Pesquisa Nacional para Espíritas – 2017. Alguns comentários

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Como oportuna iniciativa pessoal de Ivan Franzolim (**), foi efetivada a pesquisa nacional para espíritas, sem nenhuma participação ou apoio de instituições, e é inédita no Movimento Espírita por sua abrangência nacional e pela preocupação em conhecer como pensam e atuam os espíritas. A primeira edição ocorreu em julho de 2015.

A finalidade dessa pesquisa “é ser útil ao Movimento Espírita, contribuindo com dados indicativos do modo de pensar e agir dos espíritas. É um material que deve ser utilizado para auxiliar as ações de comunicação das instituições e servir ao ambiente de estudo acadêmico e fora dele.” (1)

Nesta terceira edição, a pesquisa foi elaborada com 44 questões, divididas em seis sessões: Perguntas sobre você, Para Estudantes de Cursos Espíritas, Sua maneira de entender o espiritismo, Perguntas sobre o Centro Espírita, Perguntas para Frequentadores e Perguntas para Trabalhadores. Foi efetivada entre 1º e 31 de julho de 2017, utilizando-se a internet e as redes sociais como veículo de distribuição do formulário eletrônico do Google e acesso ao público espírita, estimados em 2% da população brasileira, segundo o Censo 2010. Foram recebidas 2.616 respostas válidas, excluindo aquelas em duplicidade. Os respondentes são residentes em 451 cidades e todos os estados foram representados.

Os Estados com maior concentração foram também os mesmos das edições anteriores (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) com exceção do Espírito Santo que aparece em segundo lugar pela primeira vez. Os Estados com menor participação foram: Alagoas, Maranhão, Piauí, Roraima e Tocantins. O pesquisador lembra que estes Estados correspondem àqueles mencionados no Censo 2.010 com menor número de espíritas.

O autor da pesquisa Franzolim esclarece que “além de captar dados sobre a participação e comportamento dos espíritas, ela tem registrado várias crenças que circulam no Movimento Espírita. Muitas delas são aceitas pelos espíritas por identificação emocional com sua essência, sem maior análise e comparação com as obras básicas e complementares, demonstrando que o processo de assimilação de crenças é diferente do processo de absorver conhecimento e pode prevalecer sobre este. Pela forma não controlada de escolha dos respondentes, essa pesquisa não pode ser considerada probabilística, embora tenha seus méritos por mostrar tendências e preparar o terreno para futuras pesquisas.” (1)

            Na opinião de Ivan Franzolim, as instituições espíritas carecem de indicadores que são fundamentais para o planejamento e a prática de uma boa gestão, e recomenda que “Centros Espíritas deveriam pesquisar a satisfação dos voluntários, frequentadores e assistidos, o correto entendimento das suas atividades e quão plenamente os serviços prestados atendem as necessidades e expectativas das pessoas, para promoverem mudanças produtivas ou esclarecimentos necessários.” O pesquisador entende que mais pesquisas devem ser feitas para melhor compreensão do pensamento e das ações dos espíritas.(1)

            Numa análise geral dos resultados da pesquisa, destacamos alguns dados predominantes.

Na qualificação do espírita: gênero feminino (64,7%); faixa etária de 51 a 60 anos (28,8%); portador de ensino superior (41,3%) e seguido de perto pelos pós-graduados (33,2%); faixa salarial acima de 4 e até 10 salários mínimos (33,3%). Estes dados têm coerência com resultados do Censo do IBGE do ano 2.010 e apontam para as dificuldades para se atender populações com menores faixas de renda e de escolaridade. (2)

Os participantes da pesquisa são espíritas há 11-20 anos (24,8%) e atuam nos centros como trabalhadores voluntários (52,4%).

Sobre a relação dos filhos com o centro espírita – com filhos entre 3 e 12 anos: não participam da Evangelização Infantil/Juvenil (20,5%); não tenho filhos (64,0%); com filhos acima de 12 anos: não tenho filhos (43,2%); não se consideram espíritas (20,3%); Se consideram espíritas e não frequentam o grupo de jovens/mocidade (23,1%). Estes dados, na generalidade das faixas etárias também já vinham sendo apontados pelos Censos do IBGE dos anos 2.000 e 2.010 e, a nosso ver, representam um alerta para urgentes estudos e providências para se diagnosticar as causas dessa situação e para se favorecer a integração real da criança e do jovem no centro espírita. (2)

Na pesquisa surgem informações muito interessantes, como sobre a leitura de livros: já leram de 21 a 30 livros; livros mais lidos: Paulo e Estêvão – Chico Xavier/Emmanuel; O Livro dos Espíritos; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Nosso Lar – Chico Xavier/André Luiz. Autores mais lidos: Chico Xavier (todos autores espirituais) – 731 respondentes; Allan Kardec – 316 respondentes. Torna-se oportuna a Campanha “Comece pelo Começo” (da USE-SP e CFN), de estímulo à leitura e estudo das Obras Básicas do Codificador. (2)

Nas questões sobre temas de interesse, destacamos: temas que estudaria mais se tivesse oportunidade (isoladamente)? Bíblia e/ou os Evangelhos (15,3%); Mundo Espiritual (15,3%); Mediunidade (11,7%). Temas para estudo (soma de cada tema): Mediunidade (11,8%); Mundo Espiritual (9,9%); Reencarnação (9,6%); A Bíblia e/ou os Evangelhos (9,5%). A valorização de demandas locais, dos focos de interesse do público alvo do centro, seria um oportuno procedimento nos centros espíritas.

Na compreensão geral sobre como Espiritismo deve ser seguido pelos espíritas: mais como filosofia e/ou ciência (57,7%). A propósito, este resultado é indicativo da necessidade de maior divulgação, estudo e compreensão das obras de Allan Kardec; pode ser influenciado pela tendência atual de muitos eventos e palestras com temas científicos e também por alguns enfoques em palestras e em práticas que não são coerentes com o conjunto das obras de Allan Kardec. (3,4)

A maioria dos respondentes considera que a aceitação das ideias espíritas na sociedade está evoluindo razoavelmente (68,0%), e nas questões relacionadas com a satisfação pelas atividades do centro, predominam valores de média a alta.

A nosso ver a “Pesquisa Nacional para Espíritas” oferece dados que devem merecer estudos e reflexões pelos dirigentes e colaboradores dos centros espíritas e também estimular a realização de pesquisas internas nestas instituições.

 

(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP.

 

(**) A Pesquisa Nacional para Espíritas é uma iniciativa de Ivan Franzolim (São Paulo), escritor, articulista e palestrante espírita, formado em Administração de Empresas com especialização em Marketing de Serviços (FGV) e pós-graduado em Comunicação Social (Cásper Líbero). Compõe a pesquisa, o trabalho estatístico de Análise de Conglomerados desenvolvido por Jorge Elarrat (Rondônia), formado em Engenharia Eletrônica na Universidade Federal do Pará (UFPA), pós-graduado em metodologia do ensino superior e mestre em administração, com passagem pelo IBGE e como titular da Secretaria de Estado da Educação

 

Referências:

  1. Acesso em 09/08/2017: http://franzolim.blogspot.com.br/;
  2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro espírita. Prática espírita e cristã. Cap. 2.1, 2.2, 3.1. Matão: O Clarim. 2016.
  3. Carvalho, Flávio Rey; Carvalho, Antonio Cesar Perri. Espiritismo como religião: algumas considerações sobre seu caráter religioso e seu desenvolvimento no Brasil. In: Souza, André Ricardo; Simões, Pedro; Toniol, Rodrigo (Org.). Espiritualismo e Espiritismo. Reflexões para além da espiritualidade. 1.ed. Parte 1, Cap. 2. São Paulo: Editora Porto de Ideias. 2017.
  4. Carvalho, Flávio Rey. O aspecto religioso do Espiritismo. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCII. N.6. Julho de 2017. p. 304-306.