O filme “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros”

O filme “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros”

        

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Desde 25 de janeiro os cinemas do país passaram a exibir o filme “Nosso Lar 2 – Os Mensageiros”.

O enredo é baseado no livro Os Mensageiros, do espírito André Luiz e psicografado por Chico Xavier; o segundo da série “a vida no mundo espiritual”, iniciada com Nosso Lar. É uma continuação do bem sucedido filme anterior, exibido em 2010.

No livro Os mensageiros, é relatada a atuação de espíritos vinculados à colônia Nosso Lar, no atendimento a encarnados. O filme focaliza um desses apoios: um grupo de espíritos da colônia Nosso Lar se dedica a cuidar de três pessoas que fazem parte de um planejamento espiritual, sem saber que são os escolhidos. Em síntese, os três vultos focalizados são o jovem médium que não estava cumprindo sua missão, um líder de centro espírita e um empresário benemérito.

Trata-se de produção da Cinética Filmes, com Wagner de Assis e Iafa Britz; direção e roteiro por Wagner de Assis; com atores principais Renato Prieto (papel de André Luiz), Edson Celulari (coordenador da equipe espiritual) e Felipe de Carolis (o obsessor). Destacamos a primorosa encenação de Felipe de Carolis.

Assistimos ao filme no dia do lançamento juntamente com a esposa, filho e nora, em São Paulo. A sala estava bem ocupada, com público predominantemente da terceira idade.

Interessante que após o sucesso do filme “Nosso Lar”, a produtora Cinética começou a elaborar o projeto do novo filme. A proposta inicial desse filme, em meados de 2012, foi aprovada em diretoria da Federação Espírita Brasileira (que detém os direitos autorais do livro) no período em que ocupávamos a presidência da Instituição e assinamos o primeiro contrato com a Cinética Filmes. Daí a razão de nosso nome aparecer nos créditos finais do filme.

O enredo é fiel aos textos do espírito André Luiz, mas há imagens, cenas e diálogos que provavelmente não sejam de fácil compreensão para o público não espírita. Houve ampla campanha nas instituições espíritas para que seus frequentadores prestigiassem os primeiros dias de exibição. Há informações que em centenas de cinemas, entre 25 de janeiro e o final de semana, acorreram perto de 500 mil frequentadores. Um caso de sucesso no conjunto dos filmes brasileiros.

O filme deve suscitar a leitura do livro base do enredo, valorizando a mensagem central de vigilância com os compromissos espirituais durante a existência corpórea.

Na apresentação de Os Mensageiros Emmanuel destaca: “recorda que as mensagens edificantes do Além não se destinam apenas à expressão emocional, mas, acima de tudo, ao teu senso de filho de Deus, para que faças o inventário de tuas próprias realizações e te integres, de fato, na responsabilidade de viver diante do Senhor”.

Antonio Cesar Perri de Carvalho é escritor, foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.

Extraído de: Folha da Região. Araçatuba, 31/01/2024. P.2.

São Paulo: há 470 anos homenageia o Apóstolo!

São Paulo: há 470 anos homenageia o Apóstolo!

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Neste ano completa-se 470 anos da fundação da cidade de São Paulo.

Fundada no dia 25 de janeiro de 1554, pelo padre Manuel da Nóbrega.

Este veio à então Colônia de Portugal acompanhando o primeiro governador Tomé de Souza, designado pelo rei Dom João III e com a missão específica de instalar o processo educacional no Brasil. Foi autor do primeiro livro escrito no país: “Cartas do Brasil”. Nóbrega (1517-1570) era bacharel em filosofia e direito canônico pelas Universidades de Salamanca e de Coimbra, antes de ingressar no jesuitismo.

O marco inicial da cidade foi o Colégio São Paulo, onde atualmente se localiza o Pátio do Colégio, no centro antigo da cidade, e funciona um museu alusivo à fundação da cidade e homenageando Manuel da Nóbrega e seu noviço José de Anchieta, considerados os dois primeiros evangelizadores do país.

Em registros históricos de conhecimento público sabe-se que Nóbrega, que atuava em São Vicente, subiu ao Planalto de Piratininga e resolveu fundar uma escola, escolhendo o dia 25 de janeiro, que era a data comemorativa da conversão do apóstolo Paulo. Assim, surgiu a cidade de São Paulo, significativamente a partir de uma escola e homenageando a apóstolo da gentilidade.

Esse episódio histórico foi evocado por Chico Xavier durante o 2o Pinga-Fogo, a longa entrevista na TV Tupi de São Paulo em dezembro de 1971, ao comentar que Manuel da Nóbrega foi uma das reencarnações do espírito Emmanuel. Chico também fez referência a este fato na cerimônia pública e televisada ao vivo da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 19/5/1973, quando recebeu o título de “Cidadão Paulistano”.1,2

Mas essa revelação já havia sido feita por Chico Xavier e foi registrada em livro de Clóvis Tavares – amigo de Chico Xavier – e publicado com apoio deste enquanto encarnado: “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, lançado em 1970 pela Editora Calvário e atualmente editado pelo IDE.3

O filósofo espírita paulista Herculano Pires comentou a missão de Nóbrega junto aos indígenas e aos portugueses que aqui vieram, e estabeleceu a relação entre Paulo e Nóbrega: “Dura foi a luta pela conversão do gentio. […] Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro.”4

Nóbrega era admirador de Paulo de Tarso. Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier elaborou o monumental romance histórico “Paulo e Estêvão” e analisou versículos das epístolas de Paulo em diversas obras. As relações entre o espírito Emmanuel e Paulo de Tarso comentamos em livros de nossa autoria, sobre as epístolas de Paulo, Chico Xavier e Emmanuel.1,2,5

O fundador Manuel da Nóbrega é homenageado não apenas no Pátio do Colégio, mas também em dois monumentos e rua da cidade de São Paulo e uma rodovia no litoral paulista. Há um monumento em homenagem a Paulo de Tarso na Praça da Sé, próximo ao “marco zero”, aliás, o vulto segurando um pergaminho com a frase: “Senhor, que queres que eu faça”.

O nome do Apóstolo designa a cidade e o Estado! Atualmente é a maior cidade do país e do Hemisfério Sul.

A cidade do trabalho, estudo, pesquisa, cultura, multiculturalidade, diversidade e do progresso – “a que nunca para” – há 470 anos homenageia o apóstolo Paulo!

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“Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra” (II Timóteo 2, 20-21).

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo. Matão: O Clarim. 2016.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Capivari: EME. 2019.

3. Tavares, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. São Paulo: Ed. Calvário. 1970.

4. Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano; Espíritos diversos. Diálogo dos vivos. Cap.23. São Bernardo do Campo: GEEM. 1974.

5. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020.

DE:

Boletim de Notícias do Movimento Espírita (Ismael Gobbo) – copie e cole: https://www.noticiasespiritas.com.br/2024/JANEIRO/25-01-2024.htm

A vida de Cirne e suas propostas por um mundo melhor

A vida de Cirne e suas propostas por um mundo melhor

Excertos do Prefácio e da Apresentação da nova obra

A nova obra – e inédita – “Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor” (de Antonio Cesar Perri de Carvalho, edição conjunta Cocriação e CCDPE-ECM) em lançamento, em janeiro de 2024, conta com textos e ilustrações marcantes.(*)

No Prefácio, Luciano Klein (historiador, autor de biografias, foi presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará), faz comentários significativos: “Leopoldo Cirne, sem favor, uma das maiores expressões do Espiritismo no Brasil, lamentavelmente, pouco lembrado em nossos dias. […] Cesar revela-nos, de forma clara e direta, com nuanças encantadoras, a ação missionária de Leopoldo Cirne, permitindo, destarte, tornar conhecido das gerações futuras, o nome do ex-presidente da FEB. […] asseguramos ser este o mais completo resgate biográfico a respeito do sucessor de Bezerra de Menezes”.

Na Apresentação, o autor considera “o cenário em que Leopoldo Cirne tornou-se espírita, iniciou suas ações na FEB e tornou-se presidente da instituição”; destaca que “na trajetória de vida de Leopoldo Cirne, emergem fortes sinais de contextos de incompreensões, vinculados a momentos de paixão por algumas ideias e posturas”. Apresenta transcrições de “mensagens de autoria de Leopoldo Cirne e de relatos sobre sua atuação, registrados por diversos espíritos, que apresentam coerência com a essência de suas preocupações e pensamentos expressos em artigos e livros enquanto encarnado, e, sem dúvida com seus objetivos e experiências de vida”.

Para o autor, a obra “contribui para se ampliar o conhecimento sobre a sua experiência de vida”; e realça que “a vida e obra de Leopoldo Cirne, seus notáveis predicados morais e intelectuais, alimentados por nobres ideais, representam uma valiosa experiência vivencial e se constituem em formidável subsídio para se analisar e se refletir sobre a trajetória, o estado atual e as perspectivas do Espiritismo no Brasil”.

Nas páginas iniciais da obra é destacada frase de Leopoldo Cirne: “O que falta realmente ao homem contemporâneo é o sentimento, não apenas a notícia, de seus destinos superiores, fundado na inabalável certeza de Deus e na maravilhosa perfeição de suas leis” (do livro O homem colaborador de Deus).

(*) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor. São Paulo/Araçatuba: CCDPE-ECM/Cocriação. 2024. 200p.

Informações:

CCDPE-ECM (copie e cole): https://ccdpe.org.br/produto/leopoldo-cirne-vida-e-propostas-por-um-mundo-melhor/

COCRIAÇÃO EDITORA (copie e cole): cocriacaobencultural.com.br

Adoração a Deus e o compromisso com o ser e a sociedade

Adoração a Deus e o compromisso com o ser e a sociedade

Aylton Paiva

“Deus tem preferência pelos que o adoram dessa ou daquela maneira? – Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes (Questão nº 654 de O Livro dos Espíritos).”

A ligação da criatura com o Criador, com a interpretação das religiões, ao longo do tempo, sempre refletiu as formas de pensar, sentir e agir dos dirigentes dessas religiões.

Assim, nelas constatamos normas que impõem ao adepto daquela religião: o medo, o temor, a submissão absoluta, o de povo escolhido, de grupos eleitos; outras refletem o amor, a solidariedade e a fraternidade. E entre elas há uma gradação grande de exteriorização desses sentimentos, de forma negativa ou positiva.

De forma geral, para agradar o deus apresentado naquela religião gosta de ser louvado, de ser admirado, de ser temido e ele só salva os profitentes que participam daquela organização religiosa, daquele grupo de fieis ou até mesmo daquele povo eleito.

Claro que são projeções dos dirigentes, líderes, condutores daquilo que sentem, projetando como se fosse aquilo que Deus sente. E a forma mais ou menos rigorosa em conduzir os adeptos por parte das classes sacerdotais e das autoridades religiosas têm variado através do tempo, das culturas e de maior ou menor avanço no atendimento aos direitos humanos nas legislações dos países onde as religiões estão inseridas.

Segundo a Doutrina Espírita para adorar a Deus não é necessário atender a formalismos exteriores ou pertencer a essa ou aquela religião.

Na questão acima citada fica muito claro o fundamento da adoração a Deus: “Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal”.

Para se fazer o bem e evitar o mal é necessário que o ser humano seja participante como cidadão da sociedade em que vive, através de ações que preservem os próprios direitos naturais, como, também dentro de suas possibilidades, defenda os direitos naturais do seu semelhante.

Claro que nada vale a adoração exterior manifesta em rituais e posturas falsas, se o comportamento da pessoa se motiva pelo egoísmo, orgulho, vaidade e prepotência.

Para fazer o bem e evitar o mal é necessário procurar extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a prepotência, não só em si mesmo, como também das instituições e grupos sociais.

Esse conceito de adoração leva não só à autoeducação da pessoa, como à reforma da sociedade em seus padrões de egoísmo e orgulho, em nome dos quais se justificam as desigualdades e as injustiças.

Há religiões que se constituem em instrumentos dos poderosos do mundo para a manipulação das massas, de conformidade com seus interesses pessoais ou dos grupos a que pertencem.

A submissão é de suma importância para tais religiões e o maior “pecado” é a desobediência. Esse posicionamento de submissão cria no homem a dependência total à autoridade impedindo-o, consequentemente, de, por seu livre arbítrio, exercitar sua capacidade de amar e raciocinar.

Destarte, ser religioso significa, principalmente, entender a si mesmo e ao seu semelhante, amando-o e amando-se ( “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus).

Segundo o Espiritismo, o valor espiritual de uma religião, filosofia ou seita, está em promover o crescimento, a força, a liberdade para aquelas pessoas que a seguem ou professam.

Por isso, o conceito espírita de adoração infunde um profundo respeito pela Vida, uma permanente indagação sobre o universo e o homem, um intrínseco amor pelo semelhante. Estimula sempre o aperfeiçoamento e o progresso da pessoa e da sociedade, através da solidariedade.

Bibliografia para consulta:

- O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, Terceira Parte – Das Leis Morais – Ed. FEB

- O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade, Aylton Paiva – Ed. Casa dos Espíritas de Lins.

Extraído de:

Boletim de Notícias do Movimento Espírita, 12/01/24: https://www.noticiasespiritas.com.br/2024/JANEIRO/12-01-2024.htm

“Viver em família” há 30 anos

“Viver em família” há 30 anos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há 30 anos, nos dias 29 e 30 de janeiro de 1994, houve o lançamento nacional da Campanha "Viver em Família" em São Paulo, com realização da USE-SP na sede do Centro Espírita Nosso Lar. O slogan “O melhor é viver em família. Aperte mais esse laço” ficou bem difundido.

Num final de semana foi desenvolvido o Seminário “Formação de equipes para a Campanha”, com atuação de diversos companheiros. Divaldo Pereira Franco proferiu a palestra de abertura e desenvolveu um seminário sobre o tema.

Este evento histórico originou o livro Laços de família, editado pela USE-SP1.

Essa Campanha nasceu por proposta da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, durante nossa gestão como presidente da Entidade. A USE-SP já havia promovido a "Campanha Integração da Família", em 1980. As ideias para a nova Campanha se consolidaram durante nossa gestão como presidente da USE, em função da realização de reuniões de estudo e seminários com coordenação de nossa esposa Célia, que motivaram os lançamentos de livros sobre família2,3. Nesse cenário, no ano de 1992, os diretores Sander Salles Leite e Joaquim Soares informaram que a Organização das Nações Unidas-ONU, preparava-se para promover o "Ano Internacional da Família", em 1994 – com o objetivo de "contribuir para construir a família, a menor democracia no coração da sociedade".

Pela oportunidade temática, a USE-SP definiu a elaboração de uma proposta de Campanha sobre Família e apresentou-a na reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em novembro de 1992. Foi formada uma Comissão, incumbida de elaborar uma proposta para a reunião do CFN da FEB do ano seguinte, integrada por representantes de São Paulo: Antonio Cesar Perri de Carvalho e Célia Maria Rey de Carvalho; Rio de Janeiro: Gerson Simões Monteiro e Lydiênio Barreto de Menezes: FEB: Nestor João Masotti e Paulo Roberto Pereira da Costa; havendo assessoria de Merhy Seba (SP). O feliz slogan da Campanha foi de autoria de Merhy Seba.

O projeto completo da Campanha "Viver em Família", foi aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB em suas reuniões de novembro de 1993. Naquela oportunidade a Campanha foi apresentada em evento público no Auditório do Senado Federal.

Dois meses depois houve o marcante lançamento nacional da Campanha "Viver em Família" em São Paulo. A propósito, recordamos de questões de O livro dos espíritos que inspiraram o título e o temário da Campanha:

"Os laços sociais são necessários ao progresso e os laços de família estreitam os laços sociais. […] Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família? ̶ Uma recrudescência do egoísmo."4

Entendemos que a família deve contar com um espaço integrado e conjunto nos centros espíritas, superando-se as ações pulverizadas e estanques – com barreiras etárias -, apenas em reuniões específicas para crianças, jovens e adultos.

Atualmente, numa época tão complexa, torna-se importante o incentivo para o cultivo de valores para o fortalecimento da família!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Laços de família. 8.ed. São Paulo: Ed. USE. 150p.

2) Carvalho, Célia Maria Rey (Org.). Família & espiritismo. 6.ed. São Paulo: USE. 231p.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). A família, o espírito e o tempo. 1.ed. São Paulo: USE. 140p.

4) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. Questões 774 e 775. Brasília: FEB.

A cada novo ano…

A cada novo ano…

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nas passagens de anos são naturais as expectativas de melhorias em todos sentidos.

Afinal a esperança é indispensável para alimentar ideais.

A História demonstra e o Espiritismo esclarece que “a natureza não dá saltos” em todas suas nuances. O progresso ocorre passo a passo. Detalhe importante é que o Espiritismo não aceita a ideia de milagre.

Na obra de Allan Kardec há judiciosos comentários a propósito do aperfeiçoamento da Humanidade e até estabelecendo algumas relações entre passado, presente e futuro.

No capítulo “São chegados os tempos”, em A Gênese, o Codificador pondera: “A humanidade tem realizado, até o presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho”.1

Kardec deixa claro: “Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de ideias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante”.1

Com base no raciocínio de Kardec, fundamentado nas informações espirituais presentes em suas obras, parece-nos que são incabíveis os exageros daqueles que fixam datas e até admitem que estaria próximo o chamado “mundo de regeneração”.

Haja vista a situação do povo em geral e das várias nações… O “bem-estar moral” destacado por Kardec dependerá da adoção na prática das leis morais apregoadas por Jesus, fundamentadas no respeito ao próximo como a si mesmo. O cenário geral ainda é sombrio, mas há cintilações de algumas réstias de luz.

Por outro lado, o conjunto se faz do esforço das partes. A sociedade somente estará mais equilibrada e harmônica quando parcela expressiva de seus integrantes estiverem animados por propósitos de aperfeiçoamento moral e social.

Portanto, outra análise de Kardec é pertinente: “Jesus não faz da caridade apenas uma das condições de salvação, mas a única condição. Se houvessem outras a preencher, Ele as mencionaria. Se Ele situa a caridade no primeiro patamar das virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a indulgência, a justiça etc., e porque ela é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”2

A cada ano que se inicia, torna-se interessante a auto-avaliação sobre nossos esforços em superar as expressões do orgulho e do egoísmo, dando condições para substituições por virtudes.

Assim, a cada novo ano, cabem os esforços para a superação de dificuldades e a concretização de uma prática moral assentada na mensagem de Jesus e robustecida pela certeza que somos espíritos imortais.

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“… paz na terra entre os homens de boa vontade” (Lucas 2,14)

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. A gênese. Cap. XVIII. Itens 5 e 6. FEB.

2) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XV. Item 3. FEB.

Benedita cria momento histórico em Araçatuba

Benedita cria momento histórico em Araçatuba

  

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O antigo Cine Pedutti – atual Centro Cultural Thathi – foi palco de um momento histórico na tarde do dia 17 de dezembro.

Numeroso público compareceu para assistir o lançamento do filme "Benedita – uma heroína invisível. O legado da superação".

Previamente à exibição do filme, houve apresentação musical e de vídeo sobre o tema musical “A summer place” que assinalava o início dos filmes nos Cines São Francisco e Pedutti. Hélio Consolaro, da Academia Araçatubense de Letras, fez o registro que ele compareceu à inauguração do Cine Pedutti, em 1968, para assistir ao filme “Noviça Rebelde” e de sua satisfação de estar novamente no local para assistir a um filme sobre vulto local. Maria Teresa Assis Lemos Marques de Oliveira (Tieza), secretária de Cultura de Araçatuba, fez saudação, pois a produção do filme contou com apoio dessa Secretaria Municipal. Antonio Cesar Perri de Carvalho (de São Paulo), autor do livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, enredo base para o filme, relatou as suas motivações que levaram a elaborar essa biografia. Foram apresentados o diretor e produtor do filme, Sirlei Nogueira e Samuel Lalucci, da co-produção Editora Cocriação e Lalucci Filmes, e dois atores. Nelson Custódio atuou como mestre de cerimônias.

Após a exibição do longa metragem o público aplaudiu.

Em seguida, ocorreram os cumprimentos a Sirlei Nogueira e Samuel Lalucci. Ocorreram gravações de entrevistas/depoimentos com vários dos presentes e Perri autografou o livro "Benedita Fernandes. A dama da caridade" (da Editora Cocriação).

Esse evento no Espaço Cultural Thathi assinalou marcante momento histórico: a apresentação de filme no antigo Cine Pedutti, que foi ambiente de lazer de várias gerações, e, especialmente a apresentação de um filme produzido por equipe e com atuação de atores de Araçatuba, focalizando um vulto benemérito que atuou na cidade. Benedita Fernandes fundou em Araçatuba, em 1932, a Associação das Senhoras Cristãs, entidade assistencial espírita pioneira na cidade e região. Até seu falecimento em 1947, houve desdobramento para atendimentos de doentes mentais, crianças órfãs ou abandonadas, escola municipal, albergue noturno. Tornou-se mais conhecido o Hospital Psiquiátrico Benedita Fernandes que funcionou até poucos anos atrás, desativado em função de políticas de saúde mental e transformado em CAPS.

Esse filme está sendo exibido em circuito alternativo mediante agendamentos. O percentual da venda de ingressos fica para os promotores locais. Inclusive o lançamento em Araçatuba tem a renda revertida para várias instituições parceiras. Várias cidades do país e algumas dos Estados Unidos já fizeram exibições desse filme nos últimos dias.

O vulto Benedita Fernandes tem levado Araçatuba para diferentes rincões.

(O autor foi dirigente espírita em Araçatuba; exerceu a presidência da USE-SP e da FEB).

Publicado em:

Folha da Região, Araçatuba, 20/12/2023. P.2.

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Evocação do nascimento de Jesus e a ideia de cristianização

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Os finais de ano são assinalados, notadamente nos países ocidentais, com as evocações sobre o nascimento de Jesus.

Num recorte às variadas formas de lembranças e comemorações sobre essa efeméride de nossa Civilização, realçamos a visão oferecida pelo espiritismo.

Allan Kardec, dedica a substanciosa 3a Parte de O livro dos espíritos às leis morais; em O evangelho segundo o espiritismo define o ensino moral como o objetivo dessa obra:

“Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas”.1

No livro A caminho da luz, Emmanuel analisa sob a ótica espiritual a época do nascimento de Jesus:

“[…] eis que ia cumprir-se a missão do Cristo, depois de instalados os primeiros Césares do Império Romano. A aproximação e a presença consoladora do Divino Mestre no mundo era motivo para que todos os corações experimentassem uma vida nova, ainda que ignorassem a fonte divina daquelas vibrações confortadoras. Em vista disso, o governo de Augusto decorreu em grande tranquilidade para Roma e para o resto das sociedades organizadas do planeta. […] que assinalam, junto de outras nobres expressões intelectuais do tempo, a passagem do chamado século de Augusto, com as suas obras numerosas.”2

Realça esse momento da evolução terrestre: “Examinando a maioridade espiritual das criaturas humanas, enviou-lhes o Cristo, antes de sua vinda ao mundo, numerosa coorte de Espíritos sábios e benevolentes, aptos a consolidar, de modo definitivo, essa maturação do pensamento terrestre.”2

O “século de Augusto” e a “maioridade terrestre” representam momentos marcantes na história da Humanidade e como uma preparação para a atuação do Cristo. Passados séculos, em mensagem pouco divulgada, Emmanuel considera: “O homem cresceu e evoluiu fisicamente, sem que progredisse, em identidade de circunstâncias, à sua posição espiritual. Algumas almas nobilíssimas trouxeram-lhe num esforço generoso as grandes ideias dos seus tratados de filosofia social e política”. […] A prova disso é que os homens, como os Estados que são os aparelhos físicos da coletividade terrestre e humana, regressam atualmente a todos os processos da força”.3

Mesmo após os discursos e providências em prol da paz, vivemos terrível contexto com diversas formas e intensidades de belicosidades em curso. Após dois mil anos, muitos impérios políticos e religiosos, consolidaram aspectos negativos. Em meio às disputas de poder político, econômico e de extremismos religiosos, há o intenso sofrimento de populações.

Apesar de várias deturpações, a mensagem de Cristo sobreviveu.

Em nossos dias há o esforço do “Consolador Prometido” pelo Mestre. O Espiritismo vive no seu terceiro século de disseminação em vários Continentes, em época de variadas conturbações mundiais. A força da mensagem-proposta do Cristo, expressa nos Evangelhos, representa um potencial de transformação substancial para o homem e para a sociedade em geral.

No geral, num mundo caracteristicamente de “provas e expiações”, que parece distante da “regeneração”, é cabível a proposta de Emmanuel, dos momentos prévios à Grande Guerra, em psicografia de Chico Xavier, aos 17/03/1938, em Pedro Leopoldo3:

“[…] não falamos de recristianização, por quanto o afinamento da mentalidade do mundo terrestre no ideal de perfeição e de amor de Jesus Cristo não chegou a se verificar em tempo algum. Apelamos para a cristianização de todos os espíritos e é dentro desse sentido que se guarda o mais alto objetivo de todas as nossas mensagens extraterrestres”.3

Ao ensejo das evocações sobre o nascimento de Jesus parece-nos claro que a sua mensagem ainda não tem ampla penetração em considerável parcela de nossa Civilização. De nossa parte, compete-nos os esforços para assumirmos como cidadãos conscientes e coerentes com os princípios espíritas.

Nos registros de Paulo de Tarso, há oportunas recomendações para ações: “vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Coríntios 3,3) na condição de “[…] herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hebreus 1,2) e animados pela orientação: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados” (2 Coríntios 4,8).

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Introdução e Cap.6, ítem 5. Brasília: FEB. 2014.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap.11 e 13. Brasília: FEB. 2013.

3) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Ação, vida e luz. P. 25-26. São Paulo: CEU. 1991.

Transcrição parcial de artigo do autor publicado em: Revista internacional de espiritismo. Ano XCVIII. N. 11. Dezembro de 2023.

Benedita favorece obras do bem – filme em lançamento

Benedita favorece obras do bem – filme em lançamento

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O filme “Benedita: uma heroína invisível. O legado da superação” encontra-se em etapa de lançamento em várias localidades.

É um filme, no estilo docudrama (encenações e documentário), que focaliza a saga de Benedita Fernandes, que se notabilizou em Araçatuba com a fundação da Associação das Senhoras Cristãs, em 1932.

Essa obra foi pioneira na assistência social espírita em toda a região e no seu desenvolvimento desdobrou-se em várias formas de atendimento a doentes mentais e crianças. O Hospital Psiquiátrico Benedita Fernandes foi um marco na cidade até poucos anos atrás, agora, em atendimento a normas governamentais da área da saúde, transformou-se em CAPS, em funcionamento no bairro Santana.

A vida de Benedita Fernandes é um exemplo de superação desde a transformação que aconteceu com ela, curando-se de autêntica “loucura”, uma forma de obsessão no entendimento espírita, para a atuação dinâmica no atendimento ao próximo. Esse exemplo de vida tornou-se conhecido e valorizado em várias regiões do país.

Em nosso livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade” (Ed.Cocriação) registramos a trajetória de vida do nobre vulto, acrescentamos mensagens espirituais dela através do médium Divaldo Pereira Franco e comentamos as repercussões de seu trabalho. O citado livro foi utilizado como base para o enredo do filme em fase lançamento.

O filme é dirigido por Sirlei Nogueira, co-produção Lalucci Filmes e Editora Cocriação. A atriz que fez o papel de Benedita foi Silvia Teodoro, de Araçatuba, desencarnada há poucos anos.

Como participante do filme, Divaldo Pereira Franco comentou sobre o lançamento do filme: “Com imensa alegria recebi sua mensagem e exulto com o êxito do trabalho sobre a amada Missionária. Faço votos que ele toque muitos corações que buscam a felicidade” (out./23).

Entre vários participantes, destacamos o ator Renato Prieto e o psiquiatra paulistano Sérgio Felipe de Oliveira.

O filme está disponibilizado para exibições em circuito alternativo mediante agendamentos, como: sala de cinema, espaço cultural, teatro e instituições em geral. A ideia é exibir a obra do bem e gerar bilheteria às obras do bem.

As apresentações pioneiras ocorreram nos dias 25 e 26 de novembro em Conchal (SP) e Angra dos Reis (RJ).

Para dezembro estão programadas exibições em: Boca Raton (Flórida, EUA), Stratford (Connecticut, EUA), Porto Velho (Rondônia), Jales (SP). Em Araçatuba o lançamento acontecerá no antigo Cine Pedutti, atual Centro Cultural Thathi, na tarde do dia 17 de dezembro (domingo).

Há agendamentos e contatos vários para os meses iniciais de 2024.

Informações: Whatsapp: 18-99709-4684

O filme “Napoleão” – repercussões e visão espiritual

O filme “Napoleão” – repercussões e visão espiritual

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O filme “Napoleão” exibido nos cinemas brasileiros desde 23 de novembro, tem provocado continuados comentários nas redes sociais sobre a história do vulto. Dirigido por Ridley Scott, o filme é um olhar original sobre Napoleão Bonaparte, com foco na sua vida pessoal e relações com a esposa Josephine, mas desfilando lances da trajetória militar e política de glórias até a derrota e exílio na ilha de Santa Helena.

Há muitas nuances importantes e destacadas de Napoleão, em geral lembrado apenas como conquistador da Europa.

Esse contexto nos reavivou as leituras sobre alguns momentos da vida do grande vulto europeu do século XIX, relacionados com o Brasil, que não foram objeto do filme, e sobre a pouco divulgada ótica espiritual.

Em seguida à Revolução Francesa, com os desatinos do período do “terror”, emergiu o personagem militar e político Napoleão Bonaparte para reorganizar a nação. Ele se preocupava em restaurar a autoestima e um melhor estado de espírito do cidadão. Foi o responsável por estabelecer uma nova maneira de relacionamento com a Igreja Católica, até então tida como oficial. A Concordata de 1801, celebrada entre Napoleão e o Papa Pio VII, foi um acordo que visava a restauração da Igreja Católica na França pós-revolução. Como Imperador favoreceu um novo Código Civil e preocupou-se com a educação, com estímulo à Escola Normal (formação de professores) e a Escola Politécnica (engenharia, ciências e tecnologia).

Destacamos que o Brasil Império se formou, indiretamente, devido a Napoleão Bonaparte que provocou a fuga da família real portuguesa para o Brasil. Com a sede do Império português fixada no Rio de Janeiro e, na sequência, com a independência proclamada por Dom Pedro, evitou-se a divisão do Brasil em três províncias, conforme um projeto existente na época, o que ocorreu com as colônias espanholas da América do Sul, gerando diversas repúblicas.

Há especulações que teria havido um plano frustrado de correligionários franceses de resgatar o imperador exilado na ilha de Santa Helena, em pleno Oceano Atlântico, e trazê-lo inicialmente para o Brasil.

Interessantes são fatos post mortem gerando outra influência de Napoleão.

Curiosamente, o corpo de Napoleão ficou durante algum tempo a bordo de uma fragata francesa ancorada na Baía da Guanabara, nos idos de 1840.1 O fato é relatado em biografia sobre o príncipe Dom João de Orléans e Bragança (1916-2005), bisneto de Dom Pedro II. O biógrafo comenta que Francisco de Orléans, o príncipe de Joinville, filho do rei da França Luís Felipe de Orléans, atendendo determinação do pai viajou para a ilha de Santa Helena para repatriar os restos mortais do Imperador falecido em 1821. Em função dos ventos, a fragata na vinda e na volta dirigiu-se ao Rio de Janeiro. Nesse retorno de Santa Helena, o príncipe casou-se no Rio de Janeiro com a princesa Francisca de Bragança, irmã do jovem imperador D. Pedro II. Como dote, a princesa recebeu algumas terras que, adotando o nome do marido, depois originou a designação da cidade de Joinville, em Santa Catarina.

Assim, passando pelo porto do Rio de Janeiro, o corpo de Napoleão foi levado para a França e ocorreram as solenes exéquias em Paris e foi erigido o histórico mausoléu em Les Invalides. Aliás, tivemos oportunidade de visitar o local histórico.

Anos depois essa irmã de Pedro II indicava um sobrinho Orléans para se casar com a princesa Isabel, o Conde D’Eu. Desse consórcio desenvolveu-se a família real brasileira.

Outro detalhe, é que a primeira esposa de Napoleão – a Imperatriz Josephine -, resultante de seu primeiro consórcio teve uma neta, Amélia Leuchtenberg, que se casou com o viúvo Dom Pedro I, tornando-se Imperatriz consorte do Brasil (1829-1831). O curioso é que seus restos mortais foram trasladados para o Brasil em 1982 e jazem na Cripta Imperial do Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo, juntamente com os restos de Pedro I e da Imperatriz Leopoldina.

No final do século XIX foram adotadas no Brasil as experiências francesas de Escolas Normal e Politécnica, a tradição militar notadamente na cavalaria, e houve influências do Código Civil francês.

Por outro lado, torna-se interessante uma visão espiritual com os comentários de Emmanuel:

“[…] atribuições de missionário, foi Napoleão Bonaparte, filho de obscura família corsa, chamado às culminâncias do poder. O humilde soldado corso, destinado a uma grande tarefa na organização social do século XIX, não soube compreender as finalidades da sua grandiosa missão. Bastaram as vitórias de Árcole e de Rívoli, com a paz de Campoformio, em 1797, para que a vaidade e a ambição lhe ensombrassem o pensamento. […] Sua história está igualmente cheia de traços brilhantes e escuros, demonstrando que a sua personalidade de general manteve-se oscilante entre as forças do mal e do bem. Com as suas vitórias, garantia a integridade do solo francês, mas espalhava a miséria e a ruína no seio de outros povos. […] Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de tradições gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto, embora traído em suas próprias forças; mas, no Além, seu coração sentiu melhor a amplitude das suas obras, considerando providencial a pouca piedade da Inglaterra que o exilou em Sta. Helena após o seu pedido de amparo e proteção. Santa Helena representou para o seu espírito o prólogo das mais dolorosas e mais tristes meditações, na vida do Infinito.”2

O espírito Humberto de Campos (Irmão X), relata uma reunião no mundo espiritual que teria acontecido em 1799, quando o então 1o Consul Napoleão – “César ontem” -, legiões dos Césares, vultos do Império Romano, guerreiros das Gálias, vários paladinos da cultura, teriam se encontrado no mundo espiritual com o espírito daquele que reencarnaria como Allan Kardec.

Napoleão teria sido advertido:

“Indicado para consolidar a paz e a segurança, necessárias ao êxito do abnegado apóstolo que descortinará a era nova, serás visitado pelas monstruosas tentações do poder. Não te fascines pela vaidade que buscará coroar-te a fronte… Lembra-te de que o sofrimento do povo francês perseguido pelos flagelos da guerra civil…” Nesse encontro espiritual era anunciado: “Dentro do novo século, começaremos a preparação do terceiro milênio do Cristianismo na Terra”.3

Com base na informação de Emmanuel que Napoleão viveu em Santa Helena “as tristes meditações, na vida do Infinito” e “no Além, seu coração sentiu melhor a amplitude das suas obras” torna-se cabível o raciocínio espírita sobre a Justiça Divina e não o antigo, vinculado a condenações.

Sabe-se que a misericórdia Divina, com base no espiritismo, oferece oportunidades de arrependimento e muitos vultos que se equivocaram tiveram reencarnações intermediárias de expiações e provas para prosseguir na trajetória de regeneração espiritual. Muitos vultos da História que cometeram enganos prosseguem em processos de refazimento de rotas no nosso mundo.

Na leitura de vários romances, notadamente os históricos assinados por Emmanuel, pode-se inferir que vários se encontram em processos de ajustes espirituais nas terras do chamado mundo novo.

Por isso, provavelmente, o espírito notabilizado como Napoleão permaneceria bem distante dos cenários das marcantes lutas e, quem sabe, como muitos outros, não estaria em novos testes educativos nas plagas “lá embaixo da linha do Equador” (expressão que já escutei de um francês) onde ele provocou influências a distância e que seus restos mortais ficaram passageiramente atracados?

Em realidade, “cada individualidade, na prova, como na redenção, como na glória divina, tem uma função definida de trabalho e elevação dos seus próprios valores”.2

Referências:

1) Gueiros, José Alberto. História de um príncipe. Cap. VII. Rio de Janeiro: Record. 1997.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. XXII e VIII. Brasília: FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Irmão X. Cartas e crônicas. Cap. 28. Brasília: FEB.