O gestor com 50 anos de ‘registros’ de presidente na ‘carteira’ de trabalho espírita

Antonio Cesar Perri de Carvalho: o gestor com 50 anos de ‘registros’ de presidente na ‘carteira’ de trabalho espírita

Sirlei Nogueira (*)

Em ano de Centenário do Espiritismo em Araçatuba, no interior paulista, terra natal de Cesar Perri, a Trilogia Espírita ‘Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões’ registra ideias, projetos e ações ao longo de sete décadas da vivência do autor: sobre a família, atividades profissionais e – principalmente – espíritas. E suas correlações. Educação é a principal conexão, traço marcante de um gestor moderno, cuja sigla inglesa CEO (Chief Executive Officer) pode até ser emprestada.

O cinquentenário remete ao período entre o primeiro cargo em 1964, como presidente de Mocidade Espírita até à Presidência da Federação Espírita Brasileira (FEB), entre 2012 e 2015, passando por três gestões de presidente da USE-SP e integrante da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional (CEI).

De lá para cá – a partir de 2016 – os filhos literários voltaram a ‘encarnar’… Araçatuba, região Noroeste do Estado de São Paulo, Brasil. 2021 está sendo um ano histórico na cidade que surgiu quando corajosos trabalhadores desbravaram – fisicamente – o interior paulista para construir a malha ferroviária da Noroeste do Brasil (N.O.B.): a partir de Bauru com destino inicial a Campo Grande, atual capital do Mato Grosso do Sul.

Era o ano de 1908. A adolescente unidade urbana via surgir 13 anos depois, em 1921, outro grupo de corajosos que desbravariam – espiritualmente – aquele contexto em formação para fundar a primeira Casa Espírita: a União Espírita Paz e Caridade. Era o dia 21 de abril de 1921. 2021 está sendo um ano histórico por esse motivo: Centenário do Espiritismo em Araçatuba. Muitos são os pioneiros para reverenciar. As duas edições do livro Obra de Vultos (1999 e 2000), coordenadas por Ismael Gobbo, então presidente da USE Regional de Araçatuba, prestam justas homenagens a 80 deles: 33 no primeiro volume e 47 no segundo. Um trabalho de fôlego, cuja continuidade está em andamento com a produção do terceiro volume para lançamento nesse ano.

Dentre os desencarnados, a maior projeção nacional e internacional, a partir da Araçatuba Espírita, é Benedita Fernandes: a mulher, negra, pobre, quase analfabeta, que superou pertinaz obsessão espiritual para liderar a fundação da Associação das Senhoras Cristãs, em 6 de março de 1932. Em apenas 15 anos de trabalho árduo foi possível assegurar educação formal para centenas de crianças pobres e amenizar dores das almas com atendimento em saúde mental. Era 9 de outubro de 1947. Com a desencarnação dela, os 15 anos de pioneirismo no interior do Estado de São Paulo terminavam: para surgir o ícone. Ainda levaria outros 35 anos para que a projeção de Benedita Fernandes efetivamente começasse, e justamente na comemoração dos 50 anos de história da associação, coordenada por um novo personagem na história do Espiritismo em Araçatuba. Um pioneiro contemporâneo.

OLHARES À ‘DAMA DA CARIDADE

A comemoração dos 75 anos de Proclamação da República foi o momento histórico em que o protagonismo do jovem de apenas 16 anos aflorou: era 15 de novembro de 1964 quando Antonio Cesar Perri de Carvalho liderou a fundação da Mocidade Espírita Irma Ragazzi Martins, sendo o primeiro presidente. Surgia novo departamento da Instituição Nosso Lar, inaugurada três anos antes pelo tio Rolandinho (Rolando Perri Cefaly), a mãe Bebé (Josefina Perri Cefaly de Carvalho) e Emília Santos, colaboradora efetiva de Benedita Fernandes. A partir daí ele se vincularia às várias iniciativas internas da Instituição Nosso Lar. Dois exemplos: fundação do Centro Espírita Luz e Fraternidade, exatos oito anos depois, em 15 de novembro de 1972; pioneirismo no Estado de São Paulo na adoção da metodologia teórico-prática do Centro de Orientação e Educação Mediúnica (COEM), elaborado pelo Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba, capital do Paraná.

O jovem também se vincularia – e muito mais – às ações de fora, do crescente Movimento Espírita de Araçatuba, especialmente a partir do final dos anos 1960. Vale citar três eventos marcantes: início de Jornadas sobre Mediunidade (1976), o 1o Encontro de Delegados de Polícia Espíritas (1980) e o começo da Confraternização de Espíritas da Alta Noroeste (Conean), em 1981. O ano seguinte seria um dos mais representativos para o dirigente espírita, então com 34 anos de idade. Foi em março de 1982, nas comemorações do cinquentenário de fundação da Associação das Senhoras Cristãs, que ele finalizaria um trabalho de pesquisa de anos. Ali surgiria a referência ‘Dama da Caridade’, com o lançamento da biografia de Benedita Fernandes, que pode ser considerado o primeiro passo para a projeção do autor.

OLHARES COM CHICO E DIVALDO

Cesar Perri bebeu nas duas fontes mais representativas da Doutrina Espírita no século passado e até aos atuais 21 anos do Século 21, no Brasil e exterior. Chico Xavier iniciou o Mandato Mediúnico aos 17 anos, em 1927 e desencarnou em 30 de junho de 2002.

Divaldo Pereira Franco continua em atividade aos 94 anos, que acabou de completar no dia 5 de maio. As primeiras experiências na vida são inesquecíveis. Em 1955, Divaldo foi a Araçatuba pela primeira vez. Atraso no horário de chegada do avião fez com que o grupo de dirigentes à espera dele retornasse ao Centro Espírita Dr. Bezerra de Menezes. Ele chegou e ficou meio perdido. Mas foi ‘achado’ e recepcionado calorosamente por uma senhora negra, sorridente, que o orientou pegar um táxi para chegar ao destino. Não ‘percebeu’ de imediato a condição de Espírito de Benedita Fernandes. Anos mais tarde, a partir da década de 1970, Divaldo seria hóspede da família Perri nas inúmeras vezes que retornou à cidade. Nos momentos iniciais na casa de dona Bebé, mãe de Cesar Perri. Posteriormente, na residência do casal Cesar e Célia, até à mudança para São Paulo, no final da década de 1980.

Simultaneamente, no início dos anos 1970, Cesar Perri começou a visitar a mineira Uberaba e a manter contatos periódicos com Chico Xavier. Foram anos de aprendizados para a vida, que gerariam rica experiência para as futuras gestões de presidente, incluindo a vivenciada naquele período, na USE Municipal de Araçatuba, além de conteúdo para três frutos literários: Chico Xavier. O homem. A obra. (1997); Chico Xavier. O homem, a obra, as repercussões (2019); Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier (2020).

OLHARES PARA FORA: USE ESTADUAL

A mudança para a capital paulista, em 1989, foi motivada por funções administrativas na Unesp (Universidade Estadual Paulista). Graduado em odontologia e doutor em ciências, Perri é professor-titular aposentado da instituição, onde exerceu o cargo de Pró-Reitor de Graduação. Naquele período, ele foi convidado pelo ex-presidente da USE-SP (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), Attílio Campanini e pelo diretor Joaquim Soares a concorrer à presidência. Em julho de 1990 foi eleito, após quatro anos (desde 1986) integrando a diretoria na primeira gestão de Nedyr Mendes da Rocha no órgão paulista. Nesse mesmo ano (1986), Cesar Perri passou a acompanhar as reuniões do Conselho Federativo Nacional (CFN) da FEB em companhia do presidente Nedyr Mendes.

Portanto, outro ano representativo na história cinquentenária em funções de presidente.

Há 35 anos… O destaque sobre família no novo projeto literário ganha ênfase nas narrativas do autor sobre mais um momento histórico. “Em 1992, a USE foi proponente junto ao CFN da FEB da Campanha ‘Viver em Família’, aprovada em 1993 e lançada nacionalmente em São Paulo, em janeiro de 1994, originando o livro Laços de família, editado pela USE.” Também em 1992, Perri foi reeleito para um período de dois anos de gestão. Após um mandato fora da diretoria, mas colaborando em departamento e assessoria junto ao presidente Attílio Campanini, ele retornou como presidente para último período: 1997/2000.

OLHARES PARA FORA: FEB

Com relação à FEB, vou fazer um ‘Ctrl C – Ctrl V’ da autobiografia ‘Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões’: “Lembramos de nossa primeira visita à então sede, na Av. Passos, no Rio de Janeiro, em julho de 1965 e, cinco anos depois, a primeira visita ao Cenáculo, prédio pioneiro da FEB em Brasília. Atuamos como articulista da revista Reformador desde meados dos anos 1970. Proferimos nossa primeira palestra na sede da FEB, no Rio, no ano de 1982, época em que também comparecemos como convidado à reunião do Grupo Ismael. Mantivemos relações cordiais de amizade com os presidentes da FEB, desde Armando de Oliveira Assis”. O autor continua: “Passamos a integrar as reuniões do Conselho Federativo Nacional da FEB no ano de 1986, na representação da USE-SP. No final de 1987, a convite do presidente Francisco Thiesen, integramos uma comissão precursora para a preparação do Congresso Espírita Internacional (efetivado em 1989), juntamente com Nestor João Masotti, Altivo Ferreira, Cecília Rocha, Paulo Roberto Pereira da Costa e João Nasser. A partir daí, sempre com base no CFN, nossa atuação no Movimento Espírita brasileiro e internacional é bem conhecida de todos”.

No ano de 2004, Antonio Cesar Perri de Carvalho foi eleito diretor da Federação Espírita Brasileira, assumindo compromissos junto à secretaria-geral do Conselho Federativo Nacional da FEB. Em 2012, ele completou o 21º mandato na história da instituição (interino), em substituição ao amigo Nestor Masotti, afastado por problemas de saúde. De 2013 a 2015 foi o presidente no 22º mandato.

OLHARES ‘PELOS CAMINHOS DA VIDA’…

“A partir daí, sempre com base no CFN, nossa atuação no Movimento Espírita brasileiro e internacional é bem conhecida de todos”. A essa afirmação do dirigente é possível fazer duas considerações iniciais: pode ser que sim, pode ser que não. Para eliminar essa dúvida é que acaba de ser lançada (19 de junho) a Trilogia Espírita Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. O objetivo não foi o de simplesmente reunir informações nem de romancear fatos, mas relatar experiências – ao longo de sete décadas da encarnação e 57 anos desde o primeiro cargo de presidente – sempre ensejando espaços para análises na ótica espírita. O livro é uma autêntica contribuição à História, com episódios de Araçatuba, do Estado de São Paulo, do Brasil e com momentos internacionais.

Abre aspas: Assim, o leitor terá a oportunidade de vivenciar fatos de grande êxito e importância para a divulgação da Doutrina Espírita. E, claro, como somos todos ainda Espíritos dotados de tanta carência de conhecimento, alguns tantos episódios descritos são narrados a partir da visão de quem esteve nos “porões” da gestão espírita. Neste pormenor, o livro deixa bastante claro as mazelas humanas que ainda norteiam os bastidores das diretorias espíritas; as chagas de nosso orgulho, vaidade e egoísmo são expostas, ao longo das páginas […]. Fecha aspas. Trecho da apresentação feita por André Marouço, cineasta e ex-gerente de Comunicações da Fundação Espírita André Luiz, de São Paulo.

Divaldo Pereira Franco comenta à guisa de Prefácio: “Acabo de ler o seu maravilhoso trabalho sobre nossa longa e abençoada convivência. Não pude deixar de chorar. Quanta pureza e entusiasmo em nossas almas e vidas!”

Nos últimos seis anos pós-FEB (desde 2016), as contribuições literárias de Cesar Perri floresceram, com os lançamentos de oito títulos e relançamento de um. A Trilogia Espírita seria o nono. Como são 3 livros em 1 volume, a conta é simples: 9ª, 10ª e 11ª publicações. Dentre os mais de 30 filhos literários gerados desde a década de 1970. 

TRILOGIA ESPÍRITA DE CESAR PERRI

A autobiografia Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões registra ideias, projetos e ações ao longo de sete décadas da vivência de Antonio Cesar Perri de Carvalho: sobre a família, atividades profissionais e espíritas. E as correlações. O autor rememora desde os primeiros tempos de vida unindo registros e reflexões. O objetivo não foi de simplesmente reunir informações nem de romancear fatos, mas relatar experiências, sempre ensejando espaços para análises na ótica espírita. Nessa trajetória destaca o papel e valor da família desde a etapa inicial vivenciada em Araçatuba, no interior paulista, e o desenvolvimento de intensas atividades profissionais e espíritas com abrangência no país e no exterior. Dezenas de capítulos enfeixados em três livros, com temas centrais: definições do roteiro de existência, educação como laço, ações nacionais e internacionais, a experiência na FEB e os momentos após esse período, homenagens a vultos locais e nacionais que o influenciaram. Há casos de fenômenos medianímicos vividos na infância e que o conduziram ao Espiritismo, relatos sobre manifestações mediúnicas explícitas com vários médiuns, como Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco, e episódios de induções e inspirações de ordem espiritual. Também constam abordagens inusitadas sobre as relações com a Maçonaria e Legião da Boa Vontade, manifestações de Espíritos como indígenas e, em alguns países, as reações ao Cristianismo. No exercício de cargos profissionais e espíritas aparecem situações vinculadas ao poder político, em níveis e locais diferentes. A Educação, no sentido amplo da palavra, é um traço em comum, um laço de união entre as tarefas de gestão acadêmica e espírita. A trilogia tem apresentação por André Marouço (SP), carta à guisa de prefácio por Divaldo Pereira Franco (BA) e prefácios dos três livros: Ismael Gobbo (SP), Manuel Felipe Menezes da Silva Júnior (AP) e Hélio Ribeiro Loureiro (RJ). Abre aspas: Assim, o leitor terá a oportunidade de vivenciar fatos de grande êxito e importância para a divulgação da Doutrina Espírita. E, claro, como somos todos ainda Espíritos dotados de tanta carência de conhecimento, alguns tantos episódios descritos são narrados a partir da visão de quem esteve nos “porões” da gestão espírita. Neste pormenor, o livro deixa bastante claro as mazelas humanas que ainda norteiam os bastidores das diretorias espíritas; as chagas de nosso orgulho, vaidade e egoísmo são expostas, ao longo das páginas […]. Fecha aspas. Trecho da apresentação feita por André Marouço, cineasta e ex-gerente de Comunicações da Fundação Espírita André Luiz, de São Paulo. Divaldo Pereira Franco comenta, à guisa de Prefácio: “Acabo de ler o seu maravilhoso trabalho sobre nossa longa e abençoada convivência. Não pude deixar de chorar. Quanta pureza e entusiasmo em nossas almas e vidas!” A obra é uma autêntica contribuição à história, com episódios de Araçatuba, do Estado de São Paulo, do país e de momentos internacionais. Autobiografia que vai ficar para ‘as histórias’…

SERVIÇO:

Trilogia Espírita (3 livros em 1 volume) Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões Lançamento: Cocriação Editora Araçatuba.SP | Junho de 2021 INFO:18 99709.4684 (ZAP) – 18 3519.0191

(*) Sirlei Nogueira é jornalista, presidente da USE (União das Sociedades Espíritas) Regional de Araçatuba e gestor da Estação Dama da Caridade Benedita Fernandes.

Extraído da revista digital O Consolador, Ano 15 – N° 730 – 18 de Julho de 2021; acesso: http://www.oconsolador.com.br/ano15/730/especial2.html