Obra “Paulo e Estêvão” – Origem e Objetivos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O portentoso romance Paulo e Estêvão foi psicografado por Chico Xavier, numa etapa ainda inicial dos labores do médium, ou seja nos primeiros 10 anos de sua produção psicográfica.

A obra foi psicografada ao longo de poucos meses, no ambiente simples e bucólico da Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo (MG), sendo a apresentação redigida pelo autor espiritual Emmanuel no dia 8/7/1941. Um ano depois, foi editada pela Federação Espírita Brasileira.

Torna-se interessante estabelecer-se a relação entre o Autor Espiritual e Paulo. Em relato de 1940 Emmanuel relata o contato inicial entre ambos: “[…] Conheci-o, em Roma, nos seus dias de trabalho mais rude de provações mais acerbas. Vi-o uma vez unicamente, quando um carro de Estado transportava o senador Públio Lêntulus, ao longo da Porta Ápia, mas foi o bastante para nunca mais esquecê-lo. […] Trocamos algumas palavras que me deram a conhecer a sua inteireza de caráter e a grandeza  de sua fé. O fato ocorria pouco depois da trágica desencarnação de Lívia e eu trazia o espírito atormentado”. Amigo dos primeiros tempos de Pedro Leopoldo e autor de livro publicado com autorização de Chico Xavier, Clóvis Tavares comenta: “Conta-nos o Espírito de Néio Lúcio (o mesmo Cnéio Lucius do 50 Anos Depois) […], que o Apóstolo Paulo, no plano espiritual, sempre se dedicou a auxiliar ‘as grandes inteligências afastadas do Cristo, compreendendo-lhes as íntimas aflições e o menosprêzo injusto de que se sentem objeto no mundo […]. E foi com êsse sentimento de bondade e compreensão que o Espírito do Apóstolo da Gentilidade estendeu as bênçãos do seu auxílio ao culto senador romano, quando de sua desencarnação na tragédia de Pompéia, continuando a ampará-lo espiritualmente em suas posteriores existências terrenas”. “Emmanuel nunca mais o esqueceu […]. Na personalidade de Nóbrega, em homenagem ao convertido de Damasco, chega a adiar a inauguração do Colégio de Piratininga, a que dá o nome de São Paulo, para o dia da conversão do Apóstolo, que a Igreja comemora a 25 de janeiro” (2).

No romance histórico Renúncia há significativo diálogo entre Alcíone, a personagem central da obra, Jaques Davenport, e outros, em Paris: “— Sr. Jaques, gostaria me dissésseis qual o método aqui adotado para a leitura. […] — Lá na Espanha — explicou a jovem delicadamente — líamos apenas um versículo de cada vez e esse mesmo, não raro, fornecia cabedal de exame e iluminação para outras noites de estudo. Chegamos à conclusão de que o Evangelho, em sua expressão total, é um vasto caminho ascensional, cujo fim não poderemos atingir, legitimamente, sem conhecimento e aplicação de todos os detalhes” (4). No diálogo, Alcíone também faz referência a Epístola de Paulo a Timóteo.

Este diálogo não é um fato isolado na obra de Emmanuel, pois nos nove livros em que o autor espiritual comenta versículos do Novo Testamento, a fonte predominante para sua inspiração são os Atos dos Apóstolos e as Epístolas de Paulo.

Estabelecida a relação entre o autor espiritual e o apóstolo, entendamos agora os objetivos para a elaboração de Paulo e Estêvão: “[…] para atingir os fins a que nos propomos, transferindo ao papel humano, com os recursos possíveis, alguma coisa das tradições do plano espiritual acerca dos trabalhos confiados ao grande amigo dos gentios. […] não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada. […] Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante” (3).

A homenagem a Estêvão – primeiro mártir do Cristianismo e vítima do outrora doutor da Lei Saulo -, também é esclarecida por Emmanuel: “Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o Apóstolo não poderia chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo. Sem Estevão, não teríamos Paulo de Tarso. […] A contribuição de Estevão e de outras personagens desta história real vem confirmar a necessidade e a universalidade da lei de cooperação. […] sem cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a força de Deus, que equilibra o Universo” (3).

Na época da publicação foram divulgados três artigos na revista Reformador, assinalando o lançamento da obra. Destacamos que na edição de julho de 1942, o articulista Alexandre Dias assinala: “as cenas e os cenários bem traçados, como a perfeita caracterização dos personagens, prendem a atenção do leitor…” (1)

O contexto singelo em que o romance foi produzido e o seu conteúdo sugerem reflexões, adequadas para a atualidade, sobre a simplicidade dos labores dos cristãos.

Referências:

1 DIAS, Alexandre. Paulo e Estêvão. Reformador. Ano 60, p. 164, jul.1942.

2. TAVARES, C. Amor e Sabedoria de Emmanuel. Cap.4.  São Paulo: Ed. Calvário, 1970.

3. XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2002, Cap. Breve notícia, p.8-9.

4. XAVIER, Francisco C. Renúncia. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2002, 2ª. parte, Cap. 3, Testemunhos de fé, p.327-329.