro fundador da Academia Araçatubense de Letras, propuséssemos Almir Rodrigues Bento como patrono da cadeira no 4.

Fontes:

- Academia Araçatubense de Letras. Plural. Ano 30. N. 15. Novembro, 2022. 49p.

- Autores diversos; Gobi, Ismael (Org.). Obra de vultos. V.1. Cap.2. Araçatuba: USE Regional de Araçatuba. 1999.

- Boletim digital Notícias do movimento espírita: http://www.noticiasespiritas.com.br/2021/MARCO/05-03-2021.htm).

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 2.22. Araçatuba: Cocriação. 2021.

Política, violência e futuro nas anotações de Emmanuel

Política, violência e futuro nas anotações de Emmanuel

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há momentos graves e delicados que provocam estupefação e inúmeras indagações.

Na literatura psicográfica de Francisco Cândido Xavier, há textos assinados por diversos espíritos que discorrem sobre o destino do Brasil e as expectativas da Espiritualidade.

Entre esses, chamam atenção os poemas inflamados assinados pelo espírito Castro Alves.

Fazemos a opção de transcrever alguns trechos assinados pelo espírito Emmanuel, o orientador espiritual de Chico Xavier.

Em linguajar claro e ponderado esse autor espiritual faz comentários oportunos e profundos. No livro A caminho da luz, refere-se a uma visão sobre as terras: “coração nas extensões da terra farta e acolhedora onde floresce o Brasil, na América do Sul” (Cap. XX). Anota sobre “a missão do povo brasileiro na civilização do porvir” (Cap. XXIII). E relaciona com a compreensão dos ensinos de Jesus para uma nova proposta: “esforço tremendo de manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem ignorante do seu glorioso destino, barco que ameaça voltar às correntes da força e da violência, longe das plagas iluminadas da Razão, da Cultura e do Direito” (Cap. XXIV).

Em obra da mesma época, Emmanuel escreve o “Prefácio” de Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho, de onde transcrevemos: “O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas, também, a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro. […] o Brasil terá também o seu grande momento, no relógio que marca os dias da evolução da humanidade. Se outros povos atestaram o progresso, pelas expressões materializadas e transitórias, o Brasil terá a sua expressão imortal na vida do espírito, representando a fonte de um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, e inundando todos os campos das atividades humanas com uma nova luz”.

Poucos anos depois das obras citadas, Emmanuel responde a uma série de perguntas, sobre temas variados do conhecimento humano. Desse livro, O consolador, destacamos os parágrafos: “as paixões políticas não penetrem os seus domínios de equilíbrios e reciprocidade, porquanto, na sua influência nefasta, o “bastar-se a si mesmo” é a ideologia sinistra da ambição e do egoísmo, onde o fermento da guerra encontra o clima apropriado para as suas manifestações de violência e extermínio” (questão 114); “Somos de parecer que, agindo o homem com a chave da fraternidade cristã, pode-se extinguir o fermento da agressão, com a luz do bem e da serenidade moral. Acreditando, contudo, no fracasso de todas as tentativas pacíficas, o cristão sincero, na sua feição individual, nunca deverá cair ao nível do agressor, sabendo estabelecer, em todas as circunstâncias, a diferença entre os seus valores morais e os instintos animalizados da violência física” (questão 345).

Para completar essa linha de raciocínio, transcrevemos o trecho em que Emmanuel aborda as lutas da vida e aponta o trabalho de purificação, frente “à violência que escolheram, até que possam experimentar a serenidade mental imprescindível para se beneficiarem com as manifestações afetuosas do amor e da verdade” (questão 346). Momentos complexos e graves que devem merecer nossa cautela e cuidadosa análise. As anotações de Emmanuel trazem subsídios importantes para nossas reflexões, ponderações e planejamento de caminhos.

Livros citados, psicografados por Francisco Cândido Xavier: A caminho da luz; Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho (Prefácio); O consolador; editados pela FEB.

Momentos históricos sobre Pelé

Momentos históricos sobre Pelé

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Os momentos terminais e a partida de Pelé trouxeram às nossas recordações alguns episódios interessantes.

De início, esclarecemos que nunca fomos sintonizados com futebol, embora convivendo em família de esportistas. Logicamente não tínhamos o hábito de comparecer a estádios e durante o período em que residimos em Araçatuba, sempre moramos bem próximo ao Estádio.

Estávamos na cidade do Rio de Janeiro, como de hábito, hospedado pelo tio Lourival Perri Chefaly, que era médico, apreciador de esportes, com quem nutríamos intensa amizade e muitos pontos comuns de interesse. Após sua desencarnação, escrevemos um livro reunindo textos de autoria dele, inclusive mensagens espirituais, Em Louvor à Vida, em parceria com o médium Divaldo Pereira Franco. O lançamento inicial ocorreu após palestra de Divaldo no Araçatuba Clube, em dezembro de 1987.

Pois bem, nosso tio Lourival convidou-nos para acompanhá-lo ao Estádio do Maracanã, para assistirmos à partida de futebol em que Pelé estaria se despedindo da seleção brasileira. Junto também estava nosso primo que passava pelo Rio de Janeiro, o médico José Luiz de Oliveira Camargo. Aliás, seus pais Edwiges Perri Camargo e Honório de Oliveira Camargo eram proprietários da Gráfica Araçatubense, localizada próxima à praça Rui Barbosa, em Araçatuba.

Era um domingo, dia 18 de julho de 1971, e a seleção brasileira enfrentou a Iugoslávia, finalizando com um empate; Pelé não fez nenhum gol. Para marcar sua despedida fez a volta olímpica na pista que rodeava o campo de futebol, até tirando a camiseta. O Maracanã lotado entusiasticamente aplaudia o grande futebolista.

Sem imaginarmos, testemunhamos um momento histórico.

Poucos meses depois, na passagem do dia 20 para 21 de dezembro de 1971 houve o segundo “Pinga-Fogo” com Chico Xavier, a histórica 2ª entrevista com o médium, pela antiga TV Tupi de São Paulo. Assistimos com muita atenção a transmissão ao vivo. No transcorrer da entrevista, Chico Xavier, sempre espontâneo, respondeu a perguntas curiosas formuladas por Almyr Guimarães, incluindo futebol. Veio à tona a despedida de Pelé da seleção brasileira, ocorrida cinco meses antes, em julho. À indagação do entrevistador sobre a decisão do famoso futebolista, Chico Xavier respondeu:

“Considero que, como admirador do Pelé, estimaria que ele prosseguisse. […] Ah, estimaria que ele continuasse…”

Lembramos que os mineiros Chico Xavier e Pelé nasceram, respectivamente, em Pedro Leopoldo e Três Corações. O entrevistador insiste e comenta: “Estou dizendo isto porque ele é seu conterrâneo e gosta muito de você”. E Chico Xavier respondeu:

“Agradeço muito, eu também o admiro muito”.

Os registros sobre essas entrevistas, “Pinga-fogo com Chico Xavier”, estão disponíveis em livro e em DVD.

(*) Foi dirigente espírita em Araçatuba, SP; ex-presidente da USE-SP e da FEB.

Publicado no jornal Folha da Região, Araçatuba, 04/01/2023; transcrito no Boletim Notícias do Movimento Espírita (Ismael Gobbo).

As expectativas de Novo Ano

     As expectativas de Novo Ano

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Tradicionalmente, todas mudanças significativas no calendário ensejam expectativas, esperanças e também houve contextos de medo.

Haja vista as mudanças de milênios, séculos e anos, ao longo de nossa Civilização. Geralmente, ocorrem mesclas de informações que envolvem o Apocalipse de João, interpretações astrológicas, predições várias e até algumas informações espirituais.

Em nossa vivência, ficou muito marcada no início dos anos 1970 a música “A era de Aquário”, parte do musical americano “Hair”, e que foi extremamente reproduzida por diversos cantores. A canção foi composta com base na crença astrológica de que o mundo, ao entrar na “Aquário”, presumivelmente no final do século XX, iria experimentar uma época de amor, paz, democracia e humanidade, ao contrário da “Era de Peixes”.

No final da década de 1990, surgiram inúmeras previsões e expectativas e até daqueles que esperavam o “fim do mundo”. Aliás, sabe-se que essas crenças também proliferaram na passagem do 1o para o 2o milênio.

Há algum tempo fala-se e escreve-se sobre a “transição”. Racionalmente, indagamos: nosso Sistema Solar, a Terra, o organismo humano e a sociedade, em algum momento deixaram de estar em transição?

Mas, considerando a chamada transição de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, torna-se oportuna a leitura atenta do capítulo XVIII de A Gênese, onde Allan Kardec trata das “As predições segundo o Espiritismo” e “Os tempos são chegados”, e alerta: “Até o presente, a humanidade tem realizado progressos incontestáveis. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam sido alcançados, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Ainda lhes falta um imenso progresso a realizar: o de fazerem reinar entre eles a caridade, a fraternidade e a solidariedade, para assegurar o bem-estar moral.”(1) Em comentários sobre a nova geração deve ficar claro que esta não ficaria circunscrita ao ambiente espírita e faz a relação entre transição e nova geração.

Estes temas deveriam ser estudados pelos espíritas até para se evitar interpretações superficiais e até estranhas com relação ao período em que vivemos.

O notável filósofo Herculano Pires, expôs sobre o tema em programas radiofônicos, agora transcritos para livros. Entre outros registros, destacamos: “Sabemos que a promessa do novo céu e a nova terra aparece no Apocalipse de São João, […] caminhamos para uma nova civilização. […] estamos nas proximidades de uma nova transformação.” E cita a civilização tecnológica que vivemos e o início dos voos espaciais. Comenta o anúncio por João dos novos tempos e considera que ocorrerão muitas transformações. Herculano Pires também responde sobre as dificuldades: “Não podemos escapar a essas coisas porque a natureza do mundo em que vivemos, a Terra, é precisamente essa: um mundo de provas e expiações”.(2)

No histórico 1o programa “Pinga-Fogo” de julho de 1971, Chico Xavier respondeu sobre o tema na antiga TV Tupi: “Nós nos encontramos no limiar de uma era extraordinária, se nos mostrarmos capacitados coletivamente a recebê-la com a dignidade devida. […] Mas isso terá um preço. Terá o preço da paz. Se nós pudermos nos suportarmos uns aos outros, quando não pudermos amar uns aos outros, segundo os preceitos de Jesus, até que essa era prevaleça… provavelmente no próximo milênio, não sabemos se no princípio, se nos meados ou se no fim”.(3) O próximo milênio que Chico se referia nos idos de 1971, era o atual 3o milênio.

A chamada “transição” é um processo de transformação que não tem data fixa de início e nem prazo para se completar.

No dealbar de novo ano, é importante o esforço da esperança e do otimismo.

A propósito lembramos de texto de Emmanuel:

“…seja de que espécie for a provação que te amargue as horas, continua trabalhando na sustentação do bem geral, porquanto se te ajustas ao privilégio de servir, seja qual seja a prova em que te encontras, reconhecerás, para logo, que o amor é um sol a brilhar para todos e que ninguém existe sem esperança e sem Deus.”(4)

Referências:

1) Kardec, Allan. (Trad. Ribeiro Guillon). A gênese. Cap. XVIII. Brasília: FEB.

2) Pires, José Herculano Pires; Garcia, Wilson (Org.). No limiar amanhã. Conversa sobre a Bíblia. Livro 2. Cap. Novo céu e nova terra. São Paulo: Paideia.

3) Xavier, Francisco Cândido; Gomes, Saulo (Org.). Pinga-fogo com Chico Xavier. Item Advento de uma nova era. Catanduva: Intervidas.

4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Mãos Unidas. Cap. Esperança sempre. Araras: IDE.

Boa vontade e pacificações no novo ano

Boa vontade e pacificações no novo ano

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Ano Novo!… Pede ao Céu Que te proteja o trabalho, Que te conceda na fé O mais sublime agasalho. Casimiro Cunha

(Xavier, Francisco Cândido. Espírito Casimiro Cunha. Cartas do Evangelho. São Paulo: Lake).

As passagens para um novo ano sempre motivaram o homem e geralmente ensejam esperanças de melhorias e expectativas de num mundo melhor.

Na realidade, um novo ano é uma mudança formal no calendário e naturalmente, na prática, é uma sequência de fatos e compromissos que vêm se desenrolando.

Os três últimos anos foram assinalados pela terrível pandemia do COVID-19, gerando momentos distanciamento social e vários tipos de crises. Em nível global há expectativas para que seja assegurado o controle da pandemia, a cessação de guerras e um cenário propício para um ambiente de pacificação geral nas relações pessoais e sociais.

No contexto social há necessidade de caminhos para soluções nas áreas políticas, econômicas, sociais, educacionais, de saúde, e, sem dúvida, com repercussões no próprio movimento espírita, que faz parte da sociedade. Em todos os cenários, são homens encarnados os responsáveis pelas decisões e ações e vale a pena se recordar da obra “A Gênese”, de Allan Kardec, que no Cap. I encontra-se o registro: “Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem”. Nessa mesma obra de Kardec, no Cap. XVIII, há considerações sobre a longa etapa que vivemos, os “Sinais dos tempos”. O Codificador destaca: “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das relações entre os seres.”

Para o Espiritismo fica claro que o livre-arbítrio e o real compromisso de aprimoramento moral e espiritual dos homens estão na base das esperadas transformações que poderão se fortalecer num novo e melhor ano.

A propósito, recordamos da pioneira psicografia de Chico Xavier sobre união: “Em nome do Evangelho” (Emmanuel, 1948), de onde destacamos os trechos:

“O mundo conturbado pede, efetivamente, ação transformadora. […] unamo-nos no mesmo roteiro de amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, valor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo em comunhão com os homens, servindo e esperando o futuro, em seu exemplo de abnegação, para que todos sejamos um…” (Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. O Clarim).

Nesse “mundo conturbado”, deve haver esforço para a disseminação do roteiro preconizado pelo Cristo, inclusive com o empenho dos espíritas. É o apelo para os “homens de boa vontade” com que os espíritos anunciaram as “novas de grande alegria” por ocasião do nascimento de Jesus (Lucas 2: 10, 14).

Que o ano novo seja melhor para todos nós!

Significados: nascimento de Jesus, magos e presépio

Significados: nascimento de Jesus, magos e presépio

     

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em obra recém editada reunindo conteúdos transcritos dos programas radiofônicos “No limiar do amanhã” de Herculano Pires, dispõe-se de esclarecimentos em nível simples sobre temas fundamentados nos Evangelhos (*). Entre esses programas vários estão relacionados com o episódio do nascimento de Jesus.

José Herculano Pires (1914-1979) foi um marcante vulto paulista, jornalista, destacado filósofo espírita, autor de dezenas de livros, tradutor de obras de Allan Kardec, palestrante, ativo e combativo líder espírita.

Ao analisar o contexto dos dias do nascimento de Jesus em programas radiofônicos, Herculano Pires recorda o registro sobre recenseamento realizado pelo Império Romano, com finalidade de cobrança de impostos, e a obrigatoriedade que as pessoas se dirigissem para as cidades troncos de cada família. Comenta que José e Maria eram pobres, foram a pé de Nazaré até Belém e encontraram a cidade lotada e não haveria outro recurso senão ir para um estábulo e “isso não era humilhante, absolutamente. Isso era um costume perfeitamente adequado aos tempos”.

Num dos programas radiofônicos, Herculano responde sobre Maria: “quando tratamos do nascimento de Jesus, e Maria nos é apresentada como a virgem mãe, “é preciso nos lembrarmos de que em toda Antiguidade existiram numerosas virgens mães” e tece considerações sobre as explicações mitológicas sobre esse assunto. Também cita o apóstolo Paulo: “ele veio sob a lei e nasceu de mulher” e Herculano opina: “o nascimento de Jesus foi normal, ele era filho de Maria e José. A influência do Espírito Santo nada mais é do que a presença de sua grandeza espiritual. O Espírito Santo é o espírito puro e Jesus era um espírito puro. Assim, como disse o apóstolo Paulo, o nascimento de Jesus foi um nascimento normal, sob a lei e ele nasceu de mulher”.

A respeito da visita dos reis magos, cita a expressão empregada por Mateus: “vieram uns magos do oriente” e comenta: “os magos vieram do oriente para visitar Jesus, mas se eram reis ou não, isso não podemos saber”. Não há registro histórico sobre isso.

Quanto aos presentes ofertados pelos magos, começa por considerar que os magos não seriam entendidos “no sentido atual da palavra, mágicos ou pessoas que têm certas habilidades manuais”, seriam “conhecedores dos segredos da natureza”. Passa a analisar o sentido dos presentes dos magos: “eles interpretaram em três elementos em três formas de oferta, toda vida, todo destino do menino que estava nascendo”. E conclui Herculano: “o menino Jesus haveria de enfrentar o ouro do mundo. Desenvolver em si a adoração a Deus na simbologia do incenso, e, por fim, sofrer o sacrifício supremo na simbologia da mirra. Esse é o sentido que vemos na oferta dos magos”.

Por outro lado, todo o cenário do nascimento de Jesus ficou assinalado pela tradição dos presépios. Em um programa Herculano respondeu a radiouvinte lembrando que a origem do presépio é devida a Francisco de Assis: “Ele queria dar assim uma imagem clara, didática, que ensinasse aqueles que olhassem para essa imagem, a grande lição de humildade de Jesus em seu nascimento”.

Os capítulos dessa oportuna obra contendo as transcrições de centenas de gravações de programas radiofônicos de Herculano Pires trazem à tona oportunas e profundas análises do preclaro expositor e autor espírita. Em várias outras obras Herculano Pires tece considerações abalizadas a propósito da visão espírita sobre a trajetória do cristianismo.

Em síntese, sobre o episódio do nascimento de Jesus e seu significado para a Humanidade, destacamos que Herculano lembra explicações de filólogos que “o nome ‘Jesus’ e ‘Yeshua’ em hebraico queria dizer ‘Iavé salva’, ou seja “Deus salva’.”

Em outra parte, relacionando com o cenário do nascimento, o autor analisa o significado de o Cristo ter escolhido a condição humilde: “Colocando-se entre os humildes, os pobres, os deserdados da fortuna, aqueles que não tinham o poder nas mãos e viviam mesmo em situação difícil, o Cristo se colocava como um representante de uma ordem social nova que devia aparecer no mundo. Essa ordem decorrer dos princípios mesmo do cristianismo, de seus ensinos constantes no Evangelho…”

E Herculano Pires conclui: “Portanto, o nascimento do Cristo na humildade, na condição de uma criatura desprovida de todos os poderes humanos, tinha por finalidade mostrar que ele vinha à Terra como um verdadeiro enviado do céu, apoiado apenas na riqueza celeste, que é o poder do espírito”.

Essas anotações são sugestivas para reflexões ao ensejo das comemorações do nascimento de Jesus.

(*) Pires, José Herculano; Garcia, Wilson (Org.). No limiar do amanhã: conversa sobre a Bíblia, os evangelhos, o espiritismo. Livro 2. São Paulo: Paideia. 2021. 277p.