Entre o céu e o inferno

Entre o céu e o inferno

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há 160 anos, o livro O céu e o inferno, tendo por sub-título de “A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”, foi lançado por Allan Kardec em agosto de 1865, em Paris.

Trata-se de livro histórico e inédito, pois para fundamentar a nova visão, analisa estados de alma com base nas comunicações de espíritos desencarnados.

Kardec viveu no Século XIX – época das luzes, marcantes descobertas e teorias que modificaram o modo de vida do homem; um período de polêmicas com choques políticos, convivendo com o surgimento de diversas propostas sociais e impasses no âmbito da religião.

O autor esclarece: “O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Nela reunimos todos os elementos destinados a esclarecer o homem quanto ao seu destino. Como em nossas publicações anteriores sobre a Doutrina Espírita, nada colocamos neste livro que seja produto de um sistema preconcebido ou de concepção pessoal, que aliás, não teria nenhuma autoridade. Tudo foi deduzido da observação e da concordância dos fatos”.

A 1a Parte do livro trata de Doutrina, com o exame comparado de diversas crenças sobre: o porvir e o nada; temor da morte; céu; inferno; purgatório; as penas futuras segundo o Espiritismo; anjos; demônios; intervenção dos demônios nas manifestações. No ítem “código penal da vida futura”, esclarece que não “formula um código de fantasia no que respeita ao futuro da alma”, mas deduz “das observações de fatos”. Nessa visão caem naturalmente as justificativas de penas eternas, a adoção de penitências, indulgências e os complexos de culpa. Pelo mecanismo das vidas sucessivas – a reencarnação -, o homem constrói seu próprio “destino”. Quando se desvia da Lei Divina, terá chances de reacertos em outras vidas, à semelhança de um processo escolar sequencial. O roteiro serão os ensinos morais do Cristo, que espelham a Lei de Deus. Ele nos trouxe a lei do amor, a compreensão de Deus Único, acrescida da visão do Deus Pai, bom e misericordioso: “Deus é amor” (I João 4, 8).

Na 2a Parte, o livro contém análise de exemplos. Segue-se o estudo pioneiro das manifestações espirituais e da identidade do comunicante, cotejando-as com dados sobre a existência do manifestante, enquanto encarnado. O estudo de casos elaborado por Kardec, faz de O céu e o inferno um livro de comprovações, contribuindo para a identificação dos espíritos comunicantes e oferecendo evidências para a compreensão da imortalidade da alma. Os diferentes estados de alma podem dar a sensação de “céu” e de “inferno”: espíritos felizes; espíritos em condições medianas; espíritos sofredores; criminosos arrependidos; espíritos endurecidos; expiações terrestres; em sofrimento pelo suicídio.

O entendimento desses estados de espíritos desencarnados afasta ideias dogmáticas e até pueris sobre o mundo espiritual. O Espiritismo responde às dúvidas existenciais e à pergunta insistente: “para onde vou após a morte?”, o livro O céu e o inferno indica a resposta clara e fundamentada!

Publicado em: Folha da região. Araçatuba, 27/07/2025, fl.2.